Águas Profundas escrita por Gabriel Galvão


Capítulo 4
Capitulo III - O Buldogue Ingles




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Capitulo III

O Buldogue Inglês

Meu sábado não passou de um aglomerado de sentimentos e caricias. A garota dos cabelos cacheados, Marcerline, trocou mais algumas palavras comigo antes de irmos embora, me passou seu contato e me deu um último beijou e assim me deixou.

Passei a noite naquela praia. Bebida não me faltava. Olhava para o horizonte e imaginava novamente coisas que poderiam ter ocorrido ali. O frio me tomava, mas não sentia medo dele, me sentia próximo e este frio tanto irritante para uns se tornou uma fonte de calor para mim naquele momento.

Mantinha meus olhos quase fechados em direção ao mar. As estrelas e a areia me traziam calma.

— A ver navios.

Me lembrei do ditado popular, esperava por algo. Ainda espero e não sei se vou alcança-lo ou se vou saber o que este algo é.

— Mas algo.

— Sempre algo.

Me lembrava de minha conversa Marcel, Marceline.

Com meus olhos se fechando e a brisa do mar tomando meu corpo cai no sono, e quando dei conta o sol já nascia.

Era lindo.

Imaginava navios chegando ao cais e saindo de lá aquilo que necessitava, mas não podia vê-lo.

Finalmente me levantei em meio aos meus sonhos, observei o nascer do sol e tornei-me a acordar. Fui até meu carro. O álcool já havia ido embora de meu corpo e dirigi até meu apartamento.

Tomei um banho de chuveiro de água gelada para me despertar. Me arrumei. Decidi me deitar na cama um pouco e fiquei usando meu celular, recebi alguma mensagem em francês e antes mesmo de lê-la me lembrei de que deveria procurar por algum tipo de curso da língua e me pus na internet a procura.

Encontrei um curso de francês para falantes de inglês e como este mesmo se encontrava aberto aos domingos decidi ir até o estabelecimento.

Era uma hora da tarde e o dia não estava tão rigoroso tão quanto os outros. Quando cheguei ao lugar percebi a estética totalmente francesa, o lugar era antigo e reformado. Não era muito grande, era de porte médio.

Quando adentrei no edifício percebi as diversas colunas dentro do mesmo, as paredes em azul, as cortinas em vermelho e as colunas em branco, totalmente nacionalista.

Era tudo bonito e bem decorado, haviam quadros por todos os cantos, quadros históricos, quadros modernos, quadros representativos.

Fiquei intrigado com um em especial, um que era um desenho da figura de um Buldogue, creio eu um francês.

As orelhas do animal apontavam ao céu e no meio de seu contorno era tudo branco, uma faixa branca envolvia do meio da testa até o focinho e desaparecia no nariz negro do cão.

Achei engraçado a imagem do cachorro, era fofo, mas enigmático. Enfim, soltei um riso.

Olhei para trás e segui até a recepcionista, ela aparentava ter entre seus 18 e 25 anos, seus olhos eram castanhos e claros, seu cabelo altera entre um loiro e um castanho claro dependendo da entrada do sol. Ela disfarçava seu riso, sem sombra de dúvidas havia me visto olhando e refletindo sobre o quadro.

A vergonha aleia é contagiante. Dei um riso meio disfarçado.

Quando cheguei mais próximo não sabia o que dizer, não sabia francês, e arrisquei o inglês. Sinceramente achava engraçado falar inglês na França, devia ser um insulto.

— Com licença, eu gostaria de fazer um curso de francês, como que eu resolvo isso? – Perguntei.

Uma brisa quente passou pela janela e jogou o cabelo da atendente em seu rosto, e ao cessar do vento ela o arrumou, seus movimentos lentos me fizeram sentir um ar de contemplação.

Enquanto conversava com ela pouco fizemos contato visual, a mulher mantinha quase sempre os olhos pra baixo ou aos papeis que me entregava, os mesmos quase não se abriam, e seu nariz estava vermelho, ela parecia estar gripada.

Tirei minhas dúvidas e quando terminei de fechar o contrato agradeci e perguntei se ela estava bem, era notável a sua febre. Ela me respondeu com um sim, e parecia meio a par da pergunta.

Sentia esse sentimento de falta de afeto desde que sai do Brasil, quero dizer, as pessoas se incomodavam com o contato de desconhecidos, e eu com a falta do contato.

Enfim, sai da escola por um momento e quando me lembrei que havia esquecido meus documentos voltei rapidamente e lá encontrei a mesma garota desmaiada em meio ao chão, em frente ao bebedouro.

Corri até ela e a deixei sentada em um sofá que havia por ali. Corri pelas portas do edifício e não encontrei ninguém, ela era a única lá no dia, provavelmente iria fechar o lugar.

Peguei meu celular e mandei uma mensagem a Marceline, perguntei qual era o número da emergência e ela não me respondeu.

Corri com toda a pressa até onde a recepcionista estava, a peguei no colo e carreguei até meu carro que estava em frente ao lugar, levei ela até o mesmo hospital que havia ido anteriormente.

Não demorou muito e já estava lá. A febre da garota estava alta, e estava suando horrores.

Entrei no hospital e pedi por uma maca, estava com os nervos da pele, sentia uma ardência pelas minhas veias, artérias e pela minha pele. Não aguentaria passar por aquilo de novo.

A morte.

Os enfermeiros se aprontaram e levaram a garota até um quarto. Fiquei por ali, na sala de espera.

Imaginava tudo, os pais perdendo a garota, os irmãos e as irmãs com remorso, a tristeza em todo o canto. O pessimismo sempre me tomava em momentos de tensão.

Não tinha nenhuma relação com a jovem, mas me sentia tão próximo, assim como ela entre a vida e a morte.

Sentado naquele banco sentia calafrios, ainda que ventos quentes entrassem a todo o momento.

A ardência que sentia não ia embora, pelo contrário, me tomava ainda mais, voltava a pensar naqueles que se foram; meu pai, minha mãe, minha avó e assim por seguinte, sentia falta deles. De todos.

Sentia medo da morte, atração pela vida, e ainda assim... Vivia triste.

Me levantei e fui até a atendente, falei que voltaria logo e que caso a garota acordasse que ela deveria me ligar, e passei meu número a ela.

Pus-me a pensar no Bulldog francês, as orelhas para cima, seu focinho preto.

Enquanto caminhava percebi um pet shop e vi a imagem de um buldogue, e entrei no lugar. Havia tempos que não tinha um animal de estimação, desde que meus pais morreram.

Comecei a acariciar um dos animais, era branco com as orelhas baixas e com manchas marrons. Tomei-me num impulso e comprei o animal, tinha em mente que era um buldogue francês.

Antes de voltar ainda comprei um cartão, não sabia o que dizia, mas comprei, junto a um balão em forma de coração.

Voltava com tudo aquilo para o hospital. Comprei coisas que não precisava, acho que já não tinha volta, fui estranho demais. Afinal, quem é que volta com um cachorro para uma desconhecida.

Antes de adentrar o edifício dei uma boa olhada no buldogue, o fitei, e percebi que não tinha volta.

Felizmente antes de entrar lembrei que não podia ir com animais lá dentro, fui até meu carro e botei o cão numa sacola renovável de supermercado e entrei no prédio o escondendo.

Quando entrei a moça da recepção me chamou. Deixei a sacola no banco e fui até ela.

— A garota que trouxe já está melhor, se quiser ir até ela o quarto dela é no segundo andar, B13. – Afirmei que havia entendido com a cabeça e peguei a sacola e subi até o quarto dela.

Quando cheguei na porta do quarto não ouvia a voz de ninguém, imaginei que estivesse sozinha lá. Abri a porta e notei que estava dormindo, devia ter se cansado enquanto me esperava.

Me sentei em um banco que havia ao lado da cama na qual ela estava deitada. No apoio da cama amarrei o balão inflável em forma de coração, e em sua barriga deixei o cartão com meu contato e meu nome.

Sequer a conhecia, mas gostaria de conhecer.

Peguei o cachorro e comecei a acaricia-lo, tentava colocar suas orelhas para cima, mas não ficavam lá de modo algum, enfim, o sono da mulher era muito pesado, e decidi ir embora.

Enquanto passava pelo pet shop de carro notei que o buldogue que havia comprado e o que estava na imagem eram diferentes.

Havia comprado um buldogue inglês e voltava com ele para casa.


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