Abigail Hobbs sempre soube que podia confiar em Hannibal, entretanto, havia alguma coisa de peculiar no jeito que ele lidava com os fatos que a desestabilizava. Confessara a ele seus crimes, como ajudava o pai atraindo as meninas, como matara Nicholas Boyle, e ainda em noites tranqüilas como aquela, na imensidão do quarto, ela ainda podia vê-los em sonhos, sussurrando “Ele deveria ter matado você, assim ele não teria me matado” e talvez as vozes estivessem certas. Perguntara o que fizera de errado, e jamais conseguira resposta sobre isso. Talvez o simples fato de despertar tal sentimento no pai já fosse o suficiente.

Ignorando as cobertas, Abigail saiu vagarosamente de seu quarto no Hospital Psiquiátrico, e caminhou pelas ruas até um destino que já havia decorado. Hannibal Lecter parecia esperá-la, abrindo a porta para ela ao se aproximar. Não tentou conversar, apenas deixou que se sentasse e revivesse memórias antigas. No fundo, ela sabia que os monstros eram reais. Eles estavam escondidos embaixo das camas, se enraizando pouco a pouco em seus pensamentos.

E possuía certeza de fazer parte deles, de um jeito ou de outro.