Only You escrita por Eponine


Capítulo 1
Capítulo Único




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Sempre que Sirius dizia:

“Vamos tentar de novo”, ele não piscava, e falava baixo, profundamente, reunindo toda a seriedade de seu ser.

Eu me via com ele novamente.

A psicologia provavelmente deve ter algo sobre compulsão à repetição, e talvez também explique o porquê de minha mente, mesmo sabendo que ele simplesmente não havia mudado nada, aceite entregar-se novamente ao sofrimento no paraíso que era estar com Sirius Black.

Fico desconfiado por meses, não cedo facilmente à beijos ou mimos, e acho que essa é a parte que ele mais gosta no fim das contas, a rejeição parece ser uma arma para prender Sirius dentro de uma gaiola. Me envolver com alguém que era mais doido do que eu não me trazia nada de bom, e como alguém que não tem a menor perspectiva de vida, eu simplesmente insistia.

“O nome disso é amor”, explica ele, tragando o cigarro, roçando o pé em meu peito, deitado ao contrário de mim na cama, completamente nu. Não, isso não é amor. É uma doença socialmente aceita. Eu me mato todos os dias, simbolicamente, por amar alguém que sequer me ama de volta.

“Se eu não te amasse não estaria com você! Como é idiota de duvidar de mim! Acha que eu perderia meu tempo com você? RESPONDE! E volta aqui!”, berrava pela rua escura e vazia. Alguns segundos depois a garrafa de álcool que ele tinha em mãos quebrou-se no chão em algo que parecia ter sido uma tentativa de jogar em mim. Não combinamos em nada: Ele é festeiro, cheio de amigos e namorados.

E eu, eu nunca estive com alguém que não fosse ele.

Após Hogwarts, minha rotina era qualquer trabalho até que eles descobrissem minha licantropia e eu tivesse que me retirar e buscar por outro emprego. Limpeza, encaixotamento, entrega, cozinha... Se eu encontrasse Sirius em casa no fim do dia, ele provavelmente estaria dormindo ainda da outra noite que passou fora. Também podia estar tendo uma crise de raiva, me aguardando, ansioso, entre um trago desesperado e outro, em um aguardo angustiante para colocar seu ódio e mágoa com o mundo em mim. Ele começa gritando, tentando me provocar, atiçar uma briga, caso ele não consiga descontar sua frustração de forma violenta, ele desaba e chora, enroscando-se em mim como um cachorro vira-lata, manhoso e infantil.

Sirius guarda as coisas para ele mesmo, porque é arrogante demais para demonstrar fraqueza para qualquer um que não seja eu. Talvez eu o ame porque eu conheça o seu íntimo mais vil e ele conheça o meu, um lado que eu mesmo desconheço assim que a lua cheia atravessa o céu.

“Que horas você volta?” sempre choramingava, com os olhos de gato, quando assistia eu me arrumar para o trabalho. Deixa-lo sozinho é o pior castigo que alguém pode lhe dar e confesso que às vezes sinto prazer em fazê-lo. Porém, sei que será algo de horas ou minutos, ele provavelmente vai sair e vai achar algo para fazer, alguém para ocupar sua mente.

Às vezes, eu tenho um sopro de consciência e me liberto de Sirius.

O expulso, jogo em sua cara tudo que já fez de errado e ficamos incontáveis meses longe um do outro. E eu espero, como um pai que espera um filho voltar para casa, as batidas fortes ou fracas na porta, para quando eu abrir, ser atacado por um Sirius bêbado e irritado, ou fragilizado e manhoso, desconfiado, silencioso... E ele sussurra...

“Vamos tentar de novo”

Quero que ele saiba como é ser rejeitado pela pessoa que ama, mas não consigo. Acho que ele vai ter que me matar fisicamente para eu conseguir virar as costas definitivamente. Ou, talvez, meu amor seja carnal. Talvez eu ame apenas as mãos ásperas me tocando, em qualquer lugar. O gemido, o tom de sua voz, o sorriso, os olhos, a forma maliciosa com que me olha, tanto sexualmente como em tom de maldade, ruindade.

“Você tem que jurar que nunca vai me abandonar”, falar que o amo não era algo necessário, jurar era a forma de provar a Sirius que eu o amava. Ele ficar, era sua forma de provar que me amava, por mais que aquilo o matasse. Não que ele se esforçasse para ser dignamente presente, mas o mínimo já era um esforço que devia ser sempre aplaudido, como uma criança pequena. Momentos assim me enchiam de esperança, ele sempre tinha sua fase amorosa: Seus cuidados na casa, caso não estivesse trabalhando, eram esforçados, seguindo linha por linha de livros domésticos. Quando a gaveta da cabeceira estava lotada de maços de cigarro, eu sabia que ele ia ficar por um bom tempo.

Ele ri diante de minhas ameaças, ele não acredita que um dia eu possa abandoná-lo, e, na verdade, nem eu acredito.

Então, ele encolhe-se, pensativo, e passa dias e dias tragando seu cigarro e fitando o nada, em cada cômodo da casa, como um animal que planeja sua fuga. Meu peito se aperta e conto os dias para encontrar a casa vazia.

“Vou levar todos”, anuncia, enfiando seus maços em sua bolsa. “Vai querer?”

Continuo sentado no sofá em silêncio, me negando a responder. Sirius sai, toda vez com a mesma pose de um filho que foge de casa, repetindo um milhão de vezes o que fizera com seus pais, é como se gostasse de enfiar a mão dentro da própria ferida e assistir sangrar, sentindo o pico da adrenalina ao mesmo tempo. Não peço para que ele me leve pois sei que seu coração não tem espaço para dois.

Fecho a porta e de alguma forma sinto que aquela é a última vez.

E só assim choro, pela primeira vez desde

“Remus”, chamou o garoto de madeixas negras, muito próximo de meu rosto jovem de dezesseis anos. Ele passa a mão rapidamente sobre a lágrima de ansiedade em meu rosto, chocado e constrangido depois do beijo, certo de que aquilo era errado. “Vamos tentar manter isso em segredo”.

Ele se afasta um pouco, voltando à sua indiferença.

“Pode jurar?”

 

 

 

 

 

 

 

 

The Flying Pickets – Only You

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Eu sei, eu sei... Eu nunca consigo deixar ninguém junto em nenhuma história, esse é meu karma.

Minha primeira wolfstar que na verdade nem é uma wolfstar de fato, eu não explorei os dois como um casal mesmo, só o possível lado ruim. Eu pensei mais num período que a homossexualidade ainda não era lá bem vista e preferi mantê-los nessa clandestinidade, se eu usasse os outros (James, Peter, etc), ia tirar mto o foco deles dois, então fingi que não existiam kkkkkkkkk Mas existem, existem.

Enfim, espero que gostem.



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