Conferência Interplanetária escrita por Triz Carstairs


Capítulo 1
Capítulo único




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Aquela era uma grande sala. com todas as paredes brancas e muito bem iluminada, tudo lá do piso ao teto era de cores claras ou decorado com dourado e prata, afinal é óbvio que o Sol gostaria de ter sua sala tão brilhante quanto ele. No centro do lugar havia uma enorme mesa com exatamente 8 - por que Mercúrio infelizmente se recusou a ir dizendo que já tinha que aturar a estrela por tempo o suficiente diariamente - planetas sentados em suas respectivas cadeiras e com os olhares focados completamente no homem/estrela loiro e alto de pé a frente de um quadro.

Bem, talvez não completamente focados.

...Okay, talvez nada focados.

O loiro suspirava enterrando o rosto nas mãos pensando em quem estava enganando, aquele lugar estava um completo caos. Como sempre.

 – SOLARIS, O QUE EU FAÇO?! MINHA GELEIRAS... – a voz da personificação da Terra, Apollo, se elevou no meio da multidão, o mesmo roía os dentes descontrolado.

 – Alguém faça ele calar a boca. – Júpiter disse, calmo e com um sorriso assustadoramente pacífico no rosto.

 – Por que eu tive que vir?! – Netuno resmungava mais distante, com os braços cruzados em uma pose digna de criança birrenta.

 – Talvez fosse importante... – respondeu Urano, ele quase não abria a boca.

Aqueles quatro eram o de menos. Marte gargalhava correndo de uma Vênus furiosa e literalmente em chamas, Saturno olhava quase hipnotizado para os próprios anéis girando nem percebendo que formava um pequeno furacão ao seu redor enquanto Urano tentava tocar no ''irmãozinho'' dele - levando vários tapas de Netuno, aliás - e Plutão praticamente andava em cima da mesa, aparentemente tendo bastante prazer em apenas observar os outros planetas de perto.

Solaris bateu na mesa com força.

 – VOCÊS TODOS, QUIETOS.

Foi como se a sala congelasse e voltasse a decência por alguns minutos, pelo menos.

 – Obrigado, meus amores.  – o loiro quase cantarolou, pigarreando e apontando para Apollo – Estamos aqui por causa dele, pra variar – ele riu ao ouvir o moreno bufar pelo seu tom de deboche – Acho que deveríamos ouvir o que aconteceu dessa vez. Conte-me, Apollo.

Como se Solaris tivesse dado a ele a confirmação para soltar uma bomba, o terráqueo pegou alguns – ou seja; muitos – papeis sorrindo e se pôs a falar:

 – Meu querido amigo...você sabe que não é fácil abrigar uma infinidade de seres vivos com tanto calor, não? Eu... – foi interrompido por um grunhido irritado.

 – Eu não posso fazer nada. Controle seus humanos e pare de tentar colocar a culpa em mim.

 – Mas Solaris! – continuou, colocando uma mão no peito. Sem dúvidas ele era o mais emotivo dali. – Eles fazem tudo pela ciência! Meus bebês...tá, admito que sinto falta dos meus dinossauros que por culpa do Jovan se extinguiram... – alfinetou, emburrado.

 – Não foi minha culpa. Supere isso de uma vez! – Jovan bufou, ofendido, mas Apollo continuou como se não tivesse o escutado.

 – ...e não gosto da poluição e de algumas atitudes deles. Odeio, na verdade. Mas são meus bebês!

 – Todos odiamos, Apollo. – praticamente todos os planetas falaram em coro. Menos Martin, ele sorria.

 – Eu gosto deles. Eles vem na minha casa às vezes, já instalaram várias coisas lá. Os robôs dele são incríveis!

 – Não gosto daquelas coisas – Bufou Vênus, com a típica cara de raiva por nenhum motivo aparente. – Mas gosto de destruí-los, a cara do Apollo é engraçada.

Movido pelas palavras da única garota ali, Apollo praticamente soluçava dramaticamente.

 – Eu só quero entender vocês! Por que são tão chatos?! Podiam ser como Martin! Ele é o único que não reclama. – Dito isso, os dois bateram as mãos várias vezes em um cumprimento estranho e demorado entre eles.

 – Eu não gosto de ser vigiado – cantarolou Jovan, a personificação de Júpiter, seu semblante era intimidador – Nunca vou devolver as sondas que coloca aqui pra você.

 – Mas, mas... – Apollo Choramingou baixinho.

 – Eu não ligo, na verdade... – Disse Rhea, ainda brincando com os anéis, mas dessa vez eles giravam mais devagar.

 – Elas são assustadoras... – a voz fina e ecoante de Percival irrompeu a conversa, fazendo todas as cabeças se virarem para o final da mesa. – ...E-eu disse algo errado?

Solaris começou a bater a cabeça na parede. Agora que a atenção se focou em Plutão o caos verdadeiro começaria, com certeza. Era sempre assim

 – Não. Claro que não! São assustadores mesmo – Jovan se levantou em toda a sua altura absurda, falando tão carinhosamente que era estranho – Se quiser eu posso te proteger das...coisas...do Apollo, é só se tornar minha lu...

 – Se quiser proteção, conte comigo. Minhas outras luas podem dar uma lição no Apollo se quiser – Rhea interrompeu, empurrando Jovan para longe do pequeno planeta. Suas luas agiam como mafiosas, eram assustadoras – O que acha?

 – Mas eu já... – o menor levantou um dos braços para recusar, mas foi interrompido por um bisturi jogado da outra ponta da mesa à milímetros de sua cabeça e se fincando no encosto de sua cadeira – GYAHH! 

Percival se encolheu por instinto, tremendo. Jovan e Rhea olharam furiosos para Apollo, que ainda estava na posição em que lançou o bisturi, sua expressão era estranha; seus olhos estavam arregalados e um grande sorriso nada agradável se estampava em seu rosto.

 – Ninguém, NINGUÉM, vai tocar nesse...nesse...Astro indefinido até que eu DESCUBRA o que diabos ele É. 

 – Eu sou um planeta, já disse... – Percival começou, um pouco hesitante, mas firme.

 – NÃO, NÃO É! Você não se encaixa nessa categoria – Apollo andava em círculos, puxando os cabelos freneticamente – também não é um asteroide, nem uma lua, nem uma estrela, nem planeta anão, nem...NADA! 

 O plutoniano levou as mãos enluvadas até a barriga involuntariamente, lá ele tinha uma misteriosa marca de nascença em formato de coração, e a pulsação de gelo da mesma era um dos motivos que deixavam o terráqueo louco; o fato de que ele não conseguia entender o porquê ou como aquilo funcionava.

É. Apollo tinha uma estranha obsessão em procurar achar um sentido para tudo, quando na verdade tudo era bem mais simples. Ele queria saber tudo sobre tudo, mas ninguém o culpava. Era da natureza dele ser assim, se isso deixava ele mais calmo e o evitava de enlouquecer por completo, tudo bem.

Quebrando o clima, Jovan simplesmente pegou o pequeno astro no colo, tentando ao máximo não o esmagar com a pressão de seus braços.

 – Bem, em breve terá sua definição; satélite natural de Júpiter.

Rhea bufou, puxando Percival pelo braço.

 – Júpiter, é? Não. Vai ser de Saturno. Aliás, é mais perto.

 – Não, não, não, saiam de perto! Vão arruinar tudo que eu pesquisei com as suas malditas forças gravitacionais! – e assim Apollo puxou o planetoide pelo outro braço, gritando algo sobre dissecamento enquanto babava.

Os três faziam um cabo de guerra com o pobre Plutoniano, que chorava e tentava balbuciar algo sobre ''ter que cuidar de suas 5 queridas luas'' no meio da discussão.

Netuno ainda sentado tentava lembrar quem era aquele baixinho, conhecia ele de algum lugar, mal sabia ele que antes de Apollo definir - por pura birra e raiva - que Plutão não era um planeta, eles eram amigos. 
Urano tentava o fazer esquecer dessa história, queria ter a atenção só pra ele, mas claro que não admitiria isso.

A briga acabou quando Lucy, em chamas, começou a berrar ameaças.

 – APOLLO, LARGUE ELE DE UMA VEZ. Pare com essa coisa ridícula! Eu te considero meu irmão mais novo, então PARE DE SER IDIOTA! – disse ela, acertando um belo soco no rosto do terráqueo, que pareceu sair de um transe.

 – M-Me desculpe... – disse cabisbaixo, com a mão cobrindo a maçã do rosto que foi acertada, logo sendo amparado pelo melhor amigo de cabelos vermelhos.

 – É por isso que eu amo ela – Solaris sonhava acordado observando Lucy - em seu ponto de vista - voltar graciosamente para sua cadeira, com suas mechas loiras balançando ao seu redor. Mas logo se recompôs, voltando o olhar para Jovan e Rhea – VOCÊS DOIS, soltem o Perci, deixem o garoto em paz de uma vez. Vocês já tem luas demais.

 – Eu tenho minhas próprias luas! Amo elas, me perdoem, não quero virar um satélite. Eu sou um planeta, planeta! – Percival choramingava sendo puxado por aqueles dois gigantes pelos braços e pernas.

 – Oh!...Desculpe, Pluto – Jovan o largou, com o semblante culpado, voltando silenciosamente para sua cadeira.

 –...Desculpe – Rhea o colocou no chão delicadamente, fazendo carinho nos cabelos platinados do menor enquanto voltava para seu assento também.

 – Waaaaa, achei que fosse quebrar – Percival se espreguiçou, mexendo os ombros e pernas desconfortavelmente antes de abrir um sorriso adorável para o loiro – Obrigado, Sr. Sol! Com isso eu posso te perdoar por se distanciar e fazer minha atmosfera congelar e cair em cima de mim várias vezes.

A estrela corou, sem graça e se sentindo culpado por não poder aquecer aquele planetinha apropriadamente. Ele era frio ao ponto de ter que se cobrir sempre, tudo que ele tocava congelava sem querer. Até as suas próprias luas eram mais quentes que ele. 

Contudo, ele apenas assentiu e retribuiu o sorriso

 – De nada, Perci. Onde estávamos? – ele olhou para todos em seus devidos lugares.

Apollo levantou a mão, inocentemente.

 – Aquecimento Global – Cantarolou em desgosto.

 – Não é minha culpa.

 – Ah, qual é! – O terráqueo deixou a cabeça cair sobre a mesa.

 – Essa reunião acabou. Estão dispensados.

 

 


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