Marcas da Melodia escrita por Carpe Librum


Capítulo 8
Falando com a Lua




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Falando Com a Lua
Eu sei que você está em algum lugar lá fora
Em algum lugar longe
Eu quero você de volta
Eu quero você de volta
Meus vizinhos pensam que eu sou louco
Mas eles não entendem
Você é tudo que eu tenho
Você é tudo que eu tenho
À noite, quando as estrelas iluminam o meu quarto
Me sinto sozinho
Conversando com a lua
Tento chegar até você
Na esperança de que você esteja no outro lado
Conversando comigo também
Ou eu sou um tolo que fica sentado sozinho
Conversando com a lua
Estou me sentindo como se eu fosse famoso
O assunto da cidade
Eles dizem que fiquei louco
É, eu fiquei louco
Mas eles não sabem o que eu sei
Porque quando o sol se põe
Alguém está falando de volta
É, eles estão falando de volta
À noite, quando as estrelas iluminam o meu quarto
Me sento sozinho
Conversando com a lua
Tento chegar até você
Na esperança de que você esteja no outro lado
Conversando comigo também
Ou eu sou um tolo que fica sentado sozinho
Conversando com a lua
Você já me ouviu chamando?
Porque toda noite
Eu estou falando com a lua
Ainda tentando chegar até você
Na esperança de que você esteja no outro lado
Conversando comigo também
Ou eu sou um tolo que fica sentado sozinho
Conversando com a lua
Eu sei que você está em algum lugar lá fora
Em algum lugar longe

(Talking To The Moon – Bruno Mars)

 Em uma noite tranquila de verão, William Taylor estava sentado em uma colina não muito afastada da cidade. Will, um moço de vinte e dois anos, é um tanto peculiar: ele tem a pele clara como a luz do luar, seus olhos verdes brilham como duas esmeraldas, seu rosto é perfeito (exceto por uma cicatriz em forma de risco que ocupa metade de sua bochecha direita), seu cabelo preto é dono de um topete jogado de lado e Will tem um metro e oitenta de altura, estando sempre vestindo roupas pretas que combinam com seu cabelo perfeitamente preto e liso.

   Will saíra cedo de casa com seu carro para ir trabalhar em uma loja de roupas onde é gerente de vendas e, ao passar na frente da última casa de sua rua, viu que a placa de “vende-se” tinha sido tirada, mas não viu sinal algum de que alguém estivesse morando ali. Talvez o dono só tivesse desistido de vender a casa porque ela estava à venda havia quatro anos. De tarde, quando ele estava passando pela mesma casa, viu uma janela aberta e várias caixas na garagem. Will ficou parado por alguns instantes olhando a casa, mas quando uma moça apareceu na janela ele acelerou o carro e foi embora.

   A moça que Will viu pela janela era Zoe Shannon, de vinte e um anos, que acabara de se mudar para lá. Zoe era uma garota de longos cabelos loiros e cacheados, tinha a pele clara quase igual à de Will e seus olhos eram o que mais chamava a atenção: um olho de cada cor. O direito era de um verde bem claro e o esquerdo de um azul igual ao céu. Zoe ficou um tanto curiosa com a atitude de Will e resolveu ir no dia seguinte, que era sábado, falar com ele.

   Will acordou cedo —  não conseguira dormir pensando na moça que havia visto no dia anterior — , se levantou e foi até o banheiro. Ficou olhando-se no espelho e percorreu o dedo indicador pela sua cicatriz. Dor e tristeza ficaram evidentes em seus olhos; a cicatriz trazia lembranças muito dolorosas. Ele desceu a escada correndo e foi até a cozinha, quando viu algo que não o agradou.

― Droga! Não acredito que essa porcaria de leite acabou! ― Will então voltou ao seu quarto resmungando. Trocou de roupas, pegou a chave de seu carro e foi ao mercado que não ficava muito longe. Quando chegou foi direto ao corredor onde ficam as caixas de leite. Enquanto pegava uma caixa, uma moça aproximou-se e disse:

― Oi, você não é o moço que estava olhando minha casa? ― sua voz era doce e calma. Will virou-se e encarou-a.

― É... Sou eu. ― disse em um tom tímido.

― Qual seu nome?

― William Taylor, e o seu nome qual é?

― Zoe Shannon, prazer em conhecê-lo, Will. ― Ao dizer isso, um sorriso encantador apareceu em seu rosto.

― Prazer em conhecê-la também.

   Will então seguiu em direção ao caixa, mas parou quando escutou Zoe falando:

― Ei! A gente se vê depois?

 ― Hã... Sim, até logo.

Will despediu-se dela e foi para o caixa. Em seu carro ficou pensando em Zoe e achou-a simpática.

Mais tarde, depois do almoço, Will resolveu dar uma caminhada. Depois de meia hora, chegou na colina onde sempre costumava ir, ficou lá até o Sol se pôr e dar lugar à Lua. Ele sempre gostou de fitar a Lua e achava que conseguiria ficar a noite inteira olhando-a, mas ele tinha de voltar, pois percebeu que estava faminto, então foi para casa. Quando chegou na esquina de sua rua, viu sua nova vizinha na garagem pegando algumas caixas. Ele aproximou-se do portão.

― Oi, vizinha! ― disse ele com um sorriso no rosto. Zoe olhou por cima do ombro e o cumprimentou.

― Olá vizinho! O que faz na rua tão tarde da noite?

― Eu saí para caminhar, fui até uma colina aqui perto e perdi a noção do tempo, olhando a Lua.

― Você gosta de olhar a Lua, é? ― perguntou curiosa.

― Ah, sim, eu gosto muito dela. ― Quando falou , seus olhos brilharam ainda mais.

― Também gosto de admirar a Lua ― disse essas palavras com um pequeno sorriso no rosto.

   Eles se olharam por alguns segundos até que Zoe falou:

― Bom... se nós dois gostamos de olhar a Lua, que tal amanhã à noite nós irmos à sua colina admirá-la?

Will ficou surpreso com o convite e suas bochechas ficaram um pouco rosadas.

― Ah... bem, então está combinado. Pode ser às oito da noite?

― Às oito está ótimo.

― Bom, então amanhã eu passo aqui, tchau ― Will falou em um tom tímido, mas não tão tímido igual ao de antes.

― Okay, eu te espero aqui. Tchau, Will, boa noite. ― Ela sorriu e entrou com as suas caixas.

   Quando chegou em casa, Will estava feliz que teria com quem conversar, já que sentia-se muito sozinho às vezes. Abriu a geladeira e pegou as sobras da lasanha que tinha comido no almoço e as esquentou no micro-ondas. Depois foi para seu quarto, colocou o pijama e sentou na cama para admirar a Lua mais um pouco. Enquanto estava ali sentado, começou a pensar em Zoe. Ele não tinha reparado em como ela era linda e gentil, ficou ali imerso em seus pensamentos por quase uma hora, e quando percebeu que estava ficando tarde resolveu ir dormir.

Will acordou às oito em ponto. Era uma linda e quente manhã de domingo, levantou-se e foi até a cozinha tomar uma xícara de café e comer algumas torradas. Ao terminar, foi ao banheiro escovar os dentes, depois foi até seu quarto trocar de roupa.

   Como não tinha nada para fazer de manhã, resolveu sentar no quintal de sua casa e ler. Leu por mais ou menos uma hora e então resolveu entrar, pois estava começando a ficar ansioso pela noite. Will não era muito de sair com outras pessoas.

Quando era quase meio dia, ele resolveu almoçar; comeu, lavou a louça e quando percebeu já não tinha mais nada para fazer e ainda era uma da tarde. Então foi para seu quarto escutar música e desenhar. Will desenhava muito bem e desenhou uma linda Lua cheia entre nuvens, que mais pareciam pequenos pedaços de algodão, navegando livres e suavemente pelo céu estrelado. Ele continuou em seu quarto até às sete e então resolveu jantar, depois tomou banho e vestiu-se com uma camisa preta e uma calça jeans azul clara, rasgada levemente nos joelhos e calçou seu All-Star preto. Penteou o cabelo e passou seu perfume preferido. Quando terminou de arrumar-se, já eram quase oito da noite.

   Na hora marcada, Will encontrou Zoe na frente da casa dela. Ela estava com os cabelos soltos e usava uma regata azul escura, shorts jeans preto e estava calçando também um All-Star, só que azul.

― Você veio ― ela falou com um sorriso abrindo-se em seu rosto.

― É, eu vim ― falou Will, rindo.

― Bom, vamos então?

― Vamos.

― A colina é muito longe?

― Não, não. São uns vinte minutos de caminhada ― Will disse em um tom despreocupado.

   Eles conversaram até tarde da noite. Falaram de tudo, sobre a Lua, músicas, séries, sobre cada um, mas quando Zoe perguntou de sua cicatriz, Will ficou em silêncio, fitando a Lua.

― Ah, desculpa ― Zoe falou olhando Will.

― Você não precisa pedir desculpas ― Will falou com sinceridade. ― Eu ganhei essa bela cicatriz quando eu tinha dez anos. Estava andando com meus pais na rua, quando dois homens nos assaltaram ― contou com a voz triste. ― Meus pais reagiram, e... acabaram sendo assassinados. Eu tentei brigar com os ladrões, que cortaram o meu rosto com uma navalha.

Nossa, Will, eu não poderia imaginar que tudo isso aconteceu com você, mas com quem você ficou quando seus pais faleceram?

― Eu fiquei com a minha avó materna até os dezoito anos, mas ela faleceu e eu acabei me mudando para cá.

― Sinto muito, Will ― ela falou com sinceridade.

― Bom, é uma história bem dramática. ― Um pequeno sorriso abriu-se em seu rosto.

― Ah é, bem dramática... ― Zoe abriu um pequeno sorriso também.

― Olha, já passa das onze, é melhor voltarmos ― Will falou e seu “pequeno” sorriso já ocupava quase todo seu rosto.

― Está bem, vamos então ― o sorriso de Zoe também cresceu.

   Will deixou Zoe em casa, despediram-se e combinaram de se encontrarem de novo, no próximo domingo. Will foi direto para a cama quando chegou em casa. Ele teria de acordar cedo para trabalhar. A semana passou rápido para ele, quando percebeu, já era domingo e mais uma vez passou o dia ansioso. Então às oito foi encontrar Zoe na frente da casa dela, e como no outro domingo ficaram até tarde conversando.

― Zoe, no que você trabalha? ― perguntou Will curioso.

― Eu desenho os rótulos para os perfumes da fábrica de minha família, mando os desenhos por e-mail ― disse olhando Will. ― E você, no que trabalha?

― Você desenha?

― Sim, mas você não me respondeu.

― Ah, bom... Eu sou gerente de vendas de uma loja ― disse em um tom de indiferença.

― Gerente? Que chique ― Zoe disse sorrindo.

― E como ― Will sorriu e deu risada.

   As horas foram passando e Zoe percebeu que estava tarde.

― Will! É quase meia noite!

― Nossa! Temos que ir. ― Ele se levantou e estendeu a mão para Zoe, ela segurou e se levantou.

   Eles se encontravam todos os domingos, cada vez mais próximos e íntimos um do outro. Will, quando estava em seu quarto olhando a Lua, percebeu que o que sentia por Zoe era mais que amizade e que esses dois meses de convivência estavam sendo os melhores de sua vida. Depois de anos sem sorrir de verdade, Will sorria sempre, agora que tinha Zoe. Decidiu precisava contar o que sentia por ela, mas não podia ser por telefone, então esperou o domingo. Ela também sentia-se bem perto dele e também sabia que o que sentia por Will não era só amizade.

   O domingo chegou, e ambos estavam tensos, pois ela também pretendia contar a Will o que estava sentindo.

O o... Oi, Zoe ― Will falou e sua voz tremeu.

― Oi, Will. ― Ela estava mais tensa que Will. ― Vamos então? Preciso te falar uma coisa.

― Ah, claro, vamos, eu também tenho uma coisa para te falar.

Logo quando chegaram à colina, os dois ficaram se olhando, até que Will quebrou o silêncio.

― Zoe, eu... Eu gosto de você. ― Will tremia.

― Gosta como? ― Zoe perguntou.

― Eu amo você, e não é um amor de amizade. ― Um pequeno sorriso apareceu em seu rosto.

― Olha que coincidência, eu também amo você! ― Zoe também sorriu.

― Agora que já nos declaramos, o que vamos fazer?

― Bom, nós podemos começar a namorar ― Zoe riu.

― É, podemos namorar ― Will também riu.

   Então beijaram-se, e depois desse beijo Will segurou o rosto de Zoe em suas mãos e perguntou:

― Zoe Shannon, quer namorar comigo?

― Eu quero ― ela respondeu, ainda com um riso nos lábios.

   Os dois estavam mais próximos ainda e faziam tudo juntos praticamente. Estavam tão felizes que parecia que nada iria estragar aquela felicidade. Mas em uma terça-feira à tarde, Will viu um carro parado na frente da casa de Zoe e, quando estacionou, escutou Zoe chorando; então saiu de seu carro e entrou.

― Zoe? Zoe, o que está acontecendo?

   Zoe veio da cozinha ainda chorando e abraçou Will. Logo depois, um homem que parecia um advogado apareceu. Will, sem entender, perguntou à Zoe:

― O que está acontecendo? Quem é esse homem? ― Will estava preocupado e confuso.

― Ele é o advogado de minha mãe. ― Zoe chorava ainda mais. ― Ele veio contar que minha mãe faleceu e que eu tenho que ir embora para a Nova Zelândia! Will, eu não sei o que fazer, preciso da sua ajuda, não quero ir embora!

― Zoe, não sei nem o que te dizer, mas você não precisa ir sozinha, eu vou com você!

― Não, Will, você não pode deixar a sua vida por minha causa. Você fica. Por mais que isso doa em mim, não quero que você largue tudo!

― Mas Zoe, você não precisa de mim? ― Will estava completamente confuso.

― Eu preciso que você seja feliz e vou embora amanhã. Me desculpe, Will... ― Zoe estava com o coração partido em milhares de pedaços.

   Will não estava acreditando no que acontecera. Zoe ia embora e ele voltaria para sua vida monótona, mas não podia fazer nada a não ser aceitar, pois Zoe não queria que ele fosse junto com ela. Naquela noite, Will foi para seu quarto e ficou lá com a Lua, e de manhã, quando foi falar com Zoe, era tarde demais, ela havia partido.

   Os vizinhos de Will diziam que ele era louco, por que ele sempre parava o carro em frente da antiga casa de Zoe, todo dia na volta do trabalho. Ele ficava lá por longos minutos observando a casa. Mas eles nunca entenderam que aquilo era tudo o que ele tinha.

   E sempre que as luzes das estrelas iluminavam seu quarto, Will sentava na cama e conversava com a Lua, tentando chegar até Zoe, na esperança de que ela estivesse falando com ele também. Ele perguntava para si mesmo se era mesmo louco por estar conversando com a Lua.

― Zoe... ― Will sussurrava olhando para a lua. ― Zoe, eu quero você de volta. Estou me sentindo famoso, os vizinhos só falam de mim, dizem que eu fiquei louco depois que você partiu, mas eles não entendem que você é tudo o que tenho!

   Durante oito meses, Will viveu assim, até que em uma noite, enquanto andava pela rua, viu uma moça e logo percebeu que era Zoe.

― Zoe?! É você. ― disse sem acreditar.

― Sim, Will, sou eu, eu deixei a fábrica para um primo meu e voltei! Ele vai assumir tudo. E eu vou continuar fazendo os meus desenhos daqui! Vou poder ficar com você! ― um sorriso abriu-se em seu rosto de orelha a orelha.

― Zoe! Eu não acredito que você fez isso! ― O coração de Will bateu sem ritmo, parecendo que ia explodir de tanta alegria.

   Will abraçou Zoe. Ele estava muito feliz e não conseguia acreditar que ela estava de volta.  Nesse momento, Will percebeu que Zoe tinha voltado para ele.

 ********

Escrito por Camila Banhara, premiada por Pontualidade na Entrega.


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