Marcas da Melodia escrita por Carpe Librum


Capítulo 10
Tudo Que Eu Queria Era Você




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E se eu quisesse terminar?
Rir de tudo na sua cara
O que você faria?
E se eu caísse no chão?
Não pudesse mais aguentar isso
O que você faria, faria, faria?

Venha me destruir
Me enterre, me enterre
Eu terminei com você

E se eu quisesse lutar?
Implorar pelo resto da minha vida
O que você faria?
Você diz que queria mais
O que você está esperando?
Eu não estou correndo de você

Venha me destruir
Me enterre, me enterre
Eu terminei com você
Olhe nos meus olhos
Você está me matando, me matando
Tudo que eu queria era você

Eu tentei ser outra pessoa
Mas nada pareceu mudar, eu sei agora
Este é quem realmente sou por dentro
Finalmente me encontrei
Lutando por uma chance, eu sei agora
Este é quem eu realmente sou
(...)
( The Kill- 30 Seconds To Mars)

Meu nome é Brandon Carter, eu tenho 19 anos e moro em Tóquio.

Há dois anos me mudei para o Japão com meus pais, no começo era apenas a trabalho, mas acabamos gostando daqui, nossas condições eram favoráveis, então, nos mudamos de vez. Eu ainda não concordava com essa nova vida, até conhecer Mandy Nakada, o sorriso dela me conquistou.

Nos conhecemos em um mercado próximo à minha casa, estávamos no corredor de enlatados quando nossas mãos se encontraram, quem diria que uma sopa em conserva mudaria minha vida. Foi constrangedor, ela se inclinou pedindo desculpas, e eu, sem saber o que dizer, fiquei parado olhando para ela, minhas bochechas coraram, e então ela sorriu. Fiquei admirado, ela tinha o brilho da lua em seus lábios, eu só pensava em pedir o número dela, mas não queria constrangê-la, foi quando ela se virou e andou em direção ao caixa.

Seria esse o fim? A melhor coisa de Tóquio estava indo embora e eu não faria nada? Eu era um idiota mesmo. Se bem que uma garota tão bonita como aquela nem daria mesmo bola para mim.

    Naquela tarde, saindo do mercado, voltei para casa sem conseguir pensar em nada além do toque das mãos de uma bela garota, que possuía o sorriso mais lindo que eu já havia visto em toda minha vida, mas não sabia como encontrá-la, eu nem sabia o seu nome.

    Toquei a vida da maneira que eu podia, comecei a trabalhar com o meu pai e já estava começando a me adaptar.

   Meu primeiro dia de trabalho foi tedioso, fiquei sentado em uma mesa ouvindo meu pai e os outros diretores falando de negócios. Tenso, mas até que passou rápido. No segundo dia, eu resolvi passar na cafeteria antes de ir para o escritório, estava com sono, mas vi algo que me despertou de imediato.

Era ela.

Naquele momento senti meu coração pulsar forte. Gelei, a fila do balcão começou a andar e era minha vez de fazer o pedido. Ela me olhou e sorriu, a única coisa que eu consegui dizer foi um mísero oi, isso mesmo, e depois do oi, pedi um café forte. Ela pegou o café e me deu um papel com o preço. Antes de ir até o caixa, tomei coragem e perguntei o seu nome. Fiquei surpreso com sua reação, parecia feliz, como se falar comigo tivesse sido a melhor coisa que aconteceu no seu dia.

Com a voz doce, ela me disse seu nome. Mandy. Ah, que nome lindo. Perguntei se seria incômodo demais me passar seu número. E mais uma vez me surpreendi, ela me deu outro papel, mas desta vez, com o seu contato. Sorri e disse que mandaria mensagem o mais rápido que conseguisse. Ela assentiu com a cabeça e eu retribui, segui em direção ao caixa e paguei meu café.

Quando finalmente cheguei em casa, depois de mais um dia de trabalho, tomei um banho e, em seguida, mandei mensagem para ela. Depois de uma hora ela me respondeu. Conversa vai, conversa vem, e finalmente marcamos de nos encontrar. Parecia estranho, mas ela não se importou em sair comigo, um cara que ela viu duas vezes, se bem que eu a convidei para ir ao parque de diversões no sábado à noite, um lugar público.

O tempo parecia estar me sacaneando, as horas pareciam séculos, só porque eu queria que sábado chegasse logo. Para ajudar minha ansiedade, pensei nas possíveis flores que levaria para ela, e então, me perguntei se ela gostava de flores. Por que é tão difícil assim escolher algo para dar a uma garota? Respirei fundo e decidi que levaria rosas brancas, pensei nas vermelhas, mas achei ousado demais para um primeiro encontro

Quando o tão desejado final de semana chegou, mandei uma mensagem para ela e perguntei se queria que eu fosse buscá-la, me respondeu que sim, às 18:00 horas. Quando deu 16:00 horas, decidi me arrumar para não a deixar esperando. Depois de um bom banho, peguei meu carro, busquei as flores que tinha reservado e, em seguida, fui até a casa dela.

   Chegando no parque, a luz da roda gigante refletiu no rosto de Mandy, confesso que naquele momento eu desejei ter meus lábios junto aos dela, mas antes de que eu tomasse qualquer atitude, ela disse que o buquê de flores era muito bonito e que só não agradeceu antes porque ficou com vergonha. Sorri e fomos até uma loja de cachorro quente. Andamos pelo parque, conversamos e, antes de ir embora, Mandy olhou para mim e agradeceu pela noite maravilhosa, disse que queria fazer isso mais vezes.

Fiquei sem palavras, eu também queria isso, queria vê-la todos os dias, saber como ela estava, mas eu tinha que ir com calma. Segurei suas mãos e disse que adorei cada momento que passamos juntos naquele parque, e que sim, faríamos tudo aquilo mais vezes. Quando estávamos caminhando em direção ao estacionamento, percebi que não tinha soltado a mão dela. Nós andamos de mãos dadas e eu nem havia percebido, mas o que mais me intrigou foi o fato de ela não ter se importado ou se constrangido. Deixei-a na porta de sua casa, dei-lhe um beijo no rosto e disse boa noite. Ela acenou com a cabeça e disse tchau.

Os dias foram se passando e a gente começou a conversar cada vez mais. Marcamos encontros, nos divertimos, mas eu ainda esperava o momento exato, para quem sabe, rolar algo a mais. Eu não sabia o que tudo isso significava para ela, mas para mim já estava bem claro. Eu havia me apaixonado. Todos os sorrisos, os abraços, a forma como ela se sentia segura em conversar comigo, me contava sobre suas aflições e compartilhava os seus sonhos... Éramos apenas amigos ainda, mas eu pretendia mudar isso, tinha plena certeza de que queria estar com ela para sempre. Nunca tinha me apaixonado antes, ela foi a melhor coisa que me aconteceu.

     Quando dei por mim, já havia se passado quatro meses que estávamos saindo juntos, então decidi chamá-la para jantar em um restaurante perto da minha casa, seria uma noite tranquila, em que eu admitiria os meus sentimentos a ela. Chegando no trabalho, mandei uma mensagem para ela, perguntando se estava a fim de sair para jantar e conversar um pouco. Ela me respondeu na hora que sim. Marcamos então para a noite, depois que saíssemos do trabalho.

Antes de ir buscá-la, passei na floricultura e comprei um buquê de rosas vermelhas, o momento pedia algo mais ousado. Chegando em frente à cafeteria, vi a Mandy sair, ela tinha acabado de fechar a loja. Abri a porta do carro para ela e fomos ao restaurante. Era um lugar simples, calmo e a comida era muito boa. Jantamos, rimos à beça e, depois de um tempo, peguei a mão dela e disse que nós já éramos muito próximos, contávamos tudo um para o outro e que eu não queria mais ser só um amigo, que as flores vermelhas eram para simbolizar o meu amor.

Eu não sabia que uma garota faria tudo isso comigo, me prender, virar meu mundo de ponta cabeça, eu não conseguia continuar sendo só um amigo, não podia fazer isso com os meus sentimentos. Ela me olhou com um olhar que eu nunca tinha visto antes, estava muito diferente, um olhar de quem não só ficou surpresa, mas de compreensão. Isso me deu um certo alívio, mas ela ainda estava quieta, e eu estava suando frio, nervoso e com medo.

Tomei um susto muito grande quando ela segurou forte a minha mão e finalmente eu tive o prazer de ouvir sua voz. Ela me disse que sentia algo a mais por mim, que se sentia bem quando estava comigo e queria tentar algo mais sério. Gelei, por fora eu parecia estar normal, mas por dentro soltava fogos de artifício, não sabia o que falar ou fazer, então pedi a conta e depois a levaria para sua casa, estava ficando tarde.

Dentro do carro, nos despediríamos e ela entraria em sua casa. A minha vontade era de beijá-la ali mesmo, mas não havia feito um pedido de namoro ainda, seria arrogante da minha parte roubar um beijo. Então, agradeci pela sua companhia e disse, involuntariamente, que eu a amava. Para minha surpresa, ela retribuiu, não com palavras, mas com o beijo que eu queria. Por um momento eu fui aos céus e voltei, e a beijei de volta, claro. O clima estava ficando cada vez melhor, mas eu não queria passar dos limites, então dei um beijo em sua testa e disse que mandaria mensagem para ela quando chegasse em casa. Ela me deu um último beijo e foi embora.

    Passaram-se duas semanas e, durante esse tempo, preparei uma surpresa para minha doce Mandy. Comprei flores, vinho e alianças. Sim, eu faria o pedido de namoro oficial em um jantar romântico, mas desta vez seria em minha casa, já que meus pais não estariam lá.

Tudo ocorreu como esperado, ela aceitou o convite. Jantamos, conversamos e nos beijamos muito. Em meio a esses amassos, fiz meu pedido. Pude ver os olhos dela se enchendo de lágrimas, isso me deixou tão feliz! Ela me disse sim e em seguida me deu um beijo. As coisas estavam ficando cada vez mais quentes, mas não fizemos nada, eu só ultrapassaria esse limite se ela quisesse. Dormimos juntos, abraçados e acariciando um ao outro.

Mais sete meses se passaram. Eu e a Mandy estávamos cada vez mais apaixonados. Durante esse tempo, conheci a mãe dela, um encanto de mulher. Mandy dava duro para cuidar dela, pois tinha uma saúde muito frágil. Meus pais também a conheceram, tudo corria bem.

Contudo, sob outros aspectos, eu estava preocupado com o meu pai. Ele se dedicava demais ao trabalho, a empresa-sede em Nova York estava de olho nisso. Mandaram-no ficar quatro dias em Quioto para fechar negócio. Como sempre, minha mãe o acompanharia e eu ficaria em casa.

Combinei com a Mandy de assistirmos filmes o final de semana inteiro, ela adorou a ideia. Quando o primeiro filme acabou, fui até a cozinha e peguei algumas guloseimas para comer durante o segundo. Chegando em meu quarto, vi Mandy deitada debaixo da coberta e pude perceber que ela estava sem roupa. Por um momento, pensei em tirar logo a minha também, mas eu precisava perguntar se era isso mesmo que ela queria, e assim foi, me aproximei dela e perguntei. Ela não hesitou, disse que queria.

Eu a observei, com certeza estava nervosa. Me deitei ao lado dela e comecei a beijá-la. Quando eu percebi que o nervosismo havia dado uma trégua, sussurrei em seu ouvido que tudo o que ia acontecer também era novo pra mim. Tirei minha roupa e depois de alguns minutos aconteceu, experimentamos aquilo pela primeira vez juntos.

    Mais alguns meses se passaram e finalmente comemoramos um ano de namoro. Tudo parecia bem, meu trabalho, meu namoro, não faltava mais nada. Mas de repente, tudo virou do avesso. Meu pai ia ser transferido de Tóquio para Nova York definitivamente. Disseram que ele cumpriu a meta e tinha cargo garantido como o mais novo presidente da empresa. Eu era o braço direito dele, tinha um bom cargo garantido também, nada mais nada menos que a vice-presidência.

Eu estava perdido, não podia ir embora e abandonar o amor da minha vida. Ela percebeu que eu não estava bem, me perguntava a todo momento o que estava acontecendo. Como eu não podia guardar isso por muito tempo, resolvi contar. Sua reação não foi nada boa, chorou de soluçar e disse que estava com medo de me perder. Isso me arrebentou por dentro.

Eu estava sem saída, de um lado tinha o meu pai, que precisava de mim, e do outro, tinha a única mulher que eu amei na vida. Em meio a esse tumulto infernal, tive uma ideia, levaria Mandy para os Estados Unidos comigo. Contei a ela sobre isso, disse que levaríamos sua mãe junto, mas a reação dela acabou comigo. Ela disse que a saúde de sua mãe estava muito delicada para fazer uma mudança dessas e que não iria embora comigo. Senti meu coração tomar um tiro. Eu insisti, mas ela disse que estava decidida, não sairia de Tóquio.

Meu pai tinha que ir no final daquele mês, estava muito em cima da hora para eu tomar qualquer atitude. Mesmo assim, fiz de tudo para não ir, mas nada adiantou, meu pai precisava de mim. Os dias foram se passando e faltava uma semana para a mudança.

Eu já tinha ido várias vezes atrás da Mandy, não ia desistir. Insisti ainda mais, ela não parecia estar nada bem, disse que não podia me escolher e arriscar a saúde da sua mãe, e por isso pediu para que eu terminasse com ela, já que não conseguiria fazer isso. Eu a beijei, não podia terminar, mas ela me implorou, disse que não seria fácil, mas que era preciso. Não falei mais nada depois disso, entrei no carro e fui embora.

"E se eu quisesse lutar?

Implorar pelo resto da minha vida

O que você faria?

Você diz que queria mais

O que você está esperando?

Não estou correndo de você."

Faltava um dia para entrar no avião e ir embora. Fui atrás da Mandy mais uma vez. Disse que a amava muito, implorei para ir comigo e tudo que eu tive foi um não seguido de lágrimas. Ela me declarou seu amor, mas não podia ir comigo. Percebi que não tinha jeito. Toquei seu rosto pela última vez, dei-lhe um beijo e disse que estava tudo acabado entre nós, por mais que eu não quisesse ir, que esperava um dia poder vê-la de novo, pois eu nunca deixaria de amá-la. Ela me deu mais um beijo e se despediu.

Chegando em Nova York, eu estava destruído, não queria saber de mais nada. Pensei na Mandy, na nossa história, em todos os beijos e sorrisos que demos juntos, e isso acabou ainda mais comigo. Era difícil de acreditar que ela não tinha vindo, acho que seu amor por mim não era forte o suficiente. Eu daria todo apoio em relação à mãe dela, mas mesmo assim, ela me deixou. Esperei que ela ficasse bem e, quem sabe um dia, a gente se encontrasse outra vez.

 

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Escrito por Nathaly Hipolito, segunda colocada no concurso Ainda Em Meu Coração.

 

 


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