A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 70
70. O plano e a fuligem




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O plano e a fuligem

Após o jantar, Regulus e seus amigos foram para o dormitório. Assim que Jack, John e Theodor cansaram de fazer piadas e imitar de modo afetado os olhares e suspiros das garotas durante o jantar, para o novo “herói das estufas”, ele pediu silêncio.

— Amanhã cedo, então? - perguntou.

Os outros garotos confirmaram com acenos de cabeça.

— E quando vamos usar o pó?

— Podemos usar semana que vem... – disse Theodor.

— E passar uma semana esperando com material roubado escondido aqui? Isso só vai aumentar a chance de dar errado! – disse John.

— Concordo. – disse Regulus, - acho que deveríamos testar amanhã mesmo, assim que pegarmos o pó.

— E ir para onde? – questionou Jack.

— Para Hogsmeade! Já falamos sobre isso! – disse Theodor, irritado.

— Dããã... qual lugar em Hogsmeade? Suponho que exista mais de uma lareira lá. – disse Jack.

— O bar Três Vassouras tem uma lareira... Meu tio me contou que costuma visitar sua namorada, a Rosmerta, usando a rede de flu. – comentou John.

— Mas o bar vai estar fechado às 5 da manhã... – ponderou Regulus - Seria mais fácil aparecer lá num horário em que estivesse lotado, para que ninguém note a gente chegando... ah, e sem uniforme da escola... Além disso, amanhã é o primeiro dia de visita à Hogsmeade, aí não vão estranhar ver a gente circulando por lá...

— Será que desta vez vamos ser liberados para ir?

— Acho que sim, Ami. – respondeu Regulus – Os passeios foram cancelados no início do ano letivo por conta do episódio com as vassouras do pessoal da Grifinória. O diretor quis primeiro se certificar de que não haveriam outros meios de se chegar à escola se não os permitidos por ele... Doce ilusão. Mas o passeio de amanhã está confirmado. Vocês não viram no quadro de avisos? – ele olhou para os outros, que o olhavam admirados. "Depois dizem que sou eu que vivo no mundo da lua....”, ele pensou; balançou a cabeça para os lados, desaprovando a falta de informação dos outros. - Também não entendo porque tanto medo dos Comensais da Morte entrarem na escola... A maioria têm filhos aqui, não iam querer confusão... E até quanto eu possa imaginar, Voldem...

— Não diga o nome dele! Papai disse que ele toma como um insulto pessoal quando dizem seu nome. – avisou Jack.

— Erm, está certo. Não vou mais falar. Bem, de qualquer forma, o que nos interessa agora é o nosso plano. Vocês concordam que temos que chegar em Hogsmeade quando todos estiverem por lá, certo?

— Sim, mas para isso teríamos que esperar a sala comunal estar vazia... – comentou John, com um olhar preocupado – acho que não vai dar certo...

— Vai dar certo, sim! – animou-se Theodor – O pessoal dos últimos anos vai todo para Hogsmeade logo cedo, então esperamos os alunos do segundo e do primeiro ano saírem para tomar café-da-manhã e usamos o pó.

— Parece um plano perfeito! – exclamou Jack.

— Fácil demais... – resmungou John. – Vocês estão esquecendo de um detalhe: como vamos entrar no quarto de Kettleburn? Que eu me lembre, ninguém conseguiu nada útil para escalar a parede...

— Bem, na verdade, eu consegui. – disse Regulus, triunfante, enquanto remexia no bolso à procura de alguma coisa. Após alguns momentos de suspense, ele tirou a mão do bolso e mostrou algo do tamanho de um alfinete – aqui.

— E o que é isso? – perguntou Theodor, franzindo a testa.

Regulus sorriu:

— Minha vassoura.

— Como assim? Você disse que as vassouras estavam sendo trancadas no armário do vestiário e não daria para usar... – questionou John.

— E estão. Mas ontem de manhã eu fui na biblioteca procurar um modo de transfigurar algo em escada. Não encontrei. Me senti muito frustrado, tão frustrado quanto no dia em que a professora McGonagall me enganou na frente da classe inteira, criando uma réplica da minha varinha. Então eu pensei que uma solução simples seria criar uma réplica da minha vassoura e manter a original comigo. Eu fiz isso na hora de guardar minha vassoura, depois lancei um feitiço encolhedor e aqui está ela, pronta para ser usada.... Quer dizer, ainda preciso reverter o feitiço, mas isso vai ser simples. Só precisamos ficar de olho para nos certificar que o professor realmente tenha saído do quarto antes de eu entrar...

— Eu fico no corredor do quarto dele, atrás daquela grande armadura. Assim que ele deixar o quarto, venho aqui avisar você. – disse Theodor Amifidel, prontamente.

— Não, vou esperar na saída para o pátio, assim já estarei mais próximo da janela dele quando você chegar.

— E eu ficarei de guarda no corredor. Se alguém se aproximar, eu dou um grande assovio. – Disse Jack.

— E eu vou ficar embaixo das cobertas esperando vocês voltarem... – disse John.

Os outros olharam para ele, bravos.

— Brincadeirinha... – ele sorriu – vou ficar de guarda aqui na sala comunal. Vai dar tudo certo. – ele balançou a cabeça.

Durante a noite a primeira neve do ano caiu impiedosamente, cobrindo os terrenos da escola com uma fofa e grossa camada branca. Regulus acordou cedo e chamou os outros. Faltavam ainda 20 minutos para as 5 da manhã. Rapidamente todos se vestiram e deixaram a sala comunal, sem fazer barulho. John permaneceu na sala comunal, sentado confortavelmente numa poltrona, supostamente cuidando para que ninguém os descobrisse quando os outros voltassem.

O frio congelava as pontas dos dedos de Regulus que lamentou ter esquecido de vestir as luvas. Enquanto ele aguardava Amifidel chegar ao pátio, ele lançou um feitiço sobre as mãos para mantê-las aquecidas, depois olhou para a neve. Seria mesmo impossível chegar até a janela do banheiro do professor sem deixar rastros se não fosse voando. Ele sentiu-se orgulhoso por ter tido a ideia de replicar sua vassoura e deixar a cópia no armário.

Pouco tempo depois. Amifidel apareceu correndo, fez um sinal de positivo ao mesmo tempo que ele deixava o chão e voava velozmente em direção ao lado de fora do castelo. Antes de mudar de direção para aproximar-se da janela escolhida, ele avistou o professor entrando na Floresta Proibida, ao lado de Hagrid. Tudo estava conforme o combinado. Regulus escorregou rapidamente janela adentro e correu para a sala na penumbra. Pegou o pote em forma de chifre sobre a lareira. Olhando para isso, percebeu que tinha esquecido que precisava de algo para colocar o pó de Flu dentro. Ele colocou o chifre sobre a mesa de centro e olhou para os lados. Não havia nada ali que pudesse usar. Um pouco angustiado, o menino remexeu nos bolsos e encontrou algo lá. Ele pegou. Ao lado da rainha branca, havia uma lata pequena. Ele sorriu. Lembrar de Alice parecia acender uma pequena vela dentro dele e, de repente a sala parecia menos escura. Ele colocou a peça de xadrez de volta no bolso e balançou a lata. Havia uma pequena quantidade de balas de Ratos Gelados nela. Ele abriu a lata e jogou seu conteúdo em sua boca. Seus dentes começaram ranger e guinchar. Ele pensou que tinha sorte de que estava sozinho lá e ninguém iria ouvir aquele barulho.

Regulus suspirou aliviado, pegou o pote e derramou o pó de Flu na lata. Depois de recolocar o chifre sobre a lareira e lata em seu bolso, ele voltou para o banheiro andando de costas, lançando encantamentos para limpar a sala de qualquer vestígio de sua presença. Ele verificou a sala mais uma vez antes de entrar no banheiro. Era assustador estar lá sozinho com aquela infinidade de cabeças de animais mortos e peles. Ele teve a impressão de que os olhos de um dragão azul, cuja cabeça estava pendurada na parede tinha piscado para ele. Duas vezes! Regulus engoliu em seco enquanto olhava nos olhos do dragão. Não aconteceu mais nada. “Foi só um flash de luz que veio do nada, o que lhe deu a impressão de que o dragão tinha piscado — ele pensou e balançou a cabeça para os lados, antes de ir para o banheiro. Rapidamente, ele escalou a pia e saiu pela janela, montado em sua vassoura, que pairava no ar a sua espera. Antes de ir, Regulus apontou sua varinha para o banheiro:

Scourgify!

Então voltou triunfante para o pátio, onde Amifidel o aguardava.

— Conseguiu?

Regulus assentiu, depois apontou a varinha para a vassoura, a encolheu mais uma vez e colocou no bolso. Então eles se juntaram a Jack e os três voltaram para a Sala Comunal da Sonserina, onde John cochilava na poltrona. Jack olhou para ele, irritado.

— Bela ajuda! Devíamos deixa-lo aí.

 - Melhor não. Ele pode acabar falando algo que nos denuncie.

Dizendo isso, Amifidel chacoalhou John até que ele acordasse, então os quatro meninos seguiram em silêncio para o seu dormitório.

— E aí, tudo certo? – perguntou John.

— Não graças a você... – respondeu Jack, aborrecido.

— Mas deu tudo certo, não é? Ninguém apareceu na Sala Comunal, senão eu teria acordado...

— Sei, sei.... Eu quase tive que arrancar seu braço para que você acordasse, John. – respondeu Amifidel.

— Hei, caras! Não briguem. Está tudo saindo conforme planejamos. Logo estaremos em Hogsmeade. Relaxem, – pediu Regulus.

— Onde está o Pó de Flu?

— Aqui. – Regulus remexeu no seu bolso e pegou a latinha. Para seu desespero uma certa quantidade havia se esparramado em seu bolso pois, na correria, ele não havia encaixado bem a tampa. Ele abriu a lata para mostrar seu conteúdo aos outros, ao mesmo tempo que evitava que eles vissem que ela estivera mal fechada.

— Só isso? – questionou John.

— Não sei se vai ser suficiente, – disse Amifidel, franzindo as sobrancelhas.

— Tinha pouco pó na lata do professor, eu não podia pegar tudo para que ele não desconfiasse.

— Tudo bem, tudo bem. vai ser o suficiente, – disse Jack, examinando a lata – uma vez estávamos quase sem pó de flu em casa e minha mãe pediu que todos entrássemos na lareira ao mesmo tempo. Funcionou. Podemos fazer o mesmo.

Os outros concordaram. Eles deitaram cada um em sua cama e ficaram em silêncio, embora todos compartilhassem o mesmo sentimento de ansiedade. Três horas depois Amifidel olhou pela fresta da porta. Ainda haviam alguns alunos na sala comunal, mas já eram bem poucos. Ele tornou a fechar a porta. E voltou a se deitar, dizendo:

— Falta pouco agora.

Eles aguardaram mais meia hora e Amifidel levantou-se, tornou a abrir uma pequena fresta na porta e espiou por ela.

— Todos já saíram. Vamos!

Os quatro garotos deixaram o dormitório na ponta dos pés, embora isso não fosse necessário. Então, sem se falar, espremeram-se todos dentro da lareira. Regulus pegou quase todo pó de fu que restava na latinha e disse:

— Três vassouras!

Houve uma pequena explosão de chamas verdes. Eles sentiram um chacoalhão em seus corpos, fazendo-os saltar e girar, e então cair, jogados uns contra os outros.

— Ai! – reclamou Amifidel que tinha o cotovelo de Regulus quase dentro de sua boca.

— Shiu! Fique quieto!  Alguém pode nos ouvir. – sussurrou Regulus.

Eles não conseguiam enxergar nada. Havia uma grande quantidade de fuligem no ar. Amifidel e outro garoto, provavelmente John, tossiam. Eles levantaram-se, escorando-se uns nos outros. Era difícil enxergar através da fuligem, mas havia alguém do lado de fora da lareira. Regulus cutucou Amifidel e sussurrou:

— Olha.

Aos poucos a poeira foi abaixando e a imagem de uma pessoa corpulenta foi ficando cada vez mais nítida. Não demorou muito para que eles conseguissem distinguir a silhueta avantajada de Slughorn do lado de fora. O que ele estaria fazendo no Três Vassouras àquela hora?

— Vamos, meninos. Podem sair.

Eles olharam ao redor. Para a decepção de todos, continuavam na sala comunal da Sonserina. Um a um saiu da lareira, sujos de fuligem da cabeça aos pés.

Slughorn estava sério, embora suas palavras parecessem sorrir.

— Sentem-se. Vamos conversar.

Sem discutir, os quatro garotos sentaram-se nas poltronas em torno do professor, que também se sentou.

— Quando o Professor Kettleburn me chamou esta manhã para contar que Regulus Black havia invadido seus aposentos e havia roubado uma pequena quantidade de pó de flu eu quase não acreditei. Então vim para cá e aguardei até que vocês usassem o pó. Me surpreendeu que quisessem ir ao Três Vassouras usando a rede de flu, uma vez que todos aqui tinham autorização para sair pela porta da frente.

— Desculpe, professor. Mas ir pela rede de flu nos pareceu mais emocionante. – Respondeu Regulus.

— Foi o que eu imaginei. Bem, tenho que lhes dizer que esta lareira há muito tempo foi desligada da rede de flu e apenas continua aqui com o propósito de aquecê-los no inverno. Isso teve que ser feito porque, embora não seja permitido o uso da rede de flu pelos alunos, Sonserinos muitas vezes esquecem-se das regras e isso aumentou o fluxo de entrada e saída por esta lareira alguns anos atrás. O grande trânsito de alunos entrando e saindo causava uma perturbação nas águas do Lago Negro que estava matando algas e pequenos animais. A pedido dos sereianos, a chaminé foi parcialmente destruída e sua conexão com a rede de flu interrompida. Agradecidos, os sereianos nos garantiram suprimento grátis de plantas aquáticas para a escola permanentemente.

— E agora, professor?

— E agora temo que eu tenha que lhes dar uma detenção. Quero vocês quatro todos os dias em minha sala após o término das aulas durante um mês. Jantarão lá. E Black terá que se desculpar pessoalmente com o Professor Kettleburn. O mais engraçado é que Kettleburn disse que teria emprestado a própria lareira se você tivesse pedido a ele.

Regulus abaixou a cabeça. Sentia-se deprimido, pois além de ter traído a confiança de Kettleburn – por quem estava desenvolvendo uma certa afeição – ficaria um mês sem jogar xadrez com Alice e sem tentar qualquer coisa que pudesse ajudar a entrar no clube. O clube, aliás, parecia algo inatingível para todos os quatro naquele momento.

— E os treinos de Quadribol, Professor? – Regulus tentou em vão diminuir seu castigo.

— Você terá minha permissão para ir a um treino neste período. Não mais. Desculpe, Black, mas mesmo você sendo um aluno e apanhador brilhante e ter sido condecorado pelo diretor diante da escola, ainda assim você quebrou as regras e precisa ser punido para que não volte a fazê-lo. Ou você preferiria ser expulso?

— Claro que não, Professor. – Regulus tornou a abaixar a cabeça.

Slughorn sorriu.

— Não culpo vocês por querer um pouco de aventura. Eu fui um dos culpados pela desativação da lareira no meu tempo de escola...

— Ainda podemos ir a Hogsmeade, Professor? – perguntou Theodor, esperançoso.

— Hoje não, Amifidel. Vocês vão ficar aqui e limpar esta sujeira toda que fizeram na sala comunal antes dos outros voltarem. – Slughorn estalou os dedos e baldes, rodos e outros equipamentos de limpeza apareceram bem no meio da sala. Os garotos olharam para os lados. Parecia mesmo que cinquenta anos de fuligem acumulada havia se espalhado pelos móveis, tapeçarias, poltronas, paredes e chão.

Accio varinhas! – as varinhas dos quatro alunos voaram para a mão gorda de Slughorn. – quando terminarem, me procurem em minha sala. Devolverei as varinhas. Agora se mexam! Vocês não vão querer passar o dia inteiro aqui!

Os garotos mal se olhavam enquanto limpavam a fuligem. Trabalhavam todos em silêncio, apenas resmungando de vez em quando coisas como “não é justo”, “a gente estava quase lá”, “lambendo o chão como trouxas”. Regulus pensou diversas vezes em chamar Kreacher, mas temia que os pais descobrissem o que ele tinha feito caso o elfo viesse ajudar.

Horas depois, a sala estava limpa e eles totalmente cobertos de fuligem, então foram tomar banho antes de subirem as escadas, exaustos, para almoçar com os outros no Salão Principal.


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