A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 61
61. A queda do ministro




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A queda do ministro

Alguém se aproximava da cabine onde Regulus e seus amigos estavam, pisando forte no chão. Regulus imaginava quem era, era algum dos pau-mandados do Ministério, aqueles aurores amantes de trouxas que queriam, a qualquer custo, impedir as mudanças. Regulus bufou. Teriam machucado Bellatrix? Não, não poderia ser, ela era excepcional, não seria um aurorzinho metido a besta que conseguiria abatê-la. Ele espiou pela janela, havia uma quantidade extraordinária de bruxos examinando os corpos estendidos no chão. O que eles fariam para disfarçar aquela quantidade de corpos? Regulus ficou curioso, sabia que o ministério costumava inventar acidentes para que os trouxas não percebessem a guerra que acontecia no mundo mágico, mas desta vez ele achou que isso seria muito difícil disfarçar e o que quer que eles fizessem iria chamar a atenção dos trouxas para a estrada de ferro que levava a Hogwarts... Então ele franziu a testa, nunca soube que trouxas poderiam vê-la, muito provavelmente era enfeitiçada. Trouxas estúpidos, não enxergam nada a um palmo de seu nariz... então a porta da cabine foi aberta. Um bruxo alto de cabelos grisalhos amarrados em um rabo de cavalo entrou. Ele olhou atentamente para Avery e Mulciber com uma expressão séria no rosto, juntando as duas enormes sobrancelhas cinzentas em uma só, depois saiu bufando e fechou a porta sem dizer nada.

— Acho que fazem teste para identificar loucos na admissão para aurores... – Amifidel deu uma risada nervosa.

— É, esse aí deve estar procurando seu pufoso de estimação... – disse Jack, rindo e procurando apoio dos amigos para sua piada.

Mas os outros não acharam graça. Avery e Mulciber estavam inquietos. Regulus podia imaginar que eles estavam preocupados com seus pais, conhecidos comensais da morte.

— Não deve ter acontecido nada com seus pais, ou o auror esquisitão iria contar vantagem... – ele disse.

— Claro que não aconteceu nada... de onde tirou essa ideia, Black? – perguntou Avery, sacudindo a cabeça sem conseguir disfarçar o alívio que o comentário de Regulus lhe proporcionara.

Então o trem começou a andar. Regulus se levantou e olhou pela janela. Já não haviam mais corpos no chão. E os poucos aurores que restavam acenavam suas varinhas para nenhum ponto específico. O trem tomou velocidade e logo não era possível ver mais nada.

Quando chegaram à King’s Cross com um certo atraso, Regulus notou que a maioria dos pais abraçava os filhos aliviados e aparatam em seguida, carregando os filhos com eles. Aparentemente ninguém queria permanecer muito tempo na estação. Regulus desceu do trem sem pressa e olhou para os lados à procura do irmão. Sirius estava próximo da locomotiva, conversando com seus amigos. Regulus aguardou, observando de longe. Pouco tempo depois seu pai apareceu lendo uma edição extra do Profeta Vespertino.

“ATAQUE AO EXPRESSO DE HOGWARTS! Bruxos das trevas conhecidos como comensais da morte atacaram o expresso de Hogwarts esta tarde. Filho do ministro Lorcan McLaird está desaparecido.”

O pai abaixou calmamente o jornal, o enrolou, colocou em baixo do braço e olhou para ele. Orion sorriu, mas não o abraçou desesperado como faziam os outros pais.

— Onde está seu irmão?

— Lá. – Regulus apontou com a cabeça. Depois ficou observando o pai caminhar calmamente em direção ao irmão mais velho, sua capa preta dançando com a brisa noturna. Regulus o acompanhou, dois passos atrás.

— Boa noite. – ele cumprimentou os garotos, Sirius, que estava de costas, levou um susto. - Vamos, filho. Estamos atrasados. – ele disse, sem olhar para os amigos de Sirius.

— Já vou. – respondeu Sirius de má vontade.

O pai e o irmão deram as costas e seguiram para a saída da plataforma. Já estavam do lado do portal de entrada da plataforma 9 ¾ quando Sirius apareceu, caminhando calmamente.

— Tenho mesmo que ir?

Orion olhou-o dos pés à cabeça.

— Discutiremos isso quando chegarmos em casa.

Sirius arregalou os olhos para o pai, sua resposta não fazia o menor sentido, pois não lhe dava escolha.

— Nós vamos passar por King’s Cross com o senhor usando roupa de bruxo?

Orion sorriu à preocupação de Sirius.

— Não, filho. Hoje vamos usar uma chave de portal. Aqui está – disse Orion, tirando do bolso uma velha caixinha de música e estendendo aos filhos. – Temos pouco tempo. Já mandei despachar suas malas. Kreacher as levou. Agora vamos. Conversaremos em casa.

Os garotos colocaram rapidamente suas mãos sobre a minúscula caixa de música, um pouco contrariados. Já estavam habituados a irem para casa com o pai dirigindo um de seus carros de trouxa, olhando a cidade pela janela. Aquilo era estranho, mesmo depois da cena no trem.

Chegando em casa se depararam com a cena mais habitual que se poderia esperar, a mãe gritava com os elfos na cozinha, pouco antes de subir as escadas para encontra-los no hall de entrada. Ela abraçou Regulus com força e tentou tocar em Sirius, que se esquivou e subiu as escadas para seu quarto.

— O jantar está atrasado de novo! – disse, olhando para o marido com uma expressão séria no rosto. – você e sua mania de protelar o que precisava estar feito para ontem.

Regulus franziu a testa, não conseguia compreender o que o pai tinha a ver com o jantar, já que esta era uma função dos elfos.

— Mãe, vou me trocar para o jantar. Volto num minuto. É muito bom estar de volta em casa! – e inspirando profundamente, disse – nenhum lugar no mundo cheira como nosso lar!

— É, cheira a mofo como aqui. – resmungou Sirius, do alto da escada. Regulus revirou os olhos desaprovando o comentário do irmão.

Quinze minutos depois os irmãos Black se encontraram descendo as escadas para a cozinha. Sirius vestia uma calça jeans, um tênis sujo e uma camiseta vermelha com um leão rugindo estampado na frente. Regulus vestia um elegante robe preto. Mal se olharam, e de repente estavam correndo escada abaixo como se tivessem apostado corrida para ver quem chegaria primeiro à cozinha. Sirius venceu e se sentou, triunfante, à cabeceira da mesa, do lado oposto ao que estava seu pai. Regulus sorriu, “como é bom ter Sirius de volta”, ele pensou. Mas a brincadeira na escada não teve continuidade em gesto algum.

— Vamos viajar amanhã bem cedo. – disse o pai.

— Para Bramshill? – perguntou Regulus, franzindo a testa.

— Não, seus avós estão na Itália, vamos nos encontrar com eles em Veneza. Depois vamos para Grécia, tem uma ilha exclusiva lá. Vocês vão poder nadar à vontade. E neste vilarejo na Grécia não há restrição para o uso de magia por menores. Poderão praticar também.

— Porque nunca soubemos deste lugar antes? – perguntou Sirius, desconfiado.

— Porque não sabíamos dele, simples assim. – respondeu o pai, com paciência.

— Como vamos chegar lá? – Sirius perguntou novamente.

— Por chave de portal... – respondeu o pai, perdendo a paciência.

— Como, de repente, temos tantas chaves de portal? – Sirius perguntou arregalando os olhos.

— Tenho amigos no Ministério, filho! Agora já chega! Pensei que vocês iriam gostar de fazer uma viagem mais longa, para variar...

Sirius resmungou qualquer coisa e depois ficou calado, emburrado, olhando para o jantar fumegante em seu prato.

— Pai, posso ver o jornal? - Regulus perguntou.

— Na mesa não, filho. – respondeu o pai, mal-humorado.

— Só queria saber se o Ministro vai deixar o governo.

— Está mais do que na hora dele fazer isto! – interrompeu Walburga – um excêntrico! Imagine, mandar mensagens de fumaça como se fosse um selvagem!

— É, mas vão colocar outro dos deles no lugar. – completou o pai, irritado.

Regulus pensou em perguntar sobre a prima, insistir em saber o que acontecia, mas o humor de seu pai não deixava dúvidas de que aquele não era o momento. Até mesmo Sirius continuava calado. Então ele terminou seu jantar e foi se deitar.

*

O sol escaldante da ilha grega de Krymméni Tési  insistia em entrar por todas a s frestas da veneziana, parecendo procurar os olhos de Regulus para acordá-lo.

— Droga! Será que não se pode dormir nessa terra?

Regulus tentou cobrir a cabeça com o travesseiro, aborrecido, mas o sono o havia abandonado. Tinham chegado na noite anterior ao pequeno hotel à beira mar, após uma brevíssima estada de um dia em Veneza, quando ele e o irmão foram submetidos à experiência ímpar que foi acompanhar os pais no que deveria ser um agradável passeio de gôndola em família. Não fora agradável. Além de ficar duas horas assistindo os pais trocarem beijos como um casal em lua de mel, ainda tinha Sirius ao seu lado. Não que passear com o irmão fosse algo insuportável, mas ouvi-lo bufar por uma hora ininterrupta e depois, tentar esquivar-se dos respingos de água dos canais que Sirius habilmente conseguia enfeitiçar para que caíssem sobre o irmão sem que o trouxa que conduzia a gôndola percebesse. Regulus tentou, em vão, descobrir como o irmão conseguia ser tão discreto – ele mal percebia o acenar da varinha e o incantamento breve que deixava os lábios do irmão. Mas infelizmente, além de não conseguir revidar, não conseguiu aprender o macete.

Com os olhos ainda fechados, ele se lembrou do dia anterior e do irmão. A vida seria bem mais fácil e agradável se Sirius não fosse tão cabeça-dura, reclamou Regulus, em pensamento. Os dois poderiam passar a praticar feitiços e azarações juntos, poderiam trocar experiências, Sirius poderia ir com ele para o clube... ele riu sozinho. Sirius teria que nascer de novo para entrar num clube de aspirantes a comensais da morte.

Percebendo que não iria mesmo conseguir voltar a dormir, Regulus levantou-se e trocou de roupa. Eram seis horas da manhã e o sol já estava quente. Seus pais e seus avós deveriam estar dormindo ainda. Saiu do seu quarto do hotel tentando não fazer barulho, queria tentar descobrir o que se passava no Reino Unido. Teria o Ministro renunciado? Desceu as escadas branqupissimas do hote e chegou ao restaurante. A moça bronzeada no balcão lhe deu um bom dia sonolento.

— Bom dia, senhor Black. O senhor  gostaria de tomar seu café da manhã na varanda, junto de seu irmão?

Regulus ficou admirado em saber que o irmão já estava acordado. Hesitou por um momento, ele duvidava que Sirius fosse querer sua companhia...

 – Na varanda? Hum, pode ser... mas, se possível, sirva meu café em outra mesa, não quero atrapalhar meu irmão, ele parece ocupado.

— Ah, como quiser. Seu irmão está lendo jornal velho... – ela disse num tom de voz que claramente mostrava seu desprezo por alguém que se interessava por “notícias velhas”.

Regulus a olhou dos pés à cabeça, a garota de olhos grandes cabelos longos vestia-se com as roupas da última moda trouxa, Regulus sabia, pois tinha visto as meninas da escola comentando o quanto eram ridículas as novas calças justas e brilhantes que agora os trouxas usavam como se fosse uniforme. Ele deu-lhe as costas... “garota estúpida, não sabe dar valor às tradições... quem ela pensa que é para reprimir meu irmão?”, ele pensou, enquanto caminhava em direção a Sirius, momentaneamente esquecendo-se das desavenças entre os dois. Sirius estava de costas para ele, de frente para o mar, a brisa da manhã penteando seus cabelos para trás, deixando exposta a recente cicatriz que ia do seu pescoço em direção ao ombro. Ele lia o Profeta Diário que o pai lhes havia negado.

— Como você conseguiu, Sir? – Regulus apressou-se em perguntar, excitado com a possibilidades de saber os desdobramentos do evento no expresso de Hogwarts.

— A menina da recepção ia jogar fora, disse que um hóspede deixou... – respondeu o irmão, sem tirar os olhos da notícia. – é de ontem.

Sirius estava tão distraído com as notícias que nem percebeu que respondia civilizadamente a uma pergunta do irmão. Regulus ficou em pé, às suas costas, e inclinou-se sobre o irmão para ler o jornal. No centro da página, Alastor Moody dava entrevistas para um repórter oculto na cena.

“Com alguma dificuldade conseguimos descobrir o cativeiro onde o filho de Lorcan McLaird e sua namorada eram mantidos presos. Por mais que tentem se esconder, os criminosos deixam rastros. Os garotos já estão em segurança em suas casas.” Mais à frente ainda era dito que a segurança iria aumentar de modo a proteger os alunos no trajeto até Hogwarts, que nenhum pai e nenhuma mãe deveria deixar de mandar seus filhos à escola. e que ambos já estava em casa com segurança. Também informava que durante a operação ninguém havia sido morto, embora o chefe dos aurores, Alastor Moody tivesse sido atingido durante a batalha e perdido parte do seu nariz graças à inabilidade de um recém formado estudante de Hogawarts que se juntara aos Comensais da Morte. “Tive sorte, o rapazinho tinha pouca habilidade e má pontaria... Acho que estou até mais bonito assim”, ele brincou, sorrindo para a câmera e exibindo seu novo perfil.

— Quem você acha que é o ex-aluno idiota que enfrentou Moody? – comentou Sirius e, sem esperar pela resposta, virou a página, voltando para a capa do jornal.

— Não tenho a mínima idéia – Regulus respondeu, pensando em Rosier. Rosier era muito bom com feitiços, mas, de fato, não tinha a melhor pontaria do mundo.

Na foto da capa, o nome de Lorcan McLaird acompanhada dos dizeres “A queda do Ministro! Lorcan McLaird mandou na noite passada sua última mensagem de fumaça como Ministro da Magia, informando que ele, a esposa e o filho estavam bem. Chefe dos aurores assume o ministério interinamente enquanto a Suprema Corte dos Bruxos decide quem irá sucedê-lo.”

Mais abaixo, ainda na capa do jornal havia a foto de Dumbledore. “Como chefe supremo da corte dos bruxos, sinto muito em informar que Lorcan Mclaird pediu o afastamento das suas funções de Ministro da Magia. A corte vai se reunir esta tarde para a escolha do seu sucessor. Asseguro a todos que episódios como o que aconteceu ontem no Expresso de Hogwarts não vão mais se repetir, estamos tomando todas as precauções necessárias...”

Sirius descansou o jornal sobre a mesa. E olhou o mar no horizonte por algum tempo. Regulus continuou parado, às suas costas.

— Não sei como eles podem ser tão alienados e querer nos isolar do mundo trazendo a gente pra cá... – falou Sirius.

— Como se nada de anormal estivesse acontecendo no Reino Unido... – completou Regulus, concordando com a cabeça. – é irritante ficar aqui enquanto no nosso mundo as coisas fervem!

Sirius se virou e olhou para o irmão. Surpreendentemente concordava com ele, embora suspeitasse que ambos quisessem estar em Londres para lutarem em lados opostos.

— Nós poderíamos fugir... – ele propôs ao irmão mais novo. – Podemos usar nossas varinhas aqui e conjurarr alguma coisa para ir embora, lembra o que papai falou...

Regulus franziu a testa. Havia esquecido que na ilha era permitido usar magia.

— Não, Sir... para quê vamos voltar para casa se lá não podemos usar magia, já que nossos pais estão aqui? Quer ser expulso da escola?

— Odeio admitir... Você está certo... ahn, bem... Vou para o meu quarto praticar... Vejo você mais tarde.

A garçonete chegou com duas bandejas com um farto café da manhã e ficou um tanto quanto desapontada ao ver Sirius voltar para o seu quarto, dizendo-lhe um vago “volto mais tarde”. Regulus sentou-se e aceitou a refeição. Enquanto comia, planejou um roteiro de estudos de magia. Felizmente havia trazido livros de casa... e a varinha para praticar. Rosier teria o que ele estava pedindo.

Ele passou algum tempo olhando o mar depois do café da manhã. O pai tinha razão, era muito bonito ali e ótimo ter um lugar onde se podia praticar magia livremente. Um dia o mundo todo seria assim e ele iria fazer de tudo para isso. Ele sorria para seus próprios pensamentos quando a garçonete se aproximou.

— Aceita o jornal trouxa, senhor?

Regulus olhou para a capa do jornal.

“AS EQUIPES DE RESGATE CONTINUAM A PROCURAR POR SOBREVIVENTES do acidente com o boing 747 da British Airlines que caiu no meio de Milestone Wood há três dias.”

Regulus pensou ter reconhecido pelo menos dois rostos entre a lista dos mortos no acidente. Parecia-se muito com os trouxas que morreram no ataque ao Expresso de Hogwarts. “Então foi assim que o ministério disfarçou aquela enorme quantidade de mortos? Forjou a queda de um avião?!”, ele pensou. “Muito interessante... e levaram as pessoas para longe do percurso do expresso. Sem dúvida bastante providencial...” então notou que a garçonete o olhava com ar aborrecido, ainda lhe estendendo o jornal.

— Ah, não obrigado. Já vi o necessário.

Ele respondeu e apressou-se em direção às escadas para o seu quarto. Nada como praticar feitiços com vista para o mar.


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