Passos escrita por Nyna Mota


Capítulo 7
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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— Algo novo – Disse a mãe do meu noivo enquanto calçava o par de scarpin branco nos meus pés.

— Algo emprestado – minha melhor amiga disse tirando uma pulseira delicada de seu pulso e colocando no meu.

— Algo azul. – Foi a vez de Tanya com uma cinta liga, colocando em mim e me fazendo corar após a piscadela.

— Agora algo velho. – Lily se aproximou, meus olhos marejaram.

Era linda. A grinalda era simples, com formato em flor e se destacava no meu cabelo escuro. Mas deixava tudo mais bonito e mágico.

— Você está tão linda, filha! – Lágrimas se destacavam no lindo rosto de Lily. Hoje ela parecia ainda mais angelical. Um vestido azul claro, solto, esvoaçava quando ela andava, uma abertura nas costas, destacava seus olhos azuis. Jhon tinha sorte.

— Você sabe que foi a melhor que me aconteceu, né?! E que mesmo após casada vou continuar sendo sua filha!? – Eu balbuciava descontroladamente. – Estou com medo Lily. Tanto medo!

— Shiu, Bella, não precisa ter medo, você não é mais virgem que eu sei! – Eu ri da sua tentativa tosca de piada. Ela acariciou meu rosto. – Vocês fazem um casal lindo e serão muito felizes porque se apoiam, se respeitam e se amam! E isso não quer dizer que não haverá brigas! – Rimos um pouco. –Terão muitas brigas filha, mas no fim do dia, será nos braços dele que você vai se sentir em casa.

— Assim como você e Jhon? – Perguntei me sentindo uma garotinha outra vez.

— Assim como eu e Jhon. – Um beijo na testa e aquela que se tornou minha mãe me guiou para o altar onde estava meu noivo, meu futuro marido, Edward, o homem que eu amava.

*

— O que Deus uniu o homem não separa.

O ruivo de olhos verdes me fitava, enquanto lágrimas escorriam por seus olhos, mas seus lábios sorriam, tinha um sorriso lindo.

— Sim, eu aceito. – Ele disse com a voz grave e rouca pelo choro não contido.

— Sim, eu aceito. – Repeti com clareza, apesar das lágrimas que escorriam por minha face.

Nossos olhos não se desgrudavam. Estávamos em meio a tantas pessoas, mas naquele instante o que importava era apenas seus olhos nos meus, suas mãos segurando as minhas.

— Eu amo você. – Ele falou sem emitir som.

— Eu amo você. – Repeti baixinho.

— Eu vos declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva.

Foi um beijo regado da mais pura felicidade, do mais puro amor, da mais pura plenitude. O saber de que ele era meu e eu era sua, não por um pedaço de papel, mas porque nossos corações haviam decidido serem um do outro, até escolhermos ser diferente.

O mais lindo e importante de tudo é que era uma escolha nossa, uma escolha por nosso amor, uma escolha por uma vida à dois, juntos.

— Como se sente Senhora Edward Masen? – Sorri enquanto girávamos pelo salão na nossa primeira dança como casados.

— Imensamente feliz. E você Senhor Masen? – Edward parou com o fim da música.

— Estou completo. – Me deu beijo um beijo suave na testa. – Mas estarei ainda mais feliz quando tiver você nua em meus braços.

Eu ri e lhe beijei, sendo em seguida tomada por Jhon para mais uma dança.

*

— Porra, Bella! Isso dói! – Rosalie xingava enquanto o tatuador trabalhava em sua nuca.

Eu ria mais de nervoso do que tudo, eu seria a próxima. Seriam duas tatuagens idênticas. Fé tatuado na nuca, de forma a nunca esquecermos aquilo que nos moveu até ali, aquilo que me salvou e aquilo que me fazia batalhar todos os dias.

E uma frase: “Onde estiver” no antebraço dela, “estarei contigo” no meu.

Não doía tanto quanto ela havia falado. Ardia, mas era tolerável.

Era uma marca que não sairia nunca, mais uma prova da nossa ligação, da nossa amizade. Era algo tão forte quanto o amor que sentia por ela. Aquela que me acolheu e me salvou de mim mesma.

Se Lilian era meu porto seguro, Rosalie era minha companheira, minha irmã de alma.

*

— AAHHH! Eu mato ele, Bella! Eu vou matar o Emmett! – Ela apertava minha mão e gritava!

— A gente mata ele junto! Eu prometo!

— Jamais deixe Edward te engravidar, isso dói pra caralho! – Mais um aperto firme.

Rosalie estava em trabalho de parto, grávida de gêmeos. E que Deus nos ajudasse, pois ela tinha optado por parto normal.

Edward, Emmett e Jhon estavam na sala de espera aguardando, mas tenho certeza que o hospital inteiro ouvia os gritos da loira.

— Aquele infeliz inventou que ter filhos seria lindo! Você está vendo beleza aqui, Bella?! Tem algo de bonito?

— Você é linda de qualquer jeito, Rose! Mas vamos matar o Emmet, juntas, algo torturante e doloroso. Vamos arrancar as bolas dele!

— Assim não Bella, meu parque de diversões!

Foi impossível não rir. Anos se passaram e eles continuavam como dois coelhos.

Horas se passaram, minhas mãos não aguentavam mais devido aos apertos da loira, contudo eu jamais a abandonaria.

Lily esteve conosco durante todo o tempo, mas eu fui aquela que sofreu segurando a mão da futura mamãe.

Um choro alto se fez presente.

— E nosso gêmeo mais velho é...um garotão! Parabéns mamãe! – O médico disse entregando meu afilhado a Lily, que chorava.

— Ele é tão lindo filha. Tem os seus olhos. Nosso pequeno Alexander!

Antes que a loira pudesse responder outra contração veio, sabia disso pois a mesma apertou minha mão e ofegou.

— Só mais um pouquinho Rose, falta pouco agora!

Rosalie estava suada, vermelha.

— Argh! – A loira gritou e um novo choro foi ouvido.

— Aqui está nossa menininha! – Mais uma vez Lily estava à postos.

Eu olhei para a minha princesa, aqueles cabelos loiros, tão parecidos com os da mãe. Então olhei para a loira, que tinha o rosto cansado, abatido. Mas seus olhos, aqueles olhos azuis tão característicos das Halle brilhavam lindamente, eles exalavam amor, o mais puro e intenso amor.

Tive que me retirar para cuidarem de Rose, Lily ficou.

— E então? – Emmett estava apreensivo. Vermelho, suado, nem parecia um médico experiente.

— Os bebês são lindos. Estão todos bem! Parabéns, papai! – Abracei meu amigo, que suspirou aliviado e logo se jogou numa cadeira.

Edward me abraçou me passando uma sensação de segurança, aquele era o meu lugar.

— Como você está? – Edward perguntou enquanto mexia em meus cabelos.

— Minha mão dói e eu não vou engravidar!

A gargalhada do ruivo foi alta, fazendo com que algumas enfermeiras o encarassem de cara feia.

— Sua boba!

Ele me deu um beijo no nariz ainda rindo de mim.

Mesmo após 5 anos de casamento eu ainda era loucamente apaixonada por ele. Ele ainda era meu porto seguro, meu amigo, o homem que salvou a minha vida e aquele que eu amaria pelo resto dos meus dias.

*

— Depressa amor ou vamos no atrasar! – Edward me apressou mais uma vez.

Estávamos indo viajar para um lugar que eu não sabia qual era! Ele simplesmente me avisou que viajaríamos, Rose fez minhas malas e aqui estávamos nós, no aeroporto, atrasados devido à mais um enjoo matinal.

Ontem eu tive a confirmação, mas ainda não tinha tido oportunidade de contar. Eu estava grávida.

Sentia medo, mas também estava feliz. Tinha medo de não ser uma boa mãe, de fazer como Renée. E tinha medo da reação do Edward, eu não sabia se ele queria filhos agora. Ele havia acabado de se candidatar para o mestrado.

Edward fez nosso check-in, enquanto eu estava perdida em meus receios, sequer vi para onde iríamos.

Após horas de viagem, duas escalas, pousamos, era um aeroporto desconhecido, a única coisa que reparei é que fazia frio. Eu estava com sono e enjoada.

Edward pegou nossas malas e seguimos em direção a saída. Enfim meus olhos sonolentos captaram um nome: Aspen.

— Edward! – Parei de uma vez. – Estamos em Aspen?

Ele riu colocando as malas no chão e acariciou meu rosto.

— Em que mundo você estava que só percebeu isso agora amor?!

Me aproximei mais, buscando mais daquele calor, mais contato com ele.

— Eu... Eu estou grávida! – Soltei de uma vez.

Tapei minha boca com as mãos me afastando do homem estático na minha frente.

Não era assim que eu planejava contar para ele. Mas eu estava com tanto medo, tão assustada e aquela caricia, aquele pequeno momento de carinho, eu não queria perder aquilo.

— Edward? – Chamei baixinho, com os olhos cheios de lágrimas.

— Grávida! Minha mulher está grávida! Porra, Bella! – Ele me pegou em seus braços me girando e gritando. – Eu vou ser pai! Eu vou ser pai!

Lágrimas escorriam pelos olhos dele e pelos meus.

— Eu te amo tanto, meu amor. Agora vamos, preciso cuidar dos meus tesouros muito bem!

O hotel que ficaríamos era diferente. Eram chalés, a vista dos quartos eram as montanhas. Aquela vista me tirou o fôlego. Só não era mais lindo que aquele homem ao meu lado, o meu homem.

Edward ligou o aquecedor e se aproximou de mim. Me fitou por diversos minutos, então tirou meu casaco. Ele tirou cada peça que eu vestia me deixando apenas de calcinha, tocou todos os lugares, com carinho, com amor, com devoção.

Então se ajoelhou diante de mim e tocou minha barriga ainda plana. Sua mão era quente, mas hesitante, ele estava nervoso.

Coloquei minha mão sobre a sua.

— Ei amorzinho, você mesmo aí dentro, eu não vejo a hora de te ter nos meus braços! Eu vou cuidar tão bem de você! Estou tão feliz de você estar a caminho.

Ele foi ficando mais confiante a cada palavra, se acostumando com a ideia de ser pai. Amando e abraçando isso, como em tudo que fazia.

Edward era um homem que exalava amor e colocava isso em tudo que fazia, desde o escovar dos dentes até o lavar da louça. Com seus pacientes era amoroso e cuidadoso, ainda mais sendo cardiologista, um que tratava muito de idosos e quem todos admiravam.

Enquanto ele falava com nosso pequeno raio de sol acariciei seus sedosos cabelos, imaginei nosso pequeno com aquele mesmo tom estranho de cobre, aqueles olhos verdes, e aquela forma de amar única.

*

Ele não me amava mais. Eu tinha certeza! Eu estava gorda, imensa. Só sabia comer e reclamar.

Jhon estava sendo maravilhoso no escritório. Todos os dias me levava chocolate, talvez para me deixar calma, não sei, mas sei que adiantava.

Todos andavam fugindo de mim, Rose, Lily, as secretárias e até alguns clientes, o que me enfureceu e Jhon me mandou vir para casa.

Edward era outro que andava fugindo. Quase não parava mais em casa. Estava sempre de plantão. Nunca estava em casa.

Devia ser porque estava gorda, nada sexy. Não conseguia olhar mais meus pés.

Após o sexto mês minha barriga antes pequena, se tornou gigante. Meu pequeno amorzinho, meu príncipe Anthony seria um garoto robusto, já que me fez ficar enorme.

— Você está tão grande garotão! Deixou sua mãe tão grande filho que agora o papai não quer mais nem me ver!

Não percebi que chorava até Edward limpar as minhas lágrimas.

— Bella que isso, eu amo você, amo vocês!

—  Não ama! Não suporta mais nem me ver!

—  Amor para com isso!

Eu estava com raiva, com muita raiva, me sentindo estranha, enorme e sozinha. O tom conciliador dele só me irritava mais.

— Você tem outra Edward? É isso, você está me traindo? É por isso que não para em casa? – Eu não estava falando baixo.

Edward puxou os cabelos nervoso.

— Ficou louca, Bella!? De onde tirou isso? – Bufando ele foi em direção ao closet. – Quer saber, vou dormir, estou exausto, não durmo há mais de 48 horas.

Eu sabia que estava sendo mesquinha e egoísta, mas não conseguia agir diferente.

— Não vire as costas para mim, Edward!

Ele continuou andando. O fato dele ter me ignorado doeu. Peguei a luminária que tinha do lado da cama e joguei nele. Pegou de raspão e se espatifou no chão.

— Quer saber?! Fique com seu sono e sua amante. – Me virei não dando chance de resposta e sai, estava de pantufas e robe.

Lily não morava tão longe, segui para lá. Lágrimas escorriam livremente pelo meu rosto. Toquei a campainha e esperei. Nada. Toquei novamente. Nada. Apertei aquela droga sem cessar até a porta ser aberta por um Jhon descabelado, sem blusa, com o rosto marcado de sono. Só então percebi que o tempo decorrido entre o momento que sai do escritório até a hora que Edward chegou em casa.

Já passava da meia noite.

Em prantos me joguei nos braços do homem que foi meu inferno particular, me testou de todos os jeitos durante a faculdade, que havia se tornado meu sócio e se tornado um grande amigo.

Jhon e Lily haviam se casado, o ódio que eu sentia por ele se tornou admiração ao conhecer o homem por trás daquela faceta, ele era tudo que aquela mulher precisava, atencioso, carinhoso, presente e fogoso segundo a mesma.

Jhon era um marido maravilhoso pra Lily, um padrasto doce pra Rose, um avô coruja pra Alec e Jane, além de um sócio que tinha me dado uma grande oportunidade quando recém me formei.

Durante a graduação e a pós Jhon cobrou muito de mim, para no fim me chamar para trabalhar com ele. No início como estagiária, depois como uma advogada simples, hoje erámos sócios.

Jhon me levou para dentro. Me sentou e pegou um copo de água com açúcar.

Lily estava por perto, mas deixou por conta dele.

Ele me escutou, me ouviu blasfemar e segurou minha mão, deixou sair tudo.

— Eu fui uma vaca com ele! Edward nunca mais vai me querer!

Ouvi o telefone tocando ao fundo e Lily indo até o mesmo.

— Bella isso foi só um mal-entendido! Claro que vocês vão se resolver, ele te ama e ele não tem um amante. Pare de assistir novelas mexicanas, Swan!

— Mas...

— Mas nada Bella. Você precisa se acalmar, confiar em seu marido e principalmente confiar em si mesma.

— Eu estou gorda, Jhon! Olha para mim, estou enorme!

— Jesus, Isabella! Você está grávida e é normal engordar, mas se quer saber você continua linda. Existe uma aura nas mulheres grávidas Swan, algo de belo que encanta a todos, e Edward sendo quem é sabe disso muito bem!

— Eu disse isso a ela Jhon, mas ela é teimosa demais!

Olhei para trás vendo meu marido parado no batente da porta. Ele me olhava sério. Mais lágrimas brotaram dos meus olhos.

— Bella eu não estou parando em casa porque vou pegar férias e uma licença para ficar com você e Anthony nos primeiros meses, e preciso deixar tudo organizado. Eu não tenho uma amante, pequena. – Ele se aproximou e sentou ao meu lado, secou as lágrimas que caiam. – Você é linda, de qualquer jeito, mesmo agora você é o ser mais lindo do mundo para mim!

— Eu sou tão idiota! – Disse me afundando em seu pescoço.

— Não pequena, você é apenas uma grávida linda, cheia de hormônios e insegura.

Com um beijo na testa Edward me pegou em seus braços nos levando de volta à nossa casa.

Notei um pequeno curativo em sua cabeça e me senti culpada pela luminária. Ele em nenhum momento me culpou. Me colocou em nossa cama com delicadeza, abriu meu robe e beijou cada canto do meu corpo, sem presa, minha barriga que continha algumas estrias, os seios fartos devido à gravidez. Massageou os pés inchados, tocou minha intimidade com destreza, me fez gozar em sua boca então se afundou em mim com loucura, me marcando como sua, como eu já era, como eu sempre seria.

*

Eu optei por uma cesárea. Após a experiência com Rosalie eu não arriscaria passar por aquilo.

No dia e hora marcada eu estava na sala de cirurgia, anestesiada, segurando a mão de Lily e do meu marido enquanto aguardava a chegada do meu filho.

Tudo ocorreu tranquilamente, eu não estava sentindo dor, apenas alguns movimentos. Quando menos esperei ouvi um choro alto.

—  É um garoto forte e saudável.

Anthony veio ao mundo com saúde, lindo cabelos cor de cobre e olhos verdes. Ele era a cópia fiel do pai e eu o amava tanto.

Dizem que a maternidade muda uma mulher. Eu não sabia o quanto até segurar meu pequeno em meus braços pela primeira vez. Era um amor maior que tudo, maior que o mundo, que me tirava o ar e me movia em direção ao meu filho.

Eu faria tudo por ele.

Após ter Anthony, após amá-lo com todas as minhas forças fiquei mais decepcionada com Renée, com o fato do amor dela por mim não ter sido o bastante.

Eu jamais abandonaria meu filho. Aquela pequena parte incrivelmente linda, bela e pura de mim e Edward.

*

A notícia da morte de Renée veio como um balde de água fria na minha vida tão bem estruturada.

Eu tinha um marido que amava, tinha um filho que idolatrava, que já estava com quase oito anos, tinha um emprego dos sonhos, amigos e uma família com quem contar.

Senti um pesar com a morte dela, mas nada comparado ao buraco que foi perder Charlie. Ainda assim, não me senti capaz de ir até lá, o que foi feito por Jhon e Lilian.

Uns podem me chamar de fria, para mim fui apenas humana. Alguém que não encontrou forças para enfrentar um passado que sempre me assombraria.

Eu a perdoei, mas não queria confrontar e reabrir as feridas que cicatrizaram com muita dificuldade.

*

Uma vez por mês nos reuníamos, um dia de garotas, apenas Lily, Rose, eu e muito vinho. Enquanto isso Jhon, Emmett e Edward cuidavam das crianças.

Na semana seguinte os rapazes jogavam baralho, ou iam para algum bar, para um momento deles. Era algo precioso para nós.

Naquele dia falávamos da recente cirurgia plástica da loira, Mastopexia, silicone e abdominoplastia.

Rosalie estava linda, quadris largos, barriga chapada pós cirurgia e seios em cima.

— Emmett amou. Não se cansa de elogiar apesar de dizer que eu estava linda antes. – Com um suspiro ela continua. – Eu não me sentia bem. Meus seios estavam caídos, a barriga grande, eu só, não me sentia à vontade. Até para sexo estava complicado.

— O importante é que você está bem, Rosalie. Só me avise antes da próxima loucura. Sua mãe não é mais nenhuma jovenzinha.

Rimos. Lilian tinha cinquenta e oito anos e continuava firme como uma rocha. Tinha rugas em seu rosto, mas tinha a mesma bondade em seu coração.

— O sexo voltou a ser maravilhoso após a cirurgia, estou me sentindo à vontade de novo.

Uma garrafa de vinho tinha ido, o que nos deixava totalmente soltas.

— Jhon continua me dando canseira. Nem parece que está com sessenta e cinco anos. Que homem!

Engasguei com meu vinho, resolvi encerrar naquela segunda taça.

Eu estava tão acostuma com o advogado composto e do amigo carinhoso que me esquecia dessa parte da vida do Jhon.

— Eu também estranhei. Na verdade, ainda me sinto incomodada com meu corpo. As estrias são o que mais me incomodam. – Aquilo realmente me incomodava.

Meu corpo quase havia voltado ao anterior da gravidez, quadriz mais largos e flacidez na barriga, mas nada que me fizesse surtar, mas as estrias.

— Edward diz que são as provas do bem mais precioso que dei a ele, nosso filho. Após mais uma noite em que fizemos sexo com a luz apagada e que eu escondia meu corpo dele, ele me colocou contra a parede. – Sorri me lembrando da cena, ele realmente me colocou contra a parede, beijou cada umas das estrias, tanto na barriga quanto na bunda. – Ele me fez ver que não se incomodava com isso.

— Cara, Tia Esme soube mesmo como criar um homem! Será que ela e o Tio Carl aceitam Alec por algumas temporadas?

Rimos alto. Alec era um adolescente voluntarioso como a mãe, esperto, inteligente, mas totalmente adolescente. Alexander era totalmente Rosalie quando adolescente, o que nos deixava de cabelo em pé. Jane era o oposto, doce, tranquila, serena.

Aqueles momentos, com aquelas duas mulheres ficariam para sempre na minha memória, eram momentos de paz, de risos, de compartilhamento, de experiência, de amizade, de companheirismo.

*

— O que você acha de voltar a dançar? – Aquela pergunta me chocou.

Edward e eu estávamos deitados em nossa cama, nus após um sexo delirante, aproveitando que nosso filho tinha ido para a casa da madrinha.

Dançar... Há anos eu não sabia o que era aquilo, desde meu aniversário, desde a briga com Renée. Quando tudo mudou.

— Eu não sei mais dançar amor. – Olhei para o meu marido, ele via o medo em meu olhar.

Ele acariciou meus cabelos suados e emaranhados.

— Dançar faz parte de você, pequena. Sei que já falamos disso, mas você ama dançar Bella, ama a dança, e não é algo que se esquece. Está dentro de você. Você é uma bailarina!

De certa forma Edward estava certo, eu amava dançar, mas tinha medo, medo das feridas que a dança poderia me trazer, tinha medo das lembranças, apenas medo.

— Não deixe o medo ditar seus passos, amor. Existem coisas que precisam ser superadas.

Calei sua boca com um beijo, que nos levou a mais sexo, mas suas palavras rondaram minha mente por dias sem fim.

O apartamento estava tão silencioso sem meus rapazes em casa. Era estranho não ter o barulho de Anthony ou a presença de Edward e aquela calmaria só me fazia pensar.

Minhas pernas doíam de vontade de se moverem, de fazerem o que fiz durante tantos anos, mas que eu não fazia há anos. Tinha tempos que essa vontade vinha. Assim que a vida se estabilizou, assim que a calmaria veio.

Eu podia sentir a dança como uma parte de mim, como uma extensão do meu corpo. Mesmo após tantos anos de rejeição eu ainda sabia cada passo com precisão.

Cedi. Estiquei a perna, logo estava na ponta dos pés, deixei tomar conta de mim. Quando menos esperei me vi dançando, seguindo passos da peça que mais gostava de dançar e treinar, O quebra nozes. Eram os passos que mostraria à Charlie que estava aprendendo na noite que ele morreu.

Meu corpo desacostumado, estava dolorido, meu coração descompassado. Eu amava a dança, ela fazia parte de mim.

— Queria que me visse dançando papai. – Sussurrei baixinho, sentindo algumas lágrimas molhando meu rosto. Meu corpo cansado e desacostumado desabou no sofá.

Então vieram aplausos. Olhei assustada. Edward, Anthony, Rosalie, Emmett, Alec e Jane, Jhon e Lilian.

Minha família sendo a plateia de mais um passo na minha luta para vencer as amarras do passado.

*

Estava atrasada. Anthony havia me atrasado com sua crescente mania de se atrasar para escola.  Meu filho era uma pessoa rabugenta pela manhã. Eu não podia aceitar que meu bebê havia crescido e no próximo ano estaria indo para a faculdade. Logo teria seu próprio espeço e não dependeria mais de mim.

— Você está atrasada. – Jhon estava irritado.

Era um cliente importante e amigo dele. Um divórcio em que ambas as partes estavam em litigio.

Jhon pediu que eu cuidasse do caso pessoalmente. Não era bem o tipo de coisa que eu gostava de lidar e ele sabia disso, eu sempre gostei das causas mais humanitárias, algo com sentido, que comovia. Esse era apenas mais um caso de briga por pensão.

Adentrei a sala num rompante. Seria uma conversa informal, com os divorciandos, e nós advogados numa tentativa de acordo para evitar uma ação judicial.

Congelei na porta ao avistar a mulher sentada, de cara fechada lixando a unha. Ela tinha perdido a pose que outrora tinha. Havia sido trocada por uma mulher mais nova.

Agora entendia porque Jhon queria tanto que eu cuidasse daquele caso.

Hazzel Jones. Não mais tão jovem, ainda loira, ainda uma vaca. A mulher que foi o motivo de eu ter ido parar na prisão. O motivo de Jhon e lily terem se aproximado mais.

Olhei para ele divertido, ele sorria para mim.

Eu não perderia aquele divórcio por nada. Aquela vaca tinha atrapalhado meu momento, numa madrugada muito louca, muitos anos atrás.

*

Adentrei a porta minha casa, e vi Emmett esparramado no meu sofá jogando vídeo game.

— Deixa eu adivinhar? Rosalie te expulsou!  – Emmett bufou.

— Aquela mulher é louca, eu a amo Bella, mas ela é louca!

Gargalhei. Rosalie e Emmett vivam brigando e ele vivia pedindo abrigo no sofá da minha casa. Logo em seguida ela se acalmava e buscava seu ursão de volta.

— Onde está Edward? – Questionei ao notar o silêncio da casa.

— Foi ver um jogo de basebol com Anthony. Aqueles ingratos me deixaram de fora.

Emmett era padrinho do meu filho, padrinho do meu casamento e um grande amigo. Não era apenas por ser esposo da minha melhor amiga, ou melhor amigo do meu marido, mas porque o moreno era um homem incrível. Um pai maravilho, um marido leal e o irmão homem que nunca tive.

— Chega pra lá. Vou te dar uma surra nesse jogo!

Me sentei e passei o dia jogando vídeo game, rindo e competindo. Emmett me entendia como ninguém, ele sofria de um tipo dor, um tipo de pesar que o tempo não era capaz de apagar, era uma alma sofrida que se reergueu, assim como eu, que juntou seus caquinhos, construiu uma família e preencheu o vazio que um dia era tudo que teve. Assim como eu.

*

Mais de 60 anos haviam se passado, e eu nunca havia me esquecido da sensação de alegria que sentia quando a viatura de Charlie entrava na rua de casa, nunca me esqueci do seu bigode engraçado que fazia cócegas em mim a cada beijo dado, o completo êxtase quando ele aplaudia mais um passo de dança aprendido, nunca esqueci da segurança que sentia em seus braços. Charlie viveria para sempre em minhas memórias e em meu coração. O tempo não nos deixava esquecer aqueles que amávamos.

Após perder Charlie eu temi perder aqueles que amava e me fechei, de um jeito diferente de como Renée se fechou, mas de certa forma similar.

Sentada na varanda de casa pensei em como a vida era engraçada e estranha. Olhei para o meu filho com sua neta Alessa no colo, uma linda menina de 5 anos de idade. Cabelos castanhos como os meus e os olhos verdes como o do avô, minha pequena não tinha nada de sua mãe, era uma mestre dos números mesmo em sua tenra idade, enquanto Fernanda era uma amante da literatura.

Olhei pra Alexander abraçado à irmã, que a pouco tinha ficado viúva. Vi Emmett abraçando a esposa. Meu marido rindo com nossa nora.

Vi Lilian e Jhon, sentados em sua cadeira de balanço, de mãos dadas. Cabelos brancos e ralos, pele enrugada, mas os olhos. Os olhos de Lily sempre demonstravam amor e bondade.

Olhei para o céu, o sol se pondo e rememorei a caminhada até aqui, sorri agradecida para onde cada passo tinha me levado.


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Notas finais do capítulo

Textão sim porque o fim merece textão.
Primeir agradecer a Alessa por corrigir pra mim ou o epílogo nunca sairia, obrigada gêmea!
Usei da liberdade poética, então se algo estiver incoerente ou não condizente com a realidade é por isso.
Passos chegou ao fim, isso me trás alegria, mas também tristeza. Minha bebê, que tocou no mais fundo da minha alma, tem parte da minha essência, muito de mim.
Eu queria mostrar um pouco mais do que aconteceu com eles, mais alguns passos, alguns momentos. Por isso momentos curtos, mas de suma importância.
Preciso confessar que quis muito matar a Lily, e até o último instante estava com essa ideia fixa, mas não consegui, não tive forças. Lola e Chloe quase me mataram por isso, então meninas me amem, não matei nossa rainha.
Em nenhum momento eu quis incentivar o suicídio, espero ter deixado isso claro. E sei que na vida nada vai dar 100% certo, quis mostrar isso e não sei se consegui.
Vamos prosseguir com os agradecimentos?
Quero muito agradecer à você que leu e comentou, deixou meu coração muito feliz.
Agradecer a você que apenas leu.
Agradecer a quem só entrou no índice kkkk
Mas quero agradecer algumas pessoas em especial.
Alessa: Sem você não teria voltado à escrever, você fez um comichão se instalar em mim, na minha mente, na minha mão até eu não suportar mais e escrever. Você acompanhou cada instante, cada segundo, cada sofrimento dos personagens e meu, e cada vez que quis desistir você não deixou. Você brigou e incentivou, me fez chorar e hoje se Passos está finalizada é por sua causa. Obrigada Gêmea. E obrigada por corrigir.
Fernanda: Nossa eterna Lola. Quando contei a ideia tu só me incentivou, em todos os momentos me fez acreditar que era possível que era real, combateu minhas inseguranças com sua experiência, e amou esse enredo assim como eu e a Ale. Sem você eu teria desistido por medo, medo de errar, medo de falhar. Obrigada por ter embarcado comigo nessa, por ter aturado meus surtos, por ter acreditado em PS, por ter feito a Capa maravilhosa. Obrigada pela caminhada até aqui.
Obrigada às duas por terem ouvido minhas lamentações e por não terem deixado eu matar a Lily, PS é dedicado à vocês!
Kawane…você foi muito importante, as opiniões, os pedidos de atualização, isso me fez ver que PS tinha quem queria lê lá, que alguém fora da panela gostava dela e me motivou. Obrigada.
Passos estará eternizado pra sempre no meu coração e espero que no de vocês. Obrigada por me acompanharem até aqui.
Último recado. Fic nova no pedaço: Arena Mortal espero que gostem https://fanfiction.com.br/historia/752225/Arena_Mortal/
Foi muito bom estar com vocês! Beijinhos
Com amor…Anny Charmant
12.01.18



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