O Ritual da Sétima Lua escrita por MB Sousa


Capítulo 9
Capítulo 8 - Magic Coloris


Notas iniciais do capítulo

Sexta-feira de Ritual como sempre, mais um capítulo fresquinho para vocês, espero que gostem.
Boa leitura.



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15/08/2005

Suas palavras sussurravam em meu ouvido como a mais doce sinfonia, mesmo de um demônio, era como uma espécie de hipnose, eu quero acreditar em suas palavras e ceder, meu maior desejo é que minha noiva seja liberta. Me vejo parado poucos centímetros da face monstruosa de Cucurpita, com sua voz demoníaca e tranquilizante ao mesmo tempo, como se todos meus problemas fossem desaparecer assim que concedesse seu desejo, mas algo pequeno em meu subconsciente me diz a verdade e essa verdade cresce cada vez mais dentro de mim.

Não devo confiar nessas criaturas, em nenhuma delas, quanto menos ao espírito da entidade tão poderosa que as bruxas desejam ressucitar.

Preciso fugir.

O encanto se quebra e com uma das mãos pego um pedaço de galho do chão e bato na cabeça enorme da criatura, correndo na maior velocidade possível, sem olhar para trás para ver sua reação. Não preciso, um urro retumba por toda a floresta, como se o som atingisse todas as árvores e fizesse o chão estremecer.

Meu coração apenas acelera e continuo correndo sem rumo pela escuridão da mata, nada me guiando além da pouca luz lunar e de minha câmera, que está prestes a ficar sem pilhas. Então noto que o chão não está apenas estremecendo, mas sim se abrindo em pequenas fendas e não paro por muito tempo para perceber que começam à sair mãos e cabeças de lá.

Era tudo o que faltava, estou sendo perseguido por demônios, bruxas e agora zumbis, a situação seria cômica se não fosse tão trágica.

A visão das criaturas pálidas, sua maioria em avançado estado de decomposição, alguns esqueletos com fiapos de cabelo saindo do pouco de pele que sobra grudada à seu crânio, apesar de mudarem em aparência, todos os zumbis pertencem olhos vermelhos. Imagino por estarem sob algum tipo de engano.

Por mais que corra estou começando a me ver sem saída, há criaturas brotando do chão como flores da morte por todos os cantos e desvio à todo momento com medo de acabar andando em círculos ou voltando ao encontro de Cucurpita, mas algo pior me aguarda.

A bruxa pálida que perseguiu-me ainda dentro de São Marcos. Ela me encara à pelo menos 100m de distância, junto de um exército de mortos-vivos, um sorriso de dentes afiados e brilhantes são a última coisa que vejo antes de correr como um louco na direção oposta, mas sinto a cada passo ela e as criaturas — que se movem muito mais rápido do que eu tinha a ideia que um zumbi se moveria — estão cada vez mais perto e não há como vencê-los. Não há para onde ir. Por que estou correndo afinal?

Talvez devesse ter aceitado a oferta do espírito e isso tivesse salvado Maria, agora nem isso poderei fazer, já que morrerei. É o fim da linha para nós dois.

Então algo como uma clareira se abre na floresta e avisto alguma luz e alcanço uma estrada areia. É um ótimo sinal mas ainda estou sendo perseguido, mas mesmo com as pernas ardendo em chamas, não desisto e quando estou caindo de joelhos pois não aguento mais fugir e sinto como se já estivesse nas garras das criaturas, que encontram-se tão perto, avisto uma construção pequena de tijolos, fogo sai da chaminé e não penso duas vezes, apenas adentro o muro baixo de pedra e bato na porta como um louco.

O quintal do local possui uma decoração peculiar, há abóboras, caveiras, objetos pendurados pelo telhado e me dou conta de que a casa deve pertencer de outra bruxa, ainda assim, não há outra saída.

— Deixe-me entrar, por favor! — grito desesperado. — Por favor, tem de me deixar entrar.

Não demora muito até que uma velha senhora de cabelos brancos e expressão severa me encara com espanto, as sobrancelhas juntas de curiosidade e raiva.

— O que diabos está fazendo aqui? Quem é você? — ela me pergunta com a porta entreaberta, desconfiada, mas vendo com o canto do olho que tenho companhia, não tenho tempo para cordialidades, empurro a porta e a idosa de meu caminho e tranco a porta atrás de mim.

Antes que possa dar um suspiro de alívio, estou pressionado com as costas contra a porta e a velha senhora pressiona uma faca afiada em minha garganta e sinto arder minha pele com o pequeno corte que faz quando respiro.

—Ei, ei, calma aí, eu não quero fazer nenhum mal. — digo apressado e apavorado com as mãos levantadas para cima, ela parece não dar importância e com uma voz áspera e autoritária me pergunta.

— Quem é você e o que quer aqui? —seus olhos acinzentados me encaram com fúria e sou honesto em minha resposta.

— Há algumas... — hesito em que falar, afinal quem é essa mulher? — ...Coisa me perseguindo, eu não sei, mas preciso de ajuda.

— As bruxas? — ela pergunta ainda com a faca em meu pescoço, sem se importar com o quanto estou apavorado e desmoronando.

Apenas confirmo com a cabeça e ela deixa o braço com a faca cair ao seu lado.

— Não posso lhe ajudar, você tem de partir. — ela fala com firmeza, tentando abrir a porta para me expulsar, mas bloqueio seu caminho.

— Não! Não, por favor, a senhora não entende, elas vão me matar! — imploro com toda esperança em meu coração. — Vão matar à mim e a minha noiva, a senhora precisa me ajudar.

— Eu não preciso fazer nada e não me importo com você e sua esposa. — impressiono-me com sua força ao me empurrar da frente da porta, abrindo-a e segurando pelos meus braços para que eu saia. — Elas têm os negócios delas e eu vivo aqui sem me meter neles, e elas me deixam em paz, se elas o querem, você precisa ir.

Quando ela me põe para fora, a mesma bruxa que me perseguiu, agora completamente diferente, em uma forma humana usando um grande casaco com capuz preto, mas sei que é ela pela maldade em seus olhos. Ela me encara com um sorriso no rosto, como um predador que apenas tem de esperar sua presa chegar em sua boca.

— Não! Você não entende! Não sabe o que elas vão fazer! — grito atirando-me no chão pedindo misericórdia à dona desta casa, que parece ter algo em volta que impede a entrada da bruxa que me persegue, se não, por que já não teria posto suas mãos em mim.

— Entregue o que é nosso, Ravena. — ela diz com uma voz humana doce e ao mesmo tempo perigosa.

Apesar de aparentar não gostar da situação, a velha bruxa que me negou auxílio e chama-se Ravena, apenas concorda e me empurra com a faca empunhada à minha frente, obrigando-me a avançar para fora dos muros, onde estarei desprotegido de quaisquer magias que protejam este lugar.

— Elas vão ressuscitar Cucurpita! — não sei por que ao certo, mas grito em desespero alguns passos antes de cruzar a passagem de entrada ao terreno. A bruxa maligna cujo não sei o nome, mas quer minha alma, parece irritar-se com minha inesperada revelação, mostrando seus dentes agora não mais pontiagudos, mas ainda assim assustadores, como uma cobra. Ravena congela com a faca no ar e encara ela.

— Isso é verdade, Tituba? — ela questiona a bruxa, a faca ainda parada no ar em minha direção, não ouso nem ao mesmo respirar neste momento.

— Não é da sua conta, de qualquer jeito. — ela retruca agressivamente. — Me dê o humano agora! Ele nos pertence.

Ravena encara Tituba e percebo que estou diante de algo tão poderoso que é quase palpável. A magia que emerge à seu redor. Não relaxo por completo quando Ravena abaixa a faca e não olha para mim uma vez sequer, sem tirar os olhos dos meramente humanos de minha perseguidora, ambas se encaram como se uma batalha fora de meu entendimento se enrolasse em suas cabeças e até mesmo fora delas.

— Não posso deixar que faça isso. — Ravena diz por final, ainda sem tirar os olhos de Tituba. — Essas aqui ainda são minhas terras e você não vai ressuscitar um espírito maligno de tamanho poder em magia negra neste mundo, não aqui.

Tituba solta uma gargalhada e em seguida sua expressão se transforma em puro horror nos encarando, os olhos se tornam negros.

— Suas terras? Essas são terras consagradas pelo grande Anjo das Trevas e sua existência só é permitida porque deixamos, não vá se matar por causa de um humano estúpido, Ravena. — ela tenta persuadi-la, mas há ironia e presunção em cada palavra que diz. — Não que você tenha muitos anos. Você está enrugada, velha amiga.

A velha bruxa abre um sorriso debochado com dentes amarelos e responde sarcástica.

— Ainda tenho muitos anos para lutar contra as artes das trevas que vocês praticam, até certo ponto aturei suas atrocidades, mas isso já é demais. — agora ela devolve com o mesmo ódio que a outra, arrepiando-me do mesmo modo. — Saia da frente de meus domínios ou eu mato você de uma vez por todas.

A mulher na outra parte do corredor observa-nos com os olhos semicerrados e a cabeça erguida, abrindo um grande sorriso com seus lábios vermelhos e dentes branquíssimos.

— Se vai ser do modo difícil, que seja... Irmã. — e com estas palavras, dá as costas para nós com seu manto negro, sem fazer nenhum som ao caminhar, como se seus pés não tocassem o chão.

Estou simplesmente petrificado com o que acabei de presenciar, até que a velha bruxa segura um dos meus ombros com as mãos calejadas.

— Vamos entrar, garoto, você está precisando de um banho.


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