Autistic Love escrita por Claraneko


Capítulo 9
Desculpas


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal, como estão? :)
Assim como o título do capítulo de hoje, me desculpem pela demora, parece que isso está se tornando algo bem comum neh. A verdade é que fico meio preguiçosa nos dias que não faço curso, sinto muito por isso.
Agradeço especialmente a Zura-chan e PikaGirl, seus comentários me incentivaram bastante. Perdão pela demora ~gomennasai~
Mas vamos lá... Boa leitura, espero que gostem!!!



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A casa de Nagumo era maior do que esperava, e mais limpa também. Móveis rústicos de tom amadeirado cobriam ordenadamente a ampla área da sala. Desconcertado, Suzuno retraiu-se no ambiente estranho e não familiar, inconscientemente olhava para cada canto do lugar interessante. Nagumo fez sinal para que lhe seguisse.

— Meus pais estão trabalhando agora. - Disse enquanto subia a escada.

No segundo andar, Suzuno viu-o passar por uma porta qualquer. Seguiu-o até a entrada e ali parou, avaliativo.

— Esse é o meu quarto. - O avermelhado abriu os braços, mostrando o lugar.

Era grande, maior que o seu. Tinha uma cama de solteiro ao lado de uma enorme janela que mostrava a vizinhança tranquila. Várias prateleiras organizavam mangás e bonecos de personagens de desenhos antigos, cada um de uma cor diferente e jogadas aleatoriamente um alguma parte dela. Nas mesa de cabeceira estava uma pilha de papéis que Suzuno cogitou que fossem de trabalhos da escola.

— Está bagunçado. - Suzuno disse, virando levemente o rosto. Apesar de estar tudo em ordem, pare ele, as cores estavam espalhadas, deixando a organização desarmônica.

Nagumo arregalou os olhos.

— Como pode? Está tudo arrumadinho. - Perguntou indignado, mas logo virou-se para um armário alheio, procurando alguma coisa lá. Pegou uma caixinha branca e foi até o prateado, segurando-lhe a mão. Levou-o até sua cama.

Suzuno sentou-se hesitante e observou o outro xeretar na caixa, tirando se lá um pacote de lenços umedecidos. O avermelhado aproximou-se do outro, tocando o pano na testa manchada de vermelho. Suzuno estremeceu e apertou os olhos. Antes não sentira nada mas lembrava-se agora da testada que dera com o jogador do outro time. Abriu novamente os olhos e deu de cara com um Nagumo preocupado.

— O que aconteceu? - ele empenhava-se para limpar o ferimento. - Como fez isso?

Suzuno desviou os olhos, sem jeito. Definitivamente não falaria que um cara da escola Seishou o atacou e tentou beijá-lo. Balançou a cabeça negativamente e fitou Nagumo por rápidos milésimos.

— Não vai me dizer, né? - o avermelhado falou em tom de afirmação. Suspirou. Abaixou o lenço e pegou um esparadrapo de dentro da caixa, colocando-o com cuidado sobre o machucado do colega, que encolheu-se com o toque. - Suzuno... Me desculpa - Nagumo abaixou a cabeça. - A culpa é minha por você ter se machucado, eu sinto muito mesmo. Por evitar você, e por me distanciar, peço mil desculpas por te fazer se sentir mal e te magoar, sei que errei e me arrependo muito. Não foi por você ser autista nem nada do tipo, não é um problema para mim. Entendo por que você não quer me falar nada, não sou digno da sua companhia.

Suzuno olhou para um ponto qualquer do quarto. Não era isso. Para o prateado, era ele que não era digno da companhia do outro. Dos seus sorrisos quentes e da sua alegria contagiante. Queria contar-lhe tudo, entretanto, não encontrava em si coragem para fazê-lo. Não era capaz sequer de encontrar uma brecha para levantar sua voz entre as palavras do outro.

— Quando te vi pela primeira vez, logo percebi que você não era como os outros. Queria conhecer você, conversar com você. Quis me aproximar de alguma forma - ele ergueu o rosto, mas o albino permanecia com o rosto abaixado. -  Encontrei uma pessoa sincera, doce, muito diferente de todos os que já convivi. Não era superficial como aqueles que me cercavam. Eu descobri o melhor amigo que já tive... E eu não quero perdê-lo por um erro meu. - Nagumo levou a mão até a face do outro e ergueu-lhe o queixo, fazendo com que o mesmo olha-se para ele.

Suzuno mais uma vez naquele dia não conseguiu evitar as lágrimas. Irritou-se consigo mesmo por isso. Apertou fortemente os olhos e uma trilha delas escorreu pelas suas bochechas.

— Você é a pessoa mais incrível que já conheci - Nagumo secou as lágrimas insistentes do colega. - As pessoas não podem ver o que eu vi em você, você é quem me faz feliz. O que mais desejo é reconquistar sua confiança, prometo que nunca mais vou te deixar sozinho novamente. Suzuno, me perdoe.

Nagumo silenciou, abrindo espaço para o outro falar, mas ele não o fez. Deixou a cabeça cair, fazendo os cabelos vermelhos esconderem seus olhos. Ele merecia o silêncio do outro, depois de tudo que fizera.

— Nagumo - a voz baixa ecoou, fazendo o avermelhado olhá-lo imediatamente. Orbes acinzentadas nas amareladas. - Não peça perdão, a culpa não é sua... Nunca foi uma novidade para mim que as pessoas me evitassem... Desde pequeno... - hesitou. Incapaz  de manter contato visual, virou-se para o outro lado, procurando forças em si mesmo para contá-lo. - Quando eu era menor, meus pais adotivos estavam constantemente se mudando de cidade, e eu me mudando de escola. No início as crianças vinham conversar comigo, me chamavam para brincar. Sabe, eu queria brincar com elas. Mas eu não lembro direito o que acontecia, no final... - apertou as mãos, tentando contar o choro que lhe atrapalhava. - Eu acabava ficando em um canto, sozinho, e depois de um tempo as crianças não vinham mais até mim. Nem lembro em quantas escolas já estudei... E quantas vezes essa história já se repetiu, de maneiras parecidas. No fundamental... - travou, as memórias dessa época vindo novamente a linha de pensamento. - Meus colegas zombavam de mim, me chamavam de doente, bem... Era uma das melhores coisas que me chamavam na época, depois que descobriam que eu era autista. - Suspirou e voltou-se para Nagumo.

— Tudo bem, não precisa me conta se não quiser - o avermelhado secou novamente a face do albino. Aquele assunto o estava machucando e percebera isso.

— Você queria saber por que eu não sou atacante não é?  E por que eu não fico muito tempo com a bola.

Nagumo arregalou os olhos, surpreso.

— Você sabia?

— Sim. Tem muitas coisas que não entendo nas expressões das pessoas, e no que elas fazem... Mas eu já joguei de verdade com você, e vi como me observou quando jogávamos com o time. Sei que é muito diferente, e me perdoe por ter de preocupado, mas é que... Não consigo evitar jogar assim.

— Por que? - Nagumo o incentivou quando as palavras do outro cessaram.

— Não sei, não sei dizer por que faço o que faço. Eu só... Não quero chamar a atenção dos outros para mim, eu posso atrapalhar a jogada deles e não quero isso. Senão pode acontecer o mesmo de quando eu estava no fundamental, eu não consigo jogar como quero perto dos outros. - deu uma pausa e respirou fundo antes de continuar. - Quando eu chutava a bola, não acertava onde queria, às vezes acertava até meus colegas, e eles achavam que era de propósito.

Nagumo envolveu as mãos geladas do amigo e apertou-as fortemente.

— Nós podemos resolver isso, eu te ajudo.

Suzuno novamente balançou a cabeça.

— Não sei se sou capaz, Nagumo. Eu sinto uma pressão tão grande, um sentimento tão ruim. Quando eu pego a bola e sinto aqueles olhares sobre mim... Só o que quero fazer é me livrar o mais rápido possível dela.

— Suzuno...

— Eu... Quero mudar. Desde que eu era pequeno, sempre odiei o jeito que sou. Eu sou patético... Sempre tive raiva e frustração de mim mesmo. Sei que não posso continuar assim, mas...

— Você não é patético - Nagumo o fez olhar para ele de novo, pois não estava gostando do que ouvia. - Você é forte. É o adversário mais difícil que eu já enfrentei. Não odeie a si mesmo. Você é incrível e... Meu deus, você é lindo, é a pessoa mais linda que já vi na vida...

Suzuno arregalou os olhos enquanto corava, sentiu as lágrimas esquentarem na pele repentinamente quente.

— O que está falando..? - enrubesceu.

— É verdade. - Nagumo afirmou. - Eu nunca mais vou deixar que você fale assim de si mesmo e nem que ninguém caçoe de você.

— Nagumo... - o prateado retraiu-se, algo dentro si vibrava, o que era isso? - Obrigada, mas... O futebol... Não sei se consigo.

— É só isso que você precisa fazer - Nagumo sorriu quando o menor o olhou sem entender. - Você sempre teve feito treino imaginário não é? Soube que você era o último a sair do treino e chutava a bola sozinho.

— Como você... - Suzuno abriu mais os olhos. Sim, costumava jogar com adversários da sua cabeça, quando treinava dribles e passes sozinho. Fazia isso na primeira vez que enfrentara Nagumo, antes deste aparecer.

— Sua determinação de tentar mudar a si mesmo virou uma grande fonte de poder. Esse é o seu poder... Mas não mude Suzuno, não precisa mudar, gosto de você exatamente assim como é. Apenas continue fazendo o que está fazendo. Falhe quantas vezes precisar. Caia quantas vezes for necessário. Eu sempre vou estar lá para te levantar.

— Nagumo... - Suzuno chorou. Chorou mesmo, tremia. Em um movimento rápido cobriu a cabeça com os braços. Nagumo abraçou-o, acalentando-o em seus braços enquanto abrandava os soluços desritmados do companheiro.

O prateado nunca ouvira palavras assim de ninguém antes, nem mesmo dos pais. O que era isso? Parecia que algo em seu peito se quebrava, um enorme peso que sempre carregara estava se dissipando aos poucos. Lembrou-se de seus colegas, de todos aqueles que já tivera, lembrou-se de quando eles vinham até si e perguntavam qual era o seu nome; e não respondia por achar que eles já soubessem. Lembrou-se de cada brincadeirinha, grande ou até insignificante que de alguma forma chegava a ele; e das crises de choro incessantes que dava de repente na sala de aula, decorrente delas. Também das vezes que corria para o banheiro para tentar aplacar as lágrimas que nunca passavam; de seus pais na diretoria da escola conversando com professores e a diretora; dos colegas que lhe perseguiam as vezes no recreio, e os que zombavam, esperando que falasse alguma coisa, qualquer coisa... Sim, sempre fora um chorão sem voz, cada pequena coisa era um motivo de um escândalo insuportável de lágrimas não chamadas, seus colegas não entendiam, nem mesmo ele entendia. Porém, de uma coisa sabia, todas as vezes que as lágrimas vinham, era porque estava sozinho, era porque não tinha amigos. Era porque a tristeza o abatia.

Olhe nos meus olhos quando falo com você.” Sua professora do pré tinha dito algum dia. Lembrou de forçar-se a mirar nos seus olhos. “Ficar aqui não vai te tornar invisível. E pare de chorar.” A mesma dissera quando ele se escondera debaixo da mesa, no canto da sala, depois de um colega cair em cima dele enquanto brincava na piscina de bolinhas. Sabia que ela só queria lhe ajudar, lhe preparar para a vida. Mas quanto mais as pessoas tentavam lhe ajudar, mas se sentia afastado, diferente, estranho...

Você é mudo?”, “Sabe falar?”. Suzuno não sabia quantas vezes já ouvira essas perguntas, vindas muitas vezes até dos professores. Nunca respondera essas perguntas, na época, ignorava-as.

Todos esses acontecimentos, esses olhares, essas palavras, haviam-no tornado o que era. Não era por ser autista. O autismo lhe fazia ser o que era por dentro, o passado com as pessoas o fizeram ser como era por fora.

Mas aí mudara-se novamente, entrara no ensino médio. Novo lugar, novos pessoas. E as coisas não mudaram, apesar de até agora não ter acontecido nenhuma crise de choro repentino nessa escola. Nagumo aparecera...

Desde que conhecera Nagumo, a barreira de proteção que erguera ao  seu redor vinha se enfraquecendo, barreira essa formada por todas as mágoas do passado e do presente. Sentiu-a desaparecer, rumando para um lugar muito distante, um lugar onde não poderia mais lhe alcançar. Mas não podia culpá-la, essa barreira sempre o protegera de tudo e de todos, a agradeceu por isso. Principalmente nesse momento, agradeceu à vida por colocar Nagumo Haruya em seu caminho.

Perguntou-se: e se eu tivesse respondido mais perguntas? Poderia ter se esforçado mais. Era tarde demais para pensar nisso.

Aos poucos Suzuno foi se acalmando. Nagumo fazia movimentos nas costas do outro enquanto que com a outra mão envolvia-lhe o corpo magro. Nagumo sentia-se bem, como se naquele momento pudesse protegê-lo do mundo. Pensou, agora seria ele quem cuidaria do albino, não deixaria que ninguém mais o machucasse. Nem mesmo ele.

— Nagumo, - o prateado afastou-se dos braços fortes do outro e fitou um ponto vazio do quarto, as bochechas ruborizadas escondidas pelas mechas brancas. - Er... - Não soube o que dizer, apertou os olhos, envergonhado.

Nagumo abriu um grande sorriso.

— Já está anoitecendo, quer dormir aqui hoje?

Suzuno mirou-o com o canto dos os olhos e logo olhou para outro lugar.

— Não.

— Não? Tudo bem, meus pais vão deixar, eles não vão se importar.

— Não, eu eu vou voltar - o prateado disse sem rodeios.

— Tá, então vou te acompanhar até sua casa.

Suzuno acenou timidamente com a cabeça e seguiu o maior quando esse se adiantou no caminho.

Nagumo parecia feliz, apesar do prateado não falar nada no caminho de volta.

Suzuno evitava olhá-lo, tinha falado coisas que não tinha dito a mais ninguém, não tudo, claro, mas muito. Não estava arrependido, não estava mesmo, mas... Estava tudo muito estranho, seu coração palpitava e sua barriga revirava. Sentia-se leve, e ao mesmo tempo envergonhado. Ao chegar em casa, deu um tímido aceno para Nagumo, que lhe ofereceu um sorriso aberto, antes de entrar e fechar a porta.

Seus pais adotivos o receberam preocupados, cheios de perguntas e indagações. Quando chegou no seu familiar quarto, reparou em uma folha em cima da sua escrivaninha, ela não estava ali antes. Era seu desenho, aquele que havia ficado com Midorikawa por causa de sua pressa. O avermelhado devia tê-lo trazido.

— Nagumo... - Abraçou o desenho que havia o deixado tão atordoado por dias, reflexo do seu psicológico, e teve uma inspiração para um novo que queria fazer.


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Notas finais do capítulo

Então é isso, muito obrigado para quem leu até aqui!!!
Sabem, esse mês tive um trabalho estranho no curso que faço, para criar um site. Fiz um site dos meus desenhos, se alguém quiser dar uma olhada antes que a matéria acabe e eu exclua o site, taí o link:
https://tribalstupp.wordpress.com/



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