Autistic Love escrita por Claraneko


Capítulo 7
Perguntas


Notas iniciais do capítulo

Oiie pessoal, que saudade ^^
Perdão pela demora -as coisas estavam movimentadas por aqui essas semanas- Mas noticio uma mudança no roteiro da fic, a idéia inicial não era para ser longa, e isso continua, mas aumentei um pouquinho o roteiro da história para dar mais uns capítulos ;)
E desejo boa sorte para quem estiver começando as aulas. Férias acabando... Facul voltando :´(
Sem mais delongas...



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Autista, Então era isso...

Nagumo, logo após conversar com os pais adotivos de Suzuno, subiu as escadas que levavam ao segundo andar da casa, andou pelo corredor de madeira e parou na frente da porta do colega. Fez menção de quem ia bater, mas parou antes que sua mão tocasse na mesma, deixando os braços caírem na lateral do corpo. Sua intenção era conversar, precisava falar com ele, precisava entende-lo melhor e saber o que sentia. Desde que tinha conhecido o prateado no refeitório da escola, tinha visto um menino tímido e introvertido, discretamente gentil, entretanto, imprudente quando se tratava de sua própria proteção, como se não se importasse.

Autista... Então era por isso. Tinha sido apenas uma suposição de sua mãe quando falara sobre esse assunto e Nagumo não se dera ao trabalho de acreditar, achando um absurdo. Por isso ainda não tinha pesquisado sobre esse problema, nem sabia ao certo o que era, então tentava não criar pré conceitos sobre isso. Entretanto, não sabia como fazer de agora em diante, não sabia como deveria tratá-lo agora que sabia de sua doença. Sentia que devia continuar sendo como sempre foi, mas era impossível, via que não seria como antes.

Como deveria olhá-lo agora? O que falaria para ele? Não sabia...

Nagumo ergueu o olhar do chão para a porta entreaberta, em um abrupto impulso de coragem aproximou-se e empurrou a porta levemente. Seja lá o que fosse, já tinha decidido que conversaria com ele nesse dia, que perguntaria todas as suas dúvidas e que não sairia dali até que soubesse por que Suzuno jogava daquele jeito, por que ele não usava todo seu potencial quando jogava futebol. Tinha feito essa promessa para si mesmo. Ao menos era o que pretendia até abrir a porta do quarto. Ao fazê-lo, imediatamente parou, deslumbrado pela cena a sua frente.

O quarto jazia silencioso, tranquilo. E na cama levemente desarrumada, o garoto de madeixas brancas ressonava profundamente, a respiração ritmada podia ser facilmente escutada, enquanto os cabelos escondiam parte dos olhos, e as roupas, tão brancas quanto ele, revelavam braços e pernas desnudas... Tão belo. Parecia um anjo. Nagumo corou, perturbado, quando se viu tendo que espantar certos pensamentos de sua mente, e logo suspirou, ao voltar o olhar para o colega e perceber que suas mechas encharcadas molhavam os lençóis embaixo dele. O avermelhado não pode evitar um sorriso. Pelo visto, Suzuno acabara de sair do banho e caira no sono de maneira imediata. Devia estar cansado depois daquele dia, e que dia, ele precisava descansar, Nagumo entendeu, sua conversa teria que ficar para outro dia.

O avermelhado foi até o leito do amigo e levantou-lhe a cabeça para ali colocar um travesseiro que permanecia seco, e logo depois tapou-o com um cobertor alheio até que cobrisse todo seu corpo. Uma repentina preocupação fez com que pegasse a temperatura de sua testa, receoso de que ficasse gripado novamente, mas estava normal, na verdade, mais frio do que deveria... Ahhh, um cobertor não era o suficiente, se pudesse aquecê-lo de outra forma que não assim...

— Droga - Nagumo exclamou revoltado consigo mesmo, vendo no que pensava. Não parecia certo pensar nessas coisas de Suzuno, simplesmente não parecia. Recuou alguns passos até chegar a porta, e após mais um demorado olhar para o colega, deu meia volta e fechou silenciosamente a porta, para logo descer as escadas. Ao passar pela sala, cumprimentou os pais de Suzuno, se despedindo, e foi embora.

...

Quatro dias...

Suzuno estava em um dos bancos da escola, em um lugar    afastado das área mais movimentadas, mas apesar disso, muitas pessoas passavam por ali. Era intervalo e, como sempre, era para lá que se dirigia para desenhar sossegadamente. Suas mãos se movimentavam de maneira ritmada e sem pausas, como se estivesse sem freio, e seus olhos, apesar da discreta impaciência, acompanhava perfeitamente os movimentos dos dedos.

Quatro dias que mais pareciam séculos...

Já tinha quatro dias que não falava com um certo avermelhado. Estava aflito, ansioso e de certa forma preocupado, como se algo não estivesse certo. Queria entender por que estava sendo evitado pela única pessoa que pensava confiar, a única pessoa que havia deixado se aproximar tanto de si. E agora temia ter cometido um erro ao fazê-lo. Sim, tinha sido um erro deixá-lo tomar um espaço tão importante na sua vida. Agora sentia um dor profunda no peito, uma dor que não sabia discernir o que era, e toda vez que via Nagumo virar o rosto para si, como se fugindo, essa dor aumentava. Por quê? Por que ele o estava evitando? Por que justo ele?

Os pensamentos alterados do prateado e seus sentimentos feridos pareciam não afetar a beleza e as formas da arte que delineava no papel. Dessa vez, optara pela cor azul, azul como o gelo, e frio como tal. Essa cor refletia como se sentia ao mesmo tempo em que sua vibração aumentava seu sofrimento. Era estranho... Azul deveria acalmar, como ele próprio sempre parecera uma pessoa calma, mas só aumentava sua angústia.

Mas só se tinham passado quatro dias, não deveria estar se sentindo assim, não era para tanto, entretanto, as ações de Nagumo apontavam contra ele. O avermelhado, nestes últimos dias, nunca estava próximo, quando Suzuno chegava perto, ele se afastava, e quando olhava para ele, ele o ignorava e procurava algo para se ocupar. Será que... Ele sabia?

Tudo mudara desde o dia em que tinha ficado trancado no banheiro, o dia em que Nagumo e salvara e o levara para casa. Suzuno lembrava de ter conversado com seus pais adotivos e subido para tomar banho depois da insistência dos mesmos, e deixara o colega sozinho com eles, depois disso não tinha mais lembranças, devia ter dormido. Mas podia ser isso, a única coisa que explicava o comportamento do avermelhado era esse: ele sabia, seus pais deviam tê-lo falado, revelado seu segredo.

Mil e um pensamentos passavam-lhe pela cabeça, revirando, jogando perguntas atrás de perguntas, e as respostas que que encontrava não eram nada boas. Se Nagumo sabia mesmo, o que ele achava disso? Ficaria ele o evitando para sempre ou voltaria a falar consigo? Queria, mais que tudo, saber como o avermelhado o via agora, como um garoto estranho com uma doença? E o que ele sentia? Pena? Não... Pena não, nada era pior para o prateado do que o olhar de pena sobre si.

Uma pressão demasiada sobre o papel fez com que a caneta fizesse uma linha indesejada. Suzuno apertou os olhos, não entendendo sua reação e amaldiçoando sua falta de controle. Já ia continuar a desenhar quando sentiu um vulto se aproximando de si. Ergueu a cabeça apressado pensando ser Nagumo, mas logo suspirou. Não era ele.

— Yoo colega. Está desenhando a cabeça do Nagumo de novo? - Midorikawa perguntou, curioso. Tinha as mãos atrás da cabeça e carregava um sorriso maroto que só ele conseguia fazer.

As palavras tiveram em Suzuno uma reação que o esverdeado não esperava.

— Eu... Disse algo errado? - Midorikawa se sentou ao lado esquerdo do prateado, que estava vazio, e olhou-o alarmado e preocupado. - O que foi?

Suzuno chorava. Chorava fortemente. Escondeu a cabeça entre os joelhos, como se não querendo atrair a atenção de mais ninguém, sem perceber deixando seu desenho cair no chão. Em um impulso o esverdeado pegou a peça rebelde, mesmo ainda estando assustado com a ação abrupta do companheiro de time.

Suzuno balançou negativamente a cabeça.

— N- não... é nada. Vá embora - disse entre soluços. Queria sair correndo dali, sentia que começara a atrair olhares indesejáveis. Detestava ser o centro das atenções. Mas se saísse dali seria pior.

— Não posso deixar você assim - O esverdeado rebateu teimosamente e seguidamente seus olhos bateram no desenho que pegara do chão. Como sempre era surpreendente, originalmente belo e harmonioso, mas tinha algo ali que lhe lembrou tristeza, uma revolta silenciosa. Mesmo querendo falar mais alguma coisa para ajudá-lo, Midorikawa calou-se, não era bom com as palavras. Nunca sabia falar a coisa certa, muito pelo contrário, sempre falava a coisa errada na hora errada. Não queria piorar a situação, mas também não iria abandoná-lo ali naquele estado. Suspirou enquanto coçava a cabeça, sem saber o que fazer. Após alguns segundos de indecisão, resolveu por imitar a posição de bolinha do colega de time e permaneceu quieto, respeitando o silêncio do outro.

Doía. Doía muito aquela sensação. Suzuno não sabia por que chorava, na verdade, nunca soubera. Era sempre assim, principalmente no fundamental, lembrava-se de quando começava a chorar do nada na sala de aula por causa de algo que não significava grande coisa para os outros, no entanto, acabava sempre por chorar. E ao invés de ajudar, a preocupação e as consolações das pessoas só agravavam a situação e sempre acabavam chamando os seus pais para o buscarem na escola. Não eram boas coisas para se lembrar, mas a circunstância era parecida e por isso não conseguia espantar tais pensamentos. Por mais que Suzuno tentasse se convencer de que seu motivo para chorar era algo trivial... Não era. Não era.

— É sempre assim, as pessoas sempre se afastam de mim quando sabem... E ele não foi exceção - falou com certa dificuldade, baixinho, a voz um pouco rouca e a feição banhada em lágrimas. Ergueu a cabeça antes de continuar a falar. -, Nagumo vai começar a me evitar também, como todos os outros... AGORA QUE SABE QUE SOU AUTISTA. - vociferou com os olhos fechados, antes de novamentes se esconder atrás de seus joelhos.

Midorikawa o fitou de boca aberta, perplexo.

Algumas pessoas que passavam por perto foram se aproximando, curiosas, murmurando alto sobre a cena, percebendo que o estado do garoto estranho. Midorikawa voltou os olhos arregalados do colega para os estudantes, sem ação por um momento, mas logo em seguida saltou do banco.

— Vão embora. Não tem nada para ver aqui. podem ir dando meia volta.- o esverdeado forçou a expressão mais séria e irritada que conseguia, tentando espantar os intrometidos, mas tal sentimento não combinava com ele e o efeito sobre as pessoas não foi a que queria. O sinal bateu, revelando ser hora de voltar para a sala, as pessoas se afastaram, retornando, e Midorikawa respirou aliviado, voltando para o banco.

— Por que isso sempre acontece comigo? - Suzuno se perguntou, consternado, e levantou a cabeça minimamente para olhar ao redor. Demorou mais uns minutos para que se acalmasse. E o esverdeado esperou, queria fazer um monte de perguntas e teve que se controlar para que elas não saíssem. Quando viu que o outro estava mais estável, e ajudou-o a levantar do banco.

— Sua cara está péssima, é melhor voltar para casa, vou falar com os professores - disse no seu jeito de sempre, enquanto começava a acompanhá-lo para a saída escola.

Suzuno fitou-o, sua atenção estava voltada para outra área, então se esforçou para traduzir as palavras. Logo uma careta tomou conta do prateado, sabia que sua cara devia estar péssima, mas por que o outro era sempre tão sincero? Mas devia uma a ele agora, já que suas palavras o haviam tirada do mundo sombrio em que estava, trazendo-o de volta à realidade.

— Obrigado, Midorikawa - Suzuno agradeceu quando chegaram ao portão da escola, atraindo o olhar de ébano do outro.

— Pelo que? - estava curioso.

— Pela sua ajuda, e pelo seu silêncio - foi sincero. Agora que pareceu perceber que o companheiro de time ficara o tempo todo ao seu lado. Sabia que ele era curioso, agitado, e por isso surpreendia o fato dele não tê-lo enchido de perguntas, devia estar se segurando.

Midorikawa sorriu, feliz.

— Sempre que quiser desabafar venha falar comigo. Minha boca é um túmulo - falou apontando com polegar pra si mesmo.

Suzuno sorriu para ele e acenou com a cabeça, voltando a caminhar.

O esverdeado ficou por ali, logo adquirindo um semblante preocupado ao fitar as costas do acinzentado. Suzuno tinha tentado disfarçar, mas ainda estava abatido, vulnerável, parecia errado deixá-lo ir sozinho e naquele estado, era perigoso. Midorikawa nunca o tinha visto daquele jeito, a imagem que tinha de seu companheiro de time, sempre tão calmo, impassível e forte, havia se quebrado. Midorikawa tentava evitar se meter na vida dos outros, mas não conseguia: Suzuno dissera em alto e bom tom ser autista, declaração que o deixara muito surpreso, chocado. E aquilo que ele havia falado sobre Nagumo, que o avermelhado o evitava... Teriam brigado? Qual era o problema? Seria por causa do problema de Suzuno? Essas perguntas começaram a instigar o esverdeado, apesar de contra vontade. Tinha alguma relação entre o atacante e o defensor, disso sabia. Balançou a cabeça para espantar a curiosidade e deu meia volta para dentro da escola. Só sabia de uma coisa: precisava achar Nagumo e contar-lhe o que tinha acontecido.


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Notas finais do capítulo

A idéia inicial era vir com esse cap. o desenho que o Suzy estava fazendo... Mas acabou não indo.
Bem, feliz -ou infeliz- final de férias a todos
Bjos



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