Autistic Love escrita por Claraneko


Capítulo 3
Partida na Chuva


Notas iniciais do capítulo

Desculpa a demora, pessoal (dou a culpa para a chuva) Não consigo escrever um capítulo de chuva se não tá chovendo -sei que não faz sentido-
Sem mais enrolações. Boa leitura ;)



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Suzuno permanecia imóvel, sentindo os pingos de chuva que iam pouco a pouco molhando seu uniforme, refrescando-o do calor do seu corpo. As gotas vinham frias e o vento cortava, no entanto, sentia-se bem ali como estava, sozinho. Poderia fazer qualquer coisa sem ninguém que o olhasse torto. Sorriu, poderia jogar futebol de verdade. Estático a sua frente, uma bola que esperava o garoto terminar suas divagações para ser finalmente manuseada. Suzuno não a fez esperar mais.

Com a roupa já encharcada ele começou com as manobras, iniciando pela lateral do campo. Desviou de um adversário imaginário e driblou tantos outros. Terminou com um chute longo no gol.

— Ainda não - afirmou ofegante. Correu para pegar a bola na rede e dessa vez começou a correr no meio do campo, aumentando relativamente a velocidade a medida que avançava. Ao chegar na área de chute, usou a técnica que tinha treinado nas últimas semanas: Northern Impact. Gritou o nome enquanto chutava e logo depois caiu de joelhos, essa bola com efeito consumia muito das suas energias e ainda não tinha se acostumado. Levantou o olhar para rede e bufou ao ver que errara novamente o alvo.

— Por que eu nunca consigo? - ralhou consigo. Seria o ângulo do chute? Poder insuficiente? Posição errada? Ou… falta de vontade? Não, sabia que tinha vontade, gostava de jogar futebol.

Ele sabia que não era por causa das condições do tempo, pois a água e o frio eram seus aliados e ajudavam a dar força ao seu chute. Então era isso: a técnica não estava completa, não estava perfeita.

— Preciso treinar mais - respondeu sua pergunta, compreendendo. - E se for por falta de poder, também preciso treinar mais.

Voltou a simular oponentes fictícios, sem perceber a aproximação de alguém. Estava com olhos voltados no controle da bola, nos dribles, nos chutes… Ali, naquele momento, podia abusar da sua vontade de jogar futebol.

No meio do campo, o prateado parou por um momento para retomar o fôlego, foi aí que percebeu que alguém vinha. Não soube o que fazer, assustado, mas seu corpo agiu sozinho, chutou a bola com toda sua força na silhueta estranha que o observava. Viu-o parar sua bola com as mãos.

O estranho olhou para o prateado com um sorriso nos lábios.

— Vamos treinar juntos? - Perguntou ele, segurando a bola com as duas mãos enquanto fitava o colega.

Suzuno arregalou os olhos, perguntando-se o que aquela pessoa em especial estava fazendo ali. Espera aí, ele estava o convidando para treinar com ele? Será que também gostava de futebol? Como sabia que ele estava ali? O professor tinha contado? As perguntas iam e vinham em sua cabeça.

Nagumo o fitava, esperando uma resposta, mas essa não veio. Entretanto, contentou-se com o olhar fofo e desorientado que o albino lhe lançava. Olhar de quem estava com a cabeça a divagar. Sorriu ainda mais. O avermelhado se aproximou do defensor e jogou--lhe a bola com as mãos.

Suzuno recebeu-a com um susto, não esperava essa ação.

— Vamos só jogar, depois você pode me fazer todas as perguntas que quiser.

‘Ele consegue ler pensamentos?’ Suzuno supôs, temeroso. Mas logo se deu por vencido, ’Vamos só jogar’ ele disse, essa frase o confortou. Acenou com a cabeça para Nagumo, que cantou vitória com o rosto.

— Muito bem, eu começo tentando tirar a bola de você. Quando eu pegar é sua vez de tirar de mim e vice-versa. Se achar que consegue fazer o gol pode tentar - Nagumo disse, empolgado, já se preparando para correr.

— Obviamente - Suzuno proferiu para a frase desnecessária. - Eu sei jogar futebol - falou acanhadamente revoltado, arrancando um riso gostoso do avermelhado.

‘Ele parou meu melhor chute apenas com as mãos, não posso subestimá-lo’ Suzuno entrou rapidamente em posição defensiva, com a bola entre seus pés, bem a tempo de protegê-la do oponente veloz que chegou em um piscar de olhos. Suzuno manuseava a bola de um jeito a mantê-la em sua posse. Nagumo o enfrentava sem dar moleza, com verdadeira intenção de pegar a bola.

‘Ele leva futebol a sério’ Suzuno reconheceu. ‘Eu também’. Com um giro repentino para a direita e para a esquerda, o prateado driblou o adversário e se viu livre para correr com a bola.

— É rápido - Nagumo foi pego de surpresa, mas imediatamente recuperou-se e correu para acompanhá-lo. Ao se ver alcançado, Suzuno fez uma parada brusca com o pé direito em cima da bola, Nagumo foi forçado a diminuir a velocidade, mas mal o fez e o prateado disparou para a frente, o ultrapassando e correndo em direção à baliza., fazendo um gol. Os dois voltaram ao meio de campo, onde haviam começado.

— Estou surpreso - Nagumo revelou. E de fato, aquele menino vinha o surpreendendo, provando ser muito mais forte do que aparentava, não podia pegar leve. - Vou jogar sério agora, eu começo.

— Hn? - Suzuno o encarou perplexo. ‘Estava me subestimando?’

Os dois entraram em posição. Suzuno atacou, e começaram a  brigar pela bola. Nagumo desviava do prateado e retia a bola como um muro que impede a água. Suzuno não cedia, permanecia no mesmo ritmo. Nagumo deu uma finta e passou, mas recuou surpreendido quando o prateado surgiu como um raio na sua frente. Sorriu, e sem perder o domínio da bola, deu um chute curto para cima com o joelho. A  bola contornou a cabeça do albino e esse não teve tempo para reagir. Nagumo disparou para o gol e chutou. Suzuno não queria perder, usou o solo escorregadio pela chuva para deslizar, aumentando sua velocidade. Entrou na frente da trajetória do chute, parando a bola com o dorso.

A bola caiu no chão sem passar pela linha do gol.

— Uau, Você é atacante? - Nagumo perguntou, pegando a bola com as mãos. Estava feliz, o colega virava outra pessoa quando jogava, mais confiante, com certeza amava o futebol tanto quanto ele.

Suzuno negou com a cabeça.

— Jogo na defesa - explicou.

— Que desperdício - Nagumo fez careta. - Seu treinador deve ser cego.

O prateado se sentiu desconfortável com esse assunto, demonstrava em seus movimentos. Nagumo percebeu.

— Você começa agora - mudou de assunto e correu para o ponto inicial. Suzuno o seguiu.

Seguiram revezando a posse de bola. Sem perceberem, o período do treino acabou. A chuva diminuía, mas o solo continuava empapado de água.

— Cinco a nove - Suzuno murmurou para si mesmo, ofegante e inquieto, enquanto Nagumo corria até à baliza para pegar a bola que tinha acabado de chutar. - Cinco a nove - repetiu. Como podia? Quem era aquele garoto novo? Apesar de Suzuno vir jogando até agora com todas as suas forças, não conseguia superá-lo. Ele era mais forte, mais rápido, mais confiante. Depois do quinto gol do prateado, Nagumo não permitira passar mais nenhuma, tinha um domínio de bola incrível. Ele era melhor na coisa que mais gostava.

‘Ele estava contando?’ Nagumo o tinha ouvido.

— Vai desistir? - Nagumo foi até ele..

— Não - respondeu firmemente.

— Então... vamos continuar - fez voltar seu ar sorridente.

Suzuno acenou com a cabeça, não gostava de perder. Voltaram a  jogar. Os dois já estavam cansados, o chão inundado pelo acúmulo de água já começava a fazer efeitos indesejados aos dois jogadores, que agora escorregavam constantemente. O albino se levantava envergonhado cada vez que tombava nas poças e Nagumo igualmente se atrapalhava, chegando a cair de costas em uma poça, rindo alto logo em seguida.

Nagumo estava animado, parecia que nada poderia tirar o sorriso de seu rosto. Ver aquele garoto tentando roubar-lhe a bola, com as roupas encharcadas e sujas de lama. Parecia ainda mais belo, com aquele olhar desafiador e fixado na bola. Queria ficar ali para sempre. Em um momento repentino de um drible mal feito, enquanto Nagumo divagava, os dois enroscaram os pés e tropeçaram simultaneamente, caindo um sobre o outro.

— Ai - Suzuno gemeu ao bater com as costas no chão, apertou os olhos de dor. Respirava pesadamente por causa do jogo de antes. Quando abriu os olhos para se levantar, sentiu o peso do colega em cima de si, prendendo-o. O avermelhado o olhava com uma expressão difícil de entender. - Nagumo… - falou, sentindo seu coração acelerar. Nagumo tocou-lhe levemente o rosto frio como o tempo, e fez sua mão passear pela face do albino, esquentando-o. Suzuno sentiu um calafrio perpassar seu copo. - Nagumo, eu… - o avermelhado aproximou mais seu rosto ao do colega, fazendo mesclar-se suas respirações. O garoto aproximou-se mais.

Suzuno sobressaltou-se e empurrou o colega se si. Levantou rapidamente, trêmulo.

Nagumo igualmente levantou-se, percebendo a burrada que fazia. Aquele menino não era como os outros, tinha que ir com calma.

— Foi mal - Nagumo coçou a cabeça, consternado por não conseguir se segurar. ‘Fiz besteira’. Seus olhos foram até o albino, que estava de costas para ele.

— Tudo bem, é que eu… não me sinto bem com isso - foi sincero, abraçando-se para segurar-se ali. Não queria sair correndo como aquele dia no refeitório.

— Entendo... - Nagumo ficou um tempo calado, pensando no que falar, até ter uma idéia, andou até ele e tocou-lhe o ombro, fazendo-o virar-se. Deu um passo para trás e estendeu-lhe a mão, com um sorriso de orelha à orelha. - Ainda não nos apresentamos direito. Sou Nagumo Haruya, tenho dezesseis anos, vim da Coréia e vou estudar aqui esse ano. Muito prazer.

Suzuno foi pego de surpresa, não esperava por essa. Ficou a  olhar para a mão estendida por um tempo. Normalmente, apenas adultos, amigos dos seus pais adotivos, faziam esse tipo de cumprimento consigo. Nunca alguém da sua idade, era cordialmente estranho, e engraçado. O prateado sorriu,  aceitando o cumprimento do colega.

— Me chamo Suzuno Fuusuke, sou daqui do Japão e… Falta pouco para mim fazer dezesseis - falou, só para não dizer que ainda tinha quinze. - Muito prazer.

— Pouco quanto? - Nagumo perguntou curioso enquanto separavam as mãos.

Suzuno corou.

— Oito meses - respondeu enquanto se dirigia à saída do campo. Nagumo o seguiu com as mãos atrás da cabeça.

— Isso é só no ano que vem, então entrou adiantado. Eu já tinha percebido que era um gênio.

— Não sou um gênio - contestou envergonhado.

— É sim - retrucou. - E é atacante, não defensor.

— Não é verdade - Suzuno negou, fazendo birra.

— Admita - provocou. - Você é bom em defender a bola, mas é melhor em atacar.

— Nunca - Suzuno percebeu que gostava de discordar dele. De repente o nove a cinco veio em mente. - Eu não vou perder para você de novo.

— Duvido - riu confiante

Nagumo viu que sua mochila estava jogada no mesmo lugar onde a tinha abandonado. A pegou aliviado.

— Não acredito que deixou sua mochila aí - Suzuno balançou a cabeça, sem acreditar.

— O que que tem? - O avermelhado jogou relaxadamente a mochila nas costas. - Por falar nisso, cadê a sua?

— Em segurança no armário da escola. E aliás, qual é o nome da flor que tem na sua cabeça?

— Ah? Que flor? - Nagumo levou a mão à cabeça. - Ahhh… segredo. Vai ter que pesquisar.

Antes que percebessem, já estavam saindo juntos da escola, conversando como amigos. Já não chovia, mas suas roupas estavam ensopadas, recebiam olhares reprovadores dos adultos que passavam por causa disso, mas não ligavam, estavam juntos. E Suzuno não podia acreditar em como era fácil falar com aquele cabeça de flor. Sentia pela primeira vez verdadeira vontade em ir para aula dia seguinte.


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Notas finais do capítulo

Podem deixar que não vou mais ficar dependente da chuva para escrever ;) Talvez :O kkk



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