Autistic Love escrita por Claraneko


Capítulo 16
Eu o Amo?




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O final do dia estava próximo, no céu, o sol começava a querer desaparecer. O time estava reunido na saída do estádio onde tinha sido realizado o campeonato. Misteriosamente, a van que os tinha trazido até ali havia quebrado e esperavam um mecânico chegar para arrumá-lo. Enquanto isso, os jogadores estavam espalhados pelos arredores, conversando, treinando ou descansando.

Suzuno recostava-se em uma parede, observava o processo de mudança das nuvens e nas colorações do céu. Era incrível. Aquela rapidez que a natureza tinha para se transformar de um segundo para o outro; era espantoso, e muito belo.

O tempo, entretanto, parecia caminhar devagar naquele momento. Uma mistura de dúvidas e ansiedades abatiam o prateado, apesar das coisas parecerem estar se resolvendo.

Suzuno deu um passo para a frente, criando uma distância entre seu corpo e a parede que contornava o edifício do estádio.

Com o canto dos olhos, observou Nagumo por um momento; ele conversava com o treinador Timo. Antes de sair, Nagumo o tinha dito que precisava conversar com o treinador sobre os próximos jogos.

Em seguida, procurou por um ser de longos cabelos esverdeados. Midorikawa estava com o tornozelo machucado, portanto, não devia estar muito longe. Andou por um tempo até encontrá-lo sentado em uma escadaria silenciosa e escondida, bebendo alguma coisa. A perna enfaixada recostava nos degraus de pedra lisa.

Foi até ele. Aproximou-se, hesitante, e sentou-se ao seu lado.

Midorikawa piscou os olhos curioso, o garoto por quem tinha tentado se aproximar por tempos acabara de sentar ao seu lado por livre e espontânea vontade. Ficando especialista no assunto, esperou-o falar antes de qualquer coisa.

— Midorikawa, eu... - Suzuno olhava ao longe, enquanto o esverdeado observou o entardecer laranja que refletiu nos olhos azuis do albino. - Queria que você me ajudasse a entender uma coisa.

Midorikawa pareceu surpreso, bebeu mais um gole da garrafa de água antes de responder. O médico que com tinha atendido aconselhara-o a se manter bem hidratado.

— Está bem, o que foi?

Suzuno olhou nos olhos dele.

— Sinto alguma coisa pelo Nagumo.

Midorikawa engasgou-se com a bebida, assustando Suzuno que se afastou um pouco.

— O que disse?

Suzuno lançou novamente um olhar ao longe, daqueles de quem tinha se arrependido de dizer alguma coisa. Mas não tinha como voltar atrás.

— Eu... Estou meio confuso... Sinto uma sensação diferente quando penso nele, mas não a entendo direito. - Olhou para baixo. - Não sabia com quem conversar sobre isso.

Midorikawa limpou o uniforme molhado com a mão e descansou a garrafa ao seu lado.

— Entendo. - Sorriu, aquela frase o tinha pego de surpresa. Com certeza, havia pensado em algo que qualquer um pensaria. - O que você sente?

Suzuno abraçou as pernas, pensativo.

— Calor e... Algo mais... - Apertou os olhos, com dificuldade de encontrar as palavras corretas.

Midorikawa aproximou-se incrivelmente interessado no assunto, ao mesmo tempo em que cuidava da posição da sua perna. Ajudaria o colega a entender o que sentia.

— É como quando você joga futebol? Ou como quando você vê seus pais?

Suzuno balançou a cabeça.

— Não, é diferente.

— Já sentiu isso antes, com outra pessoa?

Suzuno parou para pensar.

— Não.

O esverdeado sorriu.

— Quando você o vê, seu coração acelera?

— Sim.

— Você se sente bem na presença dele?

— ...Sim.

— Sente vontade de ver ele o tempo todo?

Susuno cerrou as sobrancelhas.

— O tempo todo... Não...

— Se você fica sem vê-lo por muito tempo, quer encontrá-lo? Pensa no que ele deve estar fazendo e quando vai vê-lo de novo?

O prateado inclinou a cabeça, os pensamentos elevados. Que perguntas difíceis.

— Mais ou menos, não é bem assim.

— Mais para mais ou mais para menos? - O esverdeado parecia se divertir.

— O quê? - Suzuno não compreendeu a última pergunta confusa.

— Nada não. - Midorikawa já sabia a resposta antes de todas as perguntas, mas só queria ter certeza. Era exatamente o que tinha pensado inicialmente, entretanto, Suzuno não parecia conhecer muito sobre o assunto. - Suzuno, você gosta do Nagumo?

Suzuno não precisou pensar para responder, desde a primeira vez que o vira, o avermelhado o tinha ajudado a superar muitos desafios, confiava nele, e estar perto dele o fazia se esquecer de tudo.

— Gosto.

Midorikawa começou a brincar com o movimento da água que tinha restado na garrafa, girando-o e observando seus movimentos.

— Claro que gosta, seria estranho se não gostasse. Na verdade, isso até que faz muito sentido, é por isso que ele conseguiu se aproximar de você tão fácil. - Midorikawa falou mais para si mesmo, pensativo.

Suzuno estreitou as sobrancelhas. “O que eu sinto é o que me fez deixá-lo se aproximar?”

— Você sabe o que é? - Suzuno perguntou, temeroso.

Midorikawa o olhou e acenou com a cabeça, fazendo o prateado prestar máxima atenção nas suas próximas palavras.

O esverdeado fez questão de esperar alguns segundos antes de responder. Suzuno ficou esperando apreensivo e ansioso.

— Você o ama, Suzuno. - Finalmente disse.

O prateado o encarou perplexo.

— Amo?

Midorikawa acenou.

— Tudo isso que eu descrevi, são sinais que você o ama. Sentir carinho e afeto, vontade de proteger e querer que o outro esteja bem. Querer estar com a pessoa que você gosta e ficar feliz quando está com ela. Isso é amor.

Suzuno compreendeu.

— Eu sinto isso... - disse, se identificando com as palavras descritas. - Eu amo o Nagumo.

Midorikawa ficou em silêncio por um momento, observando-o, em seguida levou a mão até os cabelos do outro, bagunçando-os com um cafuné suave.

— Você aceitou tão rápido - riu. - Pensei que resistiria mais.

— Por que faria isso? - Suzuno levou as mãos as cabelos desajeitados, ainda estranhando a ação inesperada do meio-campista. - O amor é algo ruim?

— Não... É que... - Midorikawa levou a mão ao queixo, pensando se deveria explicar mais sobre o assunto. Por fim, decidiu não fazê-lo, isso seria algo que Suzuno aprenderia com o tempo. Por hora, só diria o essencial. - O amor não é um sentimento ruim. Se você ama alguém, todos os problemas parecem desaparecer, e as dificuldades diminuem, isso é muito bom. As pessoas são felizes quando amam alguém. - O esverdeado se vestiu de uma expressão mais séria. - Mas tem algo que você precisa saber: amar não é a mesma coisa que estar apaixonado. Quando você ama alguém, você não precisa estar com a pessoa o tempo todo para estar bem. Mas já a paixão é algo mais materialista, de quando as pessoas se atraem por desejo e só tem interesse no externo, no superficial. Sentir paixão não é amar, as pessoas costumam se confundir muito sobre isso. Então, tenha cuidado com pessoas assim, que sentem paixão, e não amor.

Suzuno arregalou os olhos e encarou Midorikawa admirado. Ninguém nunca tinha falado sobre aquilo com ele, claro, antes quase que só conversava com seus pais e familiares mais próximos. E sobre o amor... Aquelas palavras tinham lhe atingido como fogo e sentiu uma enorme vontade de ver Nagumo naquele momento. Entendeu que o que sentia não era a paixão que o esverdeado o tinha advertido.

— Você sabe muito sobre isso, já amou alguém?

O esverdeado corou e logo balançou fortemente a cabeça, negando.

— Você é bem direto com as palavras, não é? Er, não... Eu nunca senti tal coisa por ninguém.

Suzuno estranhou.

— Então como sabe tanto?

Midorikawa levou a mão ao queixo.

— Conhecimento universal, acho.

— Nossa. - Suzuno ficou maravilhado. - Você sabe de muitas coisas.

O outro sorriu.

— E me orgulho por isso, se quiser saber de alguma coisa, é só me perguntar.

Suzuno sorriu e acenou com a cabeça, novamente pensando em como era fácil conversar com aquela pessoa radiante e alegre.

— Midorikawa... Obrigada por me proteger naquela hora no campo. E desculpa pela perna, se eu não estivesse...

— Não precisa agradecer, - Midorikawa o cortou, - é o que amigos fazem.

— Amigos?

— Isso - Midorikawa hesitou. - Isso é, se me considerar um amigo.

— Isso... É que eu deveria dizer, eu não consigo manter uma amizade por muito tempo.

— Isso não é problema. Eu já te considero meu amigo.

Midorikawa assustou-se ao vê-lo chorar após terminar de falar. Suzuno limpou o rosto, os pensamentos elevados.

— Quero fazer um desenho verde.

— Hã? - Midorikawa inclinou a cabeça, sentindo-se estranhamente afortunado. - Que honra. Aliás... Nós, o time, estamos muito felizes já que agora vamos poder jogar com você.

— ... Assim parece que não estavam bem antes, por minha causa.

Midorikawa suspirou.

— Estávamos preocupados, sabe? Você era um Suzuno sempre tão quieto e não conseguimos nos aproximar, não tínhamos como saber se estava triste, se tinha raiva da gente ou se só gostava de ficar sozinho mesmo. Mas víamos que adorava futebol. Nós também amamos jogar futebol, e por isso estivemos esperando para jogar com você. - Midorikawa sorriu. - Na próxima partida, vamos jogar um futebol de verdade desde o início, está bem?

Suzuno acenou com a cabeça, um pouco envergonhado. Antes, não soubera que os companheiros de time o viam assim, ou melhor,que estiveram tentando saber como ele realmente se sentia sobre eles. Naquele momento, olhar daquela forma o fazia parecer uma pessoa má, já que sempre tinha evitado se importar com o que os outros pensavam de si, pois isso o machucava.

Estava envergonhado por tê-los preocupado e por criar tantas dúvidas. Mas também estava feliz. Decidiu de agora em diante, se esforçar mais para compreender os outros sem deixar ser ele mesmo.

Suzuno congelou.

Sentiu uma perturbadora sensação de estar sendo observado.

Em um reflexo intuitivo, o prateado olhou ao longe para ter um vislumbre de algo alaranjado se mexendo e sumindo em uma rua.

— Algum problema? - Midorikawa estranhou o movimento, olhando na mesma direção que o prateado encarava com uma expressão assombrada.

— Tinha alguém nos espiando.

Midorikawa suou frio.

— Tem certeza que não foi só impressão?

Suzuno acenou com a cabeça.

— Cabelo... Laranja.


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