O capitão da Seishou, partindo para a ofensiva, avançou driblando ferozmente por alguns atacantes e, enfim, parou em frente a Nagumo, onde começou uma guerra pela posse de bola. Foi imediatamente percebido que Nagumo começava a ter dificuldades com aquele cara.

— Vejo que você não é só palavra - Nagumo disse, irônico.

— Não digo o mesmo de você. - Usagi zombou enquanto mantinha sua pose de bola. - Continua jogando sozinho, onde estão seus companheiros medrosos para te ajudar? - Ao dizê-lo, passou a bola para outro atacante da Seishou, desvencilhou-se de Nagumo e recebeu a bola de volta.

— Vamos esmagá-los. - Usagi disse aos seus jogadores e logo sorriu ao ver seu próximo obstáculo.

Suzuno suou frio ao vê-lo se aproximar tão rapidamente. Pensou no que tinha que fazer, mas suas pernas não se mexiam. “Estão filmando isso, certo? Tem muita gente assistindo, certo? Meus colegas estão observando, não é mesmo?” Tentou encontrar o ponto refúgio chamado Nagumo com o olhar, mas não o viu. Apertou os olhos quando se perguntou ‘desde quando precisava de algo assim’, era só roubar a bola e passar adiante, certo? “Mas como? É um monstro quem está vindo em minha direção”, pensou.

Tão rápido como uma flecha, o jogador com uma grande estatura surgiu sobre si. Suzuno arregalou os olhos, congelado, quando o monstro passou voando ao seu lado. O prateado virou-se para ver Usagi mandar para os ares os outros defensores e fazer o gol.

Suzuno apertou as mãos, consternado. “Eu nem pude me mexer”. O que mais lhe afligia é que todos seus colegas ao menos tinham tentado detê-lo, apesar de que em vão. Pulou de susto ao sentir uma mão áspera roçar em sua face.

— Isso aqui é um campo de batalha, pequeno, se não quer lutar, saia daqui ou vai acabar se machucando. - Zombou um timbre que parecia sentir prazer ao dizer tais palavras. Usagi, junto com os jogadores da Seishou,  voltou a sua posição.

Suzuno levou uma mão ao seu rosto e o esfregou fortemente. Sentiu as lágrimas vindo e forçou-se a segurá-las. Não podia deixá-las sair, como sempre acabava fazendo. Não queria que ninguém o visse chorando. Olhou em volta, aquele campo era tão grande, a sua distância para a de Nagumo parecia enorme, além de só conseguir ver suas costas. Aquilo não era como em seus treinos a sós. Sentiu-se sozinho e desesperadamente vazio. Desejou fortemente estar em qualquer outro lugar, menos ali.

...

Nagumo começou avançando com a bola, entretanto, Usagi o cercou juntamente com mais três jogadores da Seishou. Forçaram Nagumo até que esse perdesse a posse da bola.

— Droga. - Nagumo gritou  e tentou perseguir o atacante, porém, foi marcado por outro jogador adversário. O avermelhado bufou e olhou para a silhueta do capitão da Seishou avançar no campo, viu-o passar pelos meio campistas com fintas grossas e passes rápidos. Já estava na frente da defesa. Naquele momento, Nagumo não conseguiu evitar de olhar para Suzuno e, logo que o fez, preocupou-se. Para a maioria das pessoas, aquele semblante no rosto alvo daquele belo garoto seria um rosto indiferente e sério. Enganavam-se, como as pessoas mal compreendiam as coisas. O avermelhado já tinha ficado com ele tempo suficiente para reconhecer quando estava feliz e quando estava triste. Sinceramente não gostava daquela expressão que via agora, de quem estava guardando seus pesos só para ele mesmo, de quem não quer machucar as pessoas e não quer que as pessoas lhe machuquem. Suzuno estava com medo.

Muitas vezes certos segredos são escondidos com tanto empenho, que fazer qualquer coisa para descobri-la pode destruí-la. Era isso, Nagumo percebeu. Suzuno temia mostrar seu poder, mostrar sua força, receava os pensamentos dos outros e se o aceitariam. Nagumo apertou as mãos, seu colega vinha sofrendo tanto por tanto tempo, que se danasse o que os outros achariam, Suzuno tinha o direito de viver como ele era.

Nagumo viu capitão da Seishou se aproximar do defensor. E Suzuno, como se preso por correntes invisíveis, não mexia sequer um músculo.

— Suzuno. - O avermelhado gritou.

Fuusuke despertou como um choque, olhando assustado na direção da voz que chamara seu nome. O prateado arregalou os olhos com a onda de emoções que aquelas orbes amarelas lhe transmitiam simultaneamente. Em um instante, Usagi chegou até ele e Suzuno soube o que deveria fazer. Assim como no treinamento com Nagumo, era só permitir que seu corpo fizesse o que tinha sido treinado para fazer.

De súbito, Suzuno focou seus olhos na bola e disparou em sua direção, tomando-a para si e passando o capitão da Seishou para trás.

Quando Usagi se deu conta do que tinha acontecido, a bola não estava mais consigo, imediatamente deu meia volta para vê-la entre os pés do garoto delgado que tinha acabado de roubá-la.

— Quando foi que..? - Usagi estava perplexo, assim como os próprios jogadores do time do albino. O capitão da Seishou olhou para o pequeno garoto e por um momentaneamente assustou-se ao receber um olhar frio do mesmo antes dele passar a bola para o jogador mais próximo. - O... que foi isso?

— O jogo continua, vamos. - Nagumo gritou, fazendo seu time voltar a si e a se concentrar no jogo. Não conseguiu evitar um grande sorriso, como estava orgulhoso de Suzuno.

— Nagumo. - Midorikawa chamou e chutou a bola para ele.

O avermelhado recebeu a bola e correu para o gol adversário. De súbito, parou bruscamente quando Usagi entrou em sua frente.

— Tem umas pessoas... Interessantes no seu time - ele gargalhou, como se pensasse algo que achasse muito engraçado. - Como um capitão, você deveria proteger melhor seus jogadores.

Nagumo arqueou uma sobrancelha.

— O que você quer dizer com...

Antes que percebesse, a bola sumiu de seus pés e o capitão da Seishou novamente disparava no seu lado do campo. Nagumo teve um mal pressentimento ao perceber Usagi dando instruções a seus jogadores. O avermelhado levou seus olhos de encontro aos azuis do defensor e sussurrou: tenha cuidado. Suzuno acenou com a cabeça, para depois ver Usagi avançando sobre seus companheiros de equipe, ninguém conseguia lhe tirar a bola.

Antes que o capitão da Seishou pudesse se aproximar mais, Suzuno correu até ele com o intuito de novamente lhe roubar a bola. Entretanto, Usagi esquivou-se da sua investida. O prateado surpreendeu-se em como a velocidade dele estava maior. Mas mesmo assim, sabia que era mais rápido que o outro, virou-se para tentar novamente.

— Eu já esperava por isso. - Usagi disse um momento antes de dar meia volta, ficando novamente em frente ao menor. Encarou as esferas azul-acinzentadas dele, em contraste com as mechas suaves e brancas.  - Você é realmente muito bonito... Mas suas pernas são um problema. - Repentinamente, seu joelho direito se chocou contra o joelho do prateado, que gemeu e caiu de joelhos no chão.

— Suzuno. - Midorikawa foi até ele preocupado, uma mancha  escura se desenhava na altura do seu joelho. - Você está bem?

Suzuno acenou com a cabeça e Midorikawa o ajudou a se levantar. O prateado testou dar um passo com a perna e sentiu uma dor aguda, apertando fortemente os olhos. O esverdeado encarou por sobre seus ombros para o cara arruivado que sorriu enquanto se desculpada.

— Ei, você - Midorikawa o chamou. - Isso foi de propósito, não foi?

Usagi o avaliou lentamente.

— Claro que não, foi um acidente.

Nagumo chegou correndo tão rápido como o vento e logo que percebeu o machucado do colega, avançou na direção do capitão da Seishou.

— Você... - Cerrou os olhos com raiva, se preparando para socá-lo.

— Nagumo, não - Midorikawa parou-o junto com mais alguns colegas do seu time. - Se fizer isso vai ser expulso da partida.

Nagumo olhou para o juiz e bufou. Soltou-se de seus colegas e foi até Suzuno.

— Consegue continuar?

— Sim. - Suzuno falou baixinho.

Com um apito do juiz, o jogo continuou com a posse de bola da Seishou, que garantiu mais um gol para seu time. Nagumo, junto com um atacante e um meio campista, começaram correndo para o campo adversário e novamente tiveram dificuldade em ultrapassar o bloqueio.

Fuusuke observava os movimentos de Haruya.

— Nagumo... Não está lutando com todo seu poder. - Suzuno sussurrou para si mesmo. Sentia-se tão inútil por não poder fazer nada naquele momento, era um defensor, afinal de contas, só podia ver Nagumo e o time lutando pelo gol. Não tinha como jogar ao lado deles, ao menos não daquela forma. Seu joelho doía também, vinha colocando o peso do seu corpo na perna esquerda desde então. Perguntava-se se ainda poderia ser útil daquele jeito, não queria ser um fardo para o time, mais ainda, não queria ser humilhado daquela maneira. Em um sobressalto, viu Nagumo e os outros falharem ao ultrapassar o bloqueio e o time da Seishou começar outra investida contra eles.