Capítulo 2

Bianca

Segunda-feira, 08:45 da manhã e estou sentada em uma das cadeiras da recepção do quarto andar do prédio da Belle Époque.

Não sei quantas vezes já alisei meu terninho preto com as mãos, até mesmo parei de contar. A recepcionista, Elaine, não parava de me dar sorrisos compreensivos, como se soubesse direitinho como eu me sinto nesse momento. Certamente ela sabia mesmo, e meu Deus, ela não estava ajudando nos meus ataques de ansiedade.

O telefone dela toca e ela concorda com alguma coisa e então se vira para mim.

— O Sr. Martins vai entrevista-la agora. – Ela fala com um sorriso doce.

Aceno e a sigo até uma sala, ela bate na porta e volta para trás de seu balcão enquanto eu espero o mais pacientemente que posso.

A porta se abre e eu quase engasgo com meu próprio espanto. Puta merda!

— Ryan? – Digo, talvez um pouco alto.

Ele me olha confuso por um momento, como se tentasse lembrar quem era a louca na sua frente. Idiota!

 Minha vontade é de gritar naquele rosto lindo: SOU EU, SEU BABACA FODIDO, A GAROTA QUE TE DISPENSOU NA OUTRA NOITE!

— Bianca, venha, entre. – Fala por fim, recuperando sua compostura e talvez sua memória.

Bufo, não sendo nada profissional e me sento em uma cadeira estofada branca, bem luxuosa como todo o resto do lugar.

— Você não me disse que era jornalista. – Ele diz, dobrando a manga da sua camisa, perfeitamente impecável.

— Não vi necessidade, Sr. Martins. – Respondo e cruzo os braços, mas minha vontade era de jogar as mãos para o céu e glorificar por não ter dormido com o cara que poderia muito bem ser meu chefe.

— Sim, sim, claro. – Ryan fala com um sorriso magnifico. – Vamos começar?

Concordo e tento respirar fundo, numa tentativa de ignorar seus braços musculosos e incríveis naquela maldita camisa social branca. Maldito seja os homens gostoso!

                                              Ryan

Cabelos castanho claro, olhos que não se decidiram entre castanhos ou verdes, lábios incríveis e sensuais, pele suave como seda e um corpo fodidamente perfeito.

Bianca Lins.

A única mulher em tempos que se recusou a ficar comigo, agora era minha funcionária.

O quanto eu estava fodido?

                                         Bianca

Hoje, seria meu primeiro dia na revista.

Sim, eu havia conseguido – para meu choque e desespero -, meu pequeno caso de horas com Ryan – meu chefe -, não tinha interferido na minha contratação, e eu nunca estive tão feliz em minha vida. Bem, vamos deixar sábado de fora, pois eu levaria aquele lap dance para o resto da vida como uma das minhas melhores lembranças.

E é isso aí cadelas, eu já estou pronta para mexer meus dedinhos para escrever meus primeiros artigos!

Eu me sentia tão feliz que não ficaria surpresa se explodisse a qualquer instante. Estava quase flutuando quando peguei o elevador para o quarto andar, eu, uma mera novata, tinha conseguido uma coluna em uma revista. Meus pais quase não acreditaram, e eu não os culpava pelo choque.

Para minha sorte, uma das funcionárias ficou gravida e saiu da revista, e euzinha acabei conseguindo a coluna sobre ‘’Amor & Sexo’’, era irônico, mas eu que não ia falar sobre isso. Eu teria que escrever uma coluna por semana, o que estava ótimo para mim.

Espero na recepção por Ryan, que suspostamente me apresentaria para meus demais colegas de trabalho. Fiz amizade com Elaine, que por sinal é uma das pessoas mais meigas que já conheci. Ela me pergunta sobre minha vida em Minas e ela dá boas risadas com minhas respostas.

— Bom dia, senhoritas.

Nossa conversa morre, e vejo Elaine morder o lábio para não rir.

— Dia, Ryan.

— Bom dia, Sr. Martins. – Digo o encarando, sim, eu sou uma descarada.

Escorpiana meu bem!

— Pode me chamar de Ryan, Bianca. – Ele fala e me dá um sorriso de molhar a calcinha.

— Claro, Sr. Martins. – Respondo e sorrio docemente.

Elaine solta o ar e eu a encaro, ela me olha horrorizada, possivelmente querendo me perguntar como eu era louca de desafiar o chefe no primeiro dia de trabalho.

Dou de ombros para ela e pisco um olho. Sim, parceira, eu sou fodidamente louca!

— Vamos? – Questiona Ryan, com curiosidade estampada em seu lindo rosto.

Caminho atrás dele, e sem conseguir evitar, meus olhos caem direto em sua bunda que estava maravilhosa naquela calça jeans escura. A imagem de um homem, com camisa social azul marinho, calça jeans, sapato social, nunca pareceu tão atraente até esse dia.

Perdida nos meus proibidos pensamentos, trombo com tudo contra Ryan, que tinha parado na frente de uma porta branca.

— Desculpe. – Falo com vergonha. Choquem!

O que eu estava fazendo?

— Tudo bem, mas é melhor olhar para frente enquanto anda. – Ryan responde com a voz grave, um tanto fria.

Meu rosto queima, e eu só queria ser estapeada naquele momento. Faço que sim com a cabeça e olho para frente, me sentindo patética por um momento.

Ele abre a porta e claridade da sala quase me cega, todo prédio era claro, tudo em tons brancos e beges, mas ali, a quantidade de janelas de vidro deixava a luz entrar por todos os lados, e eu podia ver mesmo dali a paisagem linda que as enormes portas duplas proporcionavam.

— Gostou? – Ryan me pergunta me olhando.

— Amei, parece o céu dos escritores. – Respondo sorrindo tanto que tinha medo do meu rosto rasgar.

— Bem, sua mesa fica do lado das portas duplas. – Ele diz simplesmente. – Assim que conhecer seus colegas, pode começar a trabalhar.

— Ah, s-sim claro! – Gaguejo, ainda chocada com a beleza da sala.

Ouço ele rindo de mim, enquanto damos mais alguns passos até as enormes mesas com divisórias, rostos curiosos nos encaram e eu sorrio nervosamente.

— Esta é Bianca, ela é a nova funcionária, ela vai escrever a coluna Amor & Sexo. Ela se formou recentemente, então vocês, ajudaram ela com qualquer dúvida que ela tenha. – Os cinco rostos concordam e Ryan olha para mim. – Esses são, Gabriel, Ben, Luiz, Alice e Beth.

Todos dão sorrisos enormes e me cumprimentam, Alice e Beth me dão abraços. Os garotos parecem animadíssimos com a ideia de uma garota nova, mas não demora e Ryan manda todos voltarem para suas mesas. Ele me leva até a minha e eu salto como um unicórnio, a vista para fora era tão linda que eu tinha medo de perder meu trabalho por ficar encarando o arranha-céu por todo o tempo.

— Elaine já te passou os documentos, sua senha, e o tema da coluna da semana, então não terá problemas quanto a isto. – Ryan diz ríspido. Bem, uau, que cara bipolar! – Quero ela pronta até o fim do dia de amanhã.

Com isso ele sai da sala, e eu sento como uma tábua na cadeira macia. Por um momento fico perdida, com um branco na mente, como se não tivesse passado uns bons anos estudando para aquilo.

— Ei, tá tudo bem, sério. Quando entramos aqui erámos recém-formados também. Rapidinho você pega o ritmo. – Beth fala, e não demora todos estão ao redor da minha mesa.

— Ryan é bipolar, um dia o humor dele é o mesmo de um panda adorável e no outro é de um gato selvagem. É só deixar entrar e sair. – Diz Gabriel e todos concordam.

— Obrigado, sério, é que sei lá, achei que seria tudo tão...

— Fácil. – Completa Alice com compressão estampada em seu rostinho angelical.

— Aponta para o teclado e brilha, linda. – Ben fala rindo.

— Isso aí, bem-vinda gata, agora vamos todos trabalhar. Não sei vocês, mas prefiro quando ele age como um panda.

Olho para fora e suspiro.

Eu tinha conseguido, mas eu sabia que só ficaria se mostrasse um bom trabalho. Liguei o computador e dei uma última olhada para o lado de fora.

Tinha uma coluna para escrever, e ela teria que ser brilhante, nem mesmo o humor de merda do meu mais novo chefe me impediria de escrevê-la com perfeição.