Sem Limites escrita por Débora Ribeiro


Capítulo 14
Capítulo 14




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Capítulo 14

Bianca

 

Uma semana depois de todos meus amigos terem invadido meu apartamento, estou voltando para a Belle Époque quando encontro Christopher na recepção, com uma expressão de poucos amigos.

— O que está acontecendo? – Pergunto com nervosismo.

Elaine me oferece um sorriso tenso e o gelo em meu estômago aumenta.

— Ryan recebeu uma visita hoje, não muito agradável vamos apenas dizer, então vou dispensar todos vocês por algumas horas. – Christopher diz e segura minha mão quando se aproxima o suficiente de mim. – Principalmente você, doçura.

— Por quê principalmente eu? – Questiono em pânico.

A frieza que antes vi no olhar de Chris desaparece, sendo substituída por algo mais terno, me fazendo sentir algo pior que nervosismo. Medo se instala em meu peito.

— Sua mãe tentou te ligar e falar com você, mas ela não conseguiu, então ligou aqui. – A mão de Christopher aperta a minha. – Seu pai sofreu um grave acidente, você deve ir para casa urgentemente.

Antes que as palavras do meu chefe me atinjam, minha respiração acelera de repente, meu coração dispara e eu estou saindo mais uma vez do prédio, porém desta vez em piloto automático.

Eu entro mais uma vez em meu carro, mas não registro meu caminho até meu apartamento, tudo em minha mente neste momento é um filme sendo reproduzido. Um filme de lembranças.

Acho que está programado na mente do ser humano, pensar nas piores coisas nesses momentos horríveis. Eu nem mesmo sabia qual era a gravidade da situação do meu pai, não sabia se ele ao menos estava vivo, mas tudo em que eu pensava é em como eu fui uma péssima filha. Uma filha ingrata e horrível.

Quando saio do elevador, dou de cara com Maria e Lavínia, ambas com expressões chorosas e desoladas, idênticas a minha. Elas correm até mim, e me abraçam forte enquanto nossos soluços ecoam pelo corredor.

— Eu tenho que ir. – Digo com a voz rouca e embargada. – Ainda não sei o que aconteceu, preciso ligar para minha mãe.

— Nós vamos com você. – Maria fala e não há brecha para discussão em sua afirmação. – Reservei as passagens enquanto Lavínia arrumava suas coisas, você precisa de mais alguma coisa?

Nego com a cabeça, sentindo dificuldade em falar entre meus soluços.

— Bem, então temos que apenas pegar suas coisas e ir para o aeroporto. – Lavínia fala fungando alto e segurando minha mão. – Vai ficar tudo bem, querida.

— Vai sim, e nós vamos estar com você a todo momento. – Maria concorda pegando minha outra mão.

— Obrigado, eu amo vocês. – Falo entre lágrimas e soluços.

Com o coração apertado e uma sensação de pesar, nós três pegamos nossas coisas, chamamos um taxi e fomos para o aeroporto e quarenta e cinco minutos depois estávamos dentro do avião, indo mais uma vez para minha cidade para descobrir se o destino mais uma vez havia levado mais uma vez alguém importante e amada da minha vida.

                                            ~*~*~

Foram quase quatro horas de viagem até que paramos direto no hospital. O voo não tinha sido longo, mas tivemos que viajar de carro, da cidade que desembarcamos para minha cidade.

A última vez que eu senti tanta angustia, eu estava em cima de uma maca, perdendo meu bebê. Eu havia ligado para minha mãe, mas ela estava tão perturbada que não conseguiu me dizer muita coisa. O que eu sabia era que, um motorista bêbado havia atingido o carro do meu pai enquanto ele voltava para casa tarde da noite depois do trabalho. Tinha sido grave, como Chris havia dito, e meu pai estava em um estado ruim.

— Nós vamos dar um jeito nas bagagens e te encontramos depois, ok? – Maria fala suavemente e eu aceno, abraçando minhas duas amigas antes de ir para a recepção.

A recepcionista com uma expressão entediada – o que aumentou minha raiva -, me pediu para assinar qualquer que fosse a merda que eu precisava assinar, antes de me informar aonde minha família estava.

Eu praticamente corri para o elevador depois disso, e quando saio encontrando meus avós e minha mãe, sentados, com expressões angustiadas, eu desmoronei mais uma vez, chorando ainda mais alto.

— Querida, oh meu bebê, vai ficar tudo bem. – Minha mãe me diz quando abraça minha cintura, afundando seu rosto fino em meu peito enquanto me consolava.

— Eu sinto tanto, mamãe. – Digo com desespero.

— Pelo o quê, meu amor? – Ela pergunta e apesar de sentir suas lagrimas em minha blusa, eu não ouvia seu choro. Minha mãe sempre foi a mais forte e durona de todos nós.

— Por não estar aqui, por não atender suas ligações. – Falo com angustia.

— Bianca, não há pelo o que se desculpar, não foi sua culpa, você não bateu no carro de seu pai enquanto dirigia bêbada. – Percebo que o estado de desespero de minha mãe havia desaparecido e que agora ela estava com raiva. – Seu pai sempre foi um teimoso cabeça dura, e juro que assim que ele acordar vou enfiar meu salto em seu traseiro.

— Mamãe! – Exclamo chocada.

— Sua mãe está certa em sentir raiva, minha neta. – Meu avô diz se aproximando e me afasto da minha mãe para abraça-lo. – Seu pai, como o irresponsável que é, estava dirigindo sem cinto de segurança!

— Parem de culpar meu genro quando ele não está presente para se defender! – Está defesa furiosa vem da minha avó, que assim como minha mãe, tinha um temperamento difícil, mas ainda assim era mais doce que a mulher que me trouxe ao mundo.

Estes eram os pais da minha mãe, vovô sempre teve um certo ranço por meu pai, eu sempre soube disso, mas a forma na qual ele acabou de se referir ao meu pai me deixou extremamente furiosa.

— Parem de falar do MEU pai quando ele está na porra de um hospital lutando pela a vida! – Grito e os olhos da minha mãe se arregalam, em choque. – Mama, ele é seu marido, seu George, pare de dizer essas coisas, tenha um pouco de compaixão.

— Não fale assim com sua mãe, mocinha! – Meu vô me repreende e se eu não estivesse perto de ter um colapso, eu diria muitas merdas para ele.

— Vovô, não sei porque o senhor se incomoda de vir quando sei que não quer estar aqui. – Digo o mais calma possível. – Mas se vai ficar aqui, peço que tenha um pouco de respeito por meu pai e por mim.

Ele bufa e se vira, voltando a se sentar na poltrona. Vovô sempre me achou insignificante também, mas nunca me importei com sua opinião.

— Qual é o estado do meu pai? – Finalmente consigo perguntar depois e tomar algumas respirações profundas.

— Ele passou por uma cirurgia porque quebrou com gravidade uma perna e um braço, também teve uma concussão, e apesar de não ser de grande gravidade, o médico teme que ele possa entrar em coma. – Minha avó conta e minha mãe suspira derrotada, começando a deixar suas barreiras cair novamente. – Foi uma pancada forte, e ele estava sem cinto, seu corpo sofre com o impacto, eu não estava quando o médico falou com sua mãe, mas tenho certeza que ele quebrou alguns ossos.

— Três costelas, dois dedos. – Mamãe conclui enquanto as lágrimas começam a descer por seu rosto mais uma vez. – Não posso perder George.

— Eu sei, mama, eu também não posso. – Falo e a abraço mais uma vez.

Conhecia minha mãe bem o suficiente para saber que seu mecanismo de defesa era ofender e bancar a grande valquíria inabalável, e apesar de às vezes odiar as coisas que ela diz, eu a amava e sabia que ela estava sofrendo. Ela e meu pai tinham uma longa história, eu cresci ouvindo sobre todas suas aventuras e perdas, enquanto minha mãe, a forte Clarice, aparentava ser rude e grossa, meu pai, o sensível George, é doce e carinhoso, eles se amavam e eram felizes, se para mim era inaceitável perde-lo, eu não conseguia imaginar o que significava para minha mãe. Eles se completavam.

Suspirando com pesar, sentindo meu coração doer com o desamparo, levo minha mãe para se sentar ao lado de minha avó, então me sento também e em seguida faço algo que não fazia há muito tempo.

Eu rezo.

Peço perdão pelos meus erros e pecados e imploro para que Deus não me puna por ser uma má pessoa, tirando do meu pai, a vida. Ele é um bom homem, e foi ele quem me ensinou a sempre ajudar e amar meu próximo. Tinha consciência que nem sempre fazia isso, mas sempre me empenhava a fazer boas ações. Eu tentava ser uma boa pessoa apesar da maioria das pessoas não terem sido boas para mim.

Isso deveria contar como alguma coisa, certo?

Vovó se senta ao meu lado e segura minha mão na sua, entrelaçando nossos dedos como ela sempre fazia quando eu precisava de apoio.

Quando voltei para casa, dois dias depois de ter sofrido um aborto, vovó quem ficou deitada ao meu lado, cantando baixinho uma de suas músicas favoritas italianas enquanto minha mãe gritava com meu pai. Mamãe sempre me achou irresponsável, e quando contei que estava gravida, eu sabia que sua vontade era de me expulsar de casa – mesmo que ela se arrependesse depois -, mas papai manteve a calma, mesmo quando ela me culpou por perder o bebê.

Relembrando todos os momentos, felizes e tristes, entre mim e meus pais, me perco em pensamentos e em minhas lágrimas, implorando à Deus pela a vida do meu pai.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem!



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