Eu nunca me vi como um homem inseguro. Mas você... você tem esse jeito de me deixar sem base. Esse jeito só seu de olhar, de dizer meu nome. E eu fico como um bobo, escutando suas palavras, vendo sua expressão frustrada e seus toques frios. Sabia que, nos últimos meses, você passou a mexer nos cabelos? Acho que é porque eles estão mais compridos. E eu gosto assim.

Você demora tanto a me fazer visitas. Acho que, da próxima vez que vier, seus cabelos estarão na cintura. E eu vou te provocar, dizendo que quero fazer tranças nele. E você vai franzir a testa e dizer que eu sou bobo. E eu sou mesmo! Não ligo de me chamar assim...

Nos poucos dias em que posso ter você por perto, eu quero fazer tantas coisas. Passear pela cidade, tomar sorvete, ouvir sua voz... nem que seja apenas para te ouvir reclamando. Qualquer coisa é melhor que o silêncio que você sempre me dá. E, quando a noite chega, nós sentamos na sala, assistindo a alguns filmes, e você brinca de esfregar os pés nas costas do Kurode.

Eu tento fazer de conta que não te vejo chorando. E você não chora. Não de soltar lágrimas. Sua tristeza está aí dentro. Você chora por dentro. Eu percebo, Kurapika... Percebo claramente quando apareço na sala para anunciar que o almoço está pronto e vejo você parado diante da janela, fitando seu reflexo. É época de chuvas. E as gotas que escorrem pelo vidro até parecem escapar do reflexo de seus olhos.