Rotlaust Tre Fell escrita por eddie


Capítulo 5
Vin sínum skal maðr vinr vera


Notas iniciais do capítulo

Título: "Um homem deve ser amigo para seu amigo."
Oi gente, sei que demorei pra postar aqui, mas é porque não parece que da resultados nem compensa. Desde que eu postei o primeiro capítulo, só tiveram 2 comentários (sim, sou grata por cada comentário) e querendo ou não, acaba que não dá vontade de continuar, vocês me entendem? E dá trabalho escrever cada capítulo, eu faço um monte de pesquisas toda vez sobre a mitologia, a língua, a própria série, tudo pra trazer a informação mais verídica/historicamente correta e de qualidade pra essa história... Enfim, vou pensar se continuo ou não, mas boa leitura e eu ficaria muito contente em receber mais retorno.



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— Parece que lhe devo gratidão eterna. – Ragnar, acanhado, falou em voz baixa.

— Eu sei – Rollo respondeu. A música e a festa continuavam a todo vapor enquanto os irmãos se retratavam, cenários completamente opostos. – Estou ansioso pelo pagamento.

Os dois sorriram um para o outro, Ragnar, por sua vez, sempre mais reservado. O viking quase derrubou um corno cheio de cerveja quando o amigo de barba trançada puxou-o pelo ombro.

— Vamos beber e brindar ao Ragnar! – anunciou Leif ao pessoal erguendo um enorme copo de cerveja. – Ao seu futuro e à sua liberdade! – deu um tapinha nas costas do amigo.

— Não, não, não. – disse Ragnar. – Aos amigos e à liberdade! – ergueu seu chifre ainda mais alto que o copo de Leif, derrubando um pouco de cerveja.

No meio daquela gente, dois saxões apenas observavam. Hazel cutucou o padre delicadamente.

— Athelstan? – chamou em voz baixa. – O que estão dizendo? – ele se virou para ela sorrindo.

— Estão comemorando o resultado do julgamento, Ragnar é um homem livre. – ele respondeu.

Do outro lado da mesa, um homem baixo e de cabelos compridos e loiros pulou sobre a madeira e correu até Ragnar, abraçando-o.

— Para você, meu amigo! – Arne disse cambaleando e pulando sobre o viking – Nunca se livrará de nós! – ele deu uma risada alta como o bêbado que era. Todos continuaram rindo muito. Ragnar sentou-se ao lado de Athelstan, sorridente. Hazel recuou.

— Beberia comigo? – ele ofereceu um corno de cerveja ao padre que o aceitou de bom grado.

— É claro. – sorriu e tomou um gole.

E você? – Ragnar inclinou-se para frente para ver Hazel - Já pode beber? Quantos anos tem? – ela olhou para Athelstan esperando que ele a ajudasse. O padre só percebeu alguns segundos depois, quando o silêncio entre os três já estava constrangedor.

— Ah, ele perguntou quantos anos você tem e se pode beber cerveja. – mostrou a ela o chifre.

— Tenho doze. Eu posso? – Hazel respondeu. O padre transmitiu a mensagem e Ragnar sorriu simpático já lhe oferecendo um chifre.

— Então pode, sim. – ela tomou um gole da bebida e fez uma careta, mas riu em seguida. – Você tem a mesma idade do Björn, meu filho – apontou para o garoto desfalecido nos braços da mãe, decerto havia bebido além da conta. – Mas ele... Infelizmente não está mais entre nós. – Athelstan traduziu a fala e a menina deu uma risada, a primeira em um bom tempo. Começava a se sentir realmente bem naquele lugar. Ragnar deixou de olhá-la e voltou a falar com o padre.

— Obrigado por cuidar dos meus filhos. – ele disse. Athelstan tomou outro gole de cerveja. Ragnar lhe deu um tapinha nas costas. – É um bom cristão.

 

***

 

A festança já estava quase no fim. Os que não desmaiaram ou dormiram ali mesmo, seguiram para suas casas, a maioria muito bem acompanhados. Rollo mexia em alguns copos de ouro quando notou alguém se aproximando.

— Gostaria de dizer obrigada – Lagertha disse em voz baixa. – Fez uma coisa boa, Rollo. Espero que os deuses tenham visto. – ela mordiscou uma tira de bacon.

— Não fiz isso por ele – Rollo respondeu sem olhar a bela mulher. – Fiz por você, escudeira. – ele a olhou de soslaio e logo voltou a encarar o chão, preparando-se para ir embora quando ela o impediu.

— Não quero acreditar nisso. – não respondeu. Afastou a mão de Lagertha e saiu.

Do outro lado do salão, Floki, Leif e Arne partilhavam mais alguns últimos relatos e risadas quando o primeiro abriu espaço para falar.

— Então, Ragnar – ele disse. – Viu a cara do Haraldson quando teve que absolvê-lo e lhe entregar metade da carga? Ele ficou bem assim. – Floki exibiu sua melhor careta de raiva e arrancou gargalhadas dos amigos, esbugalhando os olhos e torcendo a boca. Nem mesmo Hazel pôde evitar rir diante daquela cena. Gostava cada vez mais de Floki e daquele povo.

Poucos minutos depois, sem que ninguém esperasse, o salão foi bruscamente invadido por homens vestidos de negro. Todos se adiantaram em levar as mãos às armas, mas Ragnar fez sinal para que se mantivessem em seus lugares. Hazel encolheu-se para perto de Athelstan.

— Ragnar Lothbrok? – perguntou um deles, o mais forte e de cabelos negros riscados de grisalho nas têmporas.

  Estou desarmado. – ele respondeu tentando manter controle da situação. Todos os seus guerreiros estavam alertas e prontos para o combate num instante, nem sequer parecia que haviam bebido durante toda a noite. – Pegue as crianças – ele disse em voz baixa para Lagertha.

A mulher deu dois passos e desferiu um forte soco sobre o primeiro homem que lhe tampava a saída. Logo, começou o pandemônio. Hazel correu para perto de Björn e Gyda enquanto Rollo os tentava manter fora da zona de combate. Os gritos das crianças contrastavam com o tinir das lâminas dos machados, os socos e os gritos de morte dos guerreiros. Rollo soltou as crianças e quebrou o pescoço de um antes de dar ao outro um beijo sangrento com seu punho. Floki quase foi apanhado pelas costas, mas agilmente girou nos calcanhares e se desvencilhou das mãos de seu captor, derrubando-o e enfiando-lhe a faca entre os olhos.

A luta seguiu sangrenta pelo resto da noite. Os primeiros raios da alvorada tocaram os corpos inertes e mutilados dos homens de Haralson. E também dos de Ragnar. O pai de Leif fora encontrado morto do lado de fora do salão com um corte na garganta. O filho, ajoelhado ao seu lado com a espada em punho, lamentava a perda. Ragnar permaneceu ao lado do amigo, sedento por vingança.

 

***

 

O dia estava nublado, densas nuvens de neblina rodopiavam no pico das montanhas ao redor de Kattegat formando anéis cinzentos. Na fazenda de Ragnar Lothbrok, um dia como outro qualquer, Athelstan alimentava os porcos no chiqueiro enquanto o viking golpeava tocos de lenha incessantemente com seu machado, cheio de ódio. O padre e o filho o observavam de longe, mas ninguém se atrevia a dizer uma palavra.

Ele pegava um toco no chão, o colocava em cima da pira e desferia um golpe certeiro partindo-o ao meio.

Via ele. Via Haraldson.

Percebendo não haver propósito nenhum, jogou o machado de lado e foi embora. Athelstan, do chiqueiro, preocupava-se com seu amigo. Por fim, agarrou outros três pedaços de lenha e arremessou-os com força contra a parede ao lado de Björn, que o olhou assustado.

Depois, o padre exercia a função de pegar água no poço quando Ragnar saiu de casa, calado e carregando uma manta nas costas, deu a volta na casa e seguiu para a praia. Sem nada entender, Athelstan apenas olhava. Viu quando Ragnar subiu até o topo do morro e sentou lá, observando a baía. Adentrou a casa e a família já estava sentada à mesa.

— O que Ragnar está fazendo sentado no morro? – perguntou à Lagertha, que soprava uma colher fumegante de sopa. Ela não respondeu.

O padre olhou mais uma vez para o amigo através da janela.

— Sei o que ele está fazendo. Está se preparando. – rezou uma prece silenciosa ao viking. Rezou para que pensasse e agisse com lucidez.

A noite já começava a cair, mas nem mesmo o frio, a escuridão ou a neblina ao menos desviaram o olhar de Ragnar Lothbrok. Seus gélidos olhos azuis já haviam traçado o objetivo, tinha determinação e uma tarefa a executar. Só precisava do momento ideal.

 

***

 

— Pedra e ossos. – entoou a voz esganiçada do vidente enquanto trabalhava as runas em sua mesa. A sala era iluminada apenas por velas, o que deixava o clima ainda mais sinistro. Conde Haraldson, sentado ao seu lado, suava muito, estava nervoso e tremia.

— O que está lendo? – o velho perguntou. A criatura continuou dançando com os dedos.

— Calma. Não tão rápido, senhor. – respondeu olhando-o. As cicatrizes em suas órbitas por vezes exerciam uma função melhor que olhos, via mais claramente.

— Diga-me – o conde exigiu.

— Faça uma pergunta – o vidente pediu com a voz grave. Haraldson hesitou.

— Os sinais são ameaçadores? – gaguejou.

— São. – a criatura respondeu mortalmente. – Há uma disputa. Haverá violência. Ossos e cabeças quebradas, vejo isso. Está em busca de sua morte. Consulta os deuses, por quem alega afinidade. – o conde bufou.

— Quem acreditaria em algo assim? – fez uma pausa. – Ele deseja ser conde? – o vidente virou a cabeça completamente para ele.

— Se ele o matar, não seria assim?

— Os deuses falam?

— Alguma vez pararam? – o vidente voltou para as runas.

— Os deuses sempre foram bons comigo.

— Deixaram seus filhos morrerem. – a criatura sorriu de forma macabra enquanto balançava os dedos em frente ao rosto de Haraldson. A expressão do conde foi de ódio para tristeza num instante.

— Os deuses existem mesmo? – ele indagou com pesar. A luz da vela iluminou precariamente a face do vidente revelando a coisa horrenda que havia por baixo do capuz, judiado por cicatrizes e pele enrugada. A criatura soltou uma gargalhada rouca em deboche. Sabia o que os deuses haviam reservado para o conde Haraldson.


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