Rotlaust Tre Fell escrita por eddie


Capítulo 3
Gjev rot deg retning


Notas iniciais do capítulo

Título: as raízes dão-lhe a direção.
Bicho, empolguei demais pra escrever hoje. Pra compensar o cap passado, esse é grandão e com bastante Hazel e Floki (e Helga) ♥ Vou tentar escrever com mais frequência assim mas queria saber o que vocês tão achando da história... Boa leitura p todo mundo!



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Naquela mesma noite, após a confusão com o conde Haraldson, Ragnar continuara preso, e não houve outra escolha a todos senão voltar para suas casas e esperar a decisão do conde. O grupo foi se dispersando aos poucos e, no fim, mesmo decepcionados e indignados, nada mais puderam fazer.

— Torstein. – disse Floki ao aproximar-se do homem que ainda segurava Hazel, uma mulher de aproximadamente 30 anos e outro garoto da idade dela pelar correntes, ambos nas mesmas condições deploráveis que ela. Torstein estava sentado em um toco de madeira perto da baía, segurando firmemente a corrente. Hazel se sentia ainda mais fraca do que antes.

— Floki. – ele se levantou prontamente.

— Eu vou levar esta. – olhou para Hazel e desprendeu a corrente que prendia seu pescoço ao dos outros. Puxando gentilmente, evitando machucá-la mais ainda, preparava-se para ir embora quando Torstein o impediu.

— Ragnar me disse pouco antes de desembarcarmos que se caso você viesse buscar essa menina, deveria levá-la até a casa dele para falar com aquele padre. – Floki bufou e torceu o nariz. Hazel já não fazia mais questão de entender o que diziam, só queria que aquilo acabasse o quanto antes.

— Isso pode esperar. – respondeu.

— Não pode. – Torstein retrucou. – Senão eu mesmo a levo. – Puxou a corrente das mãos de Floki e levou junto o pescoço da menina, quase a enforcando. No mesmo instante, Floki empurrou-o com força pelo peito e fez Torstein se desequilibrar, tomando a corrente de volta para si. Hazel ficou realmente surpresa.

 - Vai esperar. – não esperou para ver a expressão de desgosto no rosto do amigo e foi embora, mas não mais a levava pelo aço, apenas a guiava pelo caminho com uma das mãos em suas costas. Caminhando por Kattegat, Hazel observava atentamente o que havia à sua volta, pois uma incômoda sensação lhe dizia que era melhor se acostumar com aquilo, pois seria tudo que veria por um bom tempo.

 A primeira coisa que notou foi que não havia morros como na Inglaterra, estavam bem no fundo de um vale, aos pés de enormes montanhas com picos nevados que rodeavam toda a cidade. Ao fundo, uma imensa cachoeira de água cristalina despontava no horizonte. Na linha da praia e misturando-se às montanhas, havia mata fechada, árvores enormes e, como sempre, neve. Das construções propriamente ditas, não pôde ver muito, só lembrava-se do caminho que percorreram mais cedo com o grupo da incursão. Eram casas simples, feitas de madeira e trançadas com uma espécie de fibra resistente e de cor escura, mas não soube identificar qual. Viu alguns pequeninos currais com galinhas e porcos, muita gente nas ruas, lindas crianças de cabelos platinados correndo, viu de relance algumas mulheres cosendo tecidos, cozinhando e cortando lenha, vendedores nas ruas anunciando as carnes, verduras e frutas mais frescas e também homens e até algumas meninas de diversas idades lutando com homens de pano estufados de palha e atirando flechas em alvos vermelhos. Agora, à noite, não mais se via toda a vida do lugar, mas ele tinha uma espécie mágica que a luz da Lua trazia à tona. Aquele lugar em nada se parecia com Hexham, era, de fato, muito mais atrativo.

  Lembrou-se então do estado em que deixara sua terra. Morta. Mergulhada em sangue de sua própria gente. Teria chorado de bom grado, mas não tinha mais lágrimas, haviam congelado dentro de si junto com sua tristeza e dor, pois não as sentia mais, apenas raiva. Muita raiva. Raiva daquela gente que chegou soando os cornos e rasgando o mar em enormes serpentes marrons. A lembrança da carnificina veio como uma paulada e lembrou-se de todo o horror, mas tratou logo de expulsar aquela imagem da mente. Rezou a Deus em pensamento, por seu povo e principalmente por sua mãe.

Ergueu o olhar e observou o nórdico que a guiava pelas costas. Não o conhecia e muito menos confiava nele, mas sabia que, pelo menos por hora, não havia intenção de feri-la. Sabia o que ele tinha feito por ela. Continuaram a caminhar pela escuridão da floresta, Hazel ouvia o barulho de água, mesmo que não pudesse vê-la. Por vezes, tropeçou em raízes de árvores e pedras, mas seu guia movia-se com a agilidade e a destreza de um gato, decerto conhecia aquele caminho como a palma da mão. Chegaram, enfim, a uma espécie de cais de madeira e ela finalmente pôde ver o curso d’água que permaneceu oculto durante o trajeto. Era nada menos do que o próprio oceano, mas, de alguma forma ele tangenciava de sua rota até aquele local isolado. Notou que o nórdico havia parado de caminhar, ele olhava em volta com as sobrancelhas franzidas, como se algo o incomodasse.

— Ah, não. – resmungou para si mesmo e correu até uma árvore imensa que estava caída no chão. Mesmo com a iluminação precária da Lua, Hazel notou que havia inscrições talhadas na madeira daquele belo pinheiro. Ele deslizava os dedos pelos talhos e balançava a cabeça em negação. – Freyr! – gritou enquanto fazia movimentos com os dedos no ar – O que eu fiz de errado? Não lhe agrada as runas que talhei? Então, farei um sacrifício! – Hazel não entendia nada, mas ele parecia desesperado, agitava-se exageradamente. – Deixe que eu me prepare e lhe oferecerei sangue, não deixe que a desgraça caia sobre nós, temos tanto trabalho a fazer, dê-nos a fertilidade, ó Freyr! – acalmou-se aos poucos e, após um longo suspiro, virou-se para Hazel e fez sinal para que continuassem a caminhar.

   - Floki. – ela disse baixinho, a primeira vez que ouvia sua própria voz em dias. Não sabia exatamente o porquê, mas sentiu que algo não estava certo. Subitamente, toda a raiva que sentia dissipou-se. Ele se virou curioso, com a mesma expressão de antes, mas riu aquele som estridente e, com um salto, estava bem à frente dela.

— Você sabe o meu nome? – perguntou sorridente. Ela não respondeu. – Ah, sim, claro. Não entende o que eu digo. – debochou de si mesmo. Chegou ainda mais perto de Hazel e se abaixou para que ficassem na mesma altura. – Eu, Floki. – apontou para si mesmo, dizendo bem devagar. Agora tinha certeza de que havia entendido. – Você...? – apontou para ela.

 - Hazel. Eu, Hazel. – repetiu como Floki havia feito, apontando para si mesma. Ele riu novamente.

— Hazel! Gostei. Helga também vai gostar de você. Vamos, por aqui. – empolgado, a puxou pelo braço enquanto subiam a colina. Pouco tempo depois, podia ver uma clareira e aparentemente o que parecia ser a casa de Floki, uma grande construção de madeira com um telhado triangular que ia até o chão. Na entrada, uma espécie de candelabro improvisado com apenas uma vela, barris, mais madeira e mais runas. Do lado de fora, queimava uma fogueira sem dono. Restos de carne permaneciam espetados acima do fogo.

— Helga! – ele gritou já abrindo a porta. Hazel hesitou em entrar. De lá de dentro, ele trouxe uma mulher como ela nunca tinha visto antes. Era baixa e magra, seus cabelos eram enormes e ainda mais brancos que os da escudeira que havia visto mais cedo, suas sobrancelhas e cílios também eram quase invisíveis de tão brancos. Os olhos, cor de mel, eram pintados de preto ao redor das órbitas assim como os de Floki. Ela trajava um vestido de linho verde-musgo. – Veja. – trouxe Hazel pelo braço até ficar perto de Helga. A mulher sorria.

— Quem é ela? – se agachou e passou os cabelos de fogo de Hazel por entre os dedos, admirando-a. A menina parecia uma moribunda com os olhos abatidos.

— Trouxemos escravos da Inglaterra, pensei que ela pudesse lhe fazer companhia e ajudar enquanto fico fora. – ajeitou o cinto.

— Ah, Floki, olhe o estado dela. – rapidamente guiou Hazel pela casa e sentou-a numa cama de palha. Trouxe-lhe um odre com água e ela bebeu avidamente, mas quase regurgitou tudo, por pouco. Passou as mãos por seus braços, rosto e pernas, olhando todos os seus machucados e lavando-os com água corrente. Mesmo se quisesse, Hazel não poderia recusar a ajuda de Helga, estava debilitada demais para isso e, de qualquer forma, ela realmente a estava fazendo se sentir melhor. Tomou um demorado banho num ofurô de madeira com água que Helga ferveu e quase não parecia a mesma pessoa.  

 - Obrigada. – disse a Helga em sua língua enquanto aconchegava-se na cama de palha. Notou que não havia percebido quando Floki deixara a casa. A mulher sorriu docilmente, decerto havia entendido. A partir daí, não viu mais nada.

***

O conde Haraldson comia tranquilamente enquanto observava a neblina da noite, foi quando a figura encapuzada adentrou o grande salão. De costas para o pórtico, o vidente de Kattegat remexeu-se em seu assento, era nada mais que uma criatura feia de pele esverdeada e deformada e lábios negros, usava um capuz também negro que escondia parte da face sem olhos. Amaldiçoado a vagar eternamente pelo abismo entre a vida e a morte, dizia profecias a quem se dispusesse a ouvi-las.

Uma criada afastou a malha do pórtico que ia até o chão para que a pessoa passasse. O conde analisava todos os seus movimentos com atenção, então, parou próximo ao fogo que ardia ao lado da cadeira do vidente.

— Fui convocado, senhor? – perguntou com voz grave. O vidente olhou-o, mas não o viu.

— Sim, quero falar com você. – o conde confirmou. – Por favor, sente-se. Beba. – apontou a cadeira. A figura retirou o capuz e debaixo dele surgiram os cabelos castanhos e a face esguia de Rollo, que se sentou logo em seguida.

— É um... – a criada trouxa um copo de vinho para Rollo. – É um assunto delicado. – o conde mordiscou a comida. – Você... Você é o irmão de Ragnar Lothbrok, não é?

— Sou. – respondeu Rollo erguendo uma sobrancelha.

— Um homem espirituoso, seu irmão. – comentou o conde, com fascínio. – Ele é um homem justo? Ele lhe trata com igualdade quando navega com ele? – Rollo desviou o olhar. Seus brilhantes olhos verdes encontraram o chão e ele suspirou fundo.

— Até certo ponto. – respondeu desapontado.

— Perdoe-me, mas acho que gosta de mandar em você. – incitou o conde. – E não importa o que ele diga, na verdade, ele se considera o primeiro entre os iguais. Estou correto? – Rollo novamente desviou o olhar, mas não respondeu. – Tenho a impressão que quer ter todas as glórias. Por construir o barco, navegar ao oeste. Ele quer ser o herói. – disse Haraldson enquanto mastigava a comida. – É isso o que ele virou? Herói? Teria conseguido o que conseguiu se não fosse por você? – apontou para Rollo. Ele não se atrevia a olhar o conde, tampouco respondê-lo. – O que me diz, Rollo? – o conde o instigava.

 Então Rollo o olhou nos olhos.

— Claro que não. Teria sido impossível. – bebeu um pouco de vinho. Haraldson aproximou-se dele.

— Enquanto eu for conde, Ragnar Lothbrok não pode lhe dar nada. Eu, por outro lado, posso lhe dar muito. – Rollo começava a interessar-se. – Poderia, por exemplo, confiscar o tesouro que trouxeram da Inglaterra. E lhe oferecer uma boa porção. – Rollo refletiu por alguns segundos.

— Faria isso, senhor? – perguntou brincando com o copo de vinho.

— Pode ser. Depende. – voltou a comer.

— Depende do quê? – Rollo ergueu de novo a sobrancelha, fazendo a cicatriz que havia nela se retorcer. O conde apontou para ele.

— Sua ambição. Você quer se sobressair. Você quer ser alguém, Rollo. Quer que os deuses o notem, não é?

— Eles já me notaram. – sorriu de lado.

— Não, amigo. E sabe por quê? – o vidente os observava calado todo esse tempo. – Porque ainda anda na sombra de Ragnar Lothbrok. Não acha que está na hora de sair e deixar que os deuses vejam quem realmente é? – não respondeu. – Quero que diga olá para alguém. – então, da lateral do salão, veio uma bela moça de cabelos castanhos, trajando um vestido de linho dourado e marrom e uma capa com tecido de ouro. – Ela é minha filha, Thyri. – ela sorria para Rollo, que a observava encantado. – Ela deve se casar em breve, e devo pensar muito sobre seu futuro marido. Deve ser um homem com ambição e perspectiva, se pode entender. – o conde baixou a cabeça. – Tinha dois filhos, mas foram mortos. Assim, o homem que escolher para ser meu genro ocupará um lugar de honra especial, como se fosse meu filho.

Rollo havia acabado de perceber onde Haraldson queria chegar.

— Thyri, diga olá para Rollo. – disse ele.

— Olá. – ela falou suavemente, ainda sorrindo.

— Olá. – Rollo respondeu com a mesma cortesia.

— Não se esqueça de mim, meu amor. – uma quinta pessoa adentrou o recinto. Era Siggy, esposa de Haraldson, que escutara a conversa.

— Ah, sim. – o conde sorriu. – E esta é Siggy, minha esposa. – ela e Rollo trocaram um longo olhar. – E este é Rollo. É irmão de Ragnar Lothbrok.

— Olá, Rollo. – disse Siggy com voz aveludada. – Ouvi falar muito de você. Dizem que é um grande guerreiro. – eles continuaram a se encarar.

Haraldson sorriu satisfeito, a primeira etapa de seu plano havia sido concluída.


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Notas finais do capítulo

AHHHH, vocês também imaginam o Floki falando "Hazel" daquele mesmo jeito que ele fala "Helga"? Puxando o L? Eu acho tão fofinhooooo ♥ E esse Rollo vacilão, eu não digo mais é nada. Até a próxima, amigosss, não esqueçam daquele comentário dos brother.



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