Em uma parte mais afastada do grupo, uma garota de cabelos castanhos claros mexia inquieta em uma caixa de primeiros socorros, juntando em seu colo rolos de bandagens e uma pequena garrafa de Iodo, que pelo seu olhar não pareciam ser o suficiente. Na sua frente havia um garoto, branco, atlético e de longos cabelos azulados, ele usava a roupa dos especialistas apenas pela metade, deixando seu tronco musculoso e bastante ferido a mostra.

— Flora...

A garota não parecia escutar, estava ainda inquieta mexendo na pequena caixa, procurando algo que lhe fosse muito mais útil, ela parecia evitar olhar para ele.

Na vida dos especialistas e das Winx, batalhas perigosas e momentos de vida ou morte eram algo quase cotidiano, os especialistas em destaque haviam deixado de se importar com ferimentos e frequentes visitas à enfermaria desde o momento que entraram em Fonte rubra. As Winx, por outro lado, mesmo participando de diversas batalhas, eram de certa forma mais novas nisso do que os especialistas, mas também haviam se acostumado. Mas, algo que era de fato novo para ambos, é que tinham que se adaptar ao fato de que seus namorados/namoradas também estavam correndo riscos, todos os dias e de forma constante. E isso era algo que Flora ainda não havia se acostumado por completo.

— Flora... ­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­– Helia chamava a namorada mais uma vez, mas ela o ignorava.

— Nos temos que limpar os ferimentos da sua boca, e o corte do seu abdômen – Flora ainda estava inquieta, vasculhando agora sua mochila e a de Helia – Tem que ter álcool em algum lugar.

E então Helia segurou suas mãos, e Flora finalmente olhou para ele. Havia um corte em sua boca onde o sangue já se encontrava seco em uma fina linha, o lado direito de seu rosto estava com um hematoma, seu abdômen estava cheio de hematomas também, e com um corte não muito grande nem muito profundo perto de sua cintura, provavelmente havia quebrado uma ou duas costelas, seus braços estavam cheios de pequenos cortes e hematomas, cobertos com inúmeros band-aids e com uma bandagem envolta de seu pulso.

As Winx e os especialistas haviam acabado de sair de uma grande luta, contra mais servos dos Feiticeiros do círculo negro, um grande estrago havia sido causado, havia destroços de árvores por todos os lados. Felizmente conseguiram tirar a luta de perto de gardênia, não havendo maiores consequências, tirando os vários ferimentos dos especialistas que tinham uma menor resistência física comparados as Winx, que tinham vantagens por conta de sua proteção mágica natural, e agora elas se preocupavam apenas em cuidar de seus namorados e amenizar os estragos para a floresta.

No entanto, a fada que deveria estar mais focada nisso, estava afastada do grupo, tendo estampada em sua cara preocupação com outra coisa, ou melhor, outra pessoa.

— Flora, meu amor – Helia alisava o rosto de sua namorada – Eu estou bem, é sério, já estou acostumado de certa forma, não precisa se preocupar comigo.

E então ele sorriu, e Flora também sorriu.

— Eu amo tanto seu sorriso Helia, e é por isso que me preocupo, eu te amo.

— Eu sei minha querida Flora, por mais que eu ame te ter aqui pertinho de mim, cuidando de mim, não quero te ver tão preocupada, isso me dói, me dói ser o motivo de sua tristeza.

— Você jamais seria o motivo desse sentimento, eu apenas estou preocupada, entre tantas batalhas e missões, quase não temos tempo de ficar juntos – Flora estava de joelhos, enquanto Helia repousava em uma pedra, e ambos seguravam a mão um do outro firmemente – Eu sinto falta de quando as coisas eram mais simples, não estou reclamando de como estamos agora, é maravilhoso pode ajudar todas essas pessoas e ser a esperança delas, mas sinto sua falta.

Helia sorriu e beijou de forma demorada e singela a mão de sua amada, curvou-se, com bastante dor, mas sem deixar isso transparecer, para conseguir deixar seu rosto o mais perto possível do de Flora.

— Eu sei como se sente meu amor, sinto o mesmo, mas estamos quase derrotando estes feiticeiros, e logo poderemos namorar um pouco, o que acha?

Flora de uma baixa risada, e acenou com a cabeça assentindo.

— Mas primeiro temos que cuidar de você mocinho – Indagou Flora, olhando novamente para o abdômen de seu namorado, o que fez com que seu sorriso diminuísse um pouco, seus dedos passavam devagar pelos músculos definidos do garoto, contornando os hematomas, e os cortes, o que fez uma careta surgir no lindo rosto de Helia – Desculpe.

Ele apenas sorriu. Aquele sorriso que ela amava, e não queria ver nunca sair do rosto dele. Mas tão rápido quanto entrou em seus pensamentos, ela foi retirada com a voz de Bloom a chamando, para ajudar com as árvores. Flora olhou novamente para Helia, que apenas assentiu e ela se juntou a suas amigas.

Após horas de uso constante de magia para reparar o local, as Winx já estavam exaustas e finalmente decidiram voltar para Gardenia, haviam tentado convencer seus namorados a irem a um hospital, mas eles insistiram que não precisavam, que tinham tudo que era necessário em seu apartamento, as garotas relutaram um pouco, na verdade bastante, mas cederam. Os únicos que não foram embora foram Flora e Helia, eles permaneceram em um banco da praça de Gardenia, não antes de Helia ter recebido rápidos cuidados dos amigos.

— Como está se sentindo? – Flora segurava firme a mão do namorado enquanto o olhava nos olhos.

— Muito melhor agora, aqui com você.

Flora sorriu, e deitou-se no ombro do namorado, deixando-se levar por seu cheiro.

Helia sabia como Flora estava se sentindo, sentia o mesmo cada vez que entravam em uma batalha, mas tentava não demonstrar, não queria atrapalha-la, queria apenas poder cuidar dela da melhor maneira que podia. Os ferimentos de hoje, não eram nada comparado a dor que ele sentia sempre que ela era nocauteada ou pega pelas Trixs e seus inúmeros parceiros. Enquanto admirava ela deitada em seu ombro, era hipnotizado por seu constante cheiro de rosas e lhe passava pela cabeça todas as suas aventuras, e agradecia silenciosamente por ela estar bem, não importava quantos hematomas, cortes ou costelas quebradas ele tinha que ganhar, ele sempre a protegeria, essa era sua principal missão.

Lembrava-se do dia que a conheceu, enquanto desenhava na enorme arena da academia, Flora havia se aproximado e começado a conversar com ele de forma tão doce, que ele sabia que a queria de seu lado. Com o passar do tempo, e o início do namoro, Helia tinha certeza do que sentia por Flora.

Ele há amava. Com todas as palavras, de todas as formas. E amava deixar isso claro para ela, não poderia haver dúvidas.

— Flora?

Flora se mexeu ao seu lado, enquanto abraçava calorosamente seu braço. Ela havia cochilado. Helia sorriu, depositando um beijo em sua cabeça. Flora estava certa, eles precisavam de mais tempo juntos, e quase não havia tempo para se importarem uns com os outros.

Mas ali estava o momento, mesmo que Flora já houvesse pegado no sono, ainda sim era um momento deles, e sempre haveriam. Os ferimentos e as brigas faziam parte de seu cotidiano sim, obviamente. Mas o amor também, e a preocupação também. E aquele seria apenas um dos muitos momentos que teriam apenas para si, Helia se encarregaria disso pessoalmente, afinal, ele a amava, e deixaria isso mais que claro para ela, e que nada poderia separá-los, nunca.

— Eu te amo – Helia sussurrou finalmente, enquanto tirava de seu bolso, um anel com uma pequena Joia, que o fez sorrir.