Dancing with the devil escrita por honeymooon


Capítulo 5
A sereia Hee




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Um pouco depois de ser escalado para combater a nação do fogo na linha de frente, uma suposta amiga nossa – ou seja, uma conhecida cheia de palpites – chamou-me de Hee, em uma breve alusão ao conto da sereia do exício, uma criatura mística cujo residia dentro de um lago congelado no pé de uma montanha no norte da tribo e cantarolava as palavras de mel, que atraiam homens pegos pela doença do frio intenso de inverno, fazendo com que se atirassem através do gelo fino, para dentro da morte certa.

Peculiarmente, lembrei-me disso durante meus últimos dias na prisão. Não fui Hee, atraindo meu belo noivo para a morte? Não usei dos meus encantos para enfeitiça-lo, pelo puro prazer da diversão fácil? Me havia sido alertado sobre a feitiçaria proibida. Sobre as dobras perigosas. Sobre a mulher não poder usar o seu poder. Fui avisada e ignorei.

Mas essa analogia se desfez. Estranhamente, entre o dorme e acorda típico da confusão mental no qual eu me encontrava, eu jurava não ser mais Hee, mas sim tê-la visto ao meu lado. Cantarolando melodias nunca ouvidas, a tal sereia distribuía carinho em meu corpo latente. Limpava-me a testa delicadamente, curava-me as feridas do corpo magro, forçava-me a me manter hidratada com um punhado de água fresca e por fim, alimentava-me com pedaços de pão molhado com creme acebolado e uma sopa bem quente de feijão.

Enquanto sonolenta, digo, ela se mantinha ao meu lado. Contudo, no dia em que recobrei a sanidade, a sereia Hee se pôs a me observar do outro lado das grades, sentada em uma cadeira de ferro. Não entendi ao certo, a principio, o que era. A moça me mirava com o ar de curiosidade típico de uma jovem adolescente, mas seu corpo já no final da formação demonstrava ter mais idade. Os longos cabelos ruivos se destacavam contra a luz do sol que permeava minha cela através da pequenina janela no topo do corredor e seus olhos castanhos, grandes e astutos, acompanhavam cada novo movimento dado por mim, sua prisioneira.

A vestimenta não escondia quem era: um vestido vermelho escuro com uma fita dourada na região do abdômen. Era uma pequena soldada da nação do fogo, contudo a bondade no olhar não era pertinente aos discípulos do totalitário reinado: ela era diferente. Muito calma, passiva, mas também esperta e firme. Não era uma menina maleável, não pelo que eu havia visto, mas era cuidadosa e diferente dos demais, não me desejava morta.

— Quem é você? – minha cabeça estava mais alta, numa espécie de travesseiro feito com panos velhos, porém limpos e meu corpo semi nu estava coberto com uma aveludada coberta avermelhada. Atrás da menina sereia, via-se pingando meus trajes velhos e rasgados, sob a luz do sol. Eu contava com a confusão mental da fraqueza adquirida das ultimas semanas, contudo já estava mais viva para reagir a estímulos.

Ela não me dava o luxo de uma resposta. Mirando meus olhos, ela apenas permanecia ali, sentada, com as pernas cruzadas e nenhuma resposta em seus lábios.

— Você lavou as minhas roupas? – e a pergunta soou mais ofensiva do que o normal. Ora, eu estava abismada! Por que lavar as roupas de uma prisioneira a beira da morte?

— Estavam imundas – respondeu, finalmente. A doce voz invadiu a minha solidão e trouxe-me certo conforto.

— Quem é você? – retomei a perguntar, agora mais do que simplesmente curiosa, mas sim assustada – E o que afinal vocês querem comigo?! Vão me tratar bem para depois me torturar mais?

— Não – ela respondeu, levantando-se – Quer comer seu almoço, agora? Os pães são de hoje cedo – do chão ela pegou um cestinho de palha, recheado de pequenos pães recheados com queijo. Estavam mornos, mas agradáveis para um estomago vazio – Tem água também.

Em uma garrafa suada pela água fria, Hee tirava um pouco do liquido, colocando em uma xícara florida. Deixou ambos na frente da minha cela, assistindo-me levantar até eles. Para mim, aquilo era uma humilhação tremenda, mais do que ser amarrada para tomar água. Vejam, havia uma menina mais ou menos da minha idade, com roupas boas, tendo piedade de mim e servindo-me um pouco de água com pães. Quanta compaixão com sua prisioneira! 

E eu pedi alguma?


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