Estavam num ponto mais distante, mais adentro da floresta do que o normal. Onde ambos os territórios encontravam-se e mesclavam-se um no outro, selvagens demais para que qualquer um dos lados disputasse por ou até mesmo se importasse.

Era lá que se encontrava ambos os garotos, em outro de seus encontros secretos.

Sentados próximos, em silêncio. Irin, o mais alto, prestava atenção nas mãos finas do outro garoto, que moviam-se devagar, trançando a grama de forma habilidosa.

— Sabe, é um pouco desconcertante se você ficar encarando tanto... - Resmungou Rae, parando por um momento.

— Desculpa. - Coçou a nuca, sem graça. - É hipnotizante isso que você faz... E tão bonito quando toma forma...

Rae bufou, agradecendo à pele escura que tinha que escondia o rubor crescente. Aqueles olhos enormes e brilhantes voltados a si, totalmente focados e curiosos lhe trazia arrepios e batimentos acelerados.

— Se quiser ver mesmo como eu faço, não encara tanto. - Desviou os olhos.

Desde que haviam visitado seu irmão mais velho na tribo mista naquela tarde, escondido dos pais, óbvio - e Irin descobriu que os anéis de casamento do seu irmão haviam sido feitos por si, tinha ficado obcecado com a ideia de vê-lo trançando.

— Toda vez que conversamos eu descubro algo novo e interessante sobre você. Quantos talentos uma pessoa pode ter? - Comentou despreocupadamente.

— Contar histórias e trançar anéis não é nada demais, sabe. Só você acha isso legal. - Revirou os olhos, erguendo outro galho para passarem.

— Não é só contar histórias, Rae! É o jeito como você faz! Eu nunca vi igual. Mal consigo lembrar de piscar quando as ouço.

— Talvez meu talento seja encantar você, então. - Brincou, rindo. Mesmo que não esperasse receber uma resposta posivita de Irin.

— É, talvez seja. Tudo que você faz é incrível. - Devolveu.

Irin era injusto. Desde o jeito como agia, falando todo natural, até a forma como não parecia se importar em realmente demonstrar toda aquela admiração. O deixava todo desconcertado.

— Sério, aqueles anéis eram muito bacanas. Você precisa me mostrar como faz eles. - Insistiu na ideia outra vez.

— Eu não sei por que tanto interesse, sinceramente. Mas tudo bem.

Irin comemorou ao seu lado, dando muito mais importância ao acontecimento do que realmente merecia.

— Mas aí não tem como eu ver, poxa. - Reclamou todo indignado.

— Pode olhar... Só encara menos. - Voltou a mexer no anel. Faltava só um pouco para terminar.
*

Irin cumpriu o que lhe foi pedido e até cochilou por um tempo, no silêncio aconchegante. Acordou quando a voz de Rae chegou aos seu ouvidos, avisando que tinha terminado.

Era delicado e um tanto grosso, a forma como fora entrelaçado lembrava raízes de árvores, nos diversos tons de verde de marrom do mato ao redor deles.

Rae estendeu a mão com o anel em sua direção, oferecendo-o.

— Pega. É seu.

— Sério? Mas depois de todo esse trabalho? Posso mesmo? - Perguntou, sorrindo, todo entusiasmado. A ideia de ficar com o anel o deixava alegre.

— Bom, eu fiz ele por sua causa, então sim, pode ficar com ele. - Rae segurou sua mão e o encaixou o anel no seu dedo. - Presente.

— Vai ser meu tesouro então. Meu primeiro presente vindo de um amigo. - Sorriu outra vez, enquanto Rae se levantava.

— Eu preciso ir agora, Irin. Passei quase a tarde toda fazendo o anel. - A expressão denunciava que não queria realmente ir.

Irin também não queria ir. Era ótimo passar todo o seu tempo com Rae. Mas ambos precisavam voltar. Levantou-se também e concordou. Afinal, mesmo que se separassem, sabiam que logo veriam um ao outro novamente.