Super Violência escrita por Vitor


Capítulo 12
Capítulo 12




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Eu me lembro que naquela noite todos os vizinhos saíram no portão para ver os policiais levarem-na. A coisa foi muito estranha, por que não era uma assassina que estava sendo presa, mas sim a vítima. O corpo do meu pai ainda se encontrava no quarto. Os olhos estavam abertos e o mau-cheiro já dava sinais. Eu nem cheguei perto, naquele instante eu só queria a mamãe de volta, porém foi quando eu ouvi ela gritando dentro da viatura, após apanhar de um dos oficiais que eu soube que nunca mais a teria em minha vida e as coisas só piorariam dali em diante.”.

Um dos empregados de Rebecca foi lhe entregar o jornal da manhã. Estava estampado na primeira página o homicídio bárbaro do encanador americano. Rebecca deixou aquelas folhas de papel caírem de sua mão. Ela só conseguia pensar em como amava aquele homem. Ele era tudo o que seu marido não foi, mas agora o “tudo”, havia sucumbido.

—Há algo de errado querida? –Indagou Pedro, que percebeu a reação da esposa.

—Não... –Respondeu Rebecca. –Eu só fiquei um pouco chocada com esse homicídio na primeira página do jornal.

—Ah claro. Um encanador virando notícia, não é para menos que você fique surpresa. Hoje em dia essas pessoas querem dar mais espaço aos pobres. Vou pegar um drink, você quer?

—Não, obrigada.

“O julgamento estava se aproximando. Minha avó depositou toda a sua aposentadoria em um advogado descente para tentar tirar a minha mãe da cadeia. O dinheiro não era muito, mas já ajudava bastante. Eu não pude visitar a minha mãe, por que na época eu só tinha cinco anos e não era permitido, porém a minha avó sempre ia às visitas e minha mãe sempre mandava cartas através dela para mim.”.

Beth, assim como os outros familiares das vítimas, estava sendo revistada para a visita. O encontro ocorria em um enorme saguão, com mesas e cadeiras de concreto, com o intuito de haver um “conforto” maior entre as vítimas e seus parentes. Guardas se mantinham inertes como esculturas em cada lateral do saguão, segurando armas enormes, caso houvesse alguma rebelião. Minutos depois, o sinal do presídio soou, alertando que era a hora da visita. Beth enxergou a filha de longe, ela usava um uniforme cinza, seu rosto estava sem maquiagem e os cabelos mal arrumados, mas ainda assim, era sua filha.

—Querida, você não sabe como eu esperei por esse momento! –Exclamou Beth, emocionada. –Você está tão acabada... Por que você fez isso Fernanda? Destruiu sua própria vida! O Patrick precisa de você, deveria ter ao menos pensado no seu filho.

—Todos os fins de semana o Marco viajava. As roupas dele estavam manchadas de batom. O perfume da outra eu sentia de longe. Me diz mamãe, a senhora aguentaria tal traição? –Indagou Fernanda.

—Não. Mas matar é muito cruel.

—Ele me matou primeiro, eu só continuei o crime.

“O verão do ano seguinte já se aproximava e o julgamento ainda estava correndo. Fazia mais ou menos um ano daquela tortura. Minha avó estava cada vez mais doente e se ela morresse, eu teria de ir para um orfanato. Todas as noites antes de dormir, eu pedia a Deus para mantê-la viva até o julgamento final. E ele educadamente ouviu minhas preces. No fundo apesar de já saber a sentença que minha mãe receberia do júri, eu tinha esperanças. Porra ela era minha mãe! Quem não teria esperanças? E por tais esperanças, eu esperei fielmente cada carta dela. Eu esperei fielmente cada rubrica no final. Os meses passaram mais rápidos e já era janeiro de 89. O dia da sentença final havia sido marcado. Nesse eu pude ir e eu desejei amargamente nunca ter ido.”.

O julgamento mais esperado do ano estava ocorrendo no distrito de Nova York. Os trajes do júri e do Juiz foram escolhidos adequadamente para a tal ocasião. O promotor distrital Di Silva estava com a faca e o queijo na mão, pronto para mandar Fernanda à cadeira elétrica. No fundo, bem no fundo, escondida atrás de pessoas, Rebecca acompanhava o julgamento. Ela, assim como muitos presentes, queria ver a réu atrás das grades para sempre. O juiz bateu o martelo, dando início ao julgamento.

“Testemunhas de diferentes cores e formas poderiam ser vistas. A maioria eram vizinhos ou amigos da minha mãe. Todos, sem exceção de ninguém, depuseram a favor dela até aquele instante. Tudo estava ocorrendo bem, pelo menos eu achava que estava. Até que a tal Rebecca Brandão sentou para depor contra a minha mãe. Foi a partir dali, que eu comecei a ter noção do quanto aquela mulher era perigosa.”.

Rebecca fez o juramento de dizer somente a verdade, ficando ciente de que se alguma mentira fosse dita, ela seria comprometida futuramente. Mas não naquele julgamento, por que tudo havia sido comprado, inclusive a liberdade de Fernanda. A dona do aço havia feito sexo grupal com o juiz e o promotor distrital na noite passada, a fim de garantir que Fernanda nunca mais sairia da cadeia.

—Éramos melhores amigas no colegial, ela e o Marco já namoravam. A Fernanda sentia ciúmes doentios pelo namorado. Enquanto eu só observava toda aquela situação de perto. Em uma noite, recebi um telefonema dela. Fui até sua casa, seus pais estavam viajando. A Fernanda havia esfaqueado o abdômen do namorado. Eu jurei guardar segredo, mas acho que dessa vez ela cometeu um crime, certo? Então minha ex melhor amiga deve ser presa. Sinto muito Fernanda, mas você deveria ter se tratado enquanto havia tempo.

“A dissimulação daquela vadia estava estampada naqueles malditos olhos claros. Ela só faltou chorar pra deixar tudo mais real. Após aquele depoimento, o júri se manifestou e o juiz decretou sentença perpétua à mamãe. Minha avó caiu da cadeira tendo um infarto fulminante, logo após levarem minha mãe. Tentaram socorrê-la, mas já era tarde. Deus prometeu que a deixaria viva até o julgamento e cumpriu, e eu o agradeço por isso. Enquanto todos estavam desesperados com a morte da vovó Beth, eu fui atrás da Rebecca. Ela me fitou nos olhos por cima daqueles óculos escuros, sorriu e entrou no carro sedan. Naquele instante, eu jurei a mim mesmo que eu encontraria e a destruiria. E agora estou cumprindo o que prometi.”.


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