— Ótima surpresa! — Exclamou Laura sorrindo. — É o meu lugar favorito!

— Mesmo? — Perguntou Miguel surpreso. — Pensei que você nunca tivesse acampado antes.

— Acampar eu nunca acampei não. Mas, além de camping, aqui também é um parque arqueológico muito importante! Quando fui fazer trabalho de campo para completar o meu mestrado, quase todas as informações que usei foram desse lugar.

— Então o meu presente para você não foi completamente estragado. — Afirmou Miguel sério.

— Claro que não! — Disse Laura beijando-o. — E mesmo que já tivesse acampado... Uma viagem com você, já seria um presentão.

Os dois sorriram e entraram no camping Caminho do sol. Enquanto Laura conversava com um dos instrutores e funcionários do lugar, Miguel atendia um telefonema:

— Alguma informação nova?

— O Edgar está indo pro mesmo lugar que vocês vão acampar.

— Não acredito! Ele não dá folga! Já não basta ficar rondando a casa da Laura quase todo dia... E também vai seguir a gente em todo lugar que irmos? Isso está insuportável!

— Só que acho que ele não está indo aí só pra viajar vocês. Ele tem algum plano em mente.

 — Bem provável mesmo. Ele tem vigiado a gente, mas não está fazendo ataques direitos. Com certeza ele está ganhando tempo para armar alguma coisa.

— Por isso mesmo que liguei. Achei melhor você saber de tudo para poder se prevenir.

— Obrigado por avisar parceira. Vou tomar o dobro de cuidado.

— Até mais. — Despediu-se Catarina desligando.

Miguel olhou para Laura com preocupação. Ele não era ingênuo, sabia que estava começando a se envolver emocionalmente com a professora. Por mais que no inicio fosse parte apenas de uma missão, Miguel sentia-se completamente apaixonado. O papo inteligente, o senso de humor, a beleza tudo o fizera ficar completamente encantado. Faria qualquer coisa para proteger sua ruiva, mas sabia que estava em uma encruzilhada. Laura nunca o perdoaria se soubesse de toda a verdade. Vou fazer de tudo para a sua segurança! Não vou deixar Edgar encostar em você!

Laura abraçou Miguel por atrás e perguntou:

— Quem era?

— Era o cara que faz o seguro do meu carro. Quando a gente voltar eu resolvo esse problema.

— Bom mesmo! Essa viagem é pra gente descansar! Bom, eu peguei a localização de onde vamos acampar e um mapa sobre trilhas e cachoeiras que podemos visitar. Quando a gente se instalar olhamos com calma.

— Como quiser comodante! — Exclamou Miguel fazendo continência.

— Você é tão bobo! — Afirmou Laura sorrindo e correndo.

— Volta aqui!!! — Gritou Miguel correndo atrás da garota.

Edgar estacionou o carro e viu Miguel agarrando Laura por trás e a beijando intensamente. Ele olhou para Gabriel e afirmou com desprezo:

— Cena completamente nauseante.

 — Sinto lhe informar amigo, mas o que você está sentindo se chama inveja. — Corrigiu Gabriel rindo.

— Cala a boca! Não sei por que ainda te pedi ajuda.

— Eu não vou te ajudar em nada, cara. Vim só para não te deixar você fazer alguma loucura. Ambos sambemos como você pode ser passional em alguns momentos.

— Foda-se! Eu vou transformar a estadia desses dois em um completo inferno!

Gabriel sempre ria do amigo e dessa obsessão dele por Laura, pesando que fosse apenas uma fase. Todavia, estava assustado com a fala seca, fria e o olhar maligno de Edgar. Parece que dessa vez ele vai fazer algo mesmo. Só espero não faça nada do que se arrependa depois.

 Começava a escurecer e Miguel montou a barraca sem dificuldade. Olhou para Laura e a ouviu em cima de uma árvore comendo algum fruto. Ele sorriu e comentou:

— Pelo que vejo você é bem acostumada com a natureza. Sempre pensei que fosse completamente urbana e que odiasse atividades ao ar livre.

— Estar em contato com a natureza é muito gostoso! Consegue nós revigorar e acalma a alma. Como não gostar?

— Verdade. É tão calmo que se brincar, consigo escutar meu subconsciente. — Disse Miguel fechando os olhos e sentindo toda a energia positiva que vinha do lugar.

Laura desceu da árvore e deitou-se na grama. Olhou para o céu e disse:

— Vem deitar aqui comigo! Ver o sol se pondo e a lua emergindo desse lugar é simplesmente maravilhoso!

O camping Caminho do Sol realmente era bem localizado. Encontrava-se em cima do morro da primavera. Composta por uma paisagem bem heterogenia. Fauna de uma diversidade inacreditável: araras, tucanos, onça pintada, tamanduá entre outros. Flora composta por plantas de diferentes tamanhos, formas e cores.

Um perfeito crepúsculo se formava no céu, anunciando que a noite não estava longe de chegar. Dito e feito, em poucos minutos a lua cheia nascia acompanhada de diversas estrelas que ajudavam a iluminar aquela noite. Miguel, deitado abraçado com Laura, olhou o reflexo da lua em um lago próxima e viu uma vitória-régia. Ele comentou pensativo:

— Sempre achei a vitória-régia uma planta bem exótica.

— Ela realmente é diferente das demais plantas brasileiras mesmo. Alias você sabe a lenda da vitória-régia?

— Eu nem sabia que existia uma lenda.

— A lenda faz parte do nosso folclore! — Disse Laura. — Conta à lenda que em uma tribo lá no Amazonas, uma índia guerreira se apaixonou pela lua.

— Pela lua? Perguntou Miguel curioso. — A lua é só um astro. Como alguém pode se apaixonar pela lua?

— A lua, segundo essa mesma tribo, era um guerreiro muito importante, conquistador e que sempre levava algumas índias com ele. E essa índia, não via a hora de ser levada pelo guerreiro. Assim, toda a noite, ela observava a lua.

— E depois?

— Teve uma noite em que a lua estava mais linda do que o normal. A índia andava pela floresta e se aproximou de um rio. Ao ver o reflexo da lua no rio, acreditou que o guerreiro tinha descido para busca-la e pulou na água. Contudo, a índia não sabia nadar e acabou morrendo afogada.

— História pesada essa.

— Triste mesmo.

— O que essa lenda tem a ver com a flor? Até agora não entendi a conexão.

— O guerreiro com dó, acabou transformando a índia em uma flor, em uma vitória-régia. E é por isso que as flores dessa planta só florescem à noite.

Miguel olhou para Laura com admiração. A garota é inteligente demais! Será que realmente mereço alguém como ela? Laura levantou-se, despreguiçou-se e sugeriu:

— É melhor a gente dormir. Amanhã temos um dia cheio!

A professora ajudou Miguel a levantar e os dois entraram na barraca.

 Na manhã seguinte, Laura queria sair bem cedo para poder visitar todas as cachoeiras, contudo, Miguel enrolou tanto que eles começaram a trilha mais tarde para evitar o sol forte. O cenário era lindo.  Duas araras azuis voavam pelo céu límpido e tranquilo daquele fim de tarde. Borboletas pousavam nas árvores, colorindo a natureza já exuberante.

A professora tirava fotos com o olhar encantado. Ela fitou Miguel e percebeu que ele estava nervoso e com um olhar atento. Laura guardou a câmera e perguntou:

 — Tá tudo bem?

— Está sim. Só um pouco agoniado.

— Aconteceu algo?

— Eu não sei.

— Tem que relaxar amor. — Pediu Laura abraçando-o com carinho. — Tô aqui com você.

— Sei disso. Seu apoio é muito importante para mim. — Disse Miguel forçando um sorriso.

O professor de matemática estava preocupado. Edgar podia aprontar a qualquer momento. O tempo passou e já eram mais de cinco da tarde. Miguel e Laura sorriam, conversavam, se beijavam e andavam de volta para o acampamento. De repente, o chão tremeu. Laura correu ao encontro de Miguel mas, ele a empurrou para longe antes que um desmoronamento de pedra atingisse a garota. Miguel, ainda confuso devido à poeira que se formava, gritou desesperadamente:

— Você está bem, meu amor??!!

— Estou sim. — Respondeu Laura com a voz abafada. — Só um pouco assustada e surpresa. Terremotos e desmoronamentos não são comuns nessa região.

Miguel vasculhou a região próxima achou mini bombas. Eu tinha razão! Edgar tem alguma coisa a haver com isso! Ele pensou um pouco e sugeriu:

— Amor, vamos fazer o seguinte. A passagem está bloqueada. Então, é melhor a gente dar a volta e nós encontrarmos na entrada do camping. Pode ser? É só seguir a trilha.

— Boa ideia! Te encontro lá. Se cuida!

— Tome cuidado você também.