Desde incidente que aconteceu na sala, Laura e Edgar não se falaram mais. Frequentavam os mesmos ambientes sem se olharem ou trocarem olhares. Laura ainda estava assustada. Edgar sempre fora doce, amável e muito compreensivo. Nunca esperaria dele uma cena daquela. Já Edgar pensava em alguma outra forma de abordagem. Até lá, preferia manter certa distância. O tempo passou e fizeram três meses da morte de Eduardo. No cemitério da cidade, Laura colocava flores para enfeitar o túmulo do seu amado. Ela olhou para o amigo e disse:

— Obrigada por me acompanhar, Marcelo.

— Não precisa agradecer. Sou seu amigo!

— Quem imaginaria que ficaríamos amigos? — Indagou Laura rindo. — Desde primeira vez que a gente se viu... A única coisa que soubemos foi brigar e brigar.

— Um ariano e uma leonina juntos... Já viu né?

Após sua conversa com Catarina naquela noite, Miguel pensou diversas formas de abordagem. Não teria tempo de fazer algo muito demorado, mas também não poderia ter uma abordagem muito violenta. Então, percebeu que o primeiro passo seria investigar Laura. Aos poucos percebeu que por mais que a ruiva mostrasse ser brava e pavio curto, ela realmente era mais tranquila e bem diplomática. Não tinha confusão, briga ou desentendimento com ninguém da cidade. Formada em história por uma universidade estrangeira e mestre em história contemporânea pela principal universidade do Estado. Gostava muito de jazz, blues e soul. Além de ter Machado de Assis como autor favorito. Além disso, percebeu as características mais profundas da alma da garota.

Laura tinha se tornado outra pessoa após a morte de Eduardo. Ela era tagarela e gostava de sair com amigos. Contudo, tinha se fechado completamente. Não saía mais toda sexta com os colegas professores, só saía de casa para dar aula. Além de sempre estar desconfiada das pessoas, não dando a oportunidade delas se aproximarem. Em todos os aspectos, principalmente no assunto relacionado ao coração.

Inicialmente, Miguel deu provas à Laura de que ela podia confiar nele. Tentou mostrar que não estava se aproximando por interesse algum, que só queria realmente ser um amigo. Conversava sobre assuntos e comum. Até chegou a levar Laura em um show cover. Dessa maneira, a amizade dos dois crescia.

Laura gostava da companhia do novo amigo. Ela se sentia muito sozinha e abandonada. Renata estava namorando e saía só com o namorado. Já de Edgar, Laura queria distância. Assim, a companhia do novo professor veio a calhar.

De repente, uma chuva forte caiu sobre a cidade. Laura e Miguel riram e começaram a correr. Miguel sugeriu:

— Temos que achar um lugar coberto!

 —Vamos para a minha casa! É perto daqui.

Ao chegarem ao endereço, Laura não achava a chave.

— Perdeu?

— Não sei Marcelo. Provavelmente sim.

 —Vamos pra minha então! Também não fica muito longe daqui.

 — Não vou incomodar?

— Claro que não! – Exclamou Miguel pegando na mão de Laura e a puxando. — Vamos rápido porque essa chuva está só engrossando e você pode pegar um resfriado.

Laura sentiu sua face corar. Aquela mão grossa e firme a qual ela segurava lhe dava uma segurança que há muito tempo não tinha. Era como se soubesse estaria protegida contra qualquer coisa que acontecesse.

A casa do professor era completamente bagunçada. Cueca em cima do sofá e resto de comida no chão. Laura riu ao ver aquela baderna toda:

— Eu sabia que casa de solteiro era bagunçada, mas você conseguiu elevar a outro patamar essa fama.

— Depois o implicante da história sou eu!

— Falando sério agora, essa casa precisa de uma arrumação urgente!

 — Depois pensamos nisso. Você precisa tomar um banho quente! – Disse Miguel entregando uma toalha à Laura. – O banheiro fica na segunda porta à direita.

— Eu não trouxe roupa extra.

— Pega uma camisa minha.

— Já estou dando trabalho demais.

— Você conseguiu me aguentar bêbado! Nem minha mãe conseguiu essa proeza! É o mínimo que posso fazer por você.

 — Daqui a pouco eu volto.

 — Beleza.

Miguel foi até a cozinha para ver se achava algo para os dois comerem. A única coisa que achou foi uma pizza congelada que estava perto do vencimento. Vai ter que ser esse prato mesmo!

Laura penteou seus cabelos e vestiu uma blusa e calça de moletom de Miguel. Ela saiu do banheiro e disse sorrindo:

— Suas roupas ficaram largas para mim. Estou parecendo uma palhaça.

Miguel não ouviu o comentário da colega. Estava hipnotizado com ela. O corpo recém-molhado da ruiva fazia um contraste com a camisa branca, mostrando discretamente os seios pequenos e delicados da garota. Mesmo largo, o moletom não conseguia esconder o corpo magro mais cheio de curvas que Laura tinha. O rosto pálido, corado a transformava em uma beleza encantadora. Ao sair do seu transi, Miguel mostrou a mesa:

— Um lanche bem gostoso para a gente!

— Tá com a cara boa! Você que fez?

 — Claro que sim!

 — Então porque tem a embalagem de uma pizza de micro onda no seu lixo?

 — Me pegou! – Exclamou Miguel envergonhado. – O que importante é que temos comida! Bora comer?

— Sim! Estou morrendo de fome!