Corações escrita por CassandraCain


Capítulo 7
Meus Sinceros Sentimentos


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo, depois de todo atraso
Esse é o capítulo mais longo
E, ao contrário dos anteriores, ele foi escrito como uma carta
Casal: Geórgia e Lírio
Mais explicações nas notas finais



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Minha Querida Lírio,

Não é a primeira vez que tento colocar meus sentimentos por você em um pedaço de papel. Porém, por mais confiante que eu seja em minha habilidade com as palavras, sinto que as cartas anteriores que escrevi não faziam justiça ao que eu realmente sinto.

Não estou certa de por onde eu deveria começar, então começarei pelo sentimento mais presente nesse momento e o mais simples de ser entendido: sinto a sua falta. Eu gostaria que você estivesse aqui ao meu lado. Nesse instante. Para sempre.

Não sei quando essa carta conseguirá chegar até você, mas espero que a encontre bem. Eu me preocupo por você a cada instante.

Sei que você pensa que eu não deveria falar sobre a guerra em uma carta que dirijo a você. Estamos de lados opostos, e você não vê nenhuma forma de mudar essas circunstâncias. Mas há, acredite em mim, minha amada. Eu descobri algo que pode mudar tudo.

Não devo entrar em detalhes nessa carta, pois temo que ela possa cair em mãos erradas. Eu gostaria que pudéssemos nos encontrar pessoalmente, o mais breve possível. Quero falar com você sobre o que eu descobri. E, não vou negar, também quero vê-la.

Eu estarei viajando para a capital do meu país, com um pequeno grupo de pessoas em quem eu confio. Seria possível nos encontrarmos antes de eu chegar lá, quando eu estiver atravessando a fronteira?

É verdade que não faz tanto tempo que nos encontramos pela última vez. E, considerando todas as circunstâncias que estão contra nós, somos de fato abençoadas pelo Destino por termos nos encontrado tantas vezes.

Ainda assim, de forma egoísta, confesso que não é o bastante para mim. Eu tenho vontade de vê-la a cada segundo. Seu rosto está sempre em minha mente, mas estou certa de que minha memória não está à altura de sua real beleza.

Queria que a realidade fosse diferente, e que tudo fosse mais simples. Sinto que um mundo inteiro nos separa.

Talvez, escrevendo essa carta para você, eu pareça uma jovem romântica e ingênua aos seus olhos. Mas não posso evitar. Comecei a escrever para falar sobre meus sentimentos, e não sobre a guerra.

Ainda agora consigo sentir os seus lábios sobre os meus, e o toque suave de sua mão sobre meu rosto. Não é algo que eu consiga apagar de minha mente.

Se estou parecendo incoerente, mudando de assunto de novo e de novo, deixe-me explicar. Meu irmão e meus amigos costumam dizer que sou boa com as palavras, então tentarei usá-las para colocar ordem em meus pensamentos e sentimentos e transmiti-los a você.

Eu nunca desejei estar envolvida com essa guerra. Nunca gostei da violência, e não suporto a ideia de tirar a vida de outra pessoa. Bem, disso você já tem consciência. Lembro-me de quando nos conhecemos. Você comentou o fato de eu ser “inocente”, sem sangue em minhas mãos. Disse que era algo raro em meio a uma guerra, e perguntou por quanto tempo isso seria preservado.

Eu não consegui responder na hora. Mas, caso ainda se pergunte isso, saiba que jamais tirei uma vida. Não me considero, porém, verdadeiramente inocente, pois feri pessoas em batalha. E quem sabe se tais ferimentos não lhes custaram suas vidas? Eu tento não remoer essa dúvida.

Mas não era apenas minha aversão à violência que me fazia desejar distância dessa guerra. Eu não a considerava justa, tampouco via qualquer sentido nela. Afinal, o que o vencedor ganhará, no final? Absolutamente nada. Isso tudo não basta de um ciclo interminável de ódio, vingança e preconceitos estúpidos nascidos do medo.

Ainda assim, o que eu poderia fazer? Um simples soldado, enviada para a guerra no lugar do meu irmão ferido.

Então eu conheci você, minha bela Lírio.

Quando a vi pela primeira vez, tive a certeza de jamais ter contemplado uma criatura tão bela. Não direi que te amei desde aquele primeiro momento, pois não acredito em amor à primeira vista. Mas, isso posso afirmar, senti minha respiração falhar.

Desde então, tudo mudou. Se não a minha situação, ou o mundo que me cerca, meu interior mudou. Antes eu desejava evitar a violência o máximo possível e sobreviver para reencontrar a minha família. Nada mais.

Você, inigualável flor, fez com que eu desejasse o impossível.

Eu me apaixonei por quem era suporto ser minha inimiga, e isso já não posso negar. Mas há uma guerra entre nós. Há um mundo entre nós. Enquanto a situação for tal, e enquanto nossos povos estiverem nessa guerra sem sentido, é racionalmente impossível que fiquemos juntas.

Além disso, amada, não ignoro a dor que essa guerra causou a você, particularmente. As perdas que você sofreu.

Você fez com que desejasse acabar com a guerra com as minhas próprias mãos. Você acendeu essa chama dentro de mim, despertou esse espirito heroico que eu não sabia possuir.

E, por mais impossível que lhe pareça agora, eu juro, há uma chance. Eu encontrei uma esperança.

Gostaria de ter sua resposta para uma pergunta minha, uma dúvida que vem me perseguindo. Se eu encerrasse essa guerra por você, você ficaria ao meu lado até o fim de meus dias?

Talvez você não tenha tal vontade para o futuro. Talvez não tenha pensado nisso. Talvez meus sentimentos pareçam a você a atitude precipitada de uma garota tola. Mas, garanto, estou bem certo do amor que dedico a você. Não lhe peço nada além de uma resposta sincera.

Devo encerrar essa carta, com a esperança de que você esteja bem e segura. Tão segura quanto se pode estar. Tenho também a esperança de vê-la em breve, e esse pensamento me enche de indescritível alegria.

Espero ter conseguido transmitir meus sinceros sentimentos a você da melhor forma possível, embora ainda me apreça que meras palavras não bastam para tal objetivo.

Até que possamos nos ver novamente, eu me despeço aqui

Fique bem, minha mais preciosa flor, única dona de meu coração

Daquela que lhe dedica todo o amor do mundo,

Geórgia Lieppert


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Notas finais do capítulo

A pessoa que escreve essa carta é Geórgia, mencionada pela primeira vez no primeiro capítulo, como "a garota de pele escura e olhos de sonhos". E ela aparece nos capítulos 3, 4 e 5.
A pessoa a quem a carta é escrita é Lírio, dos capítulos 1 e 6 (onde ela é a filha do casal)
A linguagem aqui está mais rebuscada, porque é assim que eu imagino Geórgia escrevendo.
Qualquer erro de digitação, me avisem



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