Trepanação. Para Enzo não existia melhor forma de explicar as memórias, boas e ruins, que invadiram sua mente no instante em que colocou os pés diante da porteira de Santa Luzia. Fazenda onde viveu até os quinze anos e para onde jamais gostaria de retornar. Desceu do automóvel alugado e encaminhou-se a passos lentos até o grande portão de madeira na intenção de abri-lo.

 Em outros tempos, na época de ouro dos grandes senhores de escravos, a entrada da propriedade estaria sendo bem guardada. Pelo menos dois homens de confiança do comendador marcariam presença ali. A porteira, agora gasta pela ação do tempo, revelava claramente a decadência moral do seu ilustre morador.  

 Enzo respirou fundo e retirou o trinco que mantinha os visitantes afastados. Visitantes? Como se nos arredores da fazenda, alguém perderia tempo visitando um ser humano decadente como o seu genitor. Embora ter o nome Fontaine ainda representasse possuir certo prestigio no estado de Pernambuco, as atitudes do comendador falavam por si, e já não agradavam a nata da sociedade. Enzo entrou novamente no carro e dirigiu até a casa grande, do automóvel podia ver a fachada da casa e também Giovanni Fontaine que já o aguardava.