Cinco minutos escrita por Yokichan
Eles sempre tiveram o hábito de sentarem-se juntos no refeitório do complexo, mas agora Karin não sabe mais se quer que isso continue acontecendo. As coisas andam estranhas entre eles. De qualquer modo, embora ela tenha pegado o seu prato e ido acomodar-se numa das mesas mais afastadas, Suigetsu logo aparece. Ele larga o próprio prato sobre a mesa – o prato que serviu apenas por força do hábito, já que não sente qualquer vontade de comer – e senta-se de frente para ela.
Karin ergue os olhos e percebe que o rosto dele possui as marcas de um cansaço que parte de dentro e que acaba por macerar o corpo.
— Você está péssimo.
— Porque você continua me rejeitando.
Ela não sabe o que dizer. Esgotou todas as ideias que poderia usar para defender-se ou simplesmente para fugir da situação e agora não sabe mais que postura adotar diante da sinceridade perturbadora das palavras dele. Suigetsu tinha dito que a amava e pedira para que ela o aceitasse ao seu lado, declarara pensar nela durante as vinte e quatro horas do dia e dissera aquelas coisas que qualquer mulher adoraria ouvir, mas Karin ainda não decidiu o que fazer daquilo.
Ela solta um suspiro pesado e larga os hashis ao lado do prato.
— Você me pressiona com essa história o tempo todo.
— Essa história? – ele franze o cenho. – Não é uma história.
— Pode ser o que você quiser, mas está me confundindo.
— Eu só preciso que você diga sim ou não.
— Não é tão simples.
— Por que não? Qual é o problema?
— Suigetsu.
— Eu amo você.
Suigetsu está meio inclinado sobre a mesa, na direção dela, e a encara daquele modo que deixa claro que ele não suporta mais a espera por uma resposta que Karin ainda não tem. Ela sente o rosto enrubescer e desvia o olhar para uma parede qualquer. Pergunta-se se algum dos outros pesquisadores ouviu aquilo, se “a história” já se tornou pública. Subitamente, sente-se furiosa por Suigetsu pensar que pode expô-la assim, por achar que não há problema em sair dizendo por aí que a ama, permitindo que estranhos se intrometam em sua vida particular.
De repente, ela levanta-se e dá-lhe as costas sem uma única palavra. Sentindo-se muito dura, Karin sai andando para longe daquela mesa, para longe daquele cara irresponsável, para qualquer lugar em que ele não possa atormentá-la. Mas então Suigetsu a agarra por um braço e a puxa de volta.
Todos os olhares do refeitório se dirigem para eles.
Incrédula, Karin olha para a mão dele fechada ao redor de seu braço, logo acima do cotovelo, e depois para o rosto afogueado de Suigetsu.
— O que você pensa que está fazendo? – ela quer saber.
— Chega de me deixar falando sozinho. Chega dessa brincadeira.
— Solte o meu braço.
— Estou cansado de esperar.
— Eu não devo nada a você, ao que me parece.
— Você me deve uma resposta.
Karin puxa o braço de volta e livra-o da mão de Suigetsu. Está prestes a deixá-lo falando sozinho mais uma vez, porque obviamente não é obrigada a tomar qualquer decisão diante do resto dos funcionários do complexo de pesquisa, quando ele diz-lhe aquelas palavras que calam fundo dentro da alma. Então ela apenas fica ali, pregada no lugar, olhando-o como se não o reconhecesse mais.
— Você é apenas covarde, no final das contas.
Covarde. Karin quer dar-lhe uma resposta que o deixe tão atordoado como ela está agora, mas simplesmente não consegue encaixar as palavras em uma frase. Seus olhos enchem-se de água e ela engole algo que desce arranhando pela garganta. E pensa que Suigetsu é tão estúpido... Se ela fosse mesmo uma covarde, apenas teria respondido sua proposta com um sonoro “não”.
— Você tem medo de arriscar, Karin. Você tem medo demais pra tentar.
— Medo?
— Olhe só pra você. – ele abre um sorriso debochado. – Um cara diz que te ama e tudo o que você sabe fazer é chorar.
O sorriso ressentido de Suigetsu desaparece quando Karin estala uma bofetada na lateral de seu rosto. De súbito, os cochichos e risinhos que povoavam o refeitório até então desaparecem totalmente e tudo mergulha num silêncio abissal. Uma lágrima desce pelo rosto corado de Karin e ela respira num ritmo descompassado. Suigetsu, por sua vez, apenas encara-a sem acreditar. Então ele leva uma mão ao rosto, as pontas dos dedos tocando a pele que ainda arde por conta do tapa, e Karin percebe que ele está tremendo.
Sobretudo, ela própria está tremendo.
O que foi aquilo?
O que ela acabou de fazer?
Incapaz de agir de qualquer outro modo, Karin vira-se e deixa o refeitório. Dessa vez, Suigetsu não a segue, e antes que ela possa desaparecer por completo de seu campo de visão, ele decide que não a procurará mais. Depois de ter se humilhado além do limite da decência, ele compreende que precisa deixá-la ir.
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E aí, gente?
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