BLOODLINE escrita por Meewy Wu


Capítulo 4
I.III - Cartas




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De todas as tarefas pouco gratificante que Calisto se viu obrigada a executar desde o dia em que chegará a escola, escrever a primeira carta para seu pai foi sem dúvidas a pior de todas - e isso era muito, já que entre aulas que ela já havia tomado quando mais nova e sorrir para professores por educação, não havia de fato nenhum momento glorioso de euforia em estar em Hogwarts.

Sentia falta de casa - de ser paparicada e desafiada. Mas isso eram nada mais do que lamentações, e ela sabia quão intolerável seu pai era a suas lamentações. Ela era a melhor, e mesmo que nada lhe fizesse mais feliz que abandonar aquele castelo sua melhor estratégia sempre garantir que seu pai ficasse ao seu lado, e mais ajudaria falar de seus avanços do que suas decepções.

Scorpius provavelmente já havia mandado dois ou três pergaminhos, e já havia sido doce e belamente perdoado por não ter sido enviado para onde era esperado, mas isso não a impediria de frisar isso em sua carta. Sentia falta da companhia do irmão, é claro, mas haviam medidas necessárias para que ganhasse o respeito daquele lugar - coisas maiores do que ser a filha de Draco Malfoy.

Foi fácil, em pouco tempo perceber quem deveriam ou não ser seus amigos, e quem seria ou não útil. Quem a visse, cercada de não só alunos mais velhos, como também os mais poderosos estudantes da Slytherin, facilmente chegaria a mesma conclusão de Sarah: Quase como novos comensais da morte.

Aquela escola húmida e escura nada se parecia com sua casa grande, aquecida e iluminada, protegida de qualquer gota da interminável chuva que constantemente se estendia pela Inglaterra. Nem mesmo o luxo do salão comunal e dormitórios da Slytherin se comparavam a essência tecnológica na qual a casa foi construída, ou aos dias ensolarados de Bristol.

Sentia falta de seus elfos, principalmente de Shiy, sua elfa doméstica pessoal, que ganhará logo após a morte do avô. Mais do que tudo, sentia falta do avô. Principalmente ali onde tudo fazia lembrar ele. O salão era antigo, frio, impotente e cheio de segredos, o que ao menos era acolhedor vista sua infância - lembrava um pouco até a antiga casa de seus avos, embora não tivesse mais que vislumbres de memórias desta.

Também não tinha mais do que vislumbres dos segredos de seu avô, pensou, rabiscando distraída na ponta do pergaminho. Incubus começou a escorregar do sofá para seu ombro, lhe despertando das lembranças e devaneios para o padrão escamado na ponta do papel e toda a extensão vazia.

Ela gemeu, encarando todo aquele papel ainda em branco. Pensará demais e escreverá de menos, e quanto antes a carta estivesse pronta antes ela poderia se livrar disso e poderia dormir. O relógio já marcava duas da manhã quando ela enfim tocou a caneta pela primeira vez no pergaminho e começou a escrever, mas estava claro desde a primeira frase que havia um longo caminho pela frente.

Quando enfim acabou já faltava pouco mais que uma hora para que precisasse levantar, e exausta, ela olhou para Incubus docemente - Você bem poderia levar isso ao corujal para mim, não?

"O que eu ganharia com isso?" a cobra perguntou, e com um assento de cabeça Calisto a deixou aninhar-se e dormir. Era certo, nada havia a se ganhar. Nem mesmo a ela, garantindo que aquela carta chegasse antes de seu pai tomar café. Ela colocou os pés para cima do sofá, relendo a carta de novo e de novo, sob os reflexos da lua dançando nas revoltas do lago, até acabar adormecendo ali mesmo.

.......

Ainda era cedo quando Albus acordou. Cedo demais para qualquer um de seus colegas mimados e preguiçosos, aparentemente, pois boa parte ainda roncava como se estivesse muito longe de pensar em acordar – e com certeza estavam. Ele tentava entender como nunca estavam atrasados, fosse para as aulas, refeições ou todo o resto, simplesmente estava lá o tempo inteiro, evitando qualquer chance de alegria que Albus poderia ter de vê-los levar uma bronca.

Ele, porém, não iria reclamar. Se todos estavam dormindo, significava que talvez ele pudesse ter alguns momentos de paz antes do café da manhã, e de fato a maioria dos garotos ainda dormia quando ele saiu do quarto, enquanto os outros acordavam lentamente, como se acordados por algum relógio invisível e silencioso. Aqueles deveriam ter vivido assim a vida inteira, Albus pensou, sempre nas regras e coordenados pelos seus pais aristocratas.

Os corredores ainda estavam vazios, e os dormitórios emitiam o mínimo de som – Exceto, talvez, pelo do terceiro ano, onde um estrondo assustou o garoto que apressou o passo seguindo direto para o igualmente deserto salão comunal.

Silencioso. Gelado e silencioso.

O lugar era inteiro impessoal, como olhar para uma foto muito antiga de um lugar que parecia impossível alguém ter conhecido.

“Saia” ele olhou para baixo. Incubus, a enorme e negra cobra de estimação de Calisto, se arrastava despreocupadamente pelo chão, atrás de um pequeno inseto ele logo percebeu, dando um passo para o lado para que ela pudesse abocanha-lo.

E então no sofá, Albus percebeu a cascata de cabelos loiro-brancos e no chão, não muito longe, uma carta ainda aberta e que a garota provavelmente derrubará. Ele hesitou, se aproximando, até mandar a si mesmo pegar a carta. Calisto Malfoy não pensaria duas vezes em ler uma carta dele, mas no fim ele percebeu que preferia não ter lido.

“Solte isso” na parede ao lado dele a cobra silvou, e desta vez então Albus percebeu o que estava acontecendo, e dando um passo para trás encarando a serpente, o jovem Potter gritou.

—O que é todo esse escarcéu a esta hora da manhã? – Calisto sentou-se, tão naturalmente como se não houvesse nada estranho dormir no sofá do salão comunal, com a testa franzida e os olhos irritados. Isso não melhorou em nada, quando ela percebeu a carta nas mãos de Albus – O que você, Potter, pensa que está fazendo com isso?

—Ela... Isso... Eu... A... Ela... Cobra... – Albus mal a ouvirá, ainda em choque com a percepção de tudo aquilo. Apenas notou Calisto, quando a mesma tentou arrancar o papel de suas mãos, o fazendo sucumbir para trás de tão forte que segurava.

—Bem, está claro que entre as suas muitas falhas de educação, está mexer no que não é seu – ela grunhiu, estendendo a mão – Me devolva.

—Ela fala... – ele falou, encarando Calisto com os olhos arregalados.

—E claramente, você não está escutando – ela bateu o pé – Me devolva a minha carta, mestiço!

Aquilo o despertou, e deu um passo para trás, erguendo a carta – Tem medo que seus amiguinhos descubram que tem medo do escuro, Malfoy?

—Seu... – ela arregalou os olhos, ultrajada – Não tinha o direito de ler isso!

—Por quê? Acha que eu vou dizer aos professores o quanto você despreza eles? – ele continuou, sem entender muito bem aquele riso nervoso que tentava conter. Estava assustado, mas ao mesmo tempo era bom finalmente ter algo para usar contra Calisto – ou talvez seja melhor eu mostrar a diretora, ela vai adorar saber sobre seu novo séquito de comensais da morte...

—Cuidado Potter, não sou eu quem deveria me preocupar com esse tipo de acusação – ela baixou a cabeça, rindo sob os cabelos.

—Desculpe interromper, algum problema aqui? – Damon passou o braço em volta do pescoço de Albus, e pegou o pergaminho rapidamente – De quem é isso aqui?

—É meu – Calisto falou, arrancando igualmente rápido das mãos dele.

—Que coisa feia Potter – Damon o soltou com um solavanco, passando o braço pelos ombros de Calisto – Não mecha mais nas coisas da minha garota, certo?

—Não se preocupe, acho que ele não é burro para cometer o mesmo erro duas vezes – Calisto sorriu maldosamente, tirando o braço dele e substituindo por Incubus – Vamos todos apenas esquecer esse episódio de escassa polidez.

Damon Parkison cheirava a queimado, e o cheiro se manteve até que os dois saíssem da sala comunal, e em fim em choque Albus pudesse se afundar em uma poltrona e respirar fundo, sentindo sua espinha gelar. Não sou eu quem deveria me preocupar com esse tipo de acusação. O que isso queria dizer? Ele sequer tinha amigos, quanto mais um bando de seguidores.

Mas se Calisto queria assusta-lo, o fez, e ele ficaria feliz em esquecer tudo que passará aquela manhã, principalmente se isso significasse que esqueceria que uma cobra falará com ele – Por que isso, era ainda mais assustador do que ser apenas Albus Severus Potter.

......

Na manhã seguinte, a resposta a carta de Calisto chegou com um enorme embrulho que fez com que todos olhassem para ela. As aulas de voo começariam em breve, então ela tentou não parecer tão surpresa quando sua vassoura foi solta bem em sua frente na mesa de café da manhã.

A carta do pai, por outro lado, dificilmente foi uma surpresa tão agradável quanto. Draco mantinha o mesmo discurso de defesa interminável ao seu filho favorito, que claramente parecia muito mais empolgado com a escola do que ela, embora garantisse que estava orgulhoso de ter criado uma filha que tivesse apta a casa da família.

Ela quis amassar a carta neste momento, seu pai fora de todos o que menos influenciara na sua criação, mas ele nunca admitiria aquilo. Falava um pouco de nomes conhecidos, dos Parkinson, da diretora McGonagal e do professor Longbottom, mas nada que se estendesse, como se mesmo com a carta consideravelmente grande que ela havia escrito não houvesse muito que ele pudesse comentar. Era provável que não houvesse.

Falava das eleições, e de como era bom para sua imagem que seus filhos se destacassem na escola, principalmente ela que estava na casa a que ele pertencerá, e que seria bom se tentasse ser um pouco mais aberta à alguns nomes que eram aclamados pelas massas bruxas. De canto de olho, ela olhou para o estúpido Albus Potter, e torceu a boca. Existiam limites até onde ela iria pela política do pai.

Mas a parte que realmente lhe importava vinha no final da carta, com um pequeno parágrafo garantindo que sua mãe parecia melhor de suas enxaquecas, principalmente agora que a casa estava calma. Calisto respirou fundo, sabia que não era a intenção do pai, mas doía como parecia que ela e Scorpius – suas demandas e presença e barulho – pioravam o estado da mão.

Mordeu o interior da bochecha, não iria chorar. Não ali, na frente de todos, onde pareceria uma criança fraca apenas com saudades de casa. Quando um professor passou atrás dela, aconselhando que levasse a vassoura para os armários perto do campo antes da primeira aula, ela aproveitou a deixa para deixar uma lágrima cair enquanto atravessava os jardins, culpando o vento gelado por isso.

No campo, um grupo começava a sair, liderados por Molly Weasley, a sextuanista capitã do time de Quadriboll da Slytherin, com seu rabo de cavalo ruivo escuro no alto da cabeça e a testa suada – Matando aula, Malfoy? – perguntou Molly, desgostosa – Assim vou ter que contar para a diretora.

—Só guardando uma coisa, Weasley – ela sorriu, batendo a porta com força, enquanto o resto do time, incluindo Damon que estava distraído demais em uma discussão com Trevor, namorado de Molly, passavam atrás da ruiva. – Mas me diga, quem pediu pra você ser minha babá?

—Você é só uma pirralha mimada Calisto, então vou pegar leve com você – Molly a pegou pelo braço, puxando pra mais perto – Mas deixe meu primo em paz, certo?

—Foi ele quem se meteu onde não foi chamado – Calisto grunhiu, puxando o braço – Ele precisa aprender a ficar no lugar dele.

—O que está acontecendo aqui? – Slughorn apareceu atrás delas, com uma caixa nas mãos – Eu estava colhendo ervas na floresta quando pensei em mandar os jogadores eufóricos irem se preparar para as aulas, e encontro duas das minhas melhores aunas discutindo? Para a aula, vocês duas! E Srta. Weasley...

—Sim? – perguntou a ruiva, tremendo.

—A seleção para o time de Quadribol é neste sábado certo? Eu gostaria de ir assistir – falou ele.

—Ah, não vamos ter seleção esse ano, Parkinson diz que o time está bom demais para mexermos – ela fez uma careta.

—Mas achei que o apanhador do time tinha se formado ano passado – falou o professor.

—Ah, não, ele se forma esse ano – falou ela, sorrindo timidamente – Precisaremos de um novo pro ano que vem...

—Quem sabe não tenhamos uma nova estrela, pra variar. Agora, para a aula as duas! – sorriu ele, dando uma piscadela a Calisto quando ela passou, seguindo para a aula de Transfiguração.

......

 

Após duas aulas, o almoço e o intervalo após este, Rose, junto ao restante dos alunos do primeiro ano das quatro casas estavam enfileirados irregularmente em duas fileiras, uma de frente para a outra em um espaço aberto dos jardins da escola esperando o início da aula de voo. Ela olhou para Evanna de um lado, parecendo ansiosa, e do outro para Scorpius Malfoy, que ficou tenso assim que a irmã pegou o lugar do outro lado dele.

—Tenho certeza que preferia que fossem aulas de esgrima, Hyperion – Calisto Malfoy riu, e Rose não pode deixar de notar como aquela provocação fez com que o menino de repente parecesse muito mais relaxado, antes de responder em voz baixa para a irmã.

Madame Hooch logo se apresentou, com seus estranhíssimos olhos dourados, inquerindo quais alunos já haviam voado de vassoura. Rose levantou a mão, mas estavam todos ainda muito distraídos conversando sobre a vassoura de Calisto Malfoy – uma Fênix Infinite de última linha, raríssima, feita em números contados para o time de Quadribol da Bulgária no último ano.

—Eu perguntei, quais de vocês já andaram em uma vassoura ao menos uma vez na vida? – insistiu a professora, e desta vez quase metade da turma levantou a mão. Rose olhou em volta enquanto mãos tímidas, ou nem tanto, se erguiam, um pouco surpresa. A taxa de menores de onze anos andando de vassoura era um pouco assustadora, pensou ela.

—Bem, temos sem dúvidas uma turma surpreendente este ano... Senhor Potter, nunca andou em uma vassoura? – a professora parecia surpresa, olhando para Albus que negou com a cabeça. Rose sabia que não era verdade, mas também sabia quando ficar quieta – Tenho certeza que se sairá muito bem, é um talento de família. Agora todos vocês, estiquem a mão direita sobre a vassoura e digam, “Em pé!”.

Todos o fizeram exatamente como pedido, mas os resultados eram muito diferentes para cada aluno. Rose precisou de duas tentativas para que a vassoura voasse no ângulo perfeito até sua mão, mas não fora nem de longe a pior. Ao lado dela, a Vassoura de Evanna bateu no quadril da menina que levantara a mão do lado contrário ao que estava a vassoura. Sarah Goyle remexeu-se no chão como um animal abatido, e Albus cometeu o triste erro de espirrar bem no meio do comando, erguendo a mão de forma que a vassoura voou longe até sumir de vista, causando risos de muitos.

Por outro lado, os gêmeos perfeitos à esquerda dela pareciam ter nascido com as vassouras nas mãos, talvez até mais Scorpius com sua elegância inabalável do que Calisto, que parecia sofrer um impacto de estatura sempre que a vassoura se chocava contra seu pulso – Rose pensou quantas vezes seria necessário repetir aquilo para que este quebrasse.

—Incrível, não é mesmo? – Evanna perguntou, com os olhos brilhando, quando viu Rose encarando o pulso de Calisto – Dizem que a tia encomendou uma para ela, sabe, por que a tia dela é uma jogadora da Bulgária. Garanto que poderia chegar à Argentina em menos de um dia com uma vassoura dessas.

—O que tem na Argentina? – perguntou Rose, ainda sem prestar muita atenção.

—Meus irmãos, eles estão lá agora – ela torceu uma mecha do cabelo, sorrindo – Sinto falta deles.

—Também sinto falta do meu irmão – Rose falou – E, bem, você chegaria à Argentina em oito ou nove horas com uma vassoura dessas... Eu chegaria em casa em menos de vinte minutos.

—Talvez Calisto possa nos emprestar – Rose riu, mas o rosto de Evanna fazia parecer que ela realmente falava sério, o que fez com que Rose voltasse a prestar atenção na aula, quando a professora mandava todos subirem nas vassouras e darem impacto leve do chão.

Não era assim tão errado deixar Evanna sonhar, ela esperava.

 


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