A carta de Susana estava aberta sobre a escrivaninha há meses.

Não que a rotina corrida do escritor, as cobranças da editora e o roteiro para a adaptação de seu livro em um longa fossem o motivo para a demora em responde-la.

Era difícil para Robert encarar o papel e a caneta após ler os lamentos de sua estimada amiga. A jovialidade e entusiasmo de Susana pareciam rebotalhos em meio tantos sonhos jogados no lixo.

Ele simplesmente não poderia responder e falar sobre como as coisas estavam bem para ele, sabendo que ela estava desesperançada.

Por isso ele esperou o tempo suficiente para dar boas notícias, sem deixá-la ainda mais para baixo.

O aroma de café fresco encheu a casa do rapaz, e ele carregou uma xícara para o quarto, sentou-se à escrivaninha e leu mais uma vez as palavras de Susana. Eram tantos sentimentos nas entrelinhas que mal cabia no papel. Revelavam-se no sorriso bobo de Robert, que mordiscava o nó do indicador. Não sabia ela que um escritor sabia interpretar muito bem um texto?

Agora ele sabia que seus sentimentos eram recíprocos, ao menos no passado. E agora, permaneciam na memória dela, mesmo como apenas uma lembrança.