De Janeiro a Janeiro escrita por Vlad Petrova


Capítulo 1
De Janeiro a Janeiro


Notas iniciais do capítulo

Bem... Apenas um devaneio que tive e resolvi escrever.

Espero que gostem!



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Harry acordando no meio da noite aos berros já havia se tornado algo padrão para os Dursley. Não que eles gostassem, é claro. Mas toleravam, temerosos quanto a possibilidade do sobrinho avisar o padrinho criminoso sobre seus maus-tratos caso ousassem desrespeitar diretamente o luto do garoto.

A morte de Cedrico significava mais para Harry do que para qualquer pessoa, de uma forma que apenas ele conseguiria entender.

Bem, apenas ele e Cedrico, é claro.

Era difícil reler aquelas cartas... Tantas lembranças, tantos segredos que jamais poderiam ser revelados...

Embora qualquer outra pessoa do mundo mágico provavelmente fosse se orgulhar em dizer que já estivera num relacionamento amoroso com o famoso Harry Potter, para Cedrico, as coisas não eram assim tão simples.

Ele morreu sentindo vergonha.

Não de Harry, mas de quem ele era. De quem deveria ser, mas jamais poderia, publicamente. Não com seu pai controlador e perfeccionista, que havia criado com esmero o seu filho unigênito não para o mundo, mas para si mesmo.

E, agora, que já não estava mais lá para se envergonhar, Harry manteve sua palavra. Manteve o legado do amásio intacto.

“Veja, Harry... Sabe que eu faria qualquer coisa por ti, mas as circunstâncias são delicadas, hum? Preciso que me garanta que esse lance que nós temos não irá sair daqui. Você, melhor do que ninguém, sabe como é ser apontado... Eu tenho muito a perder. E por mais que eu ame você, não sei se estou preparado para lidar com isso agora” foram suas palavras, ditas com um tom dramático, mas carregado de sinceridade.

Naquele momento, Harry chegou a hesitar. Viver se escondendo não fazia, exatamente, o seu estilo. Mas ele amava Cedrico mais do que tudo. E, por ele, estava disposto a guardar aquele segredo de todos. Inclusive de Rony e Hermione.

“Ninguém saberá” sorriu ele, ocultando a melancolia contida que era expressiva em seu olhar. “Eu te prometo”.

Cedrico sorriu de volta.

“Bom saber que posso confiar em você” ele disse.

“Sempre” Harry respondeu, unindo os lábios ao do lufino novamente.

Era doloroso demais lembrar-se daquilo. Momentos tão felizes, tempos tão alegres... Desesperador pensar em quão próxima a felicidade estava de seu alcance quando lhe foi cruelmente arrancada por Voldemort. A cena da morte ainda era real e tangível em seus pensamentos.

Mas, junto com ela, sempre vinham recordações que o deixavam tragicamente nostálgico e, consequentemente deprimido. Uma tentativa falha do cérebro de lhe entorpecer de tamanha dor, numa ironia shakesperiana, sem sombra de dúvida.

“É lindo, não é?” Cedrico perguntou, os olhos vidrados no infinito azul-estrelado. Harry assentiu e olhou-o com um sorriso singelo no rosto. “Gosta de Astronomia?”

“Não muito” ele admitiu, meio sem graça. “Você gosta?”

Os olhos negros de Cedrico voltaram-se para o rosto alvo de Harry e ele assentiu, moldando um meio sorriso que cortou o horizonte de suas maçãs do rosto por uma fração de segundo. Potter subiu a cabeça e escolheu aleatoriamente um dos compilados de estrelas, apontando-a com o indicador.

“Como se chama essa constelação, então?” perguntou ele, um interesse implícito no tom de sua voz.

Cedrico subiu os olhos para o céu novamente, analisando a região indicada pelo amásio durante alguns instantes, antes de expedir o veredicto.

“Essa é fácil” concluiu. “Libra”

“O que significa?” Harry quis saber.

“Libra fala do amor na sua forma mais pura. O amor incondicional, indelével” explicou, maravilhado. “Às vezes pressagia uma mudança significativa no rumo de um romance, mas, geralmente, é como se dissesse apenas que a pessoa que você ama pode estar bem do seu lado”

Harry sorriu.

“Bem, espero que seja este o nosso caso” ele disse. “Porque eu não mudaria nada em você”

Cedrico sorriu de volta, deslizando os dedos suavemente pelo rosto de Potter enquanto tornava a encará-lo.

“Eu também não mudaria nada em você” sussurrou, antes de aproximar seu rosto do de Harry, selando os lábios nos dele em um beijo caloroso.

Harry repassou os envelopes por entre os vãos de seus dedos desesperadamente, manchando algumas das cartas com suas lágrimas e, em seguida, extraiu uma foto do interior de um dos embrulhos.

Na foto, ele e Cedrico apareciam abraçados e sorrindo em Hogsmeade, num movimento estilo boomerang ante a câmera. Embora os olhos de ambos transbordassem felicidade, não havia nada explícito que os denunciasse como um casal. Talvez fosse por essa razão que Diggory escolheu aquela foto para enviar a Harry durante o recesso de Natal em seu quarto ano.

Sem se conter, Harry deu um meio-sorriso em meio as lágrimas que continuava a derrubar. Por um momento, seus olhos fixaram-se no rabisco presente em vermelho no canto da imagem, reconhecendo a caligrafia perfeita de Cedrico.

“De Janeiro a Janeiro”

“De Janeiro a Janeiro” ele repetiu em voz baixa, agarrando a imagem com força e apertando-a contra o peito.

Depois de tantas imagens serem transmitidas por seu cérebro rápidas como no teaser de um filme, a última e que mais lhe doía foi repassada com clareza por sua mente, acompanhada por ondas insuportáveis de dor que invadiram-lhe a cabeça quase que de imediato. Mais lágrimas caíram.

“Avada Kedavra!” a voz de Peter Pettigrew ainda era vívida em sua consciência.

Em seguida, o corpo de Cedrico tombado no chão e ambos de volta ao início do labirinto, diante de todos os torcedores animados que imediatamente cessaram suas comemorações e expectativas e foram tomados pelo pavor ao ver a angústia de Potter, que chorava inconsolável sobre o cadáver de Cedrico.

Mas, diferente do que a imprensa havia divulgado naquele caótico encerramento de ano letivo, não era apenas O-Menino-Que-Sobreviveu chorando por um mero conhecido. Era O-Homem-Que-Voldemort-Havia-Destruído, chorando pelo seu amor.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam?