Era uma da manhã e eu estava na festa. O que eu estava fazendo ali?

Apesar da música alta preenchendo todo o ambiente, eu me sentia vazia. Tão vazia quanto os outros ali. Eles diziam se divertir, curtir a vida, estar aproveitando cada momento do tempo que lhes restava. Contudo só estavam escondendo deles mesmo o que muitos já haviam percebido: eles não eram felizes de verdade. E precisavam da bebida, das drogas e de amores de uma noite para esquecer isso.

Quem está bem, curte aos poucos e só faz o quer. Quem não está, como a maioria das pessoas na festa, se joga nesse poço de músicas sem conteúdo e carícias trocadas sem vontade.

Eu, o Matheus, todos presos nesse poço. Alguns mais fundo que outros. Alguns lutando para sair dele.

Beijei muitas bocas, mas não me recordo dos nomes dos seus donos.

Dancei muitas músicas, mas não me recordo das suas letras.

Bebi muitas bebidas, mas não me recordo dos seus sabores.

Na manhã seguinte, em meio à ressaca, quero uma candeia que ilumine minhas lembranças. Quero encontrar conexões entre memórias vagas. Faço um esforço e lembro-me de sirenes e uma ambulância. E do Matheus entrando nela.