Queria acreditar que as coisas que vêm acontecendo são apenas consequências do acidente. Porém, lá no fundo, sinto que há mais arranhando a superfície do trauma.

Os pesadelos se tornaram muito reais, como filmes agoniantes. Já não reproduzem somente meu carro arrastado pela correnteza e minha luta por sobreviver.

Tenho visto outras cenas perturbadoras quando fecho os olhos. Às vezes, vejo-as mesmo quando estou acordado.

Talvez tenha sido um erro investigar o acidente sofrido por Angela, pois agora sua imagem infantil, das fotos antigas, está cada vez mais nítida e estranhamente familiar. Muitas vezes, vejo-me como uma testemunha impotente de sua tragédia no rio.

Quando a pontada nauseante da enxaqueca emerge, penso que meu cérebro está fazendo um esforço para dizer algo.

Cogitei procurar ajuda profissional, confesso. Desisti por ora. O único psiquiatra em Boa Esperança é Teodoro Nogueira, noivo de Angela.

Seria impossível me abrir. Ainda mais quando já percebi que ele não gosta de me ver perto dela.

Teodoro deve me julgar um sujeito folgado, arrancando rebotalhos de atenção da sua futura esposa, com intenções que extrapolam o limite da amizade.

Não quero complicar ainda mais essa história, mas talvez o seu visível ciúme não seja totalmente infundado.