Hoje faz um mês que estou em tratamento psiquiátrico. O médico modificou a medicação, depois de minha família pleitear um novo tratamento, pois os antigos remédios haviam me transformado em zumbi. Isso melhorou meus reflexos e minha percepção do mundo a minha volta. Voltei a me sentir eu mesma, como se tivesse tirado férias da minha vida, mas agora estava me adaptando novamente às minhas neuroses. Não quero enlouquecer de novo. Sei que o que vivi foi tudo uma alucinação, e que realidade mágica não existe. No fundo isso é um pouco triste.

Meu psiquiatra me força a falar dos meus problemas. Eu me guardo e tento não me expor por inteira. Ele quer que eu fale sobre David, o que me magoa de certo modo, pois ele era meu somente, mas a medida que discorro sobre ele, sou obrigada a esmiuçar o verdadeiro significado da sua criação. Sim, pois tudo isso era fruto da minha mente. David nunca existiu. Ele nunca tramou a minha morte. Fui eu mesma. Ele nunca foi apaixonado por mim. Foi apenas um reflexo da minha carência afetiva e necessidade de interação humana. Ele sou eu e estou sozinha na multidão. Fim da estória. Patético.