O cachorro que sabia matemática

Sobre a escrivaninha, e entre duas infinitas pilhas de livros com cheiro a novo, um monte de castanhos cabelos balançados rolava sobre a mesma. Era desesperante, porém não muito longe de lá uns dóceis e atentos olhos verdes observavam a situação.

Era assim naquela tarde de domingo.

—Quero passear!

—Vá sozinho.

—Venha passear comigo!

—Não!

—VAMOS! Quero sair!

—Não.

—Nunca ouviu dizer que deve passear seu cachorro...

A garota desviou pela primeira vez a sua atenção do livro fitando o cachorro. 

—Você sabe muito bem que eu nem o considero meu cachorro.

Palavras frias e diretas.

O cão ali presente baixou de imediato as suas orelhas escondendo as no seu cabelo volumoso e seu focinho automaticamente ficou caído, fitando o chão.

Ela bufou e sem demora voltou os seus olhos para o livro cheio de números, símbolos e letras. Sim, foi precisamente quando letras e números se misturaram que a matemática deixou de fazer sentido para ela.

—Hmm...- a pressão que as patas do cachorro fizeram no colo da garota logo denunciaram a sua ação repentina.

—Saia.

—É de volta disto que estas à horas?-o canídeo olhou para a garota que o ficou com uma expressão de pura indignação.

—O que queres insinuar com isso?

—Você só tem de trocar o X para aqui e depois o 0...

As palavras que saiam naturalmente da boca do cachorro abriam caminhos luminosos na cabeça dela que ia ouvindo e escrevendo tentando não perder uma única das suas explicações.

—Só hoje, e porque me ajudou com as tarefas de casa, mas mesmo só hoje, eu te levo a passear.-ela desviou o rosto enquanto cruzava os braços.

O cachorro não pode conter a felicidade e deixou sua cauda abanar.