Histórias Cruzadas escrita por calivillas


Capítulo 7
Você não sabe de tudo




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— Por que estamos indo para essa tal cidade... Saint-Antoine? – perguntei assim que consegui respirar outra vez.

— Pelo o que você me disse – respondeu, eu ergo as sobrancelhas.

— Eu?! – Estou perplexa

— Sim, quando me disse que Sarah queria que cuidasse do garoto. Que precisava tentar descobri se ele é mesmo meu filho, falar com ele e apoiá-lo. Por isso estou indo para Saint-Antoine, pois era onde Sarah morou nesses últimos anos da sua vida, e fica a cerca de duas horas daqui.

— Mas, não era para fazer isso hoje, nesse momento! Você é sempre assim impulsivo?! – questionei, exasperada.

— Algumas vezes. – Deu de ombros, sem se abalar com a minha exaltação. - Não posso deixar passar essa oportunidade. O garoto deve estar confuso e deprimido por causa da morte da mãe. Talvez, fique perdido, faça alguma bobagem e acabe preso dessa vez. Ele precisa saber que tem alguém que se importa.

Eu sei que ele está certo, mas me arrastar com nessa empreitada, não era justo. Olhei fixamente pela janela, observando os bairros da periferia da cidade passar por nós em um borrão, considerando que gosto de estar no controle da minha vida, de saber exatamente o que fazer no instante seguinte, não sou espontânea, não tomo uma decisão e a sigo sem pensar ou planejar por um longo tempo, por isso, toda essa história está me deixando maluca, agindo como nunca fiz antes, seguindo esse homem impulsivo por lugares desconhecidos.

— Você está noiva há muito tempo? – Olivier perguntou, subitamente, quebrando o silêncio entre nós dois. Fitei-o como se não entendesse a pergunta. – Você me disse, além disso eu vi o anel quando abri sua mala, queria descobri a quem pertencia – justificou-se, mas não me importei porque fiz o mesmo. – Ele é bem grande! – Sorriu sem graça, pois também acho a mesma coisa, por isso ele não estava no meu dedo.

— Samuel, o meu noivo, às vezes, é meio exagerado.

— Imagino então como foi o pedido, com violinos ao fundo, o anel escondido em um bolo, seu noivo de joelhos.

— Não, não foi nada disso – Dou uma risadinha nervosa. – Samuel nunca faria algo parecido. Ele não é desse tipo de romântico.

— Existe mais de um tipo de romântico? – quer saber e eu dei de ombros. - Quer dizer que ele nunca a surpreenderia fazendo algo inesperado, um ato extremamente romântico ou algo parecido? – Não respondi, mas a resposta seria sim, porque jamais esperaria que Samuel fizesse um gesto espontâneo ou romântico, mas eu não me importo, pois sou muito chegada a surpresas. – Não somos esse tipo de pessoas, somos nada espontâneas.

— Estar sempre no controle pode ser bem cansativo e, muitas vezes, enfadonho – Olivier afirmou, com um sorriso cínico.

— Mas é confortável, saber o que esperar – rebati, confiante, pois é exatamente o que penso.

— Mas não existe esse total controle, pois nunca sabemos o que podemos encontrar ao virar uma esquina. Além de ser chato, sem emoção ou surpresa, a vida seria somente um cotidiano monótono, dias e dias se repetindo em uma rotina enfadonha e cansativa. – retrucou, olhando-me com aqueles olhos profundos, ele parecia querer implicar comigo

Não me importa para suas palavras, já que estou tão acostumada com o meu noivo, sempre tão seguro de si, demonstrando que sabe o que quer. Entretanto, tenho que confessar que Samuel me deixa bastante insegura, pois estou sempre com medo de decepcioná-lo, a ponto de vir para aqui correndo e andar atrás desse estranho, para que ele não descobrisse meu erro e ficasse desiludido comigo.

— E você, não teve ninguém depois da Sarah? – Mudei de assunto, rapidamente.

 Eu não resisti, afinal, estávamos sentados, frente a frente, no ambiente fechado do um trem, sem nada para fazer, a não ser admirar a paisagem de casas e ruas, lá fora. Todavia, arrependi-me assim que terminei fazer aquela pergunta muito boba, pois, é claro, que um homem como aquele não ficaria sozinho por tanto tempo. Olivier me dá um sorriso malicioso, fico um pouco inibida, ele percebeu isso e seu sorriso se alargou.

— Sim, houve várias mulheres com quem me envolvi ao longo dos anos, de um jeito diferente, eu amei a todas elas, mas nenhuma foi como Sarah. Ela foi e sempre será a primeira, minha revelação do amor, minha Eva, queríamos estar sempre juntos, o tempo todo, nos beijando e nos tocando.

— Até você abandoná-la – conclui e vi o seu sorriso desabar.

— Por que você tem sempre que me lembrar disso? Deixe-me cultivar minha fantasia em paz! – Sua expressão se transforma, ele está aborrecido.

— Desculpe-me, não foi minha intenção. Como descobriu o que havia morrido já que estava longe?

— Eu li nos jornais. Sarah era uma autora de livros infantis famosa aqui na Europa. Ela criou o Príncipe das galáxias, você conhece?

— Não. E o que você pretende conversar com o rapaz?

— Eu ainda não sei bem como poderia começar essa conversa, nem o que dizer a ele. – Vejo uma ruga de preocupação, surgindo entre seus olhos.

Lá fora a paisagem mudou completamente, passamos por uma zona mais rural, às vezes, atravessamos pequenas cidades, a luz do dia começa a diminuir lentamente. Consulto meu telefone, vejo que há algumas mensagens nele. Uma delas é de minha amiga Luana, estava aflita e me perguntou onde estou e por que não posso ir ao jantar de hoje à noite. Eu a aviso que surgiu um pequeno problema, nada sério, que contarei depois, não quero falar que estou no meio da França, indo para uma cidade chamada Saint-Antoine, junto a um inglês maluco e impulsivo, que pretendia resolver um problema de família de mais de dezesseis anos, assim, de repente, tudo isso para recuperar o meu anel perdido, seria muito complexo e ela me encheria de perguntas. Também, tenho uma mensagem de meu noivo Samuel dizendo que sente minha falta, leio e releio, fico feliz por ele ter se lembrado de mim no meio do seu dia atribulado, mas sinto uma pontinha de desapontamento, pois desejava um pouco mais de emoção nas suas palavras.

— Mensagem do seu noivo? – Olivier pergunta, adivinhando de novo.

— Como é que você soube?

— Pela sua cara de satisfação quando começou a ler, mas percebo que você não ficou tão feliz assim no final. Não foi como esperava? – Adivinhou e eu fico furiosa.

Como ele pode perceber isso? Muitas vezes, eu não me entendo, porque tenho um noivo maravilhoso e um futuro brilhante juntos, contudo, parece que sinto falta de algo mais que não sei o que é, sacudo a cabeça em negativa para afastar essa ideia.

— Você se enganou, pois está tudo bem – afirmei, ele me deu um sorriso cínico. – Você não sabe de tudo, sabia? – Não escondo minha irritação.

— Eu não falei nada – Sua expressão era divertida, ele estava zombando de mim. – Só notei sua decepção quando terminou de ler a mensagem. – Ele deu de ombros.

— Quem deu a você o direito de julgar minha expressão? Quem é você para falar de decepção? Somos só dois estranhos, quando voltarmos para Paris, vou pegar o meu anel e desaparecer da sua vida, nunca mais precisaremos nos encontrar!

— Calma, Gisele! – Ele ficou preocupado com a minha ira. – Vocês latinos são muito temperamentais. – E continuou me provocando, no entanto, não digo mais nada, cruzei os braços na frente do peito e desviei o meu olhar para a janela, fico assim por um bom tempo, até que uma voz metálica anunciar algo que não entendo.

— Estamos chegando – Olivier traduziu a informação do alto-falante, pressentia toda sua ansiedade.

— O que fará agora? – queria saber, vendo a nuvem de aflição pairar sobre seus olhos.

— Vou até onde David mora e tentar falar com ele – O plano parecia muito simples, mas tinha minhas dúvidas se seria tão fácil assim.

Quando desembarcamos já começava a escurecer, e eu estava convencida que não poderia voltar para Londres, por isso, descolaria um hotelzinho para passar a noite, assim que regressasse à Paris e, felizmente, teria roupas limpas na minha mala que estava com Olivier. E, na manhã seguinte, bem cedo, voltaria para Londres para o ensaio do casamento da minha amiga.

Seguíamos em um táxi, calados, e eu admirava a cidade, que era pequena e devia ser antiga, pois ainda possuía um toque medieval em algumas das suas construções de pedras, portas e janelas pequenas e muitas flores por todo lado, até pararmos diante de uma casa de dois andares, com arbustos de buganvila em cores vivas seu pequeno jardim frontal.

O portão fechado não foi um empecilho, pois, naturalmente, Olivier o abriu e tocou a campainha da porta. Demorou alguns instantes, para o mesmo homem que ele socou no enterro, pela manhã, viesse nos atender e dando um passo para trás, esquivando-se, com uma cara de pavor, ao ver Olivier diante dele.


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