Primavera escrita por LadyHawk


Capítulo 1
Dorminhoca


Notas iniciais do capítulo

Ouvi em algum lugar que as Begônias, que são florzinhas adoráveis, costumam dormir durante o inverno e acordarem na primavera.E muita gente costuma molhar as coitadinhas para verem se elas acordam, mas só estão dormindo. Alguns até jogam as coitadas fora pensando que estão mortas kkjdfkk. A partir disso, escrevi este pequeno texto. Enjoy e muita gratidão!



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A flor havia perdido as esperanças. Era a única flor daquela primavera que ainda não havia florescido. Todo o jardim estava preenchido por flores encantadoras e ela, somente ela, se recusava a florescer. Preferia dormir no solo como fazia no inverno do que ter que florescer. Do que ter que abrir seus botões e se mostrar para o mundo.

Ela sabia que sua vida seria breve. Um mero sopro de vento e tudo se perderiam pelos ares. Estar embaixo da terra era muito mais agradável, no entanto. A única flor de todo o jardim que odiava a primavera, odiava ter que se transformar e ter uma vida breve na superfície daquele gigantesco jardim.

Desejou, por muitas vezes, ser uma flor de plástico. Uma flor decorativa. Que fica por anos estampada em qualquer lugar. Uma flor artificial que faz a alegria daquele que a possui por alguns segundos e depois é colocada de canto para decorar ambientes superficiais.  Não queria que suas pétalas se desmanchassem e se tornassem pálidas.

Ouvia o chamado constante das outras que brotavam dizendo-lhe para que ela fizesse o mesmo. Mas não queria sair. A terra era morna e escura. Não estava pronta para a primavera, nunca esteve pronta.

O Jardim, na superfície, havia se tornado um atrativo aos olhos. Inclusive, aos olhos daquele que as cultivava. Ele amava a primavera, e amava as flores que vinham junto com ela.

As outras continuavam a chamá-la. E ela queria continuar dormindo. E se ela fosse uma flor defeituosa? Mas é claro que ele não ligaria para isso. Contudo, sua vida seria breve e duraria apenas uma primavera.

Todas preenchiam seus respectivos espaços, porém, o dela, que deveria estar preenchido por sua presença que as outras consideravam estonteante, estava vazio.

''Onde está você, senhorita? Está na hora de acordar, vamos!’’

Parecia um insano. Conversava com elas. Importava-se com elas como nenhum outro. Deveria estar pronta para sair... Mas por que não estava?

''A primavera é breve, senhorita. Voltarei aqui amanhã para ver se você tomou coragem de mostrar as suas pétalas’’

Ele amava a primavera, e amava cigarros. As outras gostavam daquilo e ela vivia a se perguntar se gostaria da mesma forma. Odiava como ele parecia insano. Não deveria se importar tanto com flores, se nenhum outro se importa.

'' Levante suas pétalas deste solo, companheira. Ele quer ver você’’

''Por que tenho que acordar?''                                                       

''Por que a primavera é breve, e a vida também’’

''Ás vezes, queria ser uma florzinha artificial daquelas que não tem vida, sabe?’’

''Você deveria agradecer por nascer em um jardim como esse. Que tipo de pessoa se importaria assim. Ele é louco, mesmo. E o cigarro... Não se preocupe. Com o tempo, você aprende a apreciá-lo’’.

 ''É exatamente por ser breve que não quero florescer, Rosa’’.

''Mas pense nele. Ele adoraria ver você, maravilhosa como é, preenchendo a parte que falta neste jardim, begônia. E qual o problema em a primavera ser breve? Tudo é breve, inclusive, a nossa vida’’

''Quem sabe amanhã?’’

''Amanhã? Se eu fosse você, começava hoje. Sabe-se lá se ele estará vivo amanhã. Do jeito que ele é, vai acabar se matando’’.

''Ele é tão assim?’’

''Ele é louco, mas é consciente sobre nós. Somos tudo para ele’’.

''Então ele vai ficar bem... Mas, preciso pensar se quero florescer’’

''Pense rápido’’

Begônia ficou pensando se deveria sair do solo e florescer. Começou a pensar. Pensou muito. Pensou demais. Pensou infinitamente muito.

A primavera estava passando e, neste tempo, ele passou para ver as flores. Cuidava delas. Conversava com elas. E encarava a caverna da begônia tímida e insegura com curiosidade.

''Deixa eu te contar uma coisa que, talvez, te motive a levantar e me presentear com sua ilustre presença. A maioria das pessoas, talvez o mundo inteiro, planta begônias e, quando elas entram em repouso e desaparecem, elas acham que elas estão mortas. E sabem o que elas fazem? Simplesmente jogam fora. Jogam fora uma begônia viva que só está dormindo. Isso é um absurdo. E, alguns, que acham que plantas morrem de sede o tempo todo, molham o solo na esperança delas florescerem. Todos querem tudo muito rápido. Ninguém sabe esperar o tempo de uma flor. Pense comigo: Você poderia ter sido plantada em um jardim que ninguém se importa. Poderia estar recebendo uma chuva de raios de sol e morrer queimada. É certo pensar que a vida de uma flor é breve, mas pense, morrer queimada é a pior forma de morrer, concorda? Eu poderia colocar você em uma chuva de sol, poderia te encharcar, mas eu acho que sou uma boa pessoa com todas vocês e vou esperar o seu tempo... Só espero que floresça nesta primavera, senhorita’’

As outras ficaram boquiabertas com o discurso daquele que as cultivava. Inclusive, a senhorita begônia.

''Viu só? Ele se importa com você e olha que você nem esta aqui fora. Nós temos sorte. Tenha gratidão’’

A begônia se encontrava sem palavras. De repente, ficar dentro daquela casca se tornou desconfortável. Tornou-se incomodo. Toda uma primavera presa em uma casca. Precisava sair e ele precisava vê-la. Queria vê-lo novamente. Queria sentir o cheiro do cigarro que ele tragava. Tinha sorte, por que não aproveitá-la?

Quebrou a casca. Todas ouviram o barulho e duvidaram de que realmente fosse a casca dela se quebrando. Um primeiro broto surgiu na superfície do solo.

Pela primeira vez depois do longo inverno, a begônia tinha certeza de seu propósito.

As outras dormiram. E, durante a noite, ela abriu os botões e se tornou uma bela flor, com pétalas de várias cores.

Todos teriam uma surpresa no dia seguinte.

O dia amanheceu as outras acordaram e ficaram maravilhadas com a begônia reluzente exibindo suas pétalas.

''Então você decidiu viver a primavera?’’

''Decidi viver e ouvir mais claramente os assuntos daqui de cima. Sinceramente, nada conseguia ouvir lá de baixo’’

A Rosa riu.

E ele chegou, com um cigarro aceso entre os lábios. Os olhos negros brilharam ao ver a begônia, finalmente, florescida. O amor dele a fez florescer um pouco mais.

''Olá, senhorita. Que alegria tê-la em meu jardim. Aproveite a primavera’’

''Olá!”

''Me disseram que você queria ser uma flor de plástico. Mas elas não são tão bonitas quanto as reais, sabia?''

Ao ouvir e ver a felicidade estampada nos olhos dele, ela se sentiu feliz. E, pela primeira vez, a primavera nunca havia sido tão florida.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler até o final meu textinho. E, como flores me remete a gratidão, então, Gratidão ♥



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