How to get away without inspiration escrita por Jó Francisco
(3 MESES ANTES)
Wes entra na sala de aula, está uma confusão enorme. Muita gente em volta da mesa destinado ao professor, alguns conversando, outros lendo algum livro enquanto ignoravam o que estava acontecendo ao redor. Viu um lugar lugar vago bem na frente e foi sentar-se lá. Virou-se para a menina que estava lendo ao seu lado e tentou puxar conversa:
— Os que sentam na frente normalmente são os melhores, não?
— Eu estou noiva e não tenho interesse – mostrou o anel de noivado – vou te atualizar: tem uma lista ali na mesa, os lugares são mapeados – virou a página do seu livro tranquilamente como se ele não estivesse mais ali.
Ele foi em direção a mesa lançando à moça um olhar de incrédulo. Viu seu lugar e foi o tempo de se virar para todo o mundo ficar de repente agitado e correr para os seus devidos lugares. Ouvia-se de longe um barulho de salto.
Alguém entra violentamente na sala. Faz-se um silêncio descomunal, como se todos estivessem em uma biblioteca. Só o barulho do salto da mulher podia ser ouvido.
— Eu não sei quais tem sido os terríveis livros que vocês andam lendo até este momento. Eu me chamo Annalise Keating e esta é a disciplina de Escrita Criativa 1, ou como eu gosto de chamar – escreveu algo no quadro e depois lendo o que estava escrito disse – How to get away without inspiration.
Calmamente sacou uma prancheta de sua bolsa e fez uma varredura rápida no papel e depois na sala lotada, fazia uma leitura breve de cada um. Ninguém ousava dizer nada. Wes - que nunca tinha lido um único livro da Professora Keating ou ouvido falar sobre o trabalho dela, estava em completo choque com a postura de todo o mundo em relação a mulher ali de pé.
— Não sou como os outros professores dessa Universidade que ensinam como teorizar sobre a escrita, eu vou ensinar a vocês na prática como é que se dá a escrita – andava tranquilamente de um lado para o outro com a prancheta na mão. Todo o mundo anotava tudo o que ela dizia (até as pausas que fazia para respirar) - dizem que escrever é muito simples. Talvez realmente o seja, não, - leu o papel e completou - senhorita Pratt?
A menina com quem Wes tentou conversar levantou e disse:
— Discordo totalmente deste discurso, Professora Keating. Escrever vai muito além do que juntar palavras e dizer que quis dizer isso ou aquilo com tal frase. Acredito que...
— Obrigado, Senhorita Pratt.
A moça sentou-se muda.
— Quem aqui leu "A hora da estrela" de Clarice Lispector?
Todos levantaram as mãos, menos Wes.
— O que se pode aprender sobre escrita com o Narrador... - mais uma vez todos levantaram as mãos - senhor - consultou o papel novamente - Wes Gibbins.
Todos olhavam em direção a ele - obviamente tinham decorado o nome e o lugar de cada um de seus competidores.
Ele levantou meio sem jeito e disse:
— Clarice...
— Não estou falando de Clarice, senhor Gibbins.
— Mas a senhora...
— Me referi ao Narrador de "A hora da estrela", o que espero que o senhor saiba a óbvia diferença entre narrador e autor. Assim como espero que o senhor tenha lido o livro como previamente solicitei por e-mail e agora eu pergunto novamente: o que se aprende sobre escrita ao ler o livro "A hora da estrela"?
Wes gagueja algo e fica mudo.
— Pense, senhor Gibbins, não é nada além de senso comum.
Alguém diz:
— Ele obviamente não leu o livro. Rodrigo S. M. explora o processo criativo e construtivo da escrita.
Annalise respira fundo diz:
— O gênio que respondeu isso pode ficar de pé e dizer o seu nome?
— Laurel. Castillo.
Annalise a encara por um tempo e depois diz:
— Não tire a oportunidade de alguém aprender alguma coisa aqui apenas para demonstrar sua genialidade, senhorita Castillo.
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