Girls and Blood — Reimagined Twilight escrita por Azrael Araújo


Capítulo 3
Two




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/743587/chapter/3

Meu coração disparou subitamente.

Eu atravessei a sala para entregar minha caderneta a professora, a observando de maneira discreta. De um segundo para o outro, ela ficou rígida em seu lugar, os ombros tensionados, a expressão hostil. Seus olhos me transmitiam uma repulsa que não consegui entender. Não sabia se ela havia me visto observá-la então desviei o olhar, tentando não corar. A professora me devolveu a caderneta, me passou um livro e me mandou sentar — pasmem — no único lugar vago, ao lado da ruiva que me olhou novamente, a expressão completamente em fúria. Os olhos pretos como carvão pareciam querem me fuzilar.

Desviei o olhar, chocada, ruborizando de novo.

Mexi os cabelos desconfortavelmente, enquanto me remexia na cadeira. Ao meu lado, senti ela ficar rígida novamente e puxar sua cadeira para longe de mim.

Revirei os olhos e abri o livro, tentando focar no que a Sra. Branner falava — mas sempre espiando a estranha ao meu lado. Ela franzia o nariz repetidamente, como se sentisse um cheiro ruim.

Certamente não era meu, querida.

Remexi o cabelo novamente sentindo minha fragrância de morango. Talvez ela não gostasse da essência de frutas, pensei. Ou talvez ela não gostasse de gente.

Durante toda a aula, ela não relaxou um minuto da postura rígida na ponta da cadeira.

A grande mão pálida estava fechada em punho em cima da coxa esquerda, os tendões sobressaindo por baixo da pele. Reparando em seus braços expostos pela blusa clara, não deixei de notar o quanto a pele era perfeita. Não havia nenhuma sarda, nenhuma cicatriz. 

Fiquei me perguntando qual o problema com ela. Às vezes ela ficava tão imóvel que sequer parecia respirar.

De qualquer forma, isso não podia ter nada a ver comigo. Ela nunca tinha me visto na vida. 

Quando a aula finalmente chegou ao fim, eu fechei o livro e vacilei meu olhar em sua direção uma última vez. Ela estava me olhando de cara feia, os olhos cheios de repugnância. Enquanto eu me encolhia para longe do ódio que irradiava dela, a expressão se um olhar matasse passou pela minha cabeça. 

Então o sinal tocou e Edythe Cullen saiu da carteira. Ela se movia como uma maldita dançarina, pulando para fora da sala em segundos.

Mas o que havia acabado de acontecer?

Ela era tão grosseira. 

— Você não é Isabella Swan? — perguntou uma voz masculina. 

Olhei para cima e vi um garoto bonitinho com cara de bebê, o cabelo cuidadosamente alisado em uma cortina louro-clara, sorrindo para mim de maneira simpática. Ele obviamente não achava que eu cheirava mal. 

— Sim — disse, com um sorriso. 

— Meu nome é Mike. Newton.

— Oi, Mike.

— Qual sua próxima aula? 

— Vou para a educação física. 

— É minha próxima aula também. — Ele pareceu animado e eu ergui uma sobrancelha em questionamento. 

Fomos para a aula juntos e eu tinha que admitir que havia gostado dele. Ele bastante falante.

Até o momento em que ele tocou no assunto que eu tentava ignorar. 

— E aí, você furou a Edythe Cullen com um lápis ou o quê? Nunca a vi agir daquele jeito.

Eu me encolhi lembrando de seu olhar cheio de nojo para mim. Decidir me fazer de burra. 

— Era a garota do meu lado na aula de biologia? 

— Era — disse ele. — Parecia que estava sentindo alguma dor, sei lá. 

— Não sei — respondi. — Não falei com ela. 

— Ela é estranha. — Mike se demorou ao meu lado em vez de ir para o vestiário. — Se eu tivesse a sorte de me sentar do seu lado, conversaria com você. 

Eu sorri para ele mais verdadeiramente dessa vez e me virei para o vestiário feminino. 

A professora de educação física, treinadora Clapp, me explicou a dinâmica das aulas e sobre como eu poderia me dar bem jogando futebol aqui. Em Phoenix eu joguei por dois anos na minha antiga escola, então ela ficou animada com a possibilidade de um acréscimo no time. 

Fiquei assistindo a uma partida de times mistos até que o último sinal finalmente tocou. Andei devagar para a secretaria para entregar minha caderneta. A chuva tinha ido embora, mas o vento estava forte e mais frio. Fechei o casaco e enfiei a mão livre em um bolso.

Quando entrei no escritório aquecido, quase me virei e saí. 

Edythe Cullen estava parada junto à mesa na minha frente. Era impossível não reconhecer o cabelo alaranjado brilhante. Ela não pareceu reparar no som da minha entrada. Fiquei encostada na parede de trás, torcendo para que o recepcionista ficasse livre. 

Ela estava discutindo com ele numa voz baixa e aveludada. Logo peguei a essência da discussão. Ela tentava trocar a aula de biologia para qualquer outro horário — qualquer outro.

Meu coração afundou.

Não podia ser por minha causa. Era impossível que uma estranha pudesse ter uma repulsa tão súbita e intensa por mim. 

A porta se abriu de novo, e o vento frio soprou pela sala, balançando os papéis na mesa, balançando meu cabelo. A menina que entrou limitou-se a ir até a mesa, colocou um bilhete na cesta de arame e saiu novamente. Mas Edythe Cullen enrijeceu as costas e se virou lentamente para olhar para mim com olhos penetrantes e cheios de ódio. Por um momento, senti um arrepio de medo genuíno, que eriçou os pelos dos meus braços. Como se ela fosse puxar uma arma e atirar em mim. O olhar só durou um segundo, mas foi mais gelado do que o vento frio. Ela se virou para o recepcionista. 

— Então deixa pra lá — disse, rapidamente, numa voz de seda. Então, virou-se sem olhar para mim, e desapareceu porta afora. 

Fui até a mesa e entreguei a caderneta assinada. 

— Como foi seu primeiro dia, filha? — perguntou o recepcionista. 

— Bom — menti, a voz falhando. Consegui ver que não o convenci. 

Quando fui para o Tracker, era quase o último carro no estacionamento. Virei a chave e voltei para a casa de Charlie, tentando não pensar em nada. 

No dia seguinte, me senti melhor.

Ainda não estava chovendo, apesar de as nuvens estarem densas e pretas. A garota Riley sentou comigo na aula de inglês e me acompanhou até a aula seguinte, com Erica a olhando de cara feia o tempo todo — me senti meio lisonjeada. No almoço sentei novamente com Riley e um grupo que agora incluía Mike, Erica, Jeremy, Angela e vários outros amigos de Riley.

Mas depois do almoço voltei a me sentir mal — Edythe Cullen não foi à escola.

A garota Riley me acompanhou novamente até a aula de biologia e eu agradeci mentalmente por isso. Ela era divertida e carismática e parecia gostar de me fazer sorrir. Quando o sinal tocou, lhe lancei um sorriso tristonho enquanto ela saía da sala e corria para a sua própria aula.

Fiquei feliz por ter a carteira só para mim, por Edythe estar ausente, mas não conseguia me livrar da sensação irritante de que eu era o motivo da ausência dela. Era ridículo e impossível.

Quando o dia de aula enfim terminou — e o rubor pela forma como todos me parabenizaram pela partida de futebol desapareceu do meu rosto — saí correndo do vestiário, e andei rapidamente para o estacionamento. Na volta pra casa, passei no supermercado — de que super não tinha nada — e comecei a preparar o jantar.

Meu celular vibrou e eu corri para pegá-lo enquanto largava a faca em cima do balcão. Duas mensagens apareceram na minha caixa de e-mails.

 

Querida, está tudo bem? Você chegou bem? Como vai a escola?

Porque ainda não me escreveu?

O México é lindo. Quero saber notícias suas.

Phil manda lembranças.

Mamãe.

 

Respirei fundo, pensando no que responder.

 

Mãe, calma.

Está tudo ótimo, a escola não é ruim e conheci umas pessoas legais que almoçam comigo.

Charlie comprou um carro para mim, dá para acreditar? É demais.

Vou escrever novamente logo, mas não vou ficar verificando meus e-mails a cada cinco minutos, okay?

Eu te amo.

 

O segundo era de dois dias atrás. Meu coração parou por um segundo quando vi de quem era.

 

Bells.

Como vão as coisas no buraco verde e úmido? Sinceramente ainda não acredito que você fez isso.

Eu poderia chutar a sua cara.

Me desculpe por, você sabe, não ter ido me despedir. Eu sei que sou idiota.

Mas me dê notícias suas, algum sinal de vida não seja uma vaca como a sua melhor amiga.

Sinto sua falta todos os dias.

Com amor, Lauren.

 

Encarei o celular por alguns segundos, as palavras presas em minha garganta. Suspirei, sem saber o que fazer a seguir.

 

Lo...

O buraco verde e úmido é... Bem, úmido. Acreditaria se eu dissesse que vi um esquilo verde?

Eu fiz o que deveria ser feito, me desculpe por isso. Nós duas sabemos que foi melhor para todos.

Você pode me ligar se quiser, não é como se eu só respondesse e-mails apesar da minha melhor amiga ser uma vaca que odeia ligações.

Sinto sua falta também.

 

Suspirei, pousando a minha testa sobre a bancada. Meu peito apertava em saudades.

Ouvi a porta da frente ser aberta e voltei para o mundo real, correndo para terminar de preparar o jantar.

— Querida, é você? — perguntou Charlie.

Quem mais seria?, pensei comigo mesma.

— Oi, pai. — ele me deu um sorriso enquanto pendurava o cinturão da arma e tirava as botas. Pelo que eu sabia, ele nunca disparou a arma no trabalho. Mas a mantinha preparada. Quando eu era criança e vinha aqui, ele sempre retirava as balas assim que passava pela porta. Acho que agora me considerava velha o bastante para não atirar em mim mesmo por acidente, nem deprimida o bastante para atirar em mim mesma de propósito.

Não que eu precisasse — alô, eu estava com uma faca na mão.

Ficamos em silêncio enquanto comíamos. Ele tirou a mesa enquanto e se ofereceu para lavar a louça. Eu subi sem nenhuma vontade de fazer o dever de matemática, depois adormeci rapidamente, exausta.

O resto da semana foi calmo. Eu me acostumei com a rotina das aulas. Na sexta-feira, já conseguia reconhecer e me lembrar do nome de quase todos os alunos da escola. Na educação física, as pessoas do meu time começaram a me parabenizar sempre, depois das aulas e a treinadora Clapp me ofereceu uma vaga oficial no time da escola.

Ah, e claro, Edythe Cullen não voltou à escola.

Ainda na sexta, soube que Mike estava organizando uma viagem a uma das praias de La Push e fui convidada — confesso que só aceitei depois de Riley me convencer a ir.

Meu primeiro fim de semana em Forks prosseguiu sem incidentes. Charlie trabalhou na maior parte do tempo. Escrevi mais e-mails falsamente animados para minha mãe — Lauren não havia me respondido —, e arrumei a casa; obviamente, Charlie não tinha os meus problemas de TOC.

A chuva continuou branda pelo fim de semana, tranquila, então consegui dormir.

As pessoas me cumprimentaram no estacionamento na segunda-feira de manhã. Eu não sabia o nome de todos, mas sorri para todo mundo. Estava mais frio naquela manhã, mas pelo menos não estava chovendo. Na aula de inglês, Riley tomou seu lugar de costume ao meu lado e eu sorri verdadeiramente feliz por ela estar ali. Teve um teste relâmpago sobre O morro dos ventos uivantes. Foi simples, muito fácil — eu descobri que Riley também gostava de literatura.

Quando saímos da sala de aula, o ar estava cheio de pontinhos brancos rodopiando. Eu podia ouvir as pessoas gritando animadas umas com as outras. O vento congelava meu rosto, meu nariz.

— Puxa — disse Riley. — Está nevando.

Olhei para os pequenos tufos de algodão que se acumulavam pelas calçadas e giravam erraticamente por meu rosto.

— Ugh. Neve. Lá se foi meu dia bom.

Ela pareceu surpresa.

— Não gosta da neve?

— Neve significa que está frio demais para chover. — Obviamente. — Além disso, pensei que devia cair em flocos... Sabe como é, cada um é único e essas coisas. Isso aqui só parece ponta de cotonete.

— Você nunca viu neve cair? — perguntou ela, incrédula.

— Claro que vi. — Eu hesitei. — Na TV.

Ela riu e eu não puder evitar acompanhá-la.

Estar com ela era fácil.

Seguimos para nossas aulas e depois fui para o refeitório com Jeremy depois da aula de espanhol. Voavam bolas de neve por todos os lados. Na porta do refeitório, fui pega desprevenida.

A garota Riley me atingiu em cheio com uma bola empapada. Pisquei surpresa por um segundo a encarando e ela sorria de forma insegura pra mim, até que explodi numa gargalhada e ela me acompanhou, balançando meu cabelo — agora molhado — e passando um braço ao redor dos meus ombros enquanto entrávamos com Jeremy bem atrás, também ensopado.

Ele e Mike começaram a conversar animadamente sobre a guerra de neve enquanto entrávamos na fila para comprar comida. Olhei a mesa do canto  ais afastado, mais por hábito, e gelei. Havia cinco pessoas à mesa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

https://fanfiction.com.br/historia/731598/I_Hate_You_I_Love_You/

https://fanfiction.com.br/historia/727887/The_Blood_Of_My_Enemy/


TT @pittymeequaliza



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Girls and Blood — Reimagined Twilight" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.