Girls and Blood — Reimagined Twilight escrita por Azrael Araújo


Capítulo 21
Twenty




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Eu paralisei com suas palavras.

Okay, é claro que não é como se eu fosse manter aquilo em segredo. Não é como se isso fosse um segredo, certo?

Então porque eu me sentia tão culpada?

Ela ergueu os olhos para mim, a testa franzida com força como se sentisse grande incômodo.

— Eu... — deixei meus ombros caírem, sem ação — Er... Não sei o que dizer.

— Não quero que... — ela respirou fundo — Não quero que me diga nada. Nem sei se realmente... Urgh, vamos deixar isso pra lá. Foi estupidez trazer a tona.

Ela desviou os olhos para a janela no fundo do quarto por onde a lua brilhava.

Nunca a vi lutar tanto com as palavras. Era tão humano.

Fechei os olhos por um segundo, reunindo a coragem necessária. Tínhamos que falar sobre isso — fugir não resolveria e eu não queria começar essa relação dessa forma.

Relação.

— Edythe. — eu falei com a voz firme, atraindo sua atenção — Eu... Eu não sabia que você sabia.

Ela sorriu minimamente devido a minha frase confusa, mas logo voltou a ficar séria.

— Eu não fui embora, como disse que faria. Perdoe-me, eu não queria espionar você, mas... A garota Biers... Só fiquei com receio de que ela fizesse algo contra você.

Ela me olhou com olhos culpados, em um pedido de desculpas.

— Eu entendo isso, não precisa se desculpar.

Ela assentiu pra mim na escuridão, o rosto voltando a se franzir. — Eu não sabia que ela faria aquilo. A Riley só chegou e... — balancei a cabeça, lembrando daquela noite. A forma como Riley me olhava naquela noite, suas mudanças repentinas de humor.

Ela pareceu suspirar, sorrindo de forma carinho. — Archie viu o que aconteceu, sabe. Quando a Biers foi embora, eu acelerei pra casa e Archie me esperava na porta. — balançou a cabeça — Me perguntou porque eu não tinha interferido, porque eu deixei que vocês se beijassem mesmo sabendo que Biers estava alterada.

Olhei para ela atentamente agora. Ela parou por alguns segundos, fechando os olhos novamente e segurando minha mão contra sua bochecha. Eu queria confortá-la, queria abraçá-la e dizer que aquilo não havia significado nada.

— Eu disse a ele que... Por mais que a cena me corroesse, eu não poderia impedir. Se você estivesse sendo feliz, eu não poderia impedir. Afinal, se sua felicidade fosse ficar com a Biers, com Taylor, Mike... Eu poderia impedir?

Eu suspirei, finalmente entendendo onde ela queria chegar.

Senti vontade de me chutar ao pensar no quanto ela deve ter se sentido mal por presenciar aquilo. Permanecemos em silêncio por um minuto, agora minhas duas mãos acariciavam seu rosto.

Ela era... Preciosa. Dona de tudo em mim, pensei com um sobressalto. Eu a amava, amava irrevogavelmente e não poderia mais sequer respirar sem que isso me fizesse pensar nela.

Eu era uma maldita apaixonada, como Lauren diria.

Concentrei-me em Edythe novamente e ela abriu os olhos, me atingindo com força. Eles brilhavam em fúria, desejo. Senti meu corpo inteiro tremer e o calor se espalhar por meu rosto e pescoço.

— Mas eu vi a forma como você afastou ela. — Edythe sussurrou, aproximando-se do meu rosto — Eu vi a forma como você a empurrou para longe, como rejeitou seus lábios. Porque... Oh, querida... Eu entendi que você não a queria, não como você me quer. — ela afastou minhas mãos de seu rosto e colou os lábios aos meus, roçando levemente enquanto falava. Eu continuava perdida em seus olhos, como dois poços cheios de ouro que eu queria roubar para mim — Você não a olha como olha pra mim.

Os calafrios que percorreram meu corpo não tinham nada a ver com a brisa gelada que entrava pela janela.

— Mas... Eu realmente gostaria de ouvir isso de você. — ela desviou os olhos para meus lábios e quando me encarou novamente, seus olhos eram puro ouro líquido — Diga-me que é a mim que você quer.

Seus lábios roçavam nos meus e eu só conseguia me concentrar nela — eu estava realmente embriagada com sua presença.

— Diga.

— O... O quê? — perguntei, tonta.

Ela sorriu parecendo satisfeita com o poder que tinha sobre mim. — Apenas me responda, sim? — ela esperou meu assentir — Você gosta da Riley Biers, mas você a quer? Ou me quer...?

— Eu amo você, Edythe Anthoniele Masen Cullen. — eu sussurrei respirando forte.

Ela pareceu surpresa — sim, eu sei o seu nome completo — e num movimento súbito pressionou sua boca contra a minha.

Eu ergui as mãos em direção a seus cabelos, mas ela foi mais rápida e jogou-se contra mim. Deitou seu corpo frio em cima do meu, as mãos prendendo as minhas acima da minha cabeça. Eu arquejava entre o beijo e quando precisei respirar, ela desceu os lábios pela minha mandíbula, mordendo de leve meu queixo e voltando a se concentrar em meus lábios. Eu podia sentir suas curvas contra as minhas e mais que isso — a deliciosa sensação de desconforte em certas regiões que seus movimentos provocavam. Novamente ela desceu os lábios, dessa vez em direção ao meu pescoço e em meio a beijos, eu pude ouvir um som muito parecido com um ronronar de um gato.

Eu arquejei novamente, sentindo seus dentes pressionando meu pescoço.

— Tenho vontade de morder você inteira. — ela sussurrou, e eu não contive um gemido alto.

Edythe usou os próprios lábios para me silenciar, mas seu corpo inteiro tensionou sob o meu e ela se afastou minimamente, o rosto a alguns centímetros do meu.

Olhei-a confusa por um segundo, quase implorando para continuarmos.

— Charlie está subindo. — ela esclareceu.

Praguejei mentalmente e ela se sentou, me puxando com ela. Ouvi os passos pesados de Charlie contra o corredor e, segundos depois, sua voz bradando do outro lado da porta destrancada.

— Querida? Tudo bem aí?

— Er... Sim, sim. Tudo certo, pai.

— Pensei ter ouvido um barulho. — eu podia ouvir a especulação em seu tom.

— Eu só... Tropecei, mas já estou indo pra cama.

— Tem certeza de que está tudo bem? Posso entrar...?

— Não! Quero dizer... Estou meio, meio que nua aqui, pai.

Silêncio.

Eu lancei um olhar mortal para a vampira a minha frente que parecia se divertir com a situação.

— Oh, é claro. — a voz de Charlie começou a se afastar — Então, tudo bem. Se precisar de algo...

— Eu procuro você.

Ficamos em silêncio enquanto Edythe — provavelmente — esperava que meu pai descesse as escadas e voltasse ao que quer que estivesse fazendo lá embaixo.

Ela sorriu para mim, mas eu revirei os olhos um pouco constrangida com toda a situação. Edythe lançou-me um olhar rápido, subindo de minhas pernas descobertas até meu rosto ainda corado e respirou fundo.

— Estamos resolvidas? — perguntei, meio relutante.

Ela apenas assentiu. — Posso pegar um cobertor emprestado?

Demorei um segundo.

— Ah, hã, claro. Aqui.

Estiquei a mão para trás dela, peguei a colcha que estava dobrada no pé da minha cama e ofereci para ela. Ela pegou o cobertor e o abriu, depois entregou para mim.

— Eu ficaria mais feliz se soubesse que você está... Confortável.

— Estou muito confortável.

Por favor.

— Isso é alguma desculpa pelo fato de eu estar seminua? — arqueei uma sobrancelha.

Ela suspirou. — Sim, e isso está acabando com a minha sanidade.

— Oh. Entendi. — Joguei a colcha nas costas, como uma capa.

Ela riu baixinho.

— Não era bem o que eu estava pensando.

Ela já estava de pé, arrumando a colcha sobre as minhas pernas e puxando até os meus ombros. Mas, antes que eu pudesse entender o que ela estava fazendo, ela tinha subido na cama e me aninhado contra seu peito. A colcha era uma barreira para qualquer ponto no qual nossa pele pudesse se encostar.

Oh, certo.

— Melhor? — perguntei.

— Não tenho certeza disso.

— Bom o bastante?

— Melhor do que isso.

Eu ri. Ela acariciou meu cabelo.

— Sabe... É tão estranho — disse ela. — Você lê sobre uma coisa... ouve sobre isso nas mentes das outras pessoas, vê acontecer com elas... e isso não prepara você nem um pouco para a experiência em si. A glória do primeiro amor. É mais do que eu esperava.

— Bem mais — concordei com fervor.

— E as outras emoções também. O ciúme, por exemplo. Eu achava que entendia claramente. Já li sobre isso umas cem mil vezes, vi atores o retratarem em mil peças e filmes, ouvi nas mentes ao meu redor diariamente. Até senti de forma superficial, desejando ter o que não tinha... Mas fiquei chocada. — Ela fez expressão de irritação.

Assenti, ouvindo-a.

— Fiquei surpresa com o surto de ressentimento, quase de fúria, que senti quando vi a Biers beijando você. Inicialmente, não reconheci o que era. Eu não sabia que o ciúme podia ser tão poderoso... tão doloroso. E aí, você a recusou, e eu não sabia por quê. Foi pior do que de costume não conseguir ouvir o que você estava pensando. Foi por minha causa? Haveria outra pessoa? Eu sabia que não tinha o direito de me importar nem com uma coisa, nem com outra. Tentei não me importar.

Ela olhou para mim.

— Quando salvei você da van... Foi a primeira noite em que vim aqui. Eu lutei a noite toda, vendo você dormir, com o abismo entre o que eu sabia que era certo, moral, ético, honrado, e o que eu queria. Sabia que, se continuasse a ignorá-la, como deveria, ou se me afastasse por alguns anos, até que você fosse embora, um dia você encontraria alguém que quereria, alguém humano como a Biers. Isso me deixou triste.

A voz dela baixou a um sussurro ainda mais baixo.

— E então, enquanto você estava dormindo, disse meu nome. Falou com tanta clareza que no começo pensei que estivesse acordado. Mas você se virou inquieta e murmurou meu nome mais uma vez, e suspirou. A emoção que me tomou depois foi enervante... perturbadora. E eu sabia que não podia mais ignorar o que sentia por você.

Ela ficou em silêncio por um minuto, provavelmente ouvindo o martelar irregular do meu coração.

— Mas o ciúme... é tão irracional. Agora há pouco, quando Charlie mencionou aquela garota irritante...

— Aquilo deixou você com raiva. Sério?

— Sou nova nisso. Você está ressuscitando a humana em mim, e tudo parece mais forte porque é novidade.

— Mas, sinceramente, isso incomodar você, depois de eu ter que ouvir que Royal... Royal, o modelo do ano, o Sr. Perfeito, Royal era para ser seu. Com ou sem Eleanor, como posso competir com isso?

Os dentes dela brilharam e os braços envolveram meu pescoço de novo.

— Não existe competição.

— É disso que tenho medo. — Com hesitação, passei os braços ao redor dela.

Ela suspirou. — É claro que Royal é mesmo lindo à maneira dele, mas mesmo que não fosse como um irmão para mim, mesmo que o lugar dele não fosse ao lado de Eleanor, ele não exerceria nem um décimo, não, nem um centésimo da atração que você exerce sobre mim. — Ela agora estava séria e pensativa. — Por quase noventa anos, andei entre os meus, e entre os seus... o tempo todo pensando que eu era completa comigo mesma, sem perceber o que procurava. E sem encontrar nada, porque você ainda não estava viva.

— Não parece justo — sussurrei no peito dela. — Não tive que esperar nada. Por que as coisas foram tão mais fáceis para mim?

— Tem razão — concordou ela. — Eu devia dificultar as coisas para você, sem dúvida. — Sua mão acariciou minha bochecha. — Você só tem que arriscar a vida a cada segundo que passa comigo, claro que não é muito. Tem que dar as costas para sua natureza, sua humanidade... que valor tem isso?

— Não me sinto privada de nada.

Ela virou o rosto para o meu peito e sussurrou:

— Ainda não.

Meu coração estava sendo irritante. Ela devia conseguir sentir além de ouvir, pulando dentro das minhas costelas como se pudesse escapar dali.

Ela cantarolou uma melodia que não reconheci. Parecia uma cantiga de ninar. Mas parou.

— Quer que eu cante para você dormir?

— Certo. — Eu ri. — Como se eu pudesse dormir com você aqui!

— Você faz isso o tempo todo — lembrou-me ela.

— Não com você aqui — discordei, apertando um braço ao redor dela.

— Faz sentido. Então, se não quer dormir, o que quer fazer?

— Sinceramente? Muitas coisas. Nenhuma delas é cuidadosa.

Ela não disse nada; não parecia que estava respirando.

Prossegui rapidamente.

— Mas, eu gostaria de... saber mais sobre você.

— Me pergunte qualquer coisa. — Consegui ouvir que ela estava sorrindo agora.

Procurei a mais importante entre minhas perguntas.

 

— Por que você consegue ler mentes, e só você? E Archie, que vê o futuro... Por que é assim?

Senti que ela dava de ombros.

— Não sabemos realmente. Carine tem uma teoria... Ela acredita que todos trazemos para esta vida algumas de nossas características humanas mais fortes, e que elas se intensificam, como nossa mente e nossos sentidos. Ela acha que eu já devia ser muito sensível aos pensamentos dos que me cercavam. E que Archie já tinha algumas premonições, onde quer que estivesse.

— O que ela trouxe para a nova vida, e os outros?

— Carine trouxe sua compaixão. Earnest trouxe sua capacidade de amar apaixonadamente. Eleanor trouxe sua força, Royal, sua... tenacidade. Ou você pode chamar de teimosia. — Ele riu. — Jessamine é muito interessante. Ela foi muito carismática em sua primeira vida, capaz de influenciar quem estivesse por perto a ver as coisas da maneira dela. Agora, ela é capaz de manipular as emoções dos que o cercam, acalmar uma sala cheia de pessoas irritadas, por exemplo, ou excitar uma turba letárgica. É um dom muito sutil.

Pensei nas impossibilidades que ela descreveu, tentando apreendê-las. Ela esperou pacientemente enquanto eu pensava.

— Então, onde tudo começou? Quer dizer, Carine transformou você e antes alguém deve tê-la transformado, e assim por diante...

— Bom, de onde você veio? Da evolução? Da criação? Não podemos ter evoluído da mesma maneira que as outras espécies, predador e presa? Ou, se não acredita que tudo neste mundo simplesmente aconteceu sozinho, o que eu mesma tenho dificuldade de aceitar, é tão difícil acreditar que a mesma força que criou o delicado peixe-anjo e o tubarão, o bebê foca e a baleia assassina, possa ter criado nossas espécies juntas?

— Me deixe ver se entendi... Eu sou o bebê foca, não é?

— É. — Ela riu, e seus dedos tocaram meus lábios. — Você não está cansada? Foi um longo dia.

— Só tenho mais um milhão de perguntas.

— Temos amanhã, e depois de amanhã, e o dia seguinte...

Uma sensação de euforia, de alegria pura, encheu meu peito, até eu achar que poderia explodir. Não conseguia imaginar que houvesse um viciado em drogas no mundo que não trocaria a droga favorita por aquela sensação.

Demorei um minuto para conseguir falar de novo.

— Tem certeza de que não vai desaparecer de manhã? Afinal de contas, você é mítica.

— Não vou deixá-la — prometeu ela, solenemente, e aquela mesma sensação, ainda mais forte do que antes, tomou conta de mim.

Quando consegui falar, eu disse:

— Mais uma, então, esta noite... — E o sangue subiu pelo meu pescoço. A escuridão não ajudou. Eu tinha certeza de que ela conseguia sentir o calor.

— O que é?

— Não, deixa pra lá. Mudei de ideia.

— Bella, pode me perguntar qualquer coisa.

Não respondi e ela gemeu.

— Fico achando que vai passar a ser menos frustrante não ouvir seus pensamentos. Mas está ficando cada vez pior.

— Já é bem ruim que você me ouça falar dormindo — murmurei.

— Por favor, me fale — murmurou ela, com a voz aveludada assumindo aquela intensidade hipnotizante à qual nunca consegui resistir.

Eu tentei. Balancei a cabeça.

— Se não me disser, vou supor que é algo muito pior do que é na realidade — ameaçou ela.

— Eu não devia ter tocado no assunto — falei, e travei os dentes.

— Por favor. — Mais uma vez, a voz hipnótica.

Eu suspirei.

— Você não vai... se ofender?

— Claro que não.

Respirei fundo.

— Bem... obviamente, não sei muito o que é verdade sobre vampiros. — A palavra saiu acidentalmente. Eu estava tão concentrado em como fazer a pergunta, mas percebi o que disse e parei.

— Sim?

Ela parecia normal, como se a palavra não significasse nada.

Eu expirei de alívio.

— Tudo bem, quer dizer, só sei as coisas que você me contou, e parece que somos bastante... diferentes. Fisicamente. Você parece humana, só que melhor, mas não come nem dorme, sabe. Não precisa das mesmas coisas.

— É discutível em alguns níveis, mas há verdades no que você está dizendo. Qual é sua pergunta?

Eu respirei fundo.

— Me desculpe.

— Pergunte.

Eu falei de repente.

— Eu sou só uma garota humana comum, e você é a mulher mais bonita que já vi, e fico... inebriada por você, e parte disso, naturalmente, vem do fato de eu estar loucamente atraída por você, o que tenho certeza de que já reparou, considerando que você é superciente do meu sistema circulatório, mas o que não sei é se é assim com você também. Ou se é como dormir e comer, coisas de que você não precisa e eu, sim, apesar de eu não querer essas coisas tanto quanto quero você. Você disse que Eleanor e Royal se afastam e vivem como casados, mas isso quer dizer a mesma coisa para os vampiros? E essa pergunta é totalmente imprópria, inadequada para um primeiro encontro, e peço desculpas, não precisa responder.

Eu inspirei fundo.

— Humm... eu diria que é nosso segundo encontro.

— Você está certa.

Ela riu.

— Você está me perguntando sobre sexo, Bella?

Meu rosto ficou quente de novo.

— Estou. E não deveria ter perguntado.

Ela riu de novo.

— Eu deitei com você e beijei você na sua cama, Bella. Acho que torna sua linha de questionamento bem compreensível.

— Mas continua não precisando responder.

— Eu falei que você podia perguntar qualquer coisa. — Ela fez uma pausa, e sua voz ficou diferente. Meio formal, como uma professora dando aula. — Então... no sentido geral, Sexo e Vampiros nível básico. Todos nós começamos como humanos, Bella, e a maioria dos desejos humanos ainda está presente, só oculta por trás de desejos poderosos. Mas não sentimos sede o tempo todo e costumamos formar... laços muito fortes. Físicos e emocionais. Royal e Eleanor são como qualquer casal humano atraído um pelo outro, e com isso quero dizer que é muito, muito irritante para os que precisam morar com eles e ainda mais para quem consegue ouvir o que pensam.

Eu ri baixinho, e ela também.

— Constrangedor — murmurei.

— Você não faz ideia — disse ela de forma sóbria, e suspirou. — E agora, no sentido específico... Sexo e Vampiros, nível intermediário, Bella e Edythe. — Ela suspirou de novo, mais devagar dessa vez. — Acho... Eu não tenho certeza. Bella, você não sabe o quanto... você é frágil. Tenho que calcular meus atos a cada momento em que estamos juntos para não machucá-la. Eu poderia matá-la com facilidade, simplesmente por acidente.

Pensei nas primeiras vezes que ela me tocou, no quanto se moveu com cautela, como pareceu assustá-la. Que ela me pedia para mover a mão em vez de puxar a dela... Agora, ela colocou a palma da mão na minha bochecha.

Se a vida dela estivesse nas minhas mãos assim, eu já a teria matado? Encolhi-me com a ideia.

— Acho que eu poderia perder a concentração com facilidade com você — murmurou ela.

— Eu nunca não perco a concentração com você.

— Posso perguntar uma coisa agora, uma coisa potencialmente ofensiva?

— É sua vez.

— Você tem alguma experiência com sexo e humanos?

Fiquei um pouco surpresa do meu rosto não ficar quente de novo. Parecia natural contar tudo para ela.

Abaixei os olhos, setindo-me impotente quanto aquele assunto. Ela pareceu precisar se explicar.

— É que... fico ouvindo o que outras pessoas pensam. Sei que o amor e o desejo nem sempre andam de mãos dadas.

Continuei em silêncio.

— Ah. — ela soltou.

Não me odeie, não me odeie.

— Acho que entendi. — ela disse.

Percebi que meu peito se apertou com a constatação.

— Então você perde a concentração comigo? — eu mudei de assunto, rapidamente.

— Sem dúvida. — Ela já estava sorrindo de novo. — Você quer que eu diga o que me faz perder a concentração?

— Oh, isso eu quero ver.

— Foram seus olhos primeiro. Você tem olhos lindos, Bella, como um céu sem nuvens... Ou como um mar calmo. Passei a vida toda em climas chuvosos e costumo sentir falta do céu, da praia, do calor, mas não quando estou com você.

— Hã. Obrigado?

Ela riu.

— Não estou sozinha. Seis dos seus dez admiradores começaram com seus olhos também.

— Dez?

— Nem todos são tão desinibidos quanto Taylor e Mike. Quer uma lista? Você tem opções.

— Acho que você está tirando sarro com a minha cara. E, de qualquer modo, não há opções. — E jamais haveria.

— Depois, foram seus braços. Eu gosto muito dos seus braços, Bella. Isso inclui seus ombros e suas mãos. — Ela passou a mão pelo meu braço, depois até o ombro e de volta até a mão. — Ou talvez tenha sido o seu queixo a segunda coisa... — Ela levou os dedos ao meu rosto, como se achasse que eu podia não saber o que ela queria dizer. — Não tenho certeza absoluta. Isso tudo me pegou de surpresa quando percebi que, além de achar você deliciosa, também acho você linda.

Meu rosto e meu pescoço ficaram quentes.

— Ah, e eu nem falei do seu cabelo. — Ela passou os dedos pela minha cabeça.

— Tudo bem, agora eu sei que você está debochando. — revirei os olhos.

— Não estou mesmo. Você sabia que seu cabelo é do mesmo tom de um teto coberto de teca em um monastério no qual fiquei uma vez? Acho que fica no que agora é o Camboja.

— Hã, não, não sabia. — Bocejei involuntariamente.

Ela riu.

— Respondi a sua pergunta satisfatoriamente?

— Er, sim.

— Então você devia dormir.

— Não sei se consigo.

— Quer que eu vá embora?

— Não! — falei, um pouco alto demais.

Ela riu, depois começou a cantarolar a mesma cantiga desconhecida. A voz dela era como a de um anjo, suave em meu ouvido.

Mais cansada do que tinha percebido, exausta de um dia de estresse mental e emocional que nunca sentira antes, resvalei para o sono com o corpo frio dela entre meus braços.


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Notas finais do capítulo

TT: @pittymeequaliza