Girls and Blood — Reimagined Twilight escrita por Azrael Araújo


Capítulo 10
Nine


Notas iniciais do capítulo

Att dupla porque sou uma boa pessoa.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/743587/chapter/10

Jacob estendeu a mão. — Você comprou o Tracker da minha mãe.

— Ah — eu disse, aliviada, apertando sua mão quente. — Você é filho da Bonnie. Eu devia me lembrar de você.

— Não, eu sou o mais novo da família. Você deve se lembrar dos meus irmãos mais velhos.

De repente, me lembrei.

— Adam e Aaron.

Charlie e Bonnie e o marido dela — George, eu lembrava agora; ele tinha morrido alguns anos antes, de acidente de carro ou alguma coisa assim, e Charlie ficou muito triste — nos reuniam muitas vezes durante minhas visitas, para nos manter ocupados enquanto eles pescavam. Nunca fizemos muito progresso na amizade. É claro que eu tive acessos de raiva suficientes para dar um fim às viagens de pescaria quando tinha 11 anos.

— Adam e Aaron e... Jake, não era?

Ele sorriu.

— Você lembra. Ninguém me chama assim desde que meus irmãos saíram de casa.

— Eles não estão aqui? — Examinei os garotos na beira do mar, perguntando-me se os reconheceria agora.

— Não. Adam conseguiu uma bolsa de estudos na Washington State University, e Aaron se casou com uma surfista samoana. Agora mora no Havaí.

— Casou. Caramba. — Eu estava pasma. Os gêmeos só eram um pouco mais de um ano mais velhos do que eu.

— E aí, gostou do Tracker? — perguntou ele.

— Adorei. Funciona maravilhosamente.

— É, mas é meio lento. — Ele riu. — Fiquei tão aliviado quando Charlie o comprou. Minha mãe não queria me deixar trabalhar na montagem de uma moto quando tínhamos um veículo em perfeito funcionamento ali.

— Não é tão lento assim — objetei.

— Pra mim é. Eu curto velocidade, sabe. — ele falou, tentando soar como um daqueles caras descolados. Não consegui deixar de sorrir.

— Ele é ótimo em batidas — propus, em defesa do meu carro.

— Acho que nem um tanque poderia derrubar aquele monstro. — concordou ele com outra risada.

— Então você monta motos? — perguntei, impressionada.

— Quando tenho tempo e peças. Por acaso você sabe onde posso conseguir uma vela de ignição? — perguntou ele, de brincadeira. Tinha uma voz interessante, calorosa e meio rouca.

— Não, desculpe. — Eu ri. — Não vi nenhuma ultimamente, mas vou ficar de olho para você. — Como se eu soubesse o que era aquilo. Era muito fácil conversar com ele.

Ele abriu um sorriso brilhante e olhou para mim de um jeito que eu estava aprendendo a reconhecer. E eu não fui a única a perceber.

— Você conhece a Isabella, Jacob? — perguntou Logan.

— Ela e eu nos conhecemos praticamente desde que eu nasci — disse Jacob, sorrindo para mim de novo.

— Que legal — retrucou Logan. Eu não tinha reparado antes em como os olhos verde-claros dele eram frios.

Jake ergueu as sobrancelhas ao perceber o tom dele.

— Não é maravilhoso?

O sarcasmo dele pareceu abalar Logan, mas ele ainda não tinha acabado de implicar comigo.

— Isabella, Taylor e eu estávamos falando que foi uma pena nenhum dos Cullen ter podido vir aqui hoje. Ninguém pensou em convidá-los?

Ele olhou para mim como se soubesse que eu tinha chamado Edythe e achasse hilário ela ter recusado. Só que não pareceu rejeição no momento, pareceu que ela queria ter vindo comigo, mas não podia. Eu interpretei errado?

Minhas preocupações foram interrompidas por uma voz forte e clara.

— Quer dizer a família da Dra. Carine Cullen?

Era a garota mais velha que antes apresentou o pessoal da reserva. Ela era mais velha do que eu pensava, agora que estava olhando melhor. Não mais uma garota, mas uma mulher. Diferentemente de Jacob, o cabelo dela estava cortado curto, como o de um garoto. Ela estava de pé agora, e vi que era muito mais alta que eu.

Logan olhou para ela, olhou para cima, porque ela era mais alta do que ele, irritado por ela ter falado antes de eu poder responder.

— É, você conhece? — perguntou ele de um jeito condescendente, virando-se um pouco para ela.

— Os Cullen não vêm aqui — disse ela, e, no tom de voz claro e forçado, pareceu menos uma observação e mais uma... ordem. Ela ignorou a pergunta dele, mas a conversa estava encerrada.

Taylor, tentando recuperar a atenção de Logan, pediu a opinião dele sobre um CD que estava segurando. Ele estava distraído.

Olhei para a mulher, que estava de pé com postura confiante e ereta, olhando na direção da floresta escura. Ela disse que os Cullen não iam ali, mas o tom implicava mais alguma coisa; que eles não tinham permissão para isso, eram proibidos de ir. Suas maneiras deixaram uma estranha impressão em mim e tentei ignorá-las, sem sucesso.

Jake interrompeu minhas reflexões.

— E aí, Forks já está te deixando maluca?

Eu franzi a testa. Possivelmente, eu já era louca antes de Forks.

— Ah, eu diria que este é um jeito suave de dizer a verdade.

Ele sorriu com solidariedade.

Eu ainda estava repensando o breve comentário da mulher sobre os Cullen e comparando com o que interpretei da reação de Edythe no outro dia. Olhei para Jake com especulação.

— O quê? — perguntou ele.

— Quer ir até a praia comigo?

Ela olhou para Logan, depois para mim e deu um sorriso rápido.

— Quero. Vamos sair daqui.

Enquanto seguíamos para o norte até o quebra-mar de troncos, as nuvens finalmente venceram. O sol desapareceu, o mar ficou negro e a temperatura começou a cair. Enfiei as mãos nos bolsos do casaco.

Enquanto andávamos, pensei no jeito como Edythe sempre me fazia falar, quando ela me olhava por baixo dos cílios compridos e o dourado dos olhos ardia, e eu esquecia tudo: meu nome, como respirar, tudo, menos ela. Olhei para o garoto andando ao meu lado agora. Jake só estava usando uma blusa de manga comprida, mas balançava os braços enquanto andava, sem se incomodar com o frio. O vento soprava o cabelo preto e sedoso em curvas e nós nas costas dele. Havia algo muito natural e aberto no rosto dele. Mesmo que eu soubesse fazer aquela coisa ardente que Edythe fazia, aquele garoto provavelmente só riria de mim. Mas não com crueldade, eu achava. Com Jake, você sempre estaria por dentro da piada.

— Amigos legais — comentou ele quando estávamos longe o bastante da fogueira para o barulho das pedras debaixo dos nossos pés ser o suficiente para afogar nossas vozes.

— Não são meus amigos.

Ele riu. — Deu para perceber.

— Aquelas outras pessoas eram seus amigos? Aquela que estava falando parecia meio que... Mais velha.

— É a Samantha. Sam. Ela tem 19 anos, eu acho. Não ando muito com ela. Um dos meus amigos estava lá antes, o Quil. Acho que ele foi até a loja.

— Não lembro quem ele era.

Ele deu de ombros.

— Eu também não guardei muitos nomes. Só me lembrei do seu porque você puxava meu cabelo.

— Puxava? Desculpa!

Ele riu.

— Olha só a sua cara. Não, só os meus irmãos puxavam. Mas eu podia ter convencido você de que era culpada.

Era fácil rir com ele.

— Acho que podia. Ei, posso perguntar uma coisa?

— Manda.

— O que aquela garota, Sam, o que ela quis dizer sobre a família da médica?

Jake fez uma careta e afastou o olhar, na direção do oceano. Ele não disse nada.

Isso tinha que querer dizer que eu estava certa. Havia mais alguma coisa por trás do que Sam disse. E Jacob sabia o que era.

— Olha, eu não queria ser grosseiro nem nada. — Jacob se virou com outro sorriso, meio que pedindo desculpas. — É que... não posso falar sobre isso.

— É segredo?

Ele repuxou os lábios curvos. — Mais  ou menos.

Eu levantei as mãos. — Esqueça que perguntei.

— Mas já estraguei tudo, não foi?

— Eu não diria que foi você. Aquela garota, Sam, foi meio... intensa.

Ele riu.

— Legal. A culpa é de Sam então.

Eu também ri.

— Não de verdade. Estou muito confusa.

Ele olhou para mim e sorriu como se já tivéssemos um segredo só nosso.

— Posso confiar em você?

— Claro.

— Você não vai sair correndo para contar para o seu amigo louro?

— Logan? Ah, claro, não consigo esconder nada daquele cara. Somos como irmãos.

Ele gostou disso. Quando riu, me fez parecer que eu fui mais engraçada do que realmente fui.

A voz rouca ficou um pouco mais baixa.

— Gosta de histórias de terror, Bells?

Por um segundo, consegui ouvir a voz de Edythe com clareza na mente. Você acha que eu posso ser assustadora?

— De que tipo de terror estamos falando?

— Você nunca mais vai dormir — prometeu ele.

— Ah, agora eu tenho que ouvir.

Ele riu e olhou para baixo, com um sorriso brincando nos cantos dos lábios. Consegui perceber que ele tentaria fazer a história ser boa.

Estávamos perto de um dos troncos na praia, um esqueleto branco enorme com raízes viradas e todas emaranhadas, como cem pernas de aranha. Jake foi se sentar em uma das raízes mais grossas enquanto eu me sentava abaixo dele, no tronco da árvore. Tentei parecer apenas interessada enquanto olhava para ele, e não como se estivesse levando aquilo a sério.

— Estou pronta para ficar apavorada.

— Conhece alguma das nossas histórias antigas, sobre de onde viemos... quer dizer, dos Quileutes? — começou ele.

— Na verdade não — admiti.

— Há muitas lendas, e dizem que algumas datam da grande inundação. Ao que parece, os antigos Quileutes amarraram as canoas no topo das árvores mais altas da montanha para sobreviver, como Noé e a arca. — Ele sorriu, para me mostrar que também não estava levando a sério. — Outra lenda diz que descendemos de lobos, e que os lobos e lobas ainda são nossos irmãos. É contra a lei da tribo matá-los. E há histórias sobre os frios. — A voz dele ficou um pouco mais baixa.

— Os frios? — perguntei. Eu parecia interessada demais agora? Ele conseguia adivinhar que a palavra frio teria algum significado para mim?

— É. Há histórias dos frios tão antigas quanto as lendas dos lobos, e algumas são mais recentes. De acordo com a lenda, minha bisavó conheceu alguns. Foi ela quem fez o acordo que os manteve longe de nossas terras. — Ele revirou os olhos.

— Sua bisavó? — Eu o estimulei.

— Ela era uma anciã da tribo, feito minha mãe. Olhe só, os frios são os inimigos naturais do lobo. Bom, não do lobo, mas dos lobos que se transformam em homens e mulheres, como as nossas ancestrais. Você pode chamar de lobisomens.

— As lobisomens têm inimigos?

— Só um.

Fiquei olhando para ele com ansiedade, tentando disfarçar minha impaciência como se fosse interesse.

— Então, veja você — continuou Jake — por tradição, os frios são nossos inimigos. Mas aquele bando que veio para o nosso território na época da minha bisavó era diferente. Eles não caçavam como os outros da espécie deles. Não deviam ser perigosos para a tribo. Então, minha bisavó fez uma trégua com eles. Se prometessem ficar longe de nossas terras, nós não os revelaríamos aos caras-pálidas. — Ele deu uma piscadela para mim.

— Se eles não eram perigosos, então por quê...?

— Sempre há um risco para os seres humanos que ficam perto dos frios, mesmo que eles sejam civilizados, como este clã alegava que era. Nunca se sabe quando podem ficar famintos demais para resistir. — Ele deliberadamente assumiu um tom de ameaça.

— Como assim, “civilizados”?

— Eles diziam que não caçavam seres humanos. Supostamente, de algum modo, conseguiam caçar só animais.

Tentei manter minha voz casual, mas tenho certeza de que falhei.

— E o que é que isso tem a ver com os Cullen? Eles são iguais aos frios que sua bisavó conheceu?

— Não... — Ele fez uma pausa dramática. — Eles são os mesmos.

Ele deve ter pensado que a expressão no meu rosto significava que eu estava absorta com a história. Ele sorriu, satisfeito, e continuou.

— Agora há mais deles, têm uma fêmea nova e um macho novo, mas os outros são os mesmos. Na época da minha bisavó, já conheciam a líder, Carine. Ela esteve aqui e se foi antes que o seu povo tivesse chegado. — Ele reprimia outro sorriso e tentava manter o tom sério.

— E o que eles são? — perguntei, por fim. — O que são os frios?

— Bebedores de sangue — respondeu ele numa voz de dar calafrios. — O seu povo os chama de vampiros.

Olhei a arrebentação agitada depois que ele respondeu, sem ter certeza do que minha expressão demonstrava. Você acha que posso ser assustadora?, a voz de Edythe ficava repetindo na minha cabeça.

— Você está arrepiada. — Jake riu, satisfeito.

— Você sabe contar uma história — comentei, ainda olhando as ondas.

— Obrigada, mas você só está é com frio. É muito louco, né? Não surpreende que minha mãe não queira que a gente fale sobre isso com ninguém.

Não consegui controlar minha expressão o suficiente para olhar para ele.

— Não se preocupe, não vou falar nada.

— Acho que acabo de violar o trato. — Ele virou a cabeça para trás e deu uma gargalhada.

— Vou levar isso para o túmulo — prometi, e depois estremeci.

— Mas, sério, não conte nada ao Charlie. Ele ficou muito chateado com minha mãe quando soube que alguns de nós deixaram de ir ao hospital desde que a Dra. Cullen começou a trabalhar lá.

— Não vou dizer nada para Charlie, claro que não.

— Então, você acha que somos um bando de nativos supersticiosos ou o quê? — perguntou ele, num tom de brincadeira, mas com um toque de preocupação. Eu ainda não havia tirado os olhos do mar.

Eu me virei e sorri para ele com a maior naturalidade que pude.

— Não. Mas acho que você conta histórias de terror muito bem. Ainda estou arrepiada, está vendo? — Ergui o braço.

— Legal. — Ele sorriu.

E depois, ouvimos o som de pedras se chocando na praia. Nossas cabeças se viraram ao mesmo tempo e vimos Mike e Jeremy a uns cinquenta metros de distância, andando na nossa direção.

— Aí está você, Isabella — gritou Mike, aliviado, acenando o braço acima da cabeça.

— Esse é seu namorado? — perguntou Jake, alertado pela pontada de ciúme na voz de Mike.

Fiquei surpresa por ficar tão óbvio.

— Não. Por que todo mundo acha isso?

Jake riu com deboche.

— Talvez por ele querer que todo mundo pense.

Eu suspirei.

— Se precisar de um tempo desses seus amigos, me avise.

— Ótima ideia — eu disse, e estava falando sério.

Eu não sabia se era por nos conhecermos havia mais tempo, ainda que não muito bem, ou se porque Jake era tão simpático, mas eu já estava mais à vontade com ele do que com — quase — qualquer outra pessoa com quem voltaria para casa.

Eu ainda precisava conversar com Riley.

Mike nos alcançou, e Jeremy ainda estava alguns passos atrás, se esforçando para acompanhar. Mike olhou Jake de cima a baixo uma vez, depois se virou para mim com um jeito que pareceu estranhamente alheio à presença dele. Jake deu outra gargalhada debochada e baixa.

— Onde você estava? — perguntou Mike, embora a resposta estivesse bem diante dele.

— O Jake estava me mostrando a praia. — Eu sorri para Jake, e ele sorriu para mim. Mais uma vez, foi como se a gente compartilhasse um segredo. Claro que agora era verdade.

— Bom — disse Mike, olhando para Jake de novo. — Estamos indo embora. Parece que vai chover.

Todos olhamos para o céu. As nuvens estavam pesadas e pretas e com aparência muito úmida.

— Tudo bem — falei. — Estou indo.

— Foi bom ver você de novo — disse Jacob, com ênfase no final, e eu sabia que ele estava provocando Mike.

— Foi mesmo. Da próxima vez que Charlie vier ver Bonnie, eu também venho.

Ele sorriu de orelha a orelha e mostrou os dentes brancos e retos.

— Isso seria legal.

— E obrigado — acrescentei com voz baixa, de forma não muito casual.

Ele piscou para mim.

Puxei o capuz enquanto andávamos sobre as pedras para o estacionamento. Algumas gotas começavam a cair, criando manchas escuras nas pedras em que pousavam.

Quando chegamos ao Suburban, os outros já estavam guardando tudo nos carros. Entrei no banco traseiro ao lado de Allen e Taylor, anunciando que já havia tido minha oportunidade de sentar na frente. Allen ficou olhando pela janela a tempestade que se formava, e Logan se contorcia no meio do banco para ocupar a atenção de Taylor, então fiquei livre para recostar a cabeça, fechar os olhos e me esforçar muito para não pensar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

TT: @pittymeequaliza



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Girls and Blood — Reimagined Twilight" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.