Quando a morte entrou na minha vida, eu tentei ignorá-la.

Eu tentava a todo custo não pensar sobre ela e isso incluía não pensar em como eu morreria. E mesmo que eu tivesse me dedicado a imaginar, criar histórias e hipóteses, jamais pensaria que acabaria aqui. Assim.

Ergui os olhos novamente, a visão tingida de vermelho pelo sangue que eu não fazia ideia se era meu. O local escuro e pouco salubre parecia úmido, com goteiras por todos os lugares. O cheiro de mofo queimava meu nariz.

Girei a cabeça tentando olhar ao redor e sentindo pontadas de dor com o pequeno movimento.

Respire fundo, apenas respire.

O som de passos me alertou de que eu não estava sozinha, os ecos atingindo meus ouvidos e me levando ao pânico.

A hora havia chegado?

Ergui o olhar novamente, dessa vez encarando a figura escondida sob as sombras da parede mais distante. Não podia ver por onde ela havia entrado, mas uma abertura pouco iluminada chamara minha atenção, perto de um dos corpos estirados no chão úmido.

Espirei pesadamente, enquanto a figura ainda me encarava.

Talvez pudesse ser considerado altruísta morrer no lugar de outra pessoa, de alguém amado. Nobre, até. Mas será que apenas a intenção bastava? Será que a tentativa falha seria o suficiente para que eu não fosse condenada?

Eu sabia que se não tivesse conduzido minha vida desta forma nos últimos meses, agora não estaria prestes a morrer. Mas, apesar de tudo, eu não mudaria nada.

Eu iria encarar o que quer que estivesse por vir, tendo a paz de saber que tudo pelo que lutei estava em segurança nesse momento.

A figura escondida nas sombras sorriu de forma angelical enquanto avançava para me matar.