Gains & Losses escrita por Beauty Queen


Capítulo 1
The Rings


Notas iniciais do capítulo

Oi gente. Turubom com vocês? Eu espero que sim!
Onezinha que eu já queria ter escrevido a eons mas nunca tinha conseguido da um bom desenvolvimento. Parece que agora conseguimos né?
Eu espero que vocês gostem! Boa leitura!



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Ah, casamento.

Vocês já imaginam as decorações, os casadinhos, as roupas bonitas e a marcha nupcial. Sua irmãzinha entrando com as alianças e logo atrás dela o amor da sua vida, mais bonito do que em todos os outros dias.

Annabeth ia ser minha esposa um dia, mais precisamente, daqui a três semanas. A aliança em seu dedo e o potinho na estante, agora mais vazio, escrito “Casamento” eram as minhas provas concretas. Mas na minha memoria, tinha o sim e o sorriso que ela me deu a mais de um ano atrás.

Eu sei, você deve estar pensando o que todos pensam quando eu digo que estamos noivos a mais de um ano completo.

Não, eu não estou enrolando Annabeth ou vice-versa. Eu anseio toma-la no altar e poder tirar o futura da frente do Sra. Jackson que já se encaixa perfeitamente em seu nome, desde quando estávamos no ultimo ano do colegial e ela usava meu moletom da equipe de natação com o Jackson escrito nas costas e eu pensava no quanto eu queria que aquele realmente fosse o nome dela algum dia.

A questão é que tínhamos terminado a faculdade apenas alguns meses atrás, e queríamos que tudo fosse perfeito. Bem, eu só queria uma cerimonia bonita com meus amigos presentes e essas coisas. Annabeth pensava um pouquinho mais e não seria eu que iria tirar isso dela. Ela merecia aquilo.

Mas veja bem, eu não vim aqui para contar as maravilhas do meu noivado com Annabeth. Qual seria a graça se não tivéssemos tentando nos matar no mínimo três vezes?

E acredite, os problemas começaram antes mesmo de eu comprar a aliança.

...

Era tarde da noite e só agora eu estava chegando em casa. Tinha ido da faculdade direto para o CRAM e tinha ficado lá até fechar. Eu tinha uma posição de importância por lá, todos sabiam que eu era filho de Poseidon, meu trabalho não era difícil, mas conversar e ouvir as reclamações de todos aqueles animais marinhos quase todos os dias me deixava triste e cansado.

Meu deixava aliviado saber que estávamos apenas cuidado deles e que logo eles estariam de volta no oceano.  

Entrei em casa e estava tudo muito silencioso. Fui até a cozinha e havia um bilhete na geladeira.

“Tem comida pra você no microondas. Estou cansada e vou dormir. Amo você.

Ps: A louça é sua :)”

Sorri e peguei o prato de comida no microondas. Tirei o plástico e esquentei. Comi em silencio e com preguiça até de mastigar. Lavei todas as louças e subi para nosso quarto ainda em completo silencio.

Annabeth dormia encolhida em seu lado da cama. Era uma noite fria e eu me senti culpado por não ter chegado mais cedo e poder tê-la esquentado.

Quando sentei na ponta da cama, depois de um banho rápido e ter vestido qualquer roupa que encontrei pela frente, Annabeth se remexeu em seu sono. Se virou para meu lado e abriu os olhos devagar.

— Ei – Eu me deitei bem perto dela na cama e acariciei seus cabelos – Volte a dormir, vamos.

Ela concordou e se acomodou perto de mim.

— Hoje faz uma semana que você tá chegando tarde assim em casa – Mesmo com a voz sonolenta, ela pareceu brava.

— Me desculpe, amor – Eu beijei sua testa e a abracei com mais força – É só por mais um tempinho, okay?

— Eu não sabia que estávamos precisando de dinheiro – Ela murmurou – Eu posso fazer hora extra também, a gente divide essa carga, Percy. Você não precisa fazer tudo sozinho, e mais, eu sinto sua falta.

— Eu também – Murmurei de volta.

Levantei seu rosto e ela nem sequer abriu os olhos, já sabendo o que viria a seguir.

Beijei seus lábios levemente.

— Mas não precisa – Respondi quando nos separamos – Depois conversamos sobre isso, certo?

Ela concordou, vencida pelo cansaço. Beijou meu queixo e logo depois já estava dormindo.

...

Annabeth andava esquisita a semana toda. Eu sabia que ela estava brava pelas horas extras e tudo, mas ela tinha parado de deixar meu jantar, o que me fazia sempre ter que sair para comprar e era um sufoco visto que o horário não colaborava. Mas ela sempre deixava a louça para eu lavar.

E até ai, tudo bem, porque eu também não estava fazendo minhas tarefas na casa, então estávamos quites.

Mas ela não estava mais falando comigo. Não me deixava abraça-la à noite, ou beija-la, ou qualquer outra coisa.

Se eu não a conhecesse bem, diria que ela esta me evitando.

Estávamos a caminho da casa da minha mãe, semana que vem era meu aniversário e como todo ano, fomos passar o final de semana que o antecede com ela.

Annabeth geralmente ia o caminho todo falando sobre como estava ansiosa para ver Amélia – Minha irmã caçula, aquela pestinha – e sobre o que ela e minha mãe poderiam fazer para jantar – e na maior parte das vezes envolvia batata, mas hoje ela estava calada. Não me olhou ou falou nada.

Quando chegamos, Amy saiu correndo pela porta até mim.

— Percy! – Ela exclamou e me abraçou com força.

Aos três anos de idade, Amy era a coisinha mais fofa que eu já tinha visto na minha vida. Eu a amava de mais e morria de medo de perdê-la por algum motivo que minha cabeça de Semideus tenha inventado.

— Eu senti sua falta – Ela mexeu no meu colar do acampamento e me abraçou de novo – Você e a mamãe Annie demoraram pra voltar.

Eu sorri. Amy chamava Annabeth de mãe desde que tinha aprendido a falar. Nosso segredo era que ela nunca devia dizer para nossa mãe que tinha chamado Annie de mãe primeiro. Como se esse fosse o único dos outros problemas que tínhamos arranjado com ela chamando Annie de mãe

Hoje, aos seus quatro anos, Amy não chama mais ela de mãe, mas são historias para outra hora.

— Estávamos meio ocupados, bebê – Eu beijei sua bochecha com carinho e ela repousou a cabeça em meu ombro.

— Seu irmão principalmente – Annabeth disse perto de mim, com ironia.

— Mãe! – Ela estendeu os braços para Annabeth.

— Oh, meu amor – Ela abraçou a menina com força – Eu estava morrendo de saudades, sabia?

— Eu também! – Amy começou a falar um serie de coisas para Annabeth e elas entraram na casa.

— Então você anda bastante ocupado? – Minha mãe disse e me abraçou – Annabeth pareceu brava.

— Oh, mãe – Eu beijei sua testa – Você não tem ideia.

— Conversamos sobre isso depois – Ela sorriu confortadora e me puxou para dentro – Hoje eu vou fazer sua comida preferida e tudo vai ficar bem.

...

— Ei – Eu entrei no quarto e me encostei na parede, olhando Annabeth procurar algo em sua mala – Tudo bem?

— Pode fechar a porta, por favor? – Ela ignorou minha pergunta e ficou de costa para mim.

Fechei a porta e ela tirou a blusa, as costas branquinhas e as pintinhas marrons que eu adorava. Ela sabia que eu a observava, ela sempre sabia, e então colocou outra blusa mais confortável já que iriamos dormir.

— Você não vai poder dormir longe de mim hoje – Eu murmurei – A cama é pequena.

— Vou dormir com Amy – Ela disse baixo e pegou um lençol.

— Annie – Eu me aproximei, mas ela se afastou – O que está acontecendo, o que eu fiz?

— Meu computador quebrou – Ela respondeu – Isso foi á... cinco meses atrás, logo quando você começou a fazer as horas extras.

— E o que isso tem a ver? – Eu disse, confuso.

— Eu precisei pegar o seu pra terminar meu trabalho – Ela explicou – E quando abri o e-mail, tinha uma mensagem do banco central. E se fosse só isso, mas não era da nossa conta bancaria, ou da minha, ou da sua, era uma nova. E eu me perguntei, se nos temos três contas bancarias a nosso dispor, porque você precisaria de outra.

— Annie...

— E então eu comecei a observar a movimentação dela, já que não foi difícil descobri sua senha – Ela continuou – Os valores que entravam era exatamente o valor a mais que você estava ganhando. E até ai tudo bem, porque você pode fazer o que quiser com o seu dinheiro, mas porque em outra conta? Porque você precisava esconder de mim?

— Eu não estava escondendo de você, era só...

— Não estava escondendo de mim? – Ela levantou o tom de voz – Então aquilo era o que? Você está me traindo, Percy? Você tem outra pessoa? Comprou outro apartamento, uma passagem de avião para Chicago?!

Me irritei, não somente por seu tom de voz, mas porque aquela garota paranoica que achava que eu ia me mudar com alguém para Chicago e controladora que ficava observando a movimentação da minha conta bancaria não era minha Annabeth.

— Você mesma disse, era meu dinheiro e eu fazia com ele o que eu quisesse – Respondi grosso – Nunca mais mexa nas minhas coisas, Annabeth. Deixe-me lembra-la que você tem uma caixa cheia de coisas que você não quer que eu mexa, e eu sempre respeitei isso.

Ela não respondeu, mas também não abaixou a cabeça. Seus olhos ficaram úmidos, mas eu não iria perder aquela discursão, eu não estava errado.

— Certo – Ela respondeu pegando novamente o lençol – Você não negou. E você faz o que você quiser da sua vida.

Ela passou por mim e saiu fechando a porta.

...

A cama parecia mais fazia do que realmente estava naquela noite, assim como meu peito.

Eu não teria perdido Annabeth, teria? Iriamos nos resolver, certo?

Passei a manhã brincando com Amy, enquanto Annie estava na cozinha, ajudando no almoço. Ela não ficará no mesmo cômodo que eu desde que deu de contra comigo no corredor dos quartos, mas era educada demais para não sentar a mesa na hora do almoço.

— E como estão as coisas na casa? – Minha mãe perguntou, sorrindo, enquanto comíamos.

Nenhum de nós respondeu. Eu abaixei os olhos e suspirei com raiva.

— As coisas claramente não estão boas – Paul falou – Querem compartilhar alguma coisa?

Paul e minha mãe estavam sempre tentando resolver as coisas entre mim e Annabeth quando elas pareciam erradas, nunca ultrapassando nenhum limite da nossa privacidade, claro.

— Vocês nem olharam um pro outro essa manhã.

Os olhos de Amy, eu notei, corriam de mim para Annie, depois para mamãe e Paul. A menininha estava confusa.

Annabeth continuou calada encarando a comida. Eu resolvi falar, porque minha mãe começaria uma terapia de casal se falássemos ou não.

— A Annabeth acha que eu to traindo ela – Eu disse baixo, mas alto o suficiente para eles ouvirem.

— Não fale como se eu fosse a única culpada, ou como se não tivesse motivos para achar isso – Ela rebateu.

— Mas você não tem, Annabeth – Eu disse – Você. Não. Tem.

— Agora eu quero entender – Minha mãe franziu os cenhos – O que você fez pra ela achar isso, Perseu?

— Sally... – Paul interrompeu.

— Perseu?

— Mãe, eu não quero falar sobre...

— Mas eu quero – Sally rebateu. Eu a encarou, ela parecia preocupada, brava talvez.

— Sally, de verdade, deixa pra lá – Annabeth murmurou.

Minha mãe continuava me encarando. Desviei meu olhar para Paul, que era o único que sabia –mais ou menos- o que estava acontecendo.

Annabeth suspirou e contou tudo que tinha acontecido para ela, e antes que ela pudesse terminar, eu intervi:

— Ela está se precipitando...

— Calado, Perseu – Minha mãe apontou.

— Eu estou tirando conclusões diante da situação, Percy!

Eu me levantei. Paul se levantou junto comigo.

— Você é tão controladora, mas tão controladora, que me faz pensar não duas, não três, mas milhões de vezes antes de pedir...

— Percy! – Paul deu a volta na mesa e segurou meus ombros – Okay, já passou, não temos necessidade de trazer isso á tona.

Eu fiquei encarando Annabeth por um longo tempo e ela me olhava de volta confusa. Eu podia sentir o olhar de minha mãe sobre mim e Paul.

— Mami? – Amy chamou

Tanto Annabeth quanto Sally olharam para ela.

— Meu purê acabou.

Nós sorrimos e Annabeth, que estava mais perto, colocou mais um pouco de purê no prato da menina.

— Obrigada – Ela murmurou e voltou a comer, como se a discursão ao redor dela não fosse nada.

...

Annabeth voltou para nosso quarto naquela noite, para tomar banho e pegar uma roupa. Ela vestia um vestido longo de dormir e estava virada de costas para mim quando passei pela porta e a fechei.

Sabia que ela tinha me ouvido chegar porque vi ela começar a recolher suas coisas de cima da cama. A abracei pelas costas antes mesmo que ela pudesse se mexer.

— Me solte – Ela pediu baixo, mas não fez nenhuma força para tentar desviar-se de meus braços, apenas suspirou alto outro quando apertei meus braços em sua volta – Percy...

— Você vai me escutar – Eu murmurei em seu ouvido – E se em algum desses anos inteiros juntos conseguiu juntar alguma confiança... você vai acreditar em mim.

— Eu confio em você – Ela respondeu trêmula.

— Não o suficiente – Eu rebati – Eu nunca trairia você, Annabeth. Ou a abandonaria. Eu a amo mais do que a mim mesmo. Desistir de ser deus, ou pretor, ou cai no tártaro com você... eu não fiz só por você, eu fiz porque faz muito tempo que você deixou de ser minha namorada. Você é uma parte de mim que eu não consigo viver sem, você me entende?

Ela concordou, o corpo inteiro tremendo com o primeiro soluço que saiu de seus lábios, e eu tive a familiar sensação de algo frio cutucando meu coração, como sempre sentia quando ela estava sofrendo.

— E é por isso que eu estou fazendo o que estou fazendo, pode parecer confuso e estranho pra você agora, mas logo fará sentindo, eu juro – Eu beijei seu pescoço e sua bochecha e qualquer parte de seu corpo que conseguia alcançar.

Ela concordou mais uma vez e se afastou o suficiente de meus braços apenas para se virar e passar as mãos pelo meu peito, me abraçando mais perto. Os olhos vermelhos e o corpo ainda tremulo.

— Eu confio em você – Ela repetiu – Me desculpe por isso – Ela começou a chorar de verdade – Me desculpe mesmo.

Eu segurei seu rosto em minhas mãos e beijei seus lábios.

— Já passou – Eu murmurei – Eu perdoo você.

— É que eu tenho tanto medo de perder você, Percy.

Eu senti meu coração bater mais forte. Eu passava tanto tempo pensando em perder Annabeth, sobre como tinha medo de ela perceber que podia encontrar alguém melhor do que eu, que ela era inteligente demais, bonita demais, ela era demais para mim. E ela sabia disso, e ela vivia me lembrando de que tudo isso era besteira.

— Oh, Annie... eu não sabia que você se sentia assim...

— É que você é sempre tão inseguro sobre você mesmo – Ela disse – E eu não – Ela se parou e soluçou – Eu simplesmente não tenho espaço pra ser também.

— Eu não queria fazer você se sentir assim, amor – Eu lhe disse, acariciando os cabelos – Achei que você soubesse que pode sempre expressar o que quiser pra mim, assim a gente resolve juntos.

— Ta vendo – Ela bateu um pé no chão – Você é sempre tão compreensivo – Eu dei de ombros e ela sorriu boba – Você é um herói – Ela continuou – É gentil, é carinhoso e é altruísta. Além de ser muito bonito.

Eu ri.

— Todos gostam de você – Ela me encarou – E eu tenho tanto medo que você perceba que pode encontrar alguém mais... bonita, engraçada e menos controladora do que eu.

Eu tive que rir novamente, Annabeth me olhou confusa.

— Não importa quantas mulheres existam nesse mundo, Annie – Eu segurei seu rosto em minhas mãos mais uma vez – Nenhuma dela nunca, nunca, vai ser mais bonita que você. E se você fosse só bonita... mas você é inteligente pra peste. É carinhosa e sensível, e cuidadosa, não só comigo, deuses, você tem um instinto protetor com Amy que eu acho incrível. Você é incrível. Esperta como é já devia ter notado!

Ela sorriu envergonhada.

— Eu amo você – Repeti para ela – Amo tudo em você. Mesmo a parte controladora.

Ela riu baixinho.

— Eu também amo você – Foi a vez dela de segurar meu rosto em suas mãos – Você também é uma parte de mim, uma parte irritante – Eu rolei meus olhos e ela sorriu – Mas uma que eu não consigo viver sem.

Finalmente ela me beijou de verdade, como não fazia a semanas e eu não podia estar mais agradecido.

Quando Annabeth descobriu que todo aquele dinheiro tinha sido pra uma aliança e que todos os meus esforços para esconder era para que ela não estragasse a surpresa do meu pedido de casamento, a mulher chorou e pediu mil desculpas por ter sito tão incompreensiva, logo depois de dizer sim, claro.

E quem me dera se os problemas com essa aliança tivesse sido só esse.

...

Era quinta feira, eu voltava do trabalho no meu horário normal de sempre e menos cansado do que a uns meses atrás.

Bati os dedos inquieto esperando o sinal abrir. Meu celular tocou no banco do passageiro e eu olhei para ver de quem era a chamada.

Franzi os cenhos. Eu ainda não estava atrasado para Annabeth estar ligando. Não tive muito tempo para pensar sobre o que poderia ser, já que o celular parou de vibrar logo depois.

Eu sentia que algo estava errado. Para que ligar e não esperar chamar nem duas vezes? E se...

Eu escutei carros buzinarem atrás de mim e notei o sinal aberto. Dirigi mais rápido do que o normal, temeroso que algo tivesse acontecido com Annabeth.

Toquei o pingente que ela me dera no cordão do acampamento. Talvez não fosse nada, talvez fosse tudo.

— Annie? – Gritei logo quando cheguei em casa.

Ela não respondeu.

Meu coração bateu mais forte e eu adentrei mais na casa, uma vontade crescente de chorar, com medo de algo ter acontecido com ela.

— Annie?! – Eu gritei outra vez, quando já estava na cozinha.

O lugar estava arrumado para jantarmos, até mesmo a pia, mas ela não estava lá.

Não tinha ido para os quartos, mas já estava considerando chamar a policia – aka Reyna, quando Annabeth apareceu no corredor.

— Annie! – Eu suspirei de alivio.

Caminhei até ela e então a preocupação voltou. Ela não parecia bem, o rosto com a expressão inquieta e o sorriso forçado. As mãos escondidas para trás e o corpo se movimentando, preocupada.

— O que aconteceu, meu bem? – Eu segurei seu rosto, ela abaixou os olhos baixos, mas eu pude ver a marca das lagrimas em seu rosto – Você estava chorando? Está com dor? Quer que eu a leve no médico?

Ela negou e deu outro sorriso forçado.

— Foi só algo que vi na TV – ela balançou as mãos em descaso – Besteira.

— Porque me ligou?

— Ia pedir para trazer algo mais lembrei que você devia estar dirigindo.

Concordei, ainda preocupado.

— Quer que eu volte no mercado e compre o que você queria?

— Não! – Ela negou e então pareceu pensar – Talvez eu devesse ir, você está cansado, não está? Porque não toma um banho enquanto eu vou lá?

Ela falou tudo muito rápido e pelo seu olhar, não parecia uma pergunta.

— Certo – Eu concordei – Tem certeza que está tudo bem?

— Tenho sim, amor – Ela respondeu sorrindo, já pegando a bolsa e o casaco – Não vou demorar.

Eu caminhei até ela e tentei pegar sua mão.

Desde que tinha colocado a aliança de noivado em seu dedo, segurar sua mão tinha se tornado ainda melhor, por conta do metal gelado em seu anelar.

Ela desviou e me deu a outra mão. Esta tinha um band-aid em dois dos dedos.

— Annie... – Eu virei sua mão e arregalei os olhos, notando marcas vermelhas pelo braço.

Ela puxou o braço de minhas mãos.

— Eu já vou, Percy – Ela beijou meus lábios, encerrando o debate, e saiu pela porta em seguida.

Eu andei pela casa toda em busca de sinais de luta, mas tudo que eu encontrei de diferente foi uma corda com um pequeno aro na ponta, perto de um pedaço de ferro retorcido, também na ponta, tudo em cima da pia.

Eu nunca tinha visto aquelas coisas na minha casa e não imaginava pra que elas serviam.

Ela já tinha saído já fazia uns dez minutos quando eu notei outra coisa estranha na cozinha.

Havia respingos de sangue na pia e eu cheguei a conclusão de que Annabeth tinha se cortado fazendo a comida.

Mas porque não tinha ligado a pia? E não tinha nenhuma louça, então como ela tinha se cortado, lavado as louças e continuou tendo sangue ai?

Eu estava ligando a torneira para limpar os respingos quando Annabeth entrou correndo na casa e segurou minhas mãos, a expressão desesperada no rosto.

— Não ligue a torneira – Ela pediu, ofegando.

— Porque? Tem algum problema com o encanamento?

— Hã... sim – Ela respondeu.

— Okay... eu vejo depois do jantar – Eu disse e ela arregalou os olhos.

— Não precisa!

Annabeth era uma melhor mentirosa, se eu bem me lembrava.

— Vamos jantar – Ela me puxou para a mesa e me sentou em uma das cadeiras – Você está cansado, eu chamo alguém para fazer isso amanhã.

Annabeth mal tocou na comida. Ela comia rápido e então escondia a mão novamente. Ela comia apenas com uma.

Quando ela se levantou e pegou as coisas para levar para a pia, eu segurei seu braço.

Tirei as coisas de sua mão e coloquei no devido lugar. Segurei suas duas mãos e olhei em volta. Ela tremeu.

— O que você foi comprar? – Eu questionei – Eu não vejo as sacolas.

Ela continuava tentando soltar a mão direita da minha, a mão que aparentemente ela estava tentando esconder.

Eu segurei essa com mais força, alheio demais para talvez pensar que faltava uma sensação ali.

— E-eu guardei na dispensa – Ela respondeu.

Eu analisei sua mão direita. Annabeth tremeu novamente. Não havia nada ali. Nenhuma marca nos braços, nenhum machucado. Mas havia algo errado, sim. Não havia nada ali.

E devia haver.

— Cadê seu anel? – Eu franzi os cenhos e conferi se estava olhando a mão errada.

Mas não. Eu tinha certeza de ter colocado aquela aliança ali, oito meses atrás.

— Eu guardei na...

— Na dispensa? – Eu questionei e levantei uma sobrancelha.

— Não – Ela negou – Guardei no nosso quarto.

— Você nunca tira a aliança – Eu rebati.

Ela desviou os olhos dos meus.

— Annie...?

Ela respirou uma, duas, três vezes.

— Eu tirei para lavar a louça – Ela respondeu, ainda sem olhar para mim.

Então minha mente clareou e entendi porque ela não queria que eu segurasse sua mão, que eu nem tinha percebido a falta do geladinho até agora.

Ela também não queria que eu ligasse a torneira. Não era um problema de encanamento e o anel não estava no nosso quarto.

— Você perdeu o anel, não foi, Annie?

Ela negou varias vezes.

— Perdeu é uma palavra muito forte de se usar – Ela falou, a voz tremula e tentando parecer descontraída – Eu diria que... Ele meio que entrou pelo ralo.

Eu queria ficar bravo, mas com Annabeth tentando aliviar o clima não dava, principalmente porque eu ainda segurava as mãos dela e as mesmas tremiam.  Ela estava desesperada, essa era a palavra que eu vinha procurando para defini-la desde que vira seu rosto ao entrar em casa.

— Como? – Eu questionei, tentando permanecer serio.

— Hã... lavando louça...

— Não – Eu neguei – Como?

Virei sua mão esquerda e mostrei os machucados.

— Ah – As bochechas dela coraram – Eu... Eu fiquei com medo de você ficar bravo e tentei pegar de volta eu mesma. Eu enfiei a mão lá dentro, esperando que não tivesse passado do crivo do triturador.

Eu arregalei os olhos.

— O triturador estava desligado! – Ela acrescentou – Eu conferi! Mas eu cortei o dedo nas laminas de qualquer maneira.

Ela fungou e tremeu mais uma vez.

— O anel não estava lá – Ela respondeu e eu vi a primeira lagrima escorrer – E então eu fiquei presa.

Eu tive que segurar o riso só de imaginar o braço de Annabeth preso na pia.

— E eu liguei para você para pedir que voltasse rápido – Ela explicou – Mas ai eu notei que isso só me daria menos tempo de pegar de volta, e você ficaria tão bravo. Eu não queria deixa-lo bravo.

A esse ponto ela já chorava de verdade.

— Eu fui em uma loja de materiais de construções agora – Ela fungou e tentou conter o choro – Vê se tinha algo que pudesse me ajudar. Mas o rapaz só riu de mim e me disse que eu precisaria abrir a coisa toda pra pegar de volta! Como ele pode rir?

Eu tive que dar uma risada.

— Você também? – Ela bateu em meu peito.

— Ei – Eu a olhei serio – Você perdeu a aliança, não eu.

— Não perdeu porque não usa – Ela rebateu – Se usasse já teria perdido a tempos, tenho certeza.

— Você vai mesmo ficar me ofendendo diante da situação que você se encontra? – Eu questionei – Quer me deixar bravo? Porque eu só preciso pensar em todas as horas extras que eu fiz pra comprar aquilo que...

— Não! – Ela segurou meu rosto – Eu vou pegar de volta, eu juro.

Eu neguei e beijei sua testa.

— Eu vou pegar – Ele respondeu – Se acalme. Vá lá na lavanderia e desligue o registro de agua, certo? Ou vamos molhar a casa toda.

Ela confirmou e foi.

Caminhei até a dispensa e peguei a caixa de ferramentas e depois fui até a pia e finalmente tratei de me livrar daquele casaco que vestia.

— Já, Annie?!

— Já! – Ela respondeu.

Quando estava terminando de tirar os parafusos, ela chegou na cozinha.

— Precisa de mais algo? – Ela questionou.

— Pegue uma panela grande – Eu murmurei, meio sem ar por conta da posição que eu me encontrava.

Minhas costas doeriam ainda mais.

Quando eu afroixei o sifão, eu fui pego de surpresa.

Bem, eu sou filho de Poseidon, mas não estava esperando pela água que veio em meu rosto, afinal de contas, o registro devia estar desligado.

Eu devo ter engolido meio litro daquela água nojenta antes de consegui apertar o sifão novamente.

— Percy! – Annabeth se ajoelhou ao meu lado – Isso devia ter acontecido?

Ela tirou os cabelos molhados do meu rosto e eu cuspi um pouco de água para o lado.

— Não – Eu respondi e lhe encarei – O registro devia estar desligado.

— Eu desliguei! – Ela se defendeu – Quer dizer, eu acho.

Eu bufei, agora bravo de verdade.

— Segure isso aqui – Eu puxei a mão dela para lá e a deixei segurando.

Desejei ficar seco, mas não tinha muito o que fazer com o fedor. Tirei a camiseta e caminhei até a lavanderia. Lavei o rosto e só então desliguei o registro.

Annabeth podia segurar lá por mais um tempo.

Era o castigo dela.

— Certo – Eu disse quando voltei.

Peguei a panela perto do seu pé e coloquei lá em baixo para que qualquer outra água suja que fosse sair dali não molhasse ainda mais as coisas.

Annabeth me encarou por um tempo e então desviou os olhos, corada.

O que, obviamente, me fez corar também.

Fiz tudo que devia fazer e finalmente peguei a pequena grade cheia de restos de comida e bem... o a bendito anel.

Annabeth arfou aliviada.

Deixei ele longe das mãos dela.

— Vá ligar o registro – Eu disse enquanto terminava de por os últimos parafusos.

Ouvi ela saindo e então esperei até a agua escorrer pela torneira.

Segurei o anel com cuidado e limpei tudo que tinha que limpar dele.

Annabeth esperava ansiosa atrás de mim.

Me virei para ela e peguei sua mão. Coloquei o anel em seu devido lugar e senti ela se arrepiar, ao olhar para seu rosto, ela lagrimava novamente.

— Não precisa chorar, eu já peguei de volta e não estou tão bravo assim – Eu toquei seu rosto, limpando suas lagrimas – Só tome mais cuidado, certo?

Ela confirmou e me abraçou.

— Desculpe, Percy – Ela pediu mais uma vez.

— É só um anel, Annie – Eu respondi baixo – Não é como se você tivesse perdido meu amor.

Ela confirmou, ainda chorando.

— Mas eu amo ele no meu dedo – Ela respondeu – É um bom pedacinho seu pra carregar e me lembrar de todos esses sentimentos.

— Eu sei – Eu respondi e beijei seus cabelos – Eu também adoro o geladinho dele em qualquer lugar que você me toca.

Ela riu e me abraçou mais forte, suspirando.

— Você está fedendo – Ela murmurou, mas não me soltou.

— É culpa sua – Eu murmurei e depois ri.

— Essa é a parte do filme que você me leva pra tomar um banho com você – Ela respondeu baixinho.

Eu ri.

— Eu bem que preciso de um banho mesmo – Segurei sua cintura e lhe dei impulso para que ela pudesse enroscar as pernas em meu tronco.

Beijei-lhe os lábios com fervor e escutei-a suspirar alto.

— Se eu descobrir que você fez isso de proposito – Eu disse enquanto subia as escadas com ela em meus braços – Você vai me pagar.

Ela riu e me beijou mais uma vez.

— O que você quiser – Ela murmurou.

...

No final das contas, Annabeth carregaria um pedacinho ainda maior para lembrar-se de todos aqueles sentimentos. Nós descobriríamos da pior maneira possível e iria nos machucar terrivelmente, mas passaríamos por aquela perda juntos, também.

Depois de eu mesmo ter passado pelo sentimento de perder as alianças de casamento, poucas semanas antes do casamento, eu entenderia como ela tinha se sentido.

As minhas mãos tremiam mais do que eles deviam. Qualquer pessoal ao redor poderia ouvir minha respiração se fizesse o mínimo de silencio, já que ela era pesada e tremula.

Droga, eu já estava noivo a mais de um ano, não podia estar sinceramente nervoso apenas no ato de vim pegar as alianças.

— Você está reconsiderando? – Escutei uma voz ao meu lado.

De primeira achei que fosse meu pai – Sim, Poseidon veio comigo já que Paul estava ocupado, e embora ele esteja bem caladinho ao meu lado, sei que me nervosismo lhe diverte – mas a voz vinha do outro lado.

Olhei para o rapaz ao meu lado e ele sorria, também nervoso.

— Hã?

Ele riu.

— Está reconsiderando? Sobre o casamento?

— Ah – Eu batuquei os dedos na coxa – Não. Só meio impaciente mesmo.

— Está aqui a muito tempo? – Ele questionou.

Decidi que se ele estava puxando assunto, era porque também estava ali a muito tempo.

— Sim – Concordou – Você?

— Também – O rapaz suspirou – Na verdade eu não sei se quero fazer isso.

— Casar? – Franzi os cenhos.

— É – O homem ao seu lado parecia cada vez mais incomodado – Moramos juntos á dois anos e eu não sei se quero morar com ela pro resto da vida.

Olhei bem para o rapaz. Ele estava falando serio?

— Então porque a pediu em casamento? – Ele me encarou.

— Ela me pediu em casamento – Rebateu.

Escutei Poseidon rir baixinho.

— Oh – Eu tive que dar um sorrisinho também – Entendi.

— E eu sabia que se eu dissesse não, nosso relacionamento acabaria – Ele murmurou e então abaixou os olhos – Eu só... eu só não tinha certeza ainda.

Concordei e então olhei para o antebraço do rapaz.

— Você é semideus?

Numa civilização comum, se eu perguntasse isso para alguém, eu provavelmente pararia no manicômio como louco ou na cadeia por assedio.

— Não – Ele suspirou pesadamente – Esse é um dos outros problemas. Ela é. E eu não sei se essa vida agitada que eles levam serve pra mim.

— Acredite – Voltei a me encostar na cadeira – Não serve pra gente também.

— Você é, então?

Concordei. Ele arregalou os olhos.

— Então ele é um deus?! – Ele falou baixinho apontando pra Poseidon.

Sorri de lado e cutuquei meu pai com os pés.

— Sim.

— Isso é incrível – Ele murmurou e então ajeitou a postura.

Sorri mais uma vez para ele, logo para ver a moça com a caixinha nas mãos me olhando com ela estendida.

— Espero que você consiga resolver esse problema, cara – Eu bati em seu ombro e levantei, Poseidon junto comigo, aliviado.

O cara continuava olhando para meu pai como se a qualquer momento ele fosse crescer e destruir o lugar inteiro.

Eu peguei a caixinha com todo o cuidado das mãos da mulher e suspirei.

— Elas não vão quebrar, se acalme – Ela riu e então voltou lá para dentro.

— Ela está certa, Percy – Poseidon tocou meu ombro sem nem um pouco de delicadeza, a caixinha tremeu em minhas mãos – Agora vamos comer, eu estou morto de fome.

...

— Porque eu que tenho que ficar com elas, pai? – Eu questionei Poseidon pela milésima vez, enquanto dirigíamos para o CRAM.

Havia tido uma emergência com um dos animais, e como Poseidon já estava comigo, resolveu me acompanhar.

— Porque você é o noivo, Percy – Poseidon suspirou – Não pode pedir para Annabeth guarda-las.

— Ela bem que podia – Eu rebati – Ela tem menos chance de perdê-las do que eu.

— Você não vai perdê-las, certo? – Poseidon tentou me acalmar, tocando meu ombro e dando tapinhas ali.

— Você ficaria surpreso com a minha capacidade de fazer besteiras, pai – Eu sussurrei – Será que o pai do noivo não pode ficar com elas?

— Eu sou um deus, Percy – Meu pai disse como se aquilo fizesse total sentido na conversa – Eu vou perdê-las mais rápido do que você. A não ser que você esteja falando do deu outro pai, Paul...

— Ei – Eu ri – Cuidado com o ciúme, Poseidon.

O deus rolou os olhos murmurando que não sentia ciúmes coisa nenhuma.

Eu suspirei e estacionei o carro.

— Vamos resolver logo isso para que eu possa guardar essas alianças no cofre do armário que eu achei que nunca fosse usar

Poseidon riu.

— Não precisa ser tão exagerado assim.

— Desse jeito eu não vou perdê-las – Eu rebati.

Quando cheguei ao lugar, caminhei direto para o meu escritório, que ficava no andar de baixo. O lugar era grande e tinha uma parede de vidro, que dava para o aquário de Athlas, meu golfinho.

Poucas pessoas nesse mundo tem um golfinho no seu escritório. Eu sou bem especial sim.

“Hey, Chefe”

Aquilo me fez lembrar de Blackjack e eu senti uma pontada de saudade.

“Já disse que não precisa me chamar assim”

“Chefão!”
Poseidon riu.

— Eu adoro os humanos – Ele disse em voz alta, brincando com o animal.

— O tanque dele é bem grande – Eu disse, mexendo em algumas gavetas – Ele gosta de mim então me colocaram nessa sala. E eu não reclamo porque ela é mais do que boa. Ele é meio que meu, já que Annabeth não quer que tenhamos um cachorro, eu tenho um golfinho. Mas ei, alguém vai voltar pra casa semana que vem não é mesmo?

Athlas fez um barulho triste.

“Você vai arrumar outro golfinho”

“Nunca vou esquecer de você, amigão. Mas você vai ser muito mais feliz com seus outros irmãos de volta no oceano”

Ele fez outros barulhos mais animados.

“Ei, eu vejo você lá em cima”

“Certo, chefe. Tchau, chefe. Tchau, chefão”

Poseidon acenou e sorriu mais uma vez.

— Annabeth sabe desse seu animalzinho? – Ele perguntou.

Eu concordei.

— Ela disse que contanto que eu nunca leve ele para casa, por ela tudo bem.

Poseidon deu mais uma gargalhada.

Eu resolvi o problema que tinha que resolver – que no caso tinha sido uma briga entre duas baleias. Eu odiava quando aquilo acontecia porque na maioria das vezes só mostrava que uma delas ainda estava muito danificada para voltar e podia machucar ainda mais delas lá fora. O que significava mais tempo ali, e eu desejava que fosse de outro jeito – e então quando passei pela parte de cima do aquário de Athlas, ele me molhou.

— Athlas! – Eu gritei e ele riu animado – Não quando estou de terno!

O golfinho não pareceu ligar. Eu comecei a tirar o terno molhando enquanto Poseidon ria e tinha uma conversa com meu golfinho.

Eu me perguntava se aquilo tinha sido planejado.

— Sr. Jackson – Eu escutei alguém me chamar – Pode voltar na sala, por favor?

Eu suspirei. Eu devo ter largado o terno em algum lugar por perto, porque quando voltei ao aquário das baleias, ele não estava em minhas mãos.

Sai pelos fundos, com medo de passar por Athlas e ele me molhar novamente.

— Você tem um trabalho bem divertido – Poseidon comentou.

Eu concordei.

— Muito.

Eu estacionei na porta de casa e já estava saindo do carro quando Poseidon chamou minha atenção.

— Onde estão as alianças?

— No bolso do terno – Eu disse e fechei a porta do carro.

Poseidon saiu logo depois, me olhando como se eu fosse louco.

— Você não está mais com o terno, Percy.

Droga.

Eu entrei novamente no carro e Poseidon me seguiu.

— Droga, droga, droga – Eu murmurei, as mãos tremendo enquanto tentava ligar o carro.

— Você pode ter deixado no restaurante – Meu pai parecia tão nervoso quanto eu.

Eu concordei e comecei a dirigir para lá.

Meu telefone tocou quando eu estava quase estacionando no restaurante.

— É Annabeth – Meu pai informou.

Eu peguei o telefone da mão dele e o encarei por um tempo.

— Amor – Eu disse e sorri como se ela pudesse me ver – Tudo bem?

— Hã... o carro parou aqui na frente e então você voltou pra algum lugar.

— Eu esqueci algo no CRAM – Estava quase saindo do carro para ir até o restaurante, mas o que acabei de falar, clareou minha mente.

Eu tinha tirado o terno e pendurado no vidro do aquário de Athlas.

— Eu espero que não tenha sido as alianças, Percy – Ela murmurou e então suspirou.

— Não – Eu disse rápido – Claro que não.

— Não faça eu me arrepender de respeitar tradições e não ter guardado elas eu mesma.

— Claro que não – Eu repeti – Elas estão aqui, certo, pai?

— Hã... sim – Poseidon disse e continuou a bater as mãos na perna.

— Certo – Ela se rendeu – Vejo você depois, não demore. E garanta que Poseidon venha jantar.

— Claro – Eu disse – Agora tenho que desligar, tchau – Não esperei uma resposta e coloquei o celular de volta no suporte – Pai, estamos ferrados.

— É sua noiva – Ele rebateu, embora ainda estivesse nervoso – Não minha!

Eu não respondi, apenas continuei dirigindo.

Quando chegamos ao CRAM, meu terno ainda estava onde eu tinha deixado, Athlas estava do outro lado brincando com algo com alguns outros golfinhos e não me notou ali para me molhar.

Eu peguei a peça de roupa e coloquei a mão nos bolsos.

— Percy... – Meu pai disse cauteloso quando eu neguei varias vezes com a cabeça – Annabeth vai matar você!

— Não me fale como se eu não soubesse! – Murmurei de volta – Eu vou no meu escritório. Procure Josh, ele é o faxineiro, se eu deixei cair, ele deve ter guardado.

Poseidon confirmou e eu comecei a caminhar para o escritório. Eu estava tão ferrado, meus deuses.

— Nada – Eu disse abrindo gavetas e olhando em baixo dos armários.

Eu voltei e encontrei meu pai no corredor, pelo olhar preocupado dele, Josh não tinha achado não.

Eu gemi e me sentei no chão do corredor.

— Deus – Eu disse para nenhum deles em especifico – Como eu consegui perder em tão pouco tempo?

Poseidon se sentou ao meu lado e me mostrou o celular.

Annabeth novamente.

Eu atendi.

Se fosse para ela me bater quando eu chegasse em casa, que ela pelo menos estivesse mais calma quando eu chegasse lá.

— Hey, querida – Eu murmurei – Você sabe que alianças são só uma invenção capitalista pra ganhar dinheiro certo? O que importa são nossos sentimentos.

— Você perdeu elas, não foi, Percy? – Ela murmurou do outro lado da linha.

— Perde é uma palavra muito forte – Eu bati os pés distraidamente no chão.

Ela ficou calada, como se esperasse que eu completasse com algo, da mesma forma que ela tinha feito algum tempo atrás.

— O que então? – Disse quando eu não falei nada.

— Hã... – Olhei para Poseidon, que deu de ombros – Eu diria que acidentalmente esqueci onde as coloquei, porque na minha cabeça só tem espaço para os nossos momentos maravilhosos juntos, não sobrou espaço pra nada mais.

Ela riu do outro lado da linha e Poseidon do meu lado.

— Você não vai se safar dessa com isso, Sr. Jackson – Ela disse.

— Eu sei, Sra. Jackson – Eu rebati.

— Ah, se você quer tanto que eu seja a senhora Jackson, ache as alianças – Ela falou – Não volte para casa até ter elas em mãos.

E então ela desligou.

— Essa foi boa – Poseidon murmurou.

— Não adiantou.

— Sr. Jackson? – Carol, uma das biólogas chamou.

— Hey, Carol – Eu acenei.

Ela sorriu.

Carol tinha sido minha instrutora. Ela queria ser mais do que isso, por um tempo. Até conhecer Annabeth.

— O que faz ai? Não devia estar em casa?

— Perdi as alianças do meu casamento – Eu disse como se fizesse isso todos os dias – Annabeth não vai me deixar em casa.

Ela riu.

— Eu posso ajudar com isso.

Eu levantei num pulo, Poseidon junto.

Ela caminhou até o armário de achados e perdidos e tirou a caixinha de lá.

— Mas Josh disse que...

Eu peguei a caixinha e abracei ela perto de mim.

— Foi Melanie que achou.

Eu franzi os cenhos. Melanie cuidava particularmente dos golfinhos. A caixinha estava parcialmente molhada.

— Athlas – Eu murmurei, bravo.

— Ele é um bichinho esperto – Carol concordou – Estava brincando com ela. Não caiu na água, por sorte.

— Ele deve ter pego do bolso do terno – Eu disse e olhei para onde Athlas ficava – Aquele... eu devia tê-lo ensinado menos.

Carol sorriu e tocou meu ombro.

— Espero que tenha salvado seu casamento.

— Definitivamente – Eu sorri de volta para ela.

Quando eu e Poseidon caminhávamos de volta para o carro, eu peguei meu celular.

— Não...

Eu disse antes que ela pudesse falar qualquer coisa:

— Eu as peguei de volta. Você não vai escapar de ser a Sra. Jackson com tanta facilidade assim.

E eu podia vê-la sorrindo dali mesmo.

Ambos tínhamos sentindo o que era achar que nosso casamento estava acabado por um aro de metal, e bem, pelo menos eu, tinha aprendido algo com aquilo tudo.

Que com ou sem aquelas alianças, nada mudava entre eu e Annabeth. Nosso casamento ainda aconteceria em três semanas, mesmo que eu não tivesse encontrado as alianças. Tudo porque o amor não estava nelas, estava dentro de nós dois, e enquanto tivéssemos um ao outro, teríamos tudo.

Nem que tivéssemos que usar barbantes nos dedos, Annabeth seria minha esposa.

E isso era tudo que importava.


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Notas finais do capítulo

CRAM quer dizer Centro de Reabilitação para Animais Marinhos. E é um negocio tão a cara do Percy que se esse não for o trabalho da vida dele eu nem quero pensar o que mais ele poderia fazer.
btw, eu espero que vocês tenham gostado visse. Eu me divertir escrevendo e ri porque só quem ja deixou algo importante cair no ralo do banheiro sabe o desespero rs.
aaaaa eu li a Hospedeira essa semana que passou, é um livro lindo né gente? Que já leu e também amou da um amém Ian homão da porra ai.
Até mais gente, vejo vocês numa proxima ♥
Beijão, amo vocês ♥