Ciúmes escrita por Yokichan


Capítulo 1
Capítulo 1




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Karin ainda trabalhava no laboratório, curvada sobre o microscópio, quando Suigetsu entrou sem ser anunciado. Os demais médicos e biólogos que ocupavam aquela ala do hospital já estavam acostumados àquelas aparições repentinas, de modo que nem mesmo erguiam os olhos de suas pesquisas quando ele passava em direção à sala da esposa. A única exigência era para que deixasse aquela coisa enorme que chamava de espada – a Kubikiribocho, herança da Névoa – do lado de fora.

Era um daqueles fins de tarde quentes em que o sol começava a retirar-se em uma trégua, para alívio de todos, embora o ar ainda fosse aquele hálito morno que apenas esfriaria na metade da noite. O calor do verão de Konoha era a única circunstância que fazia com que Suigetsu sentisse saudades do País da Água e da “Névoa Sangrenta”, como os mais velhos ainda chamavam a vila da qual ele viera.

Ele cruzou os braços e apoiou um ombro num grande arquivo de metal enquanto observava a mulher imóvel e concentrada diante do microscópio. Na maior parte do tempo, ele achava aquilo tudo um tédio – moléculas, códigos genéticos, padrões e todas aquelas coisas visíveis apenas sob uma lente. Contudo, ao ver como Karin dedicava-se àquilo e ao perceber como ela era inteligente, muito mais inteligente do que ele jamais seria, Suigetsu orgulhava-se do trabalho da mulher e respeitava, com uma seriedade quase reverente, aquele mundo microscópico e incompreensível para ele.

E pensava que Karin era mesmo uma pessoa incrível.

Nesses momentos, ele costumava perguntar-se como ela podia ter aceitado casar-se com um tolo feito ele. Depois do fim da guerra, da aliança entre as nações e de dois meses de namoro, ela havia dito que o amava e ele a pedira em casamento porque desde sempre tinha sido louco por aquela mulher. Então ela aceitara. E ali estavam eles, morando na mesma Konoha que, no passado, haviam considerado como inimiga.

— Eu já estou terminando. – ela disse sem desviar os olhos das lentes. – Você pode esperar?

— Tudo bem.

Suigetsu só queria voltar para casa com a mulher, tomar um banho gelado e conversar sobre como tinha sido o dia. E, sobretudo, poder finalmente tê-la só para si, depois de um dia inteiro de espera. No começo daquela rotina de casal, ele pensou que o trabalho na Anbu poderia distraí-lo e dar-lhe a sensação de que o tempo passaria mais depressa até que pudesse ver a esposa outra vez, no final do dia. Porém, nem mesmo aquilo havia funcionado. Karin continuava ocupando a maior parte de seus pensamentos.

Fazia quase um ano que eles estavam casados.

Enquanto esperava, ele sentou-se numa cadeira giratória e observou o amontoado de pastas e papéis sobre a escrivaninha próxima da porta. Não entendia como Karin conseguia entender-se naquela bagunça, mas então pensou que deveria ser “coisa de cientista”. Uma das folhas mais ao alcance dos olhos chamou sua atenção por estar timbrada com o símbolo dos Uchiha. O lacre estava partido, como se Karin tivesse lido a mensagem e a deixado ali, esquecendo-se dela.

Suigetsu franziu o cenho, subitamente aborrecido. O que o maldito Sasuke poderia ter para falar com sua mulher? Mesmo agora, quando ambos tinham suas respectivas famílias, ele insistia em ser aquele cara irritante? Suigetsu detestava admitir que ainda mordia-se de ciúmes ao pensar naquele envolvimento que Karin tivera com Sasuke no passado, ao lembrar-se de como ela tinha sido apaixonada por ele e de como ele exercera aquela influência devastadora sobre ela. Sim, tinham sido outros tempos, mas, mesmo assim...

Ele cerrou os punhos com força enquanto sentia aquela coisa afiada subir-lhe pela garganta, aquele sentimento furioso que tinha ímpetos de ir até o distrito Uchiha apenas para acertar um cruzado de direita naquele cara que não deixava sua mulher em paz. Ciúmes. Uma chama queimando-o por dentro deixou-lhe o rosto corado de raiva. Enquanto tinha os olhos cravados naquele papel, Suigetsu lembrou-se das vezes em que havia implicado com aquela história e em que a mulher o acalmara com um beijinho nos lábios, dizendo que o passado não importava mais.

Mas aquilo não estava certo. Que tipo de homem ele seria se permitisse que outro cara mandasse cartas à sua esposa? Em que espécie de tolo ele se tornaria? Talvez as pessoas da cidade já cochichassem às suas costas, rindo baixinho e referindo-se a ele em termos vergonhosos.

Suigetsu espiou a mulher, ainda concentrada no que fazia, e depois voltou a olhar para aquele maldito símbolo dos Uchiha. E quando levantou-se, rígido feito uma rocha, planejando apenas amassar aquela droga de mensagem e jogá-la no lixo ao seu lado, seu corpo simplesmente agiu por conta própria. Instintivamente, ele se viu amassando o papel com raiva e jogando-o aos pés de Karin.

— O que é isso?

Quando ela se virou, curiosa pelo tom de voz esquisito de Suigetsu e pela sensação de que algo havia batido contra seu tornozelo, encontrou o rosto afogueado do marido e aquela aura sinistra pairando ao seu redor. Depois, pegou o papel do chão, reduzido a uma bola disforme, e percebeu que se tratava da mensagem de Sakura, pedindo para que examinasse, assim que possível, os olhos da filha que haviam despertado o Sharingan.

E entendeu, com um suspiro cansado, que aquilo ia acontecer outra vez.

— Por que essa reação? – ela o encarou inquisitivamente. – É só uma carta de...

Dele! Uma carta daquele maldito!

— De que maldito você está falando?

— Não se faça de desentendida. – ele soltou uma risada maldosa. – E não me tome por tolo.

— Mas isso é por que...

Karin começou a explicar, mas então parou, o rosto ainda tomado pelo sentimento de incredulidade, e deu-se conta de que não precisava passar por aquela mesma ladainha outra vez. Sobretudo, não queria. Estava cansada daquelas discussões absurdas, daqueles ciúmes infundados e daquela mania que Suigetsu tinha de tomar conclusões precipitadas. Estava farta de ser encarada com desconfiança pelo próprio marido, quando o único homem de sua vida não era outro senão ele mesmo.

Que tipo de mulher Suigetsu andava imaginando que ela era?

Irritada, ela amassou novamente o papel e jogou-o de volta para ele.

— Eu não vou te dizer mais nada, e sabe por quê? – Karin fuzilou-o com o olhar.

— Eu gostaria muito de saber!

— Porque você é um idiota, Hozuki Suigetsu!

A meio caminho entre a ofensa e a revolta, ele viu-a tirar os óculos e os largar com um movimento brusco sobre a mesa do microscópio. E entendeu, quase arrependido, que Karin tinha ficado furiosa. Aquele era o sinal de que as coisas estavam começando a ficar perigosamente sérias. Quando Karin tirava os óculos durante uma discussão, ele sabia que o melhor era simplesmente pedir desculpas e se retirar por um tempo. Porém, daquela vez, resolveu que a enfrentaria, afinal, ele merecia uma boa explicação.

— Você é minha esposa!

— Então você deveria me respeitar, ao invés de ficar criando cenas!

— Criando cenas?!

— Saia daqui.

Eles trocaram aquele olhar faiscante e, como Suigetsu não moveu-se do lugar, talvez por querer contrariá-la, talvez por simplesmente não ser capaz, ela repetiu a ordem, atirando na sua direção o primeiro objeto que encontrou e que calhou de ser o teclado de um computador.

Saia!

Repentinamente despertado da imobilidade por um instinto de defesa, ele esquivou-se do teclado, que acabou por espatifar-se contra uma parede, e deixou o laboratório, batendo a porta atrás de si. Enquanto passava pelos demais pesquisadores, assombrados em seus jalecos brancos, distribuía ameaças a um e a outro, mandando-os sair de seu caminho caso quisessem conservar os dentes dentro da boca. Ao passar pela porta que dava para a rua, tomou a Kubikiribocho das mãos do guarda que se encarregara dela com tanta fúria que o homem colocou-se em posição de combate. Porém, ao vê-lo simplesmente dar-lhe as costas e sair marchando dali, o guarda relaxou com um suspiro e enxugou o suor da testa, não sabendo como se salvaria se tivesse que lutar contra um dos antigos Sete Espadachins da Névoa.

Suigetsu, contudo, só tinha vontade de lutar contra uma pessoa.

Uchiha Sasuke.


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