Terapia do Medo escrita por Branca de Neve da Escuridão


Capítulo 1
Conto




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Pernas nervosas agitando-se. Soluços desesperançosos de jovens desacreditados de uma vida melhor. Esse é o cenário no qual me vejo inserida a contragosto. Hoje pessoas morrerão. E pais verão seus filhos serem assassinados a sangue frio, mas, mesmo assim, não farão nada. Nunca fazem. Esse é o problema da sociedade de hoje, ninguém quer avançar contra o sistema, todos têm medo. Mas me pergunto: medo de que, se o que deveriam temer já está acontecendo? Não temos nada a perder.

Hoje pessoas irão se casar. E pais irão celebrar, mesmo que seus filhos não amem seus parceiros, porque todos querem mostrar que conseguiram ser aceitos pelo sistema, embora, por dentro, estão vazios e infelizes.

Sou uma das jovens que terá o destino completamente mudado hoje. Ou me casarei e farei parte da sociedade governada por um ditador autoritário que usa esse método como controle de população; ou não, de modo que, ao fim da cerimônia, serei executada.

Eu prefiro morrer. Morrer é mais digno do que casar sem amor, forçada a ter uma vida que não desejo e gerar um filho de um homem que nem conheço, que não tenho vontade de conhecer. Todavia, não sou eu quem escolho. São eles: os Diáconos, designados a realizar as cerimônias de casamento. Ou os cidadãos de classe elevada que podem comprar o poder de escolher seu companheiro.

Eu sou uma moça de classe baixa, desarrumada e sem admiradores. Certamente não serei casamentada com ninguém, nem espero ser escolhida por algum ricaço. Quer dizer, olhe para mim, quem gastaria seu dinheiro comigo?

A cerimônia começa. Os nomes são chamados numa sequência. Alguns conseguem um par e outros são rejeitados. Famílias inteiras são obrigadas a assistir a essa bizarra seleção.

Meu nome é chamado.

Vou para o palco e paro no meio dele, encarando os Diáconos com desagrado, cerrando os punhos. Eles analisam minha ficha - meu histórico-, discutindo a minha vida ou a minha morte.

É decretado.

É morte para mim.

Devo me dirigir para a câmara de execução, mas meus pés estão cimentados no chão. Não quero morrer.

Um minuto se passa e soldados são ordenados que me levem dali nem que seja a força. Suas mãos são pesadas e firmes, machucando meus braços. Não entendo por quê isso tem que acontecer, por quê tenho que morrer dessa forma, não é justo. Isso é desumano.

Debato-me aterrorizada, tento me livrar daquelas garras e quando me dou conta, estou gritando enlouquecidamente, mas ninguém faz nada para impedir minha morte.

Quando atravessamos a porta que nos leva à câmara de execução, sou transportada para outro lugar - à sala de terapia do meu psiquiatra - . Ele tenta me acalmar, mas continuo a berrar e a me debater.

Enfermeiros entram na sala, dando-me uma medicação estranha que me deixa sonolenta e, antes de apagar, consigo ouvir o psiquiatra dizer:

— Estava tentando usar um novo método com essa paciente para descobrir seus medos, mas foi um fracasso. Ela deverá ser internada na clínica depois disso. Liguem para família, diga que enlouqueceu.


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