De almas sinceras escrita por Izzy Aguecheek


Capítulo 1
Astro que norteia a vela errante


Notas iniciais do capítulo

Adivinha quem perdeu duas semanas tentando planejar um soulmate AU com personagens originais e acabou com Heronstairs mesmo tendo lido os livros dez mil anos atrás? Eu mesma, indecisa mello.
Por algum motivo, esse poema me fez pensar em reencarnação e almas gêmeas, e eu pensei até em fazer uma Malec, mas terminou com Heronstairs porque...Sei lá, eu devo gostar de sofrer.
Esse capítulo é inspirado na primeira cena em que eles aparecem, creio eu, investigando alguma coisa das tretas lá do livro. Eu ACHO que o livro se passa nessa época, mas, se não, finjam que eu escolhi um ano aleatório -q
Enjoy!
(O nome do capítulo foi retirado do poema que inspirou a história, o soneto 96.)



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Londres, 1878

Will Herondale nunca acreditara em amor à primeira vista. Mesmo assim, ao abrir os olhos, completamente desorientado e com um esforço descomunal, e ver o rapaz sentado ao lado de sua cama, ele teve certeza de que estivera errado durante toda a sua vida.

Ao ver que ele estava acordado, o rapaz sorriu.

— Charlotte – disse, deixando Will confuso até perceber que ele se dirigia a outra pessoa fora de seu campo de visão. – Ele acordou.

Uma voz feminina resmungou algo que Will não conseguiu entender, e o rapaz se levantou. Will quis estender a mão e pedir que ele ficasse mais um pouco, mas sua garganta estava tão seca quanto um deserto. Quando ele tentou sentar, seu estômago e sua cabeça protestaram em uníssono.

Will fez uma careta. Ele reconhecia uma ressaca quando sentia uma, e essa era das ruins. O que talvez explicasse o garoto desconhecido, se ele estivesse deitado ao seu lado na cama usando uma quantidade mínima de roupas. Como ele só estava sentado em uma cadeira com o sorriso mais tolerante do mundo enquanto Will dormia, a noite anterior devia ter sido diferente. E nada daquilo explicava quem diabos era Charlotte.

Para alívio de Will, o garoto retornou com uma jarra d’água e um copo, que ofereceu ao rapaz deitado na cama. Will aceitou com gratidão. O rapaz observou-o beber com avidez e disse, com outro sorriso:

— Deve ter sido uma longe noite.

Will olhou para ele. Ele era alto, talvez mais alto até que o próprio Will, mas, apesar disso, parecia frágil. Seus traços asiáticos eram delicados, e o cabelo tinha um tom incomum de loiro, quase branco, como se ele já fosse muito velho; apesar disso, seus olhos claros tinham um brilho juvenil inegável. Will estimou que eles deveria ter mais ou menos a mesma idade.

— Definitivamente – concordou Will, com a voz rouca pela falta de uso. Ele fez outra careta. Seu corpo inteiro doía. Ele se perguntou brevemente se aquele rapaz magrelo havia lhe dado uma surra. – Vai ser um longo dia.

O rapaz riu.

— Suponho que você não se lembre do que aconteceu ontem à noite?

Era verdade, mas Will não queria admitir. Ele fez uma pausa, tentando reconstruir seus passos na noite anterior. Ele saíra de casa tarde, depois de ter passado o dia inteiro analisando o mesmo caso que vinha analisando havia dois anos, frustrado pela falta de novas pistas e assombrado pelo rosto da irmã na última vez em que a vira com vida. Depois disso, houvera um bar e várias garrafas, e talvez uma briga. Essa parte estava meio borrada. Will suspirou.

— Não muito – admitiu.

O sorriso do rapaz foi substituído por uma expressão ofendida.

— Então você não se lembra de ter pedido minha mão em casamento?

Will abriu e fechou a boca algumas vezes antes de conseguir balbuciar:

— Não?

— Nem de me dizer que eu tenho as mãos mais lindas que você já viu? – continuou o rapaz. Agora, dava para ver que a expressão ofendida era puro fingimento, e que ele estava se divertindo bastante com aquela conversa. – Ou de amaldiçoar Deus por mandar, e eu estou citando diretamente, alguém tão bonito na sua direção quando você estava todo enlameado e caído em uma sarjeta?

A contragosto, Will sentiu suas bochechas corarem, o que era um absurdo. Will Herondale não ficava embaraçado. Mesmo que ele estivesse na situação embaraçosa de ter pedido um estranho do sexo masculino em casamento enquanto estava completamente bêbado e caído em uma sarjeta. E mesmo que o tal estranho fosse a pessoa mais bonita que ele já vira na vida. E mesmo que o estranho estivesse com o sorriso mais largo do mundo enquanto relembrava o acontecido, o que o tornava insuportavelmente adorável.

Meu Deus, pensou Will. Tudo bem, talvez ele pudesse se permitir corar. Ele realmente tinha se superado daquela vez.

— Não – murmurou ele. – Não me lembro de nada disso.

O rapaz estendeu a mão. Will não pôde deixar de notar que ele tinha, de fato, mãos bastante bonitas, com dedos longos e delicados. As mãos de Will eram cheias de calos e as juntas estavam constantemente machucadas. Ele tentou não ficar sem graça ao apertar a mão que lhe foi oferecida.

— James Carstairs – disse o rapaz. – Você pode me chamar de Jem. Todo mundo me chama assim.

— Will Herondale. – Will não se apresentava como William desde a morte de Ella. – Obrigado por não ter me deixado apodrecer na sarjeta, eu acho.

— Foi um prazer – Jem se afastou para analisá-lo. – Eu conheço seu nome. Detetive, ou algo do tipo?

Will deu de ombros. Ele não gostava de falar sobre sua carreira. Houvera uma época em que seu nome era conhecido por toda Londres, e ele era ótimo no que fazia. Depois do assassinato de sua irmã mais velha, porém, encontrar esse criminoso específico passar a consumir a maior parte do seu tempo. Ele não conseguira chegar nem perto, e, agora que o rastro estava esfriando, Will terminava as noites bêbado na sarjeta com uma frequência cada vez maior.

— É, pode-se dizer que sim – Ele se endireitou com esforço para poder olhar ao redor. O quarto em que estavam não tinha nenhuma decoração, e as únicas peças de mobília eram a cama, uma pequena mesa e um armário. – Eu aprecio o fato de você ter me salvado da sarjeta, mas gostaria muito de saber onde estamos. E quem é Charlotte.

Aparentemente, Charlotte era uma espécie de tia ou irmã mais velha para Jem. Ali era a casa onde ele morava com ela, seu marido e duas outras órfãs. O pai de Jem conhecera Charlotte quando ainda morava na Inglaterra, antes de se mudar para a China com a esposa. Jem voltara para a terra natal do pai depois da morte dos dois.

Quando Will perguntou se ele sempre trazia bêbados aleatórios para casa, Jem riu e disse:

— Só os que pedem minha mão em casamento. Eles precisam da permissão de Charlotte primeiro.

Ele não parecia estar incomodado pelo fato de Will ter demonstrado atração pelo sexo masculino. Mesmo assim, Will decidiu nunca mais tocar no assunto caso voltasse a se encontrar com James Carstairs, o que ele não sabia se aconteceria, mesmo que a perspectiva de nunca mais vê-lo parecesse péssima.

Will teve a oportunidade de conhecer Charlotte quando estava saindo, ainda com dor de cabeça e andando o mais lentamente possível. Ela era uma mulher pequena de aparência severa, mas pareceu genuinamente preocupada ao perguntar se Will estava bem o suficiente para andar até em casa.

— Eu já tive dias piores – Will disse a ela, com seu sorriso mais charmoso. Não pareceu funcionar. Charlotte apenas ergueu as sobrancelhas.

— Talvez você devesse se preocupar com isso. Pode ser que, se continuar nesse ritmo, você não tenha mais dias.

Will não conseguiu pensar em uma boa resposta para isso, então apenas agradeceu pela ajuda e se retirou do recinto.

Jem havia insistido em acompanhar Will até em casa, mesmo ele tendo garantido que podia ir sozinho. Assim, ao abrir a porta, Will não pôde deixar de notar o quão bagunçado o lugar estava em comparação à casa limpa e organizada de Charlotte. Havia papéis com anotações e roupas espalhados para todos os lados, e ele sequer conseguia lembrar da última vez em que fizera uma faxina.

Jem, contudo, não pareceu se incomodar. Ele apanhou uma foto do chão e a virou para que Will pudesse vê-la.

— Sua...companheira?

O coração de Will deu um pulo. A foto mostrava uma garota sorridente, sentada sozinha em uma cadeira. A imagem não era colorida, de modo que não dava para ver seus cabelos pretos e olhos azuis, mas, mesmo assim, Will tinha certeza que a semelhança entre ele e a garota na foto era bastante perceptível. Ele desviou o olhar.

— Minha irmã – respondeu. Jem pareceu ter notado algo em sua expressão, pois abaixou o papel imediatamente.

— Ah. Sua irmã mais nova?

Will tinha uma irmã mais nova, embora não a visse havia algum tempo. Mas não era ela quem estava na foto.

— Mais velha – Ele fez uma pausa. – Eu acho. Tecnicamente falando. Ela tinha mais ou menos a minha idade quando foi assassinada.

Houve um momento de silêncio, finalmente quebrado por Jem:

— Sinto muito.

— É – Will fechou a porta atrás de si e indicou a bagunça de papéis em sua mesa. Ele nunca falara com ninguém sobre Ella antes, mas havia algo a respeito de Jem que o fazia querer confiar nele. Talvez fosse o fato de ele tê-lo salvado da sarjeta. Ou talvez fosse só aquele sorriso de antes. – Não faz tanto tempo assim. Eu nunca consegui achar o culpado.

Jem se aproximou da mesa para espiar as anotações.

— É nisso que seu trabalho consiste agora? Vingança?

— Não é vingança – retrucou Will, do jeito que fazia para consolar a si mesmo todas as noites. – É justiça.

Jem ergueu o olhar para encará-lo. De certa forma, ele era inescrutável; Will não conseguia dizer se aquele era um olhar de julgamento ou de compaixão, mas não desviou os olhos. Os dois ficaram se olhando pelo que pareceu uma eternidade, dois estranhos que, por algum motivo, não se sentiam como estranhos.

Por fim, Jem quebrou o contato visual e o silêncio.

— Meus pais foram assassinados.

— Sinto muito – murmurou Will, sentindo-se subitamente constrangido.

— Eu era só uma criança. Eu vi tudo – Jem tornou a olhar para Will e sacudiu a cabeça. – Não é justiça, Will. Eu sei do que estou falando. É vingança.

Por mais adorável que Jem fosse, Will não conseguiu evitar ficar irritado com a intervenção. Ele não estava pedindo a opinião daquele estranho. Aquela era sua vida. Sua irmã. Sua missão.

E, se ele fosse sincero, era todo o objetivo e a motivação que ele tinha.

— Eu não me importo com o que é – respondeu ele. – É o que eu quero.

Jem lhe lançou outro daqueles olhares enigmáticos.

— Tudo bem – Ele fez um gesto na direção da porta. – Acho melhor eu ir. Charlotte vai começar a se preocupar.

Will se arrependeu de sua rispidez assim que ele passou pela porta. Ele imaginou, com tristeza, que aquela seria a última vez em que veria James Carstairs.

Ele não poderia estar mais enganado.

Começou com visitas ocasionais, sob o pretexto de que Charlotte precisava de ajuda para investigar um furto, ou um desaparecimento, ou o que quer que fosse. Às vezes, o dia terminava com Will e Jem sentados na sala, tomando chá e conversando até que fosse tarde demais para Jem voltar para casa, e Will o convidasse para passar a noite. Will não tinha mais tempo – ou vontade – para ir a bares e se meter em brigas nessas noites. Ele se deitava na cama e pensava em Jem, acomodado insistentemente no sofá minúsculo, e se perguntava como diabos aquilo fora acontecer.

Na primeira vez em que Jem sugeriu acompanhar Will em uma investigação, Will não esperava que a perspectiva o animasse muito, e ficou surpreso ao constatar que, mais uma vez, estava errado. Ele gostava da ideia de não estar mais sozinho o tempo todo, e, mais ainda, gostava da companhia constante de Jem. Talvez gostasse disso até mais do que deveria.

Logo, isso se tornou rotina: os dois saíam para investigar juntos, conversavam até tarde da noite e analisavam casos na bagunça que era a sala de estar de Will. Às vezes, Jem levava seu velho violino e tocava alguma coisa, enquanto Will lia algo de sua estranhamente extensa biblioteca. Ao descobrir que Will adorava literatura, Jem ficara mais do que surpreso.

— Isso não bate com a imagem que eu tenho de você – admitira ele. Will sorrira.

— A imagem do bêbado incoerente que pediu sua mão em casamento em uma sarjeta? Ou a do detetive obcecado por vingança?

Jem pensara por um segundo.

— Ambas – admitira.

Will fora obrigado a concordar com ele.

Não demorou muito para ficar claro que Jem era um ótimo detetive, embora bem mais cauteloso do que Will. Assim, não foi nenhuma surpresa o fato de ter sido ele a encontrar novas pistas sobre o assassinato de Ella.

Will percebeu que havia alguma coisa errada no instante em que Jem passou pela porta. Ele exibia o mesmo sorriso radiante de sempre, como se estivesse esperando há muito tempo para encontrar o amigo, mas sua postura estava tensa. Para Will, os olhares de Jem não eram mais enigmáticos.

— O que está errado?

Jem franziu a testa.

— Acho que eu que deveria perguntar isso. Por que você acha que tem algo errado?

Will apenas olhou para ele. Jem suspirou.

— Não tem nada errado. Eu posso ter encontrado uma nova pista.

Ainda era cedo, e Will estivera preguiçosamente estirado no sofá da sala. Ao ouvir essas palavras, porém, ele se sentou com rapidez, subitamente atento. Ele não precisava que Jem especificasse a qual caso se referia.

— Por que não disse logo?

Jem balançou a cabeça. Ao invés de triunfante por eles estarem mais perto de solucionar o caso, ele só parecia triste.

— Por isso. Will...

— O que é, James?

Jem estendeu a mão aberta. Na palma, havia um pequeno anel de prata com um H inscrito, rodeado por pássaros – garças. Will sentiu as pernas fraquejarem. Ele reconhecia o objeto. Era uma versão menor e malcuidada do anel que ele usava no próprio dedo.

— O cara que me deu isso disse que tinha trocado com um certo cavalheiro chamado Nathaniel Gray – explicou Jem. Seus olhos esquadrinhavam o rosto do amigo, observando sua reação. – Acho que encontramos o nosso cara, ou pelo menos alguém ligado a ele.

Will já estava a meio caminho da porta antes mesmo de ele ter terminado de falar, um braço enfiado no casaco e o outro procurando pelo revólver que mantinha escondido em algum lugar por ali.

— Ele disse algo além disso? Alguma descrição física? Um endereço?

— Will, talvez seja melhor...

Exasperado, Will se virou para encará-lo.

— James, eu não tenho tempo para seus discursos moralistas agora. Ele deu um endereço ou não?

Mudo, Jem apenas ficou olhando para ele. Will mal reparou em como ele parecia magoado pelo “nós” ter subitamente se tornado “eu”, ou em como era provável que ele tivesse razão, porque Jem normalmente tinha. Havia algo fervendo dentro dele, uma coisa feia e pegajosa que não o deixaria em paz até o assassino ter sido punido.

Ele esperou mais alguns instantes por uma resposta que não veio antes de tornar a se virar. O revólver estava sobre um armário; Will o pegou e verificou se estava carregado. Estava.

— Tudo bem – disse ele, e mal reconheceu a própria voz. – Eu posso encontrá-lo sozinho.

Ele se virou e saiu da sala sem olhar para trás.

***

Jem o encontrou horas depois, com os nós dos dedos esfolados e a camisa suja de sangue, encolhido em um canto da sala de estar de Nathaniel Gray com o rosto escondido nas mãos. Seu corpo inteiro tremia.

O assassino estava caído a alguns metros de distância, o rosto desfigurado. Por um instante, Jem temeu que ele estivesse morto, mas, quando ficou evidente que ele estava apenas inconsciente, sua atenção se voltou inteiramente para Will. O revólver ainda estava no coldre, e Jem rapidamente o pegou e esvaziou-o, guardando a munição no bolso. Will parecia ter se contentado em dar uma surra no criminoso, mas Jem não sabia se seria rápido o suficiente para impedi-lo, caso ele mudasse de ideia.

Will não tentou impedi-lo; parecia arrasado demais para isso. Embora não pudesse ver seu rosto, Jem tinha certeza de que ele estava chorando.

Agachando-se ao lado dele, Jem o tocou no ombro delicadamente. Vê-lo daquele jeito doía mais do que ele poderia ter imaginado. Em pouco tempo, Will passara de um desconhecido que ele encontrara na sarjeta para seu melhor amigo – e, de certa forma, parecia até mais que isso.

— William – disse Jem, na voz mais tranquilizadora possível. Ele descobrira o nome completo de Will havia algum tempo, e o utilizava sempre que realmente precisava da atenção do amigo. – Você está bem?

Will assentiu. Jem sabia que era mentira, mas era a resposta da qual ele precisava. Ele se levantou e estendeu a mão para ajudar Will, exatamente como fizera naquela noite em que o encontrara caído na rua. Não podia fazer mais de três meses, mas parecia ter sido numa vida passada. Jem estava convencido de que sua vida sem Will fora só um sonho, e, agora que ele tinha isso – a vida de verdade –, parecia muito distante.

— Levante-se, William. Vamos sair daqui.

Naquela noite, Jem se preparou para dormir no sofá do amigo, como de costume, mas não chegou a se deitar. Ele ouviu Will andando de um lado para o outro no quarto, e decidiu que, como amigo e parceiro de investigação, era seu dever ver qual era o problema. Não que fosse preciso ser detetive para achar a resposta.

Will parou de andar quando o viu à porta. Jem sequer precisou dizer nada antes de ele murmurar:

— Eu passei muito tempo tentando achá-lo. Sempre achei que, quando o encontrasse, tudo passaria a fazer sentido.

Jem permaneceu calado. Sustentar o olhar suplicante de Will em silêncio foi uma das coisas mais difíceis que ele já fizera, mas ele não podia oferecer nenhuma resposta. Tudo o que ele podia fazer era estar ali, e torcer para que bastasse.

Finalmente, Will rompeu o silêncio, sem tirar os olhos dos dele:

— Nada faz sentido, James. Todo esse trabalho foi em vão.

O coração de Jem parecia um nó apertado. Ele queria se aproximar de Will, toma-lo nos braços e extrair a dor dele para si mesmo, de forma que ele não precisasse mais senti-la. Porque Jem conhecia aquela dor, e Will – gentil, torturado, adorável Will – não a merecia. Antes que pudesse impedir, ele se pegou dizendo, na voz mais triste que já ouvir sair de sua própria boca:

— Não é assim que o pesar funciona, William.

Por um instante, Will observou-o em silêncio. Em seguida, estendeu a mão. Jem a pegou sem nem pensar no assunto.

— Fique comigo esta noite – pediu Will. Seus olhos parecia enormes. – Por favor.

E Jem ficou. Jem iria ao inferno e voltaria, se Will pedisse.

Eles não se deitaram de costas um para o outro, como dois quase recém-conhecidos deveriam ter feito. Ao contrário, os dois se encararam na escuridão, os rostos a poucos centímetros de distância. Jem queria acabar com aqueles centímetros. Jem queria dizer sim ao pedido que Will lhe fizera na noite em que se conheceram, em uma vida passada. E foi Jem quem disse, arruinando o momento:

— Nós não podemos, Will. Não é... O momento certo.

Ao contrário do que Jem esperava, Will suspirou.

— Não, não é – O olhar dele foi dos lábios de Jem até seus olhos. – Pode não ser o momento certo, ou o século certo, ou a década certa, James, mas vai ser. Um dia.

Jem não pôde deixar de sorrir.

— Você parece ter tanta certeza.

Will sorriu em resposta, e, mesmo no escuro, era a coisa mais linda que Jem já tinha visto.

— Eu tenho certeza. Por você, Jem Carstairs, eu posso esperar até a próxima vida.

As palavras fizeram o sangue de Jem se aquecer.

— Ótimo – murmurou ele, chegando mais perto de Will para aninhar a cabeça em seu peito. – Eu estarei esperando.


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Notas finais do capítulo

Prometi a mim mesma que, já que ia fazer algo com vários capítulos, os tais capítulos teriam que ser curtos, já que não tenho muito tempo. Claramente, me empolguei demais com esse detetive AU, e não cumpri a promessa, mas espero que tenha ficado bom mesmo assim. Devido ao mencionado problema do tempo (tô correndo contra o prazo), não revisei, então avisem qualquer erro. O próximo capítulo deve ser menor e sair logo. Até lá!



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