Desde o dia em que Touro encontrara Câncer chorando em seu quarto, as duas só foram se aproximando mais e mais. Perdiam horas conversando, algumas das vezes acabavam por dormir juntas o que sempre causava mil preocupações na cabeça da canceriana timida, que no fundo sempre admitia gostar de acordar com a visão descabelada e adoravel de Touro...

Eis que chegou um dia determinante, o dia em que Touro convidou a canceriana para sair. Embora o convite tenha vindo de uma forma bem despojada “Quer dar uma volta comigo hoje a tarde?”, Câncer conseguiu somente enlouquecer... Não sabia se com “a tarde” ela queria dizer logo após o almoço ou umas dezesseis horas... Deveria se arrumar um pouco mais? Naquele momento estava a encarar o seu vestido de cetim branco, com mangas bufantes e um tecido transparente por cima da saia... Ele terminava na altura dos joaelhos, mas ainda parecia um vestido de noiva... Talvez com o seu bolero de crochê amarelo... Touro certamente iria perguntar porquê da loira se arrumar tanto... Responderia que nunca tem a oportunidade de usar aquele vestido, será que seria convincente? Porque estava tão preocupada com isso?

Bufou.

Resolveu que deveria vestir a roupa escolhida, embora que ainda muito insegura... Se ela fosse com a mesma roupa que usa em casa a outra pensaria que ela não se importa o suficiente para se arrumar para acompanhá-la em um passeio... Ou será que não?

Bufou novamente...

Foi pentear seu longo cabelo ondulado... Será que deveria passar maquiagem? Um delineado simples que fosse? Ou um batom clarinho? Não, batom era melhor não... Vai que ela ganhasse um... balançou a cabeça em negação para afastar aqueles pensamentos. Arrumou sua carangueija florinda na cabeça e encarou o próprio reflexo no espelho... Estava bonita mesmo ou será que parecia alguém feio que tento miseravelmente ficar bonita e falhou? Olhou no relógio... haviam passado dez minutos desde que entrou naquele quarto... Tinha se arrumado tão rápido?

—Oi Câncer! – Falou a Taurina entrando no quarto animada sem nenhuma cerimônia. Câncer deu um pulo de susto e seu coração acelerou com a entrada abrupta da maior.

—T-touro! – Percebeu então que a taurina também tinha se arrumado com mais esmero, com um calção jeans claro e uma blusa verde água com mangas bufantes transparentes e um lacinho rosa no seu cabelo... Estava uma graça... E poderia ficar admirando-a o dia inteiro... Se não fosse o seu sorriso se afrouxar e seu olhar a encarar de cima a baixo...

—Câncer... Você está linda! – Falou se aproximando, pegando em sua mão e a fazendo girar para que pudesse a ver por completo – Não pensei que eu merecesse tanto... – Completou com um ar de brincadeira, por mais que no fundo estivesse falando sério. O rosto da loira só fez foi se enrubecer por inteiro, a sua mão tremeu ligeiramente quando foi solta, então coçou a nuca e desviou o olhar em um tentativa falha de disfarçar.

—E-eu... ahn... Obrigada! Eu... Eu que fiz o bolero! – Sorriu, tentando puxar um assunto qualquer.

—Wow, ficou muito fofo! Você tricota muito bem Cân!

—Na verdade, é crochê.

—Uma das minhas mães tentou me ensinar a fazer, mas ela não tinha muita paciencia – Riu – Os movimentos dela com a agulha era muito ninjas, eu não conseguia acompanhar...

—Se quiser posso te ensinar! Não é muito dificil...

—Podes me falar um pouco a caminho de onde vamos? – Indagou a taurina oferecendo o braço.

—Claro – Afirmou a loira, já enganchando a mão no braço dela e a acompanhando para fora do quarto – Vai me levar aonde?

—Num lugar quase tão adoravel quanto você! – Completou, tirando mais um sorriso tímido de Câncer...

* * *

—É uma lanchonete?

—Quase...  – Risos – É como se fosse um bar só que de doces e salgados... Ah, depois eu quero que você vejo a ala de dança! É muito divertido!

—Tem uma ala de dança?

Câncer observava o lugar procurando qualquer semelhança com um bar, mas sem sucesso na busca. Aquilo mais parecia uma loja de doces infantil de um desenho animado, as paredes em tingidas listradas de rosa e amarelo, e as mesas eram azuis claro e as cadeiras com estofado branco com estampa de corações. As garçonetes estavam trajadas como maids e o balcão era semelhante a de uma padaria... só que rosa. O lugar em si era espaçoso porém bastante aconchegante. O que mais lhe impressionou foi a variedades de aparencias presentes no local, que ia desde a dondoca trajada como uma digna milionária de novela das nove até o rockeiro com várias pulseiras de spikes e cabelo moicano.

—Tem sim! – respondeu a taurina - Eu adoro vir dançar aqui, é sempre muito divertido!

—Fico pensando como você achou um lugar desses...

—Eu adoro passear pela cidade... E como é uma cidade pequena, não é dificil conhecer tudo que tem por aqui... Ahh tem uma lojinha de incensos maravilhosa! Tem cada um com cheirinho bom – Fechou os olhos como se conseguisse sentir os cheiros.

—Eu imagino que você visite essa loja semanalmente pela quantidade de incensos que você tem! – Soltou um sorriso leve enquanto via a taurina rir.

—Eu adoro coisas com cheiros bons... – Olhou levemente para a canceriana, se segurando para não falar que gostava também do cheirinho da loira – Ahh tem uns biscoitos aqui que eu tenho certeza que você vai amar! Quer uma cerveja? Um café para acompanhar?

—Tem cerveja aqui? – Câncer a encara com estranhamento, logo focando na bancada atrás da taurina que tinha uma geladeira com adesivos de ursinho e cheia de bebidas alcólicas.

—Tem sim! – Sorriu – Vou pegar um energético para mim!

—Eu vou ficar no cafézinho...

—Tudo bem, escolhe uma mesa ai, eu vou fazer o pedido – Dito isso, Touro foi em direção ao balcão. Câncer olhou ao redor e notou umas mesas encontadas nas paredes, das quais os assentos eram uma espécie de sofás e se dirigiu para lá.

Ao sentar, a loira não pode deixar de reparar que seus pés conseguiam tocar no chão, o que geralmente não acontecia por conta de sua baixa estatura, e sentiu uma pontinha de felicidade ao se sentir um pouco mais alta. Logo pode ver Touro se aproximando e sentando  do outro lado da mesa.

—Daqui a pouco o pedido chega! Hey Cân, sabe a lojinha dos incensos que te falei? – A loira acena com a cabeça – É uma loja de variedades, tem uns fios e rendas que aposto que você ia amar pra fazer artezanato!

—Sério? – respondeu animada – Tenho que conhecer melhor a cidade ainda... Tem arame? Eu queria aprender a fazer uns cestinhos que vi em uma revista esses dias...

—Arame? – Touro riu – Acho que só em ferragem,mas a gente acha... – Coçou a nuca, pensando se já não tinha visto algo do tipo em algum lugar – Eu normalmente lembro mais das coisas que eu compro... Mas você tem mãos de fada! Certeza que faria cestinhas lindas!

—Você... – A Cânceriana ganhou um tom natural de vermelho em seu rosto novamente – Me elogia tanto... Eu nunca sei como reagir...

Antes que Touro pudesse responder, a garçonete chegou com uma bandeija com os pedidos, colocando uma xícara de café, um energético e um prato com cockies cor de rosa na mesa. Câncer bebericou um gole do seu café e Touro abriu a lata de energético que fez aquele típico som de lata abrindo e tomou um gole também antes de pegar um dos cockies.

—Pega um Cânzinha! – Ofereceu-lhe Touro – Você vai amar!

—hum? Você não pegou esse para você? – Respondeu pegando um cockie timidamente.

—Peguei para nós duas, prova!

—O-obrigada...

Câncer então levou o cockie a boca e deu uma mordida, vendo que a outra lhe encarava em espectativa... Nunca havia visto alguém tão animada para lhe ver comer um biscoito... Então sentiu o gosto adocicado de morango invadir a sua boca... Além da massa ter o sabor de morango, tinham pedacinho de morango no coockie.

—Ahh meu deus! Isso é delicioso!

—Eu sabia que a grande adoradora de morangos iria amar! – Concluiu a maior finalmente comendo o cockie que tinha em mãos... Câncer não pode deixar de sorrir pela taurina lembrar desse detalhe que falou tão brevemente... Na verdade,nem lembrava de ter dito.

—Be-bem... É claro que eles seriam bons... – Pegou mais um cockie e mordeu vagarozamente como forma de ganhar coragem – Eles... Se parecem com você... – Enfiou o restante do cockie na boca e desviou o olhar, tímida.

—Ahh – Touro riu – Quer dizer por que eles são rosinhas que nem o meu cabelo? – Pegou mais um e o comeu.

—T-Também... Mas é porquê são docês... Como vo-cê...

Touro não fez a mínima questão de esconder o grande sorriso que se fez em seu rosto. Percebeu que a canceriana estava morrendo de vergonha pelo seu rosto vermelho mais uma vez e o olhar focado em em qualquer coisa que não fosse a própria taurina. Fez-se um momento de silêncio torturante para a loira que ainda esperava qualquer reação da outra, e quando fez menção em lhe direcionar o olhar a percebeu a observando com sorriso bobo no rosto.

—Ahn... P-porquê está me olhando assim? – Indagou Câncer nervosamente.

—Não posso te olhar? – Touro pergunta com a voz mansa e o rosto sustentado pelo punho.

—Não... N-não assim...

—Porquê?

—Porque eu não sei o que significa...

A taurina fica pensativa por alguns segundos, focando na parede com o intuito de deixar a loira menos desconfortavel... Então levantou, foi até o outro lado da mesa e estendeu a mão na direção de Câncer...

—Você me daria a honra de dançar com a sua pessoa?

Câncer ficou surpresa com a pergunta... Mas era... Na frente daquelas pessoas todas? Estava nervosa... Nem sabia dançar direito, isso iria dar merda com toda certeza! Mas estaria mentindo se dissesse que não tinha vontade de dançar com a maior... Lembrou-se que ela havia mensionado momentos antes que tinha uma ala somente para dança... Mas e se dançasse mal e ela não gostasse? Melhor não!

—Eu... Não sei dançar, Touro...

—Ahh, tudo bem! – Respondeu a taurina , rindo – Eu também não sei! O importante é se divertir!

—Ahh... Bem – A canceriana olhou para os lados em busca de uma desculpa – Mas e os cockies que você comprou com tanto gosto? Ainda não terminamos...

—Eles são baratos, posso te comprar mais depois! – Sorriu, tentando demonstrar confiança, mas percebeu que a loira parecia preocupada – Olha... Me desculpa, Cân! Eu não quero te obrigar, se você não estiver afim é só dizer “não” – Concluiu, se voltando ao seu assento.

—Ahh... Não! – Câncer segurou a mão dela antes que se afastasse – Digo... Nâo foi o que eu quis dizer... – Soltou a mão dela e levantou-se, coçando a nuca – Eu só...

—Você está com vergonha? – Ao indagar da taurina, ambas se encaram por alguns segundos.

—E-eu sei o que você deve estar pensando... Uma adulta da minha idade – Riu irônicamente – Com medo de dançar em publico...

—Não... Eu conheço as suas inseguranças... Eu sei que você ainda tem medo de aceitar algo dentro de você, e tem ainda mais medo que os outros venham tirar satisfação disso... Mesmo que ninguém aqui tenha nada a ver com porra nenhuma! – Suspirou – Eu tenho que respeitar o seu tempo Cân, mesmo que seja apenas para dançar comigo em um local publico. Eu que peço desculpas por ser insistente... Podemos voltar para casa e fazer qualquer coisa longe dos olhos de estranhos... assistir um filme ou...

—Não! – Interrompeu-lhe a canceriana com convicção – Eu... Não quero estragar esse encontro por conta do meu medo! Você planejou algo adoravel para nós duas hoje e eu não quero estragar isso desse jeito!

—Você não está estragando... Ainda podemos ir a outro lugar e...

—Só se você quiser... Eu quero dançar com você Touro! E eu ainda estou insegura quanto as pessoas a nossa volta... Mas em algum momento eu vou ter que enfrentar esse medo, e prefiro que seja com você...

Touro ficou em silêncio por alguns segundos analisando o que ela havia dito. Quando a taurina a chamou para dançar, não pensou que fosse algo tão importante para ela. Mas de certa forma compreendeu que mesmo que elas não estivessem em um relacionamento romântico, os outros estranhariam duas mulheres dançando juntas, e para a canceriana enfrentar isso era de fato algo relevante.

Touro sorriu para Câncer e pegou em sua mão, a guiando para a ala de dança que ficava nos fundos do estabelecimento. Era um lugar espaçoso e levemente escuro, ao fundo tocava uma musica animada e muitos efeitos com luzes rodeavam o salão. Naquele momento haviam uns seis pares de seres humanos dançando, e alguns dançando sozinhos. Entre os pares, Câncer não pode deixar de notar um par de dois rapazes, e percebeu também que ninguém dava a mínima para eles ali... Aquilo a fez sentir um pouco de conforto... Até a taurina pegar em sua cintura e aproximar o seu corpo do dela...

Seu coração começou a bater mais rápido, e a sua tempratura corporal aumentou... Seus olhos logo encontraram os dela... Posicionou uma de suas mão no ombro da maior e o outro deixou ser guiado pela taurina, percebendo antes de começarem os passos que ela estava levemente ofegante... Talvez também estivesse ansiando por esse momento...

Logo começaram com o mais básico que é dar dois passos para a direita, dois para a esquerda, dois para a direita... Inicialmente movimentos rígidos, ainda estavam acanhadas com tal proximidade uma da outra... Céus, dormir na mesma cama acidentalmente por perderem as horas conversando juntas não era tão intimidante, como também não era tanta tentação... Câncer focava vezes em suas mãos entrelaçadas, vezes nos olhos da taurina que pareciam não sair nunca de si... Touro estava realmente atenta as reações da canceriana, não queria vê-la desconfortável novamente... A taurina levantou a mão da canceriana e a fez girar, logo a puxando de volta para si. Câncer sentiu um misto de susto com soltura naquele giro... E um aconchego ao ser puxada de volta... Deu logo de cara no ombro da taurina... Suspirou...

Depois disso conseguiu olhar para a parceira com um sorriso bobo, o que deu uma sensação de alivio e prazer à maior... Ela estava se divertindo... Pegou em ambas as mãos da loira e as duas começaram a sacudir os ombros e jogando o tronco para frente e para trás, com risos genuinamente sinceros! Câncer aproveitou o momento de desenvoltura e se soltou para dançar uns passos sozinha, Touro ainda a observada sem parar a sua famigerada imitação de onda com aquele adorável rabinho balançando para todo lado. Câncer pegou na saia do seu vestido e sacudiu de um lado paro o outro enquanto dobrava seus joelhos vagarosamente, para levantar novamente e desenhar um circulo no ar com ambos os braços e finalizar parando de costas para a taurina e lhe encarando por cima do ombro.

Touro colocou uma mão dramática em frente a sua boca aberta dramática enquanto seus olhos lhe encaravam maliciosamente. Se aproximou da canceriana no ritmo da musica, logo sendo puxada pela cintura com ambas as mãos da loira que sorria alegremente... Touro ficou surpresa com a atitude da menor... Ela parecia muito... Feliz...

Era impossível não ficar feliz também, era um sentimento maravilhoso... Foi quando pegou delicadamente no rosto dela e encostou as suas testas, roçando seu nariz no dela, como se pedisse uma ultima permissão para beijá-la... Câncer a olhava ainda com os olhos semi fechados, igualmente desejosa por aquele momento, logo elevou o seu corpo, ficando na ponta dos pés e selando os seus lábios nos da maior. O selinho começou longo e necessitado, Câncer puxava mais o corpo quente da maior contra o seu, explorando toda longitude das suas costas,  sentindo os polegares da maior massageando ambas as suas bochechas que logo migrando para a nuca, se perdendo em seus cabelos ondulados...

Logo a língua da taurina encostou em seus lábios que rapidamente cederam uma abertura para que essa entrasse e se entrelaçasse com a sua, começando de forma mais lenta e aumentando a necessidade conforme as duas se sentiam mais livres para fazê-lo... Seus corações batiam de forma descompassada... Era o primeiro beijo de Câncer, e tinha gosto de energético e cockies, cheiro de suor, e uma sensação maravilhosa de felicidade...