Senti uma mão apertando o meu ombro e eu sabia que não era Oliver, então fiz a única coisa que passou pela minha cabeça.

Eu gritei!

A voz também soltou um grito estrangulado, eu percebi ser uma mulher devido ao som feminino, mas quando me virei pra olhar me deparei com uma completa estranha que me olhava horrorizada.

—Você é louca? Porque você gritou desse jeito? Eu quase morri aqui. –Eu estava estática, o que diabos estava acontecendo aqui? –Espera, por que eu gritei? Quem é você e como entrou aqui? –Ela bufou e revirou os olhos. –Não era mais fácil ter perguntado isso antes de gritar? Sério, mulher de Deus não faça mais isso. –Eu sabia que já deveria ter tentado fugir ou contatar alguém, mas a tal estranha não me passava uma sensação de medo, acho que isso se devia ao fato de ela parecer ter um parafuso a menos.

—Quem é você e como entrou aqui? –Repeti a pergunta e decidi que mesmo ela não parecendo ser perigosa, eu ficaria em estado de alerta. –Eu entrei entrando, vocês deviam achar um esconderijo novo sabe? Porque tipo, que esconderijo é esse que todo mundo sabe onde fica? –Eu estava completamente pasma com a garota a minha frente, ela parecia ser alguns anos mais jovem que eu e era completamente desinibida. –E sobre quem eu sou. Bem, eu sou a Katherine.

Eu estava pronta pra dizer que isso não respondia a minha pergunta quando vi pelo canto do olho todos entrando na cave e estacando ao olhar a estranha à minha frente. Ela pareceu feliz com a chegada dos meus amigos e bateu palmas.

—Finalmente vocês chegaram. –Os olhos dela se concentraram no Oliver e ela pareceu analisa-lo de cima a baixo. –Nossa Felicity, ele é realmente um gato, eu entendo você ter um precipício por ele. –Isso foi uma tentativa de sussurro? Alguém deveria ensinar a ela a arte da descrição.

—Felicity, quem é ela? –Oliver estava confuso, mas mesmo assim parecia pronto para usar o seu arco a qualquer momento.

Dei de ombros, ainda anestesiada pela situação e disse a única coisa que veio a minha mente. –Ela é a Katherine. –Ele me olhou em busca de mais informações, era claro que um nome não bastaria.

—Não se preocupe Felicity, eu explico tudo pra eles. –Ela se sentou confortavelmente ao meu lado e eu me limitei a encara-la devido à bizarrice da situação. –Como ela disse eu sou a Katherine, mas podem me chamar de Kathe, eu vim até aqui ajudar vocês com o Espectro.

Todos ainda a encaravam confusos e ela bufou frustrada.

—Sério? Eu estou no meio de uma sala com alguns dos maiores heróis da história e seus respectivos nerds e ninguém é capaz de ao menos tentar adivinhar o que está acontecendo? –Oliver parecia nervoso e acho que ela percebeu isso, pois piscou pra ele e se levantou em um pulo. –Eu vou dar uma dica pra vocês, mas é só dessa vez ok? Vamos lá gente, um campo elétrico super forte aparece na extremidade da cidade, Barry é o único que consegue criar um campo semelhante, mas ele não fez isso e de repente eu apareço aqui. E aí, alguém?

Espera, campo elétrico, Barry, viagem no tempo. Ela estava realmente querendo dizer o que eu achava que ela estava querendo dizer? Antes que eu pudesse falar a minha teoria em voz alta, Barry foi mais rápido e se pronunciou.

—Espera, você está dizendo que é uma viajante do tempo? –Todos alternaram os olhares entre Barry e ela e percebi que apenas nós dois tínhamos chegado a essa conclusão. –É claro, vocês demoraram pra perceber em? Nossa gente, eu envelheci uns 10 anos aqui.

Todos estavam atônitos, inclusive eu. Barry era o único capaz de fazer isso e mesmo assim ele havia viajado no tempo poucas vezes, sabíamos dos riscos e se ela estava aqui quer dizer que no futuro a tecnologia de viajar no tempo estava sendo explorada? Ela disse que veio pra cá ajudar a deter o Espectro, mas por quê?

Curtis se empertigou na frente do grupo e se aproximou dela parecendo fascinado. –Espera, mas você disse que veio ajudar a deter o Espectro, por quê? Por que veio nos ajudar? E como você viajou no tempo? Barry é o único capaz de fazer isso. –Ela suspirou parecendo realmente chateada e percebi que qualquer que fosse a resposta dela, não sanaria as dúvidas do meu amigo. –Eu sinto muito, mas a única coisa que posso dizer é que vim ajudar vocês, não posso dizer o porquê e nem dar detalhes sobre a minha vida no futuro, vocês sabem que isso pode alterar a linha do tempo e eu deixo isso pro Barry, ele adora fazer isso. –Nesse momento ela pareceu perceber o que tinha dito e olhou casualmente pro Allen que a encarava perplexo. –Sem ofensas Barry.

Ele se limitou a dar de ombros e respirar fundo, todos estavam procurando algum lugar pra se sentar e poder assimilar tudo direito, tenho que confessar que foi difícil segurar o suspiro de satisfação quando Oliver se sentou ao meu lado, ultimamente ele parecia estar evitando ficar perto de mim. Vi pelo canto do olho Katherine me lançando um olhar malicioso, mas decidi ignorar.

A garota estava aqui há 10 minutos e já parecia saber tudo sobre as nossas vidas.

—É estranho ver todos vocês tão mais jovens assim, digamos que eu estou acostumada com as versões mais velhas. –John ergueu a sobrancelha direita e expôs o que todos estavam pensando naquele momento. –Espera, você nos conhece? Todos? Como? –Ela deu de ombros e suspirou frustrada mais uma vez. –Eu já disse não posso dar muitas informações, o que posso dizer é que sim, eu conheço todos vocês e vocês conhecem os meus pais e esse é mais um motivo pra eu ficar quieta e mesmo se isso não alterasse a linha temporal eu ainda não contaria, porque todo mundo aqui sabe que a Felicity abre a boca quando está nervosa e provavelmente ela soltaria pros meus pais que eles vão ter uma filha na primeira oportunidade. –Ela me olhou da mesma forma que havia olhado pro Barry e fez uma negativa com a cabeça. –Sem ofensas, loirinha.

Eu balancei a cabeça decidi ignorar. –Não ofendeu!

Oliver como sempre era o mais cético e eu meio que estava esperando o momento em que ele confrontaria a garota, porém antes que ele pudesse falar algo, ela foi mais rápida.

—Você ainda não confia em mim não é Oliver? Bem, eu não te culpo. –Ela realmente não parecia ofendida, até porque se ela conhecia Oliver como parecia conhecer já deveria saber que ele não acreditaria fácil em uma estranha que aparece do nada e fala que é do futuro. Oliver pareceu surpreso com a reação dela, mas optou por dar de ombros e continuar com a sua postura firme. –Isso é tudo muito lindo, ajuda é sempre bem vinda. Mas o que me garante que você não é uma ajudante do Espectro e está apenas aqui para coletar informações e depois acabar com todo mundo?

—Bem, eu não sou ajudante do Espectro, mas entendo que só a minha palavra não basta pra te convencer. Infelizmente eu não posso ter dar provas ou informações sem que isso altere tudo, a única coisa que posso fazer é esperar que você veja que eu só quero ajudar e que perceba que pode confiar em mim diante das minhas ações e se ajuda o seu raciocínio de alguma forma, aqui vai uma dica. Ele atravessa paredes, ele sabe sobre o esconderijo de vocês, todo mundo sabe eu já disse isso pra Felicity. O único motivo dele ainda não ter atacado, é porque ele não quis e se eu fosse ajudante dele e quisesse matar todos vocês, eu já teria feito, afinal na arte da luta, eu aprendi muitas coisas com você Oliver.

Ele pareceu surpreso com a informação, mas ainda assim cético!

Sempre cético.

Ao contrário de Oliver, o resto do pessoal parecia verdadeiramente animado com a chegada dela, Curtis principalmente, eu estava vendo o momento em que ele começaria a dar pulinhos em volta da Katherine.

—Bom, isso tudo é muito legal gente. Fico realmente feliz em estar aqui, mas acho que já deu a hora de alguns de vocês. –Ela olhava diretamente pro Barry e Caitlin sorriu parecendo entender. –Central City precisa de vocês, prometo que nos veremos de novo antes de eu ter que partir, mas por enquanto vocês precisam voltar pra cidade  e protege-la. –Cisco pareceu decepcionado, enquanto Barry e Caitlin apenas assentiram e começaram a se despedir de todo mundo.

Depois que eles se foram, restaram poucas pessoas na cave, apenas eu, Oliver, Diggle, Curtis e bem, Katherine.

—Curtis, Diggle. Vocês se importariam de ir e me deixar com o Oliver e a Felicity? Eu tenho alguns assuntos importantes pra tratar com eles.

Antes que Diggle pudesse responder, Oliver deu um passo à frente e ficou cara a cara com a garota.

—Não existe nenhum assunto que não possa ser tratado na frente dos dois. –Katherine sorriu pra ele e pra minha surpresa não pareceu assustada com aquele homem imenso lhe intimidando, pelo contrário, ela parecia se divertir com a situação. –Você realmente acha necessário ficar respondendo pelos outros? Eles têm boca, sabia? –Oliver foi pego de surpresa e piscou desconcertado, eu segurei a risada e anotei mentalmente que essa garota já tinha ganhado pontos comigo.

Ela olhou diretamente pros meus amigos e os dois assentiram em concordância nos dando um aceno de cabeça e saindo da cave.  Oliver parecia cada vez mais frustrado com a nossa estranha viajante do tempo e ela parecia perceber isso.

—Então o que você queria falar conosco Katherine? –Ela sorriu em minha direção, mas logo em seguida revirou os olhos. –Eu já disse pra me chamar de Kathe.

Eu levantei as mãos em um pedido de desculpas e Oliver bufou frustrado mais uma vez. –Afinal de contas, o que diabos você quer falar com a gente? –Ela piscou de forma inocente e deu de ombros parecendo preocupada. –Eu esqueci. –Eu gargalhei alto diante da cara do Oliver, ele estava ficando vermelho. –Como assim você esqueceu? –Ela deu de ombros e encostou-se a uma das pilastras. –Esquecendo oras, você nunca se esquece de nada por acaso? Enfim, eu não me lembro mesmo, então eu vou indo. Ver a cidade, conhecer tudo, enquanto isso vocês podem ficar aí conversando.

Ela piscou e saiu rapidamente da cave, eu tinha a impressão de que ela não tinha se esquecido de nada, Oliver parecia compartilhar dos meus pensamentos.

Deixando essa loucura toda de lado, eu finalmente percebi que estava sozinha com ele pela primeira vez, desde que saímos daquela ilha Oliver vinha me evitando. Reparei que ele parecia desconfortável perto de mim, mas eu decidi que agiria antes que ele pudesse pensar em ir embora.

—Então, o que acha dela? –Ele se surpreendeu ao me ouvir falar, já que depois das atitudes idiotas dele, eu também havia passado a evita-lo. –Bem, eu ainda acho que temos que ficar de olho nela, não acredito completamente nessa história, mas pelo menos até o momento ela não me parece perigosa. –Eu concordei com a cabeça e me levantei, ficando de costas pra ele. –E como estão os novos agregados da família Queen? –Eu não o olharia nos olhos, não queria que ele visse a mágoa neles, me doía pensar que a Samatha tinha uma família com ele, família esse que eu sempre quis ter. Ela estava com o homem que eu amava e eu não podia fazer nada já que ele vivia me afastando.

Eu até havia tentado me aproximar do William quando percebi que ele ainda estava assustado com a gente, com tudo o que fazíamos, mas ela havia me lançado um olhar tão horrível que achei melhor me afastar e evitar qualquer proximidade.

Ouvi Oliver suspirando, mas continuei onde estava. –William está bem, está se adaptando aos poucos, se acostumando comigo. Ele acabou de voltar pra escola e ainda está bem introvertido lá, mas tenho esperanças de que ele logo vai fazer amigos. –Eu queria já saber dessas coisas, eu queria estar presente na vida dele o ajudando com toda essa situação. Minha garganta estava se fechando e apesar de ter sido eu a começar essa conversa, sabia que deveria ir embora agora antes que ele começasse a falar sobre a Samantha. –Fico feliz que ele esteja melhor.

Comecei a andar pela cave desligando tudo e embora ainda evitasse olhar pra Oliver, podia sentir o seu olhar me seguindo por todos os lugares. Quando terminei os meus afazeres por ali, peguei a minha bolsa e me preparei pra sair daquele lugar, eu já estava me sentindo sufocada.

—Felicity, sobre a Samantha...-Eu respirei fundo e quando percebi lágrimas já escorriam pelo meu rosto, fiquei aliviada de ainda estar fora do campo de visão dele, não queria que ninguém me visse chorando. –Não precisa falar disso Oliver, ela é a mãe do seu filho, eu entendo. Além do mais, você não me deve satisfação de nada! –Me doeu muito dizer aquilo e sei que ele percebeu pela minha voz o quanto eu estava sofrendo. Mesmo de costas eu podia visualiza-lo concordando lentamente com a cabeça enquanto fechava os olhos por alguns poucos segundos. –Tudo bem!

Assim como a minha, sua voz não passava de um sussurro.

Eu caminhei em direção ao elevador rapidamente e amaldiçoei a minha sorte quando ele não abriu de uma vez, ninguém estava usando essa porcaria, então por que ele não chegava logo?

—Felicity...-Me arrepiei ao ouvir o sussurro da sua voz bem perto da minha orelha, eu havia me esquecido de como ele podia se mover de maneira silenciosa quando queria.

A essa altura do campeonato eu já não conseguia segurar as lágrimas que caíam em cascatas, então apenas respirei fundo e torci pra que ele não percebesse o quão destruída eu estava. –O que foi Oliver?

Por que essa merda de elevador não chegava logo?

Senti sua mão em meu ombro e respirei fundo, eu previ as ações dele antes mesmo que ele pudesse dar qualquer indício de que realmente faria aquilo, eu o conhecia melhor do que a mim mesma. Com calma, Oliver me virou em sua direção e suspirei derrotada diante da minha fraqueza, eu não queria chorar na frente dele, eu não queria me virar e olhar em seus olhos, mas todas as minhas resoluções viravam gelatina quando ele chegava muito perto.

Vendo que não havia como escapar daquela situação decidi enfrentar o que viesse pela frente, então ergui a cabeça e tive que me segurar pra não me perder naquela imensidão azul que eram os seus olhos, eles demonstravam tanta tristeza que por um momento achei que ele estava sofrendo tanto quanto eu.

Não, ele tinha a Samatha agora. Eu não era mais tão importante!

Decidida a acabar de uma vez com aquela situação eu resolvi repetir a pergunta. –O que foi Oliver? –Seus olhos se suavizaram e ele me olhou com ternura, eu sentia falta daquele olhar, sentia falta de tudo nele.

Mas que diabos, onde está esse bendito elevador?

Oliver se manteve calado e quando eu menos esperei, fui imprensada contra a parede ao lado do elevador. Antes que minha boca pudesse expressar qualquer protesto, ela foi esmagada pela boca dele. Eu tentei lutar no começo, sabia que aquilo me machucaria depois, mas quando Oliver invadiu a minha boca com a sua língua qualquer resquício de bom senso foi deixado pra trás. Eu agarrei o seu pescoço com força enquanto o puxava pra mais perto, eu queria Oliver, eu queria tudo dele, dane-se que eu fosse sofrer mais tarde, eu aproveitaria o agora.

Ele parecia fora de si, passava as mãos pelas minhas costas, descendo até a minha bunda e subindo lentamente pela minha barriga até chegar ao meu rosto, nos beijávamos de forma faminta e eu queria que o mundo parasse naquele momento, eu estava sentindo tanta falta dele.

Quando o maldito fôlego nos faltou, ele afastou a sua cabeça da minha lentamente e nesse pequeno momento o meu juízo voltou.

O que estávamos fazendo?

Ele não havia conversado comigo, estava me evitando durante todo esse tempo, me excluindo da vida dele. Eu não podia deixar que ele pensasse que poderia chegar e me beijar pra logo em seguida me afastar de novo, não, eu era melhor que isso.

Antes que ele pudesse se aproximar de novo ou dizer que aquilo havia sido um erro eu escutei o barulho do elevador e o empurrei, entrando rapidamente no mesmo e agradecendo a Deus quando as portas se fecharam. Encostei a cabeça no metal frio e respirei fundo, afinal de contas o que havia acabado de acontecer? Pra começo de conversa porque essa merda de elevador havia demorado tanto? Tudo poderia ter sido evitado se ele tivesse chegado mais cedo.

Mas sendo sincera comigo mesma? Eu queria que aquele beijo não tivesse acontecido?