Conexões escrita por Creeper


Capítulo 4
Longe de tudo e todos


Notas iniciais do capítulo

Oieeeee, tenham uma boa leitura ♥!



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Eu não tenho ensaio hoje, sendo assim, papai disse que iremos visitar a mamãe. No início, estranhei quando ele me acordou para tomarmos café da manhã juntos e ficou tentando puxar assunto sobre minha vida.

Ora, ora, parece que o Sr. Ayers está tentando bancar o bom pai. Um pouco tarde, não?

Ele está na sua quinta xicara de café quando “pede gentilmente” para que eu me apresse. Desligo o chuveiro e enrolo uma toalha em minha cintura, um tanto mal-humorado.

— Então nós vamos ver a mamãe?

Encaro o espelho, me deparando com a imagem de meu irmão. Às vezes me esqueço de que ele pode aparecer sem que eu o chame.

— Eu e papai vamos ver a mamãe. – corrijo.

— Não seja egoísta, maninho. – Luck faz biquinho. – Adoraria bater um papo com ela! – balança sua mão como se tivesse encostado em algo quente.

— Luck, nosso dom de ver e falar com espíritos vem por parte da família da mamãe, não tem como enganar ela do mesmo jeito que enganamos os outros! – reviro os olhos e procuro por minha escova de dentes.

Luck encolhe os ombros e cruza os braços de modo emburrado.

— Ela gostaria de falar comigo. – murmura desgostoso.

Sinto um pouquinho de dó, confesso.

— Quer abalar o frágil coraçãozinho dela? – franzo as sobrancelhas e bufo impaciente. – Fique quieto e nem pense em fazer uma possessão forçada ou algo assim!

Luck ainda é um espírito, é de seu feitio carregar energias negativas e com elas obter um modo de tomar meu corpo. A verdade é que ele nunca tentou algo do tipo por medo de perder o controle ou de me machucar.

— É uma pena, não? – Luck retira seus óculos, me permitindo vislumbrar seus olhos vazios. Seu olhar sem foco me angustia. – A nossa doce casa vai ser alugada... Outras pessoas viverão aqui... Então quando voltarmos... Quero dizer, se voltarmos... Nossa essência... Terá se esvaído. – ele abaixa a cabeça.

Respiro fundo, dou um sorriso fraco e sussurro:

— A essência pode ser perdida, mas as memórias não.

Tivemos maravilhosos momentos naquela casa antes de... Antes de toda essa mentira.

 

xXx

Regra III: Os sentimentos dos espíritos nem sempre estão distorcidos... Até certo ponto.

xXx

 

Enquanto tomamos café da manhã, papai conta alguns mínimos detalhes sobre sua viagem.

Eu não estou nem um pouco interessado, ainda estou remoendo o diálogo com Luck no banheiro. Meu coração está pesado, uma dor se faz presente em meu peito.

As coisas poderiam ter sido diferentes... Então por que não foram? É justo eu perder meu irmão, minha mãe e agora minha casa?”, penso enquanto entro no caríssimo carro de Scarlet, vulgo empresário da banda.

Scarlet tem uma grande consideração por minha mãe, por isso está indo conosco para visitá-la. Quem está dirigindo é Cassie, sua assistente, ela é uma mulher de poucas palavras e expressões, não possuímos muita empatia um com o outro.

O caminho é longo e tortuoso até o sanatório, desse modo, papai procura puxar assunto para passar o tempo. Reviro os olhos quando ele começa a falar, estou a fim de um pouco de silêncio para refletir enquanto vejo a paisagem passar como um borrão por meus olhos.

— Pensei em convidar o Giovan e o Lion para jantarem conosco hoje à noite... – ele comenta.

— Tsc, pode chamar só o seu ex-funcionário. – fixo meus olhos na janela.  – O filho dele não é bem-vindo em nossa casa. – cuspo as palavras.

— Ui. – é a primeira coisa que Cassie pronunciou após um dos mais secos e mais formais “bom dia” que já escutei na vida. Quer dizer que ela não é tão reservada como imaginei... Gostei.

— Taylor, eu e a sua mãe lhe ensinamos a ter bons modos! – papai cerra os dentes. – Esta noite eles serão os convidados, mas em poucos dias você estará no lugar deles!

— Ainda acho que eu deveria ter outra escolha. – murmuro e cruzo os braços.

Isso parece afetar o papai. Me sinto minimamente vitorioso.

— O que iremos preparar para o jantar? – papai desconversa.

— Um delicioso prato de veneno para o garotinho mimado. – dou um sorriso maldoso.

—Taylor! – ele me repreende instantaneamente.  – Não se serve veneno em um prato! E sim em um copo! – revira os olhos. – Etiqueta, por favor.

Rio por um breve instante, fico feliz por ele estar tentando aliviar o clima.

 

xXx

 

Pedrinhas são jogadas para os lados ao receberem o atrito dos pneus com a estrada enquanto Cassie estaciona o veículo.

Chegamos a um vasto campo com uma imensidão de verde vivo e brilhante, repleto com as mais belas flores do mundo. A brisa fresca balança nossos cabelos e o som da maré batendo nas rochas ao longe é extremamente relaxante.

— É errado pensar que sua mãe tem sorte de estar em um lugar desses? – papai respira fundo.

— Bem errado. – o olho com desprezo e tomo a frente.

Avisto um prédio branco no topo de uma colina, corro até lá como se a minha vida dependesse daquilo, sinto um fogo queimando dentro de meu peito.

A recepcionista já nos conhece muito bem, então ela nos deixa entrar sem muita burocracia.

O quarto de mamãe fica em um dos andares mais altos. Não posso negar que ela tem uuma bela vista para o mar com a janela que vai desde o teto até o chão, é incrível!

— Manhê! – grito empolgado ao abrir a porta, porém, me contenho e engulo toda a minha animação em um segundo.

— Shhh! – a enfermeira me fuzila com o olhar enquanto enfia a agulha do soro na veia de minha mãe.

A funcionária nada agradável saí do quarto sem me dirigir uma única palavra.

— Mamãe... – sussurro e sento-me na cadeira estofada ao lado da cama de mamãe.

Seus olhos estão fechados suavemente, sua respiração está calma, seus cabelos vermelhos estão foscos e consigo ver nitidamente as rachaduras em seus lábios entre abertos. Ela parece um anjo. Um lindo anjo.

Papai adentra o quarto em silêncio, acompanhado de Scarlet e Cassie. A porta é fechada cuidadosamente e os três rodeiam a cama em que a paciente repousa.

— Quer realmente incomodar ela com um assunto tão chato? – sussurro ao acariciar o rosto ressecado de mamãe.

— Você sabe que não... Não sou um monstro como você pensa que eu sou... – papai coloca um imenso e gracioso buquê de flores em cima de uma mesinha branca. – Porém... É necessário.

Há outros presentes na mesinha, como bichinhos de pelúcia, sabonetes perfumados e cartões de melhoras.

Não foi nenhum parente que deixou aquelas coisas ali, afinal, a família de papai lhe virou às costas assim que ele se casou com mamãe, já que ela não era sua prometida de origens nobres. Ridículo, né?

E quanto a família de mamãe, ela é formada somente por nós e pela vovó, a qual deve estar em uma viagem misteriosa por Deus sabe onde.

Enfim, posso apostar um braço que quem levou aqueles presentes eram os garotos da banda, Yumi e alguns amigos do casal. Somente aqueles que lembravam da existência e do estado de minha mãe.

— Quando a noite chegar, venha me abraçar. Sussurre para mim um "eu te amo" e me encha de ternura. Quando adormecer, aqui estarei. Quando acordar, jamais te abandonarei. – cantarolo e afago os cabelos que um dia foram os mais sedosos que já conheci.

Mamãe sempre cantava para mim e para Luck quando éramos crianças. Essa era nossa canção favorita.

— Francamente... Você tem uma voz péssima! – Scarlet balança a cabeça com desaprovação. – Qual o segredo nos palcos? – arqueia uma sobrancelha.

— Já tem sua resposta... É segredo. – estalo a língua e mando uma piscadela para o empresário.

Delicadamente me debruço sobre a barriga de mamãe e a observo com serenidade.

— Quando ela vai acordar? – balbucio sem esperar por uma resposta.

 

xXx

 

Mamãe está demorando para acordar, então decido folear algumas revistas de fofoca sobre “Luck”, já que as enfermeiras não param de oferecê-las.

Não entendo como eu gero tantas matérias! Eu nunca saio para baladas, nunca fico bêbado, nunca sou visto com uma garota e nunca atualizo minhas redes sociais. Alguém, por favor, me traga meu diploma de adolescente fracassado e antissocial!

— Acho que preciso de mais animação. – comento com papai. – As pessoas dependem de mim para manterem seus empregos, eu deveria dar a elas um furo ou sei lá...

— Beleza, depois daqui visitamos o quarto de uma criancinha doente, tiramos uma foto e dizemos que você faz caridade. – papai sequer me olha.

— Eu não quero mais mentiras! Não quero viver como se estivesse em uma peça de teatro, eu quero escrever o meu próprio roteiro! – cerro os dentes.

— Wow, gostei disso, é uma ótima letra para uma nova música! – Scarlet se empolga. – Cassie, você anotou, não anotou?! – olha para sua assistente que digita agilmente em seu tablet.

— Você quer se embriagar, é isso? – papai parece se alterar. – Quer dar PT e ser mal falado por aí?! Não sei se você se lembra, mas o motivo para você odiar o Lion é porque ele estava bêbado naquela noite, seu hipócrita!

Arregalo os olhos, meu sangue ferve e borbulha dentro de mim. Sinto que estou em erupção feito um vulcão e posso explodir a qualquer momento.

— A hipocrisia é hereditária, não é, papai?! – cerro os punhos e franzo as sobrancelhas.

Scarlet fica atento, pronto para acabar com nossa discussão a qualquer momento.

— Escuta aqui, Taylor, eu sou seu pai e... – papai eleva seu tom de voz e levanta-se de maneira intimidadora.

— Benjamin, por que está tão alterado? – ouvimos a suave e fraca voz de mamãe em meio ao nosso confronto, ela parece extremamente confusa, tendo em vista que acabara de acordar. Todos os olhares são direcionados a ela e um silêncio mortal paira sobre nós.

— Oh, me desculpe, querida... – papai se recompõe. – Está se sentindo bem? Te acordamos? – senta-se na beira da cama e busca pela mão da esposa.

Eu não sou obrigado a suportar isso, então saio do quarto sem ser notado. Estou correndo novamente, dessa vez em direção as pedras que barram o mar, subo na mais alta delas e sento-me.

Observo o azul sem fim, vindo na direção das pedras como ondas violentas. O vento está forte, levando meus cabelos para trás. Perco a noção do tempo, hipnotizado pelo horizonte.

Se eu pudesse, me mudaria para cá sem pensar duas vezes... Longe de paparazzis, palcos, microfones... Céus, seria sensacional. Eu podia esquecer de todos meus problemas. Ninguém me encontraria aqui.

Fecho os olhos e respiro fundo, permitindo-me relaxar. Sinto que vou pegar no sono, todavia, sou desperto por uma voz desconhecida, a qual soa atrás de mim:

— Por que o garotinho está sozinho?

 


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram?! Se alguém chegou até aqui, sério, porque eu não sei se alguém ainda vai ler essa fic, mas enfim, deixe seu comentário, vai me deixar muito feliz e me mostrar que não estou sozinha ♥! Por favor, isso vai me motivar demais 0-0!
Até a próxima vez!
Bjjs.
—Creeper.